O espírito da garota parecia vazar por sua boca quando ela retornou ao acampamento com o cabelo todo bagunçado, as roupas levemente rasgadas e um escudo mágico em volta de si. Todos que estavam ao redor da fogueira dirigiram seus olhares para Arme; Ryan correu para acudir a maga, que, ao parar em frente à fogueira, quase caiu de cara no chão. Elesis ria diabolicamente.

–Você está bem, Arme?! –perguntou Ryan segurando a garota no colo.

–Eu... Não... Sim!... Não...

–...

–Ahm...? ME SOLTAA!! ...

Ryan se assustou e acabou derrubando-a no chão. Ela estava atordoada demais para entender qualquer coisa e ficou ali, caída por um longo tempo, até que a ruiva a fizesse levantar com um grito ensurdecedor:

–ACORDAAA MAGA INÚTIL!!

–Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah! – ela gritou em resposta ao susto.

–E então, obteve algum sucesso?

–Ahm...

–Você tem duas semanas para fazer isso, mas amanhã já haverá outro castigo.

–O quê?!?!? Elesis, você já me pediu algo impossível...

–Apenas... faça... o que eu disse – disse ela com pausas ameaçadoras.

–S-sim, se-senhora.

Arme se sentou e pegou uma maçã. Ela fitava a fruta com um olhar desanimado, sabia que o próximo castigo poderia ser bem pior, e com certeza seria. Mordeu a fruta lentamente, olhando Lass através da fogueira enquanto ele arranhava uma árvore usando a garra da mão esquerda e discutia com seu meio irmão Lupus.

Por alguns instantes, ela se perdeu na própria imaginação, hora imaginando o filhote de gorgos, hora pensando se Jin e Amy estariam bem e, por fim, pensou sobre o que ela sentia por Lass. “Amigos” realmente não parecia bom para ela, mas também não sabia exatamente o que queria. Olhando mais além, percebeu que Elesis observava Ronan a distancia, porém, talvez fosse somente a sua imaginação, já que de tempos em tempos a ruiva olhava para Lass e Sieghart também.

A maga abaixou a cabeça e ficou gemendo enquanto encarava o chão; estava com medo do próximo desafio, mas não sabia o que fazer, tudo que ela fazia era mastigar uma a uma as frutas que estavam numa bandeja a sua frente. Quando todos terminaram o jantar e foram às suas barracas, a garota pegou um peixe de cima da mesa e saiu correndo como se estivesse sem rumo e furtando algo.

Mas, afinal, ela tinha um rumo. O cetro iluminava o caminho da garota até a caverna onde o Gon se encontrava. Ela corria abaixada, com medo do animal, mas não havia escolha, tinha apenas duas semanas para fazer “o pequeno” gostar dela.

Ele estava dormindo na entrada, logo abaixo de uma árvore e, por alguns instantes, os olhos de Arme cintilaram.

–Fofo... - disse sem pensar muito. Era óbvio que a garota apreciaria o animal quando ele estivesse mais calmo, ela amava dragões e aquele era, ainda por cima, da sua cor favorita.

Conduzida pela fofura da criatura, que agia como um gatinho enquanto dormia, ela aproximou-se e se sentou ao lado dele. No entanto, foi surpreendida: ao sentar-se, o animal acordou e ficou sentado, observando-a.

Os olhos de Arme começaram a lacrimejar terrivelmente e ela se continha para não começar a chorar e gritar por ajuda. O animal se focou em algo que ela carregava na mão esquerda, um pequeno peixe assado e, como um cachorrinho que pede comida, ele ficou levantando a patinha enquanto batia as asas levemente. A violeta engoliu o choro e, com um meio fio de voz, perguntou:

–Vo-você q-quer?

Ela teve uma crise de fofura e medo com a reação do animal, que fez que sim com a cabeça e colocou as duas patas da frente no colo dela, fazendo-a tombar no chão. A maga usou de um feitiço para lançar o peixe longe e o pequeno Gon bateu asas e saiu voando velozmente atrás do peixe. Enquanto isso ela corria de um lado para o outro gritando e chorando:

–SOCORRO!!! BUAAAAAAAAAAAAAAAAA!! EU VOU MORRER, ALGUEM ME TIRA DAQUI!!

Antes que percebesse, o animal voava em volta dela com o peixe na boca e a derrubou novamente no chão com uma investida, fazendo-a soltar um gemido de dor. Ele engoliu o peixe e um pouco de baba caiu no rosto da garota, então ela o repeliu, fazendo novamente um escudo mágico que o fez voar enfurecido e cuspir fogo. Porém, aquele fogo não era normal, era azul e não parecia ser quente.

Arme sacudiu o cetro, fazendo-o transformar-se em lâmpada, e rapidamente invocou um espírito do vento que a levou para o acampamento e enfureceu mais ainda o Gon. Ele acabou por destruir pelo menos cinco árvores ao mesmo tempo, a pequenina não sabia como agradecer ao espírito, mas, antes que sua boca pudesse se mover, a pequena donzela do vento já havia retornado ao seu habitat.