(POV Amy)

Tinha uma sensação ruim, uma espécie de torpor. Logo em seguida, senti como se caísse de uma altura razoável em cima de algo macio. Quando isso aconteceu, ouvi um gemido de dor. Estava com os olhos pesados, fiquei tonta depois que o Jin tinha se jogado e me abraçado. Ele me olhava surpreso e ofegante, e depois uma bacia estranha caiu em cima da minha cabeça... Acho que eu havia apagado.

Ouvia uma voz ao longe. Ela era familiar e me deixava feliz. Além disso, me encontrava num lugar fofo e confortável. Ouvi chamarem meu nome. Sim, era meu nome, e a voz que me chamava era... A voz dele? Senti a mão dele segurando a minha firme e o peso foi desaparecendo dos meus olhos.

- Jin?... – abri os olhos e me deparei com seu rosto preocupado, que estava muito próximo ao meu, podia sentir sua respiração. Ele me apoiava em seu colo com um dos braços nas minhas costas e com a outra mão segurava a minha junto ao meu rosto. Devo ter ficado pior que um tomate, porque meu rosto ferveu. Ele me ajudou a levantar e nós saímos daquela sala deserta na qual nos encontrávamos.

               Estávamos agora num ambiente estranho. Parecia alguma coisa como uma escola: tinha uns apetrechos de metal por onde saía água e as pessoas tomavam-na, várias salas abertas com muita gente e escadas. A única coisa que destoava eram umas barracas agrupadas nos corredores. Haviam milhares de coisas nelas: gargantilhas, chaveiros, bonecos de pelúcia, camisetas, tocas personalizadas e muito mais... E as pessoas se vestiam estranho. Algumas eram normais: tinham cabelos coloridos, olhos coloridos e usavam armaduras improvisadas, mas a maioria usava calças e camisas esquisitas.

- O-onde nós estamos, Jin? – perguntei me segurando ao braço dele.

- Não sei, Amy. Parece que fomos transportados para um lugar... Que definitivamente não faz parte do Mundo que nós conhecíamos – disse seriamente.

- Um universo paralelo, talvez? – ele confirmou – Então acho que é melhor nós procurarmos um abrigo... Nossa, que gargantilha linda!

Nessa hora eu vi a gargantilha mais linda do mundo numa das barracas, SÉRIO! Cheguei no vendedor e perguntei:

- Oi, senhor. Essa gargantilha cor-de-rosa... sim, essa mesma! Quanto é? – Meus olhos brilhavam, podia sentir isso.

O cara, que tinha um cabelo castanho claro, olhos negros e só usava roupas pretas, me deu um sorriso galanteador e disse:

- É melhor experimentar primeiro, não acha? – ele passou a gargantilha pelo meu pescoço gentilmente. O toque da mão dele me fez arrepiar (acho que ele fez de propósito) enquanto ele fazia um laço por trás, na minha nuca. Depois pegou um espelho e me mostrou como eu fiquei.

Bom, devo dizer que eu estava linda? Eu sempre estou linda, mas com aquilo... Eu fiquei fabulosa! Olhei atrás de mim pelo espelho e percebi que Jin me encarava pasmo, lançando um olhar ameaçador pro vendedor em seguida.

- B-bem... Eu gostei muito, obrigada. Quanto seria? He, he...

- Pro melhor cosplay do evento, é de graça. – completou me mandando uma piscada. Eu devo ter ficado com as bochechas vermelhas – Se bem que você poderia me dar seu número de telefone, não...

Já não podia mais ouvir ele, Jin me arrestava para longe com o rosto virado e os músculos inflexíveis. Depois se voltou pra mim.

- Nós não deveríamos procurar abrigo, senhorita Amy? – Ele falou secamente e eu concordei com a cabeça, sustentando o olhar dele, um tanto magoada – Então vamos. Primeiro vamos fazer um reconhecimento, depois procuramos um abrigo – Ele olhou para as sombras no pátio do colégio e completou – Deve ser por volta de meio-dia, ainda temos muito tempo.

Seguimos pelos caminhos possíveis, ele prestando atenção em cada canto e eu o seguindo de cabeça baixa.  Estávamos parados num pátio descoberto quando nos abordaram.

- UAAAAU!! São os melhores cosplays de Grand Chase que eu já vi! – Disse o garoto sorrindo de orelha a orelha. Jin paralisou ao ouvir, imagino que pelo fato de sermos conhecidos por lá – Posso tirar uma foto com você, “Amy”??

Foto? Que diabos é uma foto?! Mas e daí, ele sabia o meu nome!! Eu disse que podia então ele se posicionou ao meu lado, passando a mão na minha cintura e olhando para o seu amigo, que estava com uma espécie de caixinha próxima aos olhos na nossa frente. O garoto ao meu lado estava sorrindo, então resolvi sorrir também. Ele olhava pra caixa, eu olhei também. Ela piscou e fez um barulhinho estranho. Em seguida, ele se afastou falando:

- Nossa... Você é muito bonita, e seu cosplay tá incrível!! – ele deu um beijo estalado na minha bochecha, eu não consegui acreditar... Que moleque atrevido e maluco!

Ele se afastava acenando. Quando olhei pro lado, vi o Jin com uma cara demoníaca.

-N-não foi culpa minha, Jin! – Disse quase chorando – Ele nos conhecer não é culpa minha, conhecer nossos nomes também não é culpa minha e não fui eu que saí beijando os outros por aí! – dessa vez eu realmente tinha lágrimas prontas pra cair.

Parece que ele ficou um pouco envergonhado, então, após hesitar, passou a mão na minha cabeça, bagunçando meus cabelos, e disse que ele estava bravo só com o garoto e a situação, que se complicava cada vez mais. Paramos um pouco, após comprar yakissoba numa barraca com algumas das nossas moedas de ouro... Com um pouco de dificuldade pra que o vendedor aceitasse. Aquilo era uma feira maluca e infernal!

Comemos e resolvemos pedir informação pros transeuntes (coisas simples como onde estávamos) e descobrimos estar numa cidade de um país chamado “Brasil” num “evento de anime”. Nessa hora, apareceu um garoto de uns 18 anos que pegou na minha mão e disse:

- Você... Quer... Ahn... Ficar comigo? – Perguntou bem envergonhado. Ele era lindo, mas que droga é essa de ‘ficar’? Eles tem muitas gírias estranhas por aqui. Jin estava ao meu lado e também não entendeu.

Eu perguntei o que era isso e ele se aproximou rapidamente, roubando um selinho meu. Eu o empurrei pra longe e perguntei se ele estava louco, mas antes de qualquer coisa, Jin já havia dado um tapão na cara dele, me levando pela mão até um canto deserto do pátio. Eu estava um pouco assustada com ele, ele vinha sendo muito bravo e agindo estranho desde que viemos parar aqui... Ou até antes.

Ele então me olhou e eu fiquei surpresa. Ele tinha uma expressão de dor no rosto e uma lágrima brincava em seus olhos.

-Por que você faz isso comigo, Amy?! – ele falou quase aos berros – Você vem comigo pra esse lugar, chama a atenção de todo mundo e eu tenho que ficar de braços cruzados?!

- M-mas Jin, eu... – Nessa hora ele me prendeu contra a parede, segurando meus pulsos acima da minha cabeça e foi chegando cada vez mais perto, e mais perto... Eu o encarava assustada, eu não esperava por nada daquilo. Será que ia acontecer o-o que eu estava pensando?...

É... Aconteceu.

Ele tocou seus lábios nos meus e eu senti uma corrente elétrica me percorrer, fazendo com que eu fechasse os olhos. Então ele me abraçou (mais forte do que um amigo abraçaria) e pediu passagem pela minha boca. Num ato impensado, eu deixei... Mas também, como podia não deixar? Ele sempre cuida de mim, sempre se preocupa comigo e sempre é o primeiro a me ajudar... Estava sentindo minhas bochechas arderem, então coloquei as duas mãos na nuca dele e fiquei brincando com os seus cabelos enquanto nos beijávamos. Ele separou nossos lábios (pra minha tristeza) e encaixou a cabeça em cima do meu ombro, murmurando algo como “eu te amo, será que você não entende?...”.

Senti uma lágrima quente percorrer meu braço. Era dele. Ele então se separou de mim e se afastou, dizendo que precisava pensar e pedindo desculpas pelo que fez, sumindo em seguida na multidão. Então ele pedia desculpas por ter me beijado?...