Quinn olhava fixamente para o relógio pregado na parede logo acima da lousa, esperando que assim os minutos fossem passar mais rápido. Seu primeiro dia de aulas mal tinha começado, mas ela não via a hora de “fugir” daquela sala, daquela aula entediante, de sua confusão interna e de perto da garota, que agora sentava a apenas duas cadeiras de distância, a qual ela quase tinha beijado na noite anterior.

*Flashback On – Quinn Fabray*

Depois que o jogo acabou, todos que estavam jogando voltaram a beber, dançar ou dar em cima de alguém, exatamente como estavam fazendo antes. Pelas poucas conversas que Quinn ouvira, o assunto da noite - quem sabe da semana ou do mês - seria o beijo entre Brittany e Santana ou talvez a sua resposta positiva à pergunta ‘Você dormiria com uma garota?’. Quinn respondera um simples ‘Sim’ àquela questão idiota apenas porque se sentia mal pelas amigas, ambas ainda em estado de choque por causa do beijo e provavelmente morrendo de vergonha por dentro - afinal não era sua culpa de que aqueles garotos estivessem cismados com lésbicas naquela noite. Mas agora ela começara a questionar se sua resposta não poderia ter um fundo de verdade. Quinn passou os olhos pelo andar procurando as duas amigas, logo percebendo que provavelmente elas já tinham ido embora, porque, afinal, quem aguentaria ficar numa festa depois daquilo tudo?

Rachel se aproximou, e Quinn sorriu para ela. “Se divertindo?” a loira perguntou.

“Pra falar a verdade? Nem um pouco.” Rachel respondeu rindo, e Quinn sorriu de volta “Talvez eu só precise beber mais.” A baixinha concluiu, virando-se para uma mesa improvisada ao seu lado e agarrando uma garrafa de vodka, sem nem se dar ao trabalho de pegar um copo.

“Wow, Rachel!” Quinn arregalou os olhos ao ver que a garota tinha praticamente acabado com o líquido incolor em questão de segundos. “Tem certeza que está tudo bem?”

“Absoluta.” Rachel respondeu e Quinn pode perceber que a garota ainda não estava tão bêbada.

“Bem, vou deixar você aqui com sua nova amiguinha e já volto.” Quinn disse apontando para a garrafa quase vazia e vendo Rachel assentir antes de se afastar.

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“Calma, Rach.” Quinn chamou Rachel pelo apelido que a baixinha tinha praticamente ordenado pelo qual queria ser chamada dali pra frente, enquanto a guiava pra dentro do quarto. “Não devia ter deixado você sozinha com aquele estoque do seu lado.” Quinn resmungou fechando a porta com um pouco de dificuldade, por ainda ter um braço envolvido na cintura da morena, apertando firme, pois tinha certeza de que Rachel cairia se Quinn a soltasse.

“Okay, Quinn. Me desculpa.” Rachel disse quando a loira finalmente conseguiu a deitar na cama, olhando para Quinn com os olhos um pouco marejados.

“Por que, Rache... Rach?” Quinn quase soltou o nome inteiro da garota, mas com ela naquele estado decidiu que não era uma boa ideia, não queria vê-la irritada ou magoada. Bêbados são imprevisíveis. Ela sentou-se na cama ao lado da morena e passou uma mão por seus cabelos escuros e densos, onde antes haviam ondas, desabaraçando-nos entre os dedos.

“Por ter feito você me carregar até aqui. Por ter bebido demais, feito uma idiota.” Rachel sussurrou, fechando os olhos por um momento e quase sorrindo ao abrí-los, percebendo que Quinn passava a mão por seus cabelos.

Quinn se sentia mais próxima daquela garota a cada segundo, como se já a conhecesse há muito tempo, o que era totalmente sem sentido. Ela observou enquanto Rachel fechava os olhos, tentando memorizar seus delicados traços. Alguma coisa nela era tão... envolvente. Quinn tentou afastar esses pensamentos por uma garota que mal conhecia, mas não teve êxito.

“De nada, baixinha.” Quinn sorriu para a garota e chegou mais perto, de modo que podia ouvir o coração de Rachel batendo em seu peito “Na verdade, foi até divertido.”

“A melhor parte da noite.” Rachel sorriu e Quinn não aguentou mais só observar aquela garota, definitivamente a loira sentia algo por essa menina, ela aproximou mais seu rosto do de Rachel, como se fosse a beijar, e ela iria, mas a morena levantou a cabeça do travesseiro e seus lábios tocaram a bochecha da garota loira suavemente antes de deitar novamente e adormecer imediatamente.

Quinn levantou devagar e andou até sua própria cama; ela se deitou e fechou os olhos, embarcando na escuridão total. Quinn se sentia mal, mas por quê? Só porque não pudera beijar Rachel? Ela mal conhecia a garota, por que ela iria querer isso?

Quinn não sabia responder nenhum ‘porquê’ de suas perguntas, uma confusão imensa tinha sido criada dentro de sua cabeça. Mas Quinn tinha certeza de uma coisa, ela queria muito beijar Rachel Berry.

*Flashback Off*

Quinn ouviu o sinal bater, agarrou a bolsa e saiu o mais rápido que pode daquela sala sufocante, sem olhar pra trás uma vez sequer. Ela foi direto para o banheiro feminino do andar e entrou numa cabine. Quinn jogou sua bolsa no chão, sem o menor cuidado. Ao se encostar na parede, deixou seu corpo dellizar até que se sentasse no chão. O almoço revirava em seu estômago e isso doía. Quinn se sentia uma merda. Uma grande merda cheia de confusão. Ela se ajoelhou em frente ao vaso sanitário e pôs pra fora tudo o que causava sua dor física, incapaz de fazer o mesmo com suas emoções, mesmo que quisesse.

***

Rachel observou Quinn praticamente correr para fora da sala e se perguntou por quê a loira a evitara durante o dia todo. Ela já havia repassado a noite anterior na sua cabeça umas mil vezes, mas ainda não lembrava de muitos detalhes. Rachel saiu da sala, indo direto para seu armário, pegaria os livros do último período, mas Santana Lopez pôs um braço em sua frente, impedindo que a garota abrisse o armário.

“Anã.” Santana disse em um tom sério cumprimentando Rachel com a cabeça e arqueando uma sobrancelha, ‘Anã’ já era meio ultrapassado, mas ela não pudera inventar nada melhor. Ela e Brittany estiveram ocupadas durante a noite.

“Santana, certo?” Rachel perguntou esperando a garota mover o braço “O que você quer?” ela disse finalmente abrindo o compartimento e tentando não ser rude.

“Isso. O que você fez para a Fabray?” Santana indagou, com um olhar preocupado, a loirinha estivera agindo de uma forma esquisita.

“Como assim?” Berry franziu o cenho.

“Bem, ela esteve estranha durante o dia todo.” Santana deu com os ombros e se encostou em um armário qualquer, olhando as unhas bem feitas.

“Eu não fiz nada. Também tenho me perguntado o que deixou ela assim.” Rachel respondeu, tirando um livro de História do armário e colocando outros que estavam em sua bolsa, sem desviar seu olhar para Santana.

“Okay. Tenho coisas mais importantes pra fazer.” Santana disse a Rachel – o que a fez revirar os olhos – e andou para o lado oposto de onde viera.

Rachel ficou pensando sobre aquilo, forçando sua mente a tentar lembrar de alguma coisa sobre a noite anterior enquanto ela caminhava para a aula de História. A garota sentou em uma carteira vazia no fundo da sala, ao lado da janela, para ficar encarando as nuvens como se elas pudesse lhe dizer algo. Passaram-se vinte, trinta, quarenta minutos, e Rachel ainda alternava olhares entre o céu e o professor, tentando se decidir qual dos dois era menos interessante, quando de repente Rachel se lembrou.

Rachel lembrou que Quinn praticamente a carregara até o quarto, e parecia se divertido com isso, como se Rachel não fosse um incômodo. Rachel se lembrava de estar deitada na cama, vendo o rosto da garota próximo ao seu, os cabelos loiros roçando seu rosto. A pequena se lembrava da respiração de Quinn muito próxima, parecia que, parecia que... Ai Deus! Parecia não, era claro que Quinn Fabray estava prestes a beijá-la, e a última coisa de que Rachel se lembrava depois da escuridão era acordar com a claridade fraca dos primeiros raios de sol entrando pela janela e batendo em seu rosto.