Ela era feliz, vivia andando por ai dando risada, falando bobeiras, toda encantada com o mundo a sua volta, mas, como eu disse, ela era assim. Tudo mudou depois do dia que chegou em casa e encontrou o namorado com a irmã. Naquele momento, a vida dela começaria a mudar, mas até então, ela não sabia disso. A garota expulsou o rapaz as tapes e berros, já a irmão não teve a mesma sorte, saiu correndo, e depois que fechou a porta de vidro da cozinha, a outra arremessou nesta o controle da tevê, que estilhaçou a porta em mil pedaços. Foram quinze pontos na cabeça e uma perna quebrada, devido ao piso da cozinha estar molhado. Não duvido que se perguntasse a garota que cometeu tal ato de violência contra a própria irmã, se por acaso se arrependia de algo, ela respondesse que não, sem a menor expressão de culpa. A partir desse dia, a garota mudou de comportamento bruscamente, rasgou todos os diários, tirou toda a espuma dos bichinhos de pelúcia, arrancou os cabelos das bonecas que conservava com tanto carinho, esvaziou o guarda-roupa e começou a cortar aquelas roupas que se tornaram tão exageradamente felizes e, por fim, colocou fogo em tudo que a remetia ao namorado que a traiu.

  Menos de um mês depois, a garota estava irreconhecível, comprara roupas novas, todas escuras, pintou o cabelo, que era loiro, de preto, começou a usar mais delineador do que nunca e batons escuros. Nada daquela menina que se apresentou no colégio no primeiro dia de aula lembrava aquela menininha doce e meiga que sempre foi, a não ser pela pele incrivelmente branca e os olhos azuis como nunca havia se visto. Quando suas antigas amigas vieram falar com ela ás ignorou e quando notou a insistência, mandou-as a merda, uma delas, a mais sensível talvez, desabou a chorar de tão chocada que estava, e ela, simplesmente olhou as com um olhar de desprezo e seguiu andando, com todos a olhando com certo medo, mas mal sabiam eles sobre o que tinha acontecido e muito menos o que aconteceria logo em seguida. A garota encontrou o namorado que a traíra. Ele a olhou com certo espanto e com medo do que ela poderia fazer contra ele e ela, simplesmente se aproximou e o beijou como nunca tinha o feito e, quando foi para mordeu levemente seu lábio e o olhou nos olhos, que estavam surpresos porem mais tranqüilos, foi quando lhe mordeu com força até que saiu uma única gota de sangue do lábio inferior do rapaz e um urro de dor de sua garganta e, como se não fosse o bastante, cuspiu na cara do infeliz. Todos a olharam mais chocados ainda...

  Enfim, é assim que começa a história da grota que deixou de acreditar nos romances e poesias que lia. Assim começa a história de Helena.