Arregalei os olhos e avisei para Megan que iria encontrar Sophie, que deveria estar pirando. Será que Josh estava com ela? Bem improvável, já que ele odeia o Justin. Sempre achei que fosse ciúmes, porque ela é totalmente louca por ele, mas sempre que falava isso para Sophy, ela negava, logo acabei desistindo de tentar descobrir o porquê, que talvez nem ela soubesse.

– Sophy? Sophy? – gritei enquanto caminhava pela multidão que estava parada assistindo à apresentação.

Algumas fãs histéricas que pareciam ter ganhado alguma promoção ou algo do tipo não queriam me deixar passar, suspeitando que eu estivesse tentando me aproveitar da situação pra chegar mais perto dele – o que era até engraçado.

– Sophy, cadê você? – murmurei para mim mesma, enfiando-me entre as pessoas, tentando chegar o mais próximo possível do palco, pois era ali, suspeitava eu, que Sophie encontrava-se.

Subi na ponta dos pés e encontrei Josh. Gritei e acenei feito uma louca, mas ele não me viu ou ouviu no meio de toda aquela gente que gritava e cantava incessantemente. Ao contrário, andou entre a multidão, sumindo para algum lugar que eu não consegui enxergar. Pelo menos ver Josh serviu para alguma coisa: tive uma pista de onde Sophie estava.

Depois de muito esforço, consegui encontrá-la. Ela estava chorando, gritando e cantando feito uma louca – ou melhor, belieber.  “Belieber, Candy! Belieber! Não louca!”, ela sempre me corrigia quando eu dizia que ela era louca por gostar dele.

– Sophy! – gritei, tocando em seu braço para que virasse em minha direção.

– Candy! Candy! – ela gritou de volta, puxando-me para um abraço.

As lágrimas não paravam de cair de seus olhos, a voz já estava falhando de tanto gritar e eu já estava ficando sem ar de tão apertada que estava naquele abraço. Empurrei-a levemente para trás, mas não adiantou nada. Tentei mais uma vez, sem querer machucá-la, mas novamente, não funcionou.

– Sophie... – falei, tentando fazer com que ela entendesse que eu não estava muito confortável na posição que me encontrava.

– Vem ser meu namorado, então! – gritou feito uma louca quando Justin terminou de cantar “Boyfriend”.

Pensei que ela fosse tirar a blusa ali mesmo para chamar sua atenção, mas felizmente não aconteceu. Por outro lado, continuou gritando feito uma louca enquanto me abraçava. Depois daquele show, Sophie teria sérios problemas com sua voz... E eu, com meus tímpanos.

– Pelo amor de Deus, me solta! – implorei, tentando desvencilhar-me de seus braços.

Ela pareceu nem ouvir, continuou cantando loucamente.

– Vai, Sophy... Por favor.

Ela me soltou, finalmente. Embora tenha percebido que não foi porque pedi e sim porque Justin pediu para que todos levantassem a mão, balançando-as de um lado para o outro, agradeci mentalmente a ele por isso.

– Nem cantei, nem pulei e nem nada, mas já tô suando... – reclamei. – Vou para o bar, depois nos falamos.

– Não! Não! E não! – ela gritou de volta.

“Agora você me ouve, né?” – pensei, mas decidi ficar quieta.

Saí de fininho, já que sabia que Sophie não me deixaria sair de lá tão cedo e eu não aguentava mais. Demorei algum tempo para conseguir sair da platéia, mas consegui. Antes de ir pro bar, decidi ir ao banheiro para passar pelo menos uma água no rosto.

O recinto era grande e bonito, bem arrumado e limpo, diferente de outras festas que já fui. Algumas mulheres encontravam-se ali, todas aparentavam ter mais de vinte e cinco anos e bastante dinheiro. Me senti desconfortável por estar no meio delas, pois não era rica... Não tão quanto elas. Eu tinha uma vida normal.

Fui até uma pia distante e lavei meu rosto, fazendo com que um pouco da maquiagem saísse de meu rosto. Não me importei muito, pois já estava péssima depois de me enfiar no meio de fãs histéricas. Abri minha bolsa de mão e tirei o lápis, rímel e uma palheta simples de cores. Retoquei a maquiagem sem muito esforço e depois dei um jeito no meu cabelo, que não estava tão bom quanto em minha chegada devido à apresentação.

– Meu Deus, não acredito que você já tem essa maquiagem! – Ouvi uma das mulheres riquinhas gritando.

– Sim! Essa mesma! Uma amiga trouxe de Paris! – a outra respondeu.

Tentei rir discretamente, mas não obtive tanto sucesso, fazendo-as me encarar. Lembrei de Megan no carro com Adam e Jake. Nós havíamos feito vozes iguais a delas e falado sobre a mesma coisa. Uma delas revirou os olhos, como se eu fosse inferior a elas e a outra abafou um risinho, como se concordasse. Guardei minhas coisas bruscamente, respirei fundo para não falar o que não deveria para aquelas duas e me retirei.

– Linda maquiagem, amiga – disse antes de sair com um sorriso cínico e uma voz tão fina quanto a delas.

Quando saí do banheiro percebi que a gritaria não era tão alta quanto antes, o que me agradou. Meus passos eram pesados, demonstrando minha raiva. Festas de gente rica são sempre assim, sempre tem alguém para achar que é melhor que você ou algo do tipo.

Continuei andando sem rumo e nervosa, sem nem olhar por onde estava indo.  De repente, senti algo em meu pé, como um obstáculo. Tropecei no mesmo e pensei que ia cair de cara no chão e estragar totalmente com a minha noite, até que senti algo me segurar. Uma grade, talvez?

– Wow! – Ouvi uma voz desconhecida.

Pela voz, percebi que alguém havia me segurado. Sacodi meus braços para que esse alguém me soltasse e continuei andando. Onde estava aquele maldito bar? Quando entrei na festa, achei que o lugar fosse pequeno, mas estava completamente enganada, era gigante.

– Candice? – Olhei para todos os lados, tentando encontrar a pessoa que havia me chamado.

– Ah, oi, Megan.

– E aí! Como que você tá? Beleza? – disse com o tom de voz um pouco diferente. Por fim, me abraçou e me deu um beijo na cabeça.

– Que cheiro é esse? – perguntei enquanto tossia e a empurrava para o lado. – Você bebeu?

– Só um pouquinho.

Não acreditei muito, mas não queria discutir com uma pessoa bêbada que não sabe o que está fazendo ou falando. Fiquei com medo que ela vomitasse ou desmaiasse, mas antes que eu pudesse fazer alguma coisa, ela saiu de perto. Dei de ombros e fui até o bar, afinal, todos estavam se divertindo e fazendo o que queriam, menos eu.

– Um martini – perdi, debruçando-me no balcão.

O barman preparou e colocou-o em minha frente. Olhei ao redor e não encontrei ninguém conhecido, então decidi sentar e relaxar um pouco. Beberiquei aos poucos o martini, sem querer beber rápido demais para não pedir outro e acabar ficando bêbada. Megan já estava bêbada e Josh provavelmente também, Sophie não sabe dirigir e Adam e Jake haviam sumido, logo eu seria a escolhida para dirigir.

– Candice! Foi perfeito! – Sophie sentou ao meu lado.

– Percebi... – respondi sem muita animação.

– Ele é tão lindo e perfeito... E aquela voz? Meu Deus!

– Pois é... – Esbocei um sorrisinho.

Ela continuou comentando sobre a apresentação e sobre como o Justin era perfeito por mais alguns minutos. Eu, por minha vez, fiquei calada, apenas sorrindo de vez em quando, sem ligar muito para o que ela dizia.

– Amor! – Josh apareceu, abraçando-a por trás. E eu estava certa, pois julgando por seu tom de voz, ele estava bêbado.

– Oie! – Sophie retribuiu, de algum modo, o abraço.

Ela soltou-se dos braços de Josh e virou para ele. Deu vários beijinhos em sua bochecha até chegar em seu ouvido, onde sussurrou alguma coisa inaudível para qualquer um – exceto, obviamente, por Josh, que esboçou um sorrisinho malicioso. Sophy foi em direção aos lábios do namorado do mesmo jeito que chegou ao ouvido, com beijinhos. Quando chegou aonde queria, começou a beijá-lo loucamente.

– Mais um martini, por favor! – pedi desesperadamente após ver toda aquela cena.

Pulei algumas cadeiras até que ficasse longe o suficiente de Josh e Sophie. Naquele momento, precisava de Megan para não me sentir tão sozinha, mas ela deveria estar se “divertindo”. Meu companheiro seria apenas aquele mísero martini, o último da noite. Bebi lentamente, tentando fazê-lo durar o máximo possível.

“Será que Sophie já cansou de engolir o namorado e já está disponível para a amiga? Aposto que ela vai ficar chorando e reclamando depois, porque ele não ficou com ela no show... E quem vai ouvir? Eu. Mas agora, dane-se a Candy!” – Revirei os olhos com meu próprio pensamento e, por fim, virei a taça. Esperava que isso melhorasse meu humor, mesmo sabendo que a bebida acabava me deixando mais emocional quando eu estava do jeito que estava.

– Wow! – Ouvi a mesma voz e a mesma palavra de um tempo atrás quando quase caí. “O que tinha naquele martini?” – Vai com calma, esquentadinha.

 “Quem é  ele para achar que pode falar desse jeito comigo? “Esquentadinha”? Ele nem sequer me conhece.” – Olhei para ele, que já estava sentando do meu lado, com uma das uma das sobrancelhas arqueadas e os olhos arregalados.

– “Esquentadinha”? – indaguei, mantendo minha antiga expressão facial.

– É o que parece...

– E como você pode dizer isso para alguém que você nunca viu na vida?

– Você esbarrou em mim hoje mais cedo. Ou melhor, agora pouco.

– Ah, era você? – “Candice idiota!” – Desculpa, não foi por mal... Eu só estava estressada.

– Como eu disse: esquentadinha.

– Ah, me poupe! – exclamei, mas sem conseguir deixar de sorrir.

– Esquentadinha, qual o seu nome? – ele perguntou, fazendo-me revirar os olhos, mas abafar alguns risinhos. – Tá rindo do quê?

– Nada, nada... – respondi entre risos.

– Wow, você só sabe rir.

– Wow, você só sabe me julgar – disse, imitando seu tom de voz.

– Não vai mesmo me dizer o seu nome? – insistiu.

Ao desviar o olhar de seus olhos, encontrei Sophie e Josh. Ela me encarava com uma expressão sinistra. Os lábios comprimidos, os braços cruzados e as sobrancelhas quase juntas de tanta força que ela fazia para semicerrar os olhos – o que parecia ser o modo que ela encontrou para me enxergar melhor. Aquela cena era realmente inacreditável e até um pouco surreal.

Esqueci de comentar esse pequeno detalhe: eu estava sentada ao lado de Justin Bieber.