Tiro minha camiseta e me jogo no sofá, exausto depois de horas trabalhando. O ruim de querer ser independente é isso, ser obrigado a trabalhar. Alice e minha mãe foram ao shopping e meu pai está trabalhando, por isso a casa é só minha.

Ou não, pois logo a campainha toca. Pergunto-me quem raios pode ser.

Abro a porta completamente desanimado e dou de cara com a amiguinha da minha irmã, a Glória me encarando com os olhões cheios de lágrimas.

-A A-Alice está? –Ela interroga entre soluços. Chego a sentir dó da coitada.

-Sinto muito, mas por um raro milagre nossa mãe decidiu levar ela para um passeio. É algo urgente? Posso ligar para ela.

-Oh não, não se incomode e nem incomode a Alice, eu vou ficar bem. –Glória seca uma lágrima que escorre por seu rosto e começa a se afastar. Aposto que ela andou tendo problemas com garotos novamente, pois sempre aparece aqui em casa aos prantos quando isso acontece.

-Não quer entrar e tomar uma água com açúcar? Alice me mata se souber que deixei a amiga dela ir embora chorando.

-E-eu não estou chorando. –Glória diz se virando meio sem jeito. Mas aceito a água.

Saio do caminho dando passagem para ela e caminhamos até a cozinha. Preparo a água com açúcar e a garota a toma em silencio.

-Quer esperar a Alice no quarto dela? –Tá, eu assumo que quero me livrar dela deixando-a esperando por minha irmã em seu quarto. Eu não sei lidar com lágrimas, nunca soube. E ela chora demais, sei disso porque já a consolei antes.

-Quero sim. –Ela diz enquanto dá um sorrisinho fraco.

Levo-a até o quarto de minha irmã e ela se senta na cama, então caminho até a porta. Se eu conseguir passar por ela estarei livre e não terei de ficar consolando uma garotinha pelo seu coraçãozinho partido... Ouço-a soluçar baixinho. Ignore os soluços Sean...

Ignore...

Maldita sensibilidade.

-Quem foi o babaca e o que ele fez? –Interrogo enquanto me sento a seu lado.

-O-oi?

-Você sempre chora quando algum cara te maltrata. –Digo dando de ombros.

-Oh bem. Certo... Sabe... Bem, esse carinha com quem eu estava ficando e ele é muito lindo. –Glória coça a cabeça e dá um sorrisinho fraco. –Mas... Bem, ele me deu o fora, acredita? Ele disse que só ficou comigo porque queria azarar a Ju.

-A Julie? Credo. Sou bem mais você. –Reparo a besteira que acabei de falar e limpo as lágrimas que escorrem pelo rosto de Glória enquanto penso em algo para me retratar. –E-eu não quis dizer que sou afim de você, eu só-

Minhas palavras são cortadas por um beijo, e então tudo ocorre rápido demais, só sei que quando dou por mim é por ouvir um grito feminino vindo da porta, quando olho minha mãe e minha irmã estão de frente para a cama e Glória e eu estamos nus... Na cama da Alice.

Alice está com os olhos cobertos, foi ela quem gritou. Parabéns Sean, você merece o troféu de irmão do ano por essa. Glória Sai de cima de mim e me cubro com a coberta de Alice para tentar falar com ela, mas a mesma sai correndo e se tranca em meu quarto.

-Sean depois você fala com sua irmã. –Minha mãe diz séria. –Agora temos um probleminha a resolver. –Ela diz enquanto encara Glória que está coberta com um lençol e com cara de espanto.

-Mãe eu posso... Bem, na verdade eu não posso explicar, só rolou e-

-Sean você tem que ser responsável, essa garota tem a idade de sua irmã. Eu vou contar para os pais dela e vocês vão ter de se resolver, pois ela é amiguinha de Alice e não quero que fique vindo aqui apenas para fornicar com você. –Minha mãe me encara furiosa e sai batendo a porta, voltando alguns segundos depois. –Vocês, peguem suas roupas e saia imediatamente desse quarto, sou muito nova para ser avó novamente!

As horas passam e logo os pais de Glória chegam, ela que havia sido “escoltada” até sua casa por minha mãe está com eles. Passei a tarde inteira ouvindo sermão, meu pai só faltou me matar por ficar com uma garota mais nova e minha irmã está trancafiada em meu quarto e fez questão de berrar que nunca mais vai voltar para o dela. Eu não devia ter aberto aquela maldita porta!

O pai da garota já chega me encarando com um olhar ameaçador. Elevaimematarelevaimematar ELE VAI ME MATAR! Hoje não é meu dia...

Depois de umas duas horas de conversa super amigável na qual os pais de Glória tentavam me matar e meu pais apoiavam a ideia, tudo se resolveu.

Agora tenho uma namorada. Não que seja uma decisão minha ou dela, foi por pura e espontânea pressão mesmo. Se bem que Glória é linda, divertida e inteligente, então acho que sai ganhando.

 Estou batendo na porta de meu quarto e Alice insiste em não abrir. Essa marrenta teimosa não vai mesmo me deixar voltar para meu quarto.

-Ah Alicinha para de graça e sai daí vai, eu estou muito cansado.

-Posso imaginar. –Ela diz irritada. –Meu quarto. MEU QUARTO SEAN!

-Ah é só limpar.

-Ótimo, limpe e fique com ele pra você.

-Será que a gente pode ao menos conversar?

O silencio se faz presente por alguns segundos, mas logo ouço o trinco da porta se abrindo e minha irmã me encarava vermelha.

-MINHA CAMA! –Ela me dá uns soquinhos e tapinhas toda revoltada. –Seu nojento, você e aquela... Aquela traidora. Vocês infectaram meu quartinho. –Alice diz fazendo biquinho. Faço questão de agarrar o bico com a mão e ela me arranha pra eu soltar.

-Bicuda pare de ser dramática. –Entro em meu quarto e me sento na cadeira que fica de frente para meu computador. –Aconteceu do nada, ok? A Glória chegou chorando feito um bebê e perguntando por você, aí ofereci uma água com açúcar pra ela.

-Agora é assim que estão chamando é? –Ela interroga enquanto se senta em minha cama. –Até uns tempos atrás aquilo era chamado de “sexo”.

-Ela me beijou e o beijo esquentou e quando fui ver... Quando fui ver você e a mãe estavam nos olhando. Que mico cara.

-Põe mico nisso. Ainda bem que não cheguei a ver nada de demais, ou você pagaria a conta do psicólogo que eu precisaria.

-Alice você precisa é de um psiquiatra e eu não tenho nada a ver com isso... Se bem que eu te deixei cair quando você era pirralhinha, agora estou em dúvida...

-Sean seu cretino... Sério, nunca mais volto pra aquela cama, ok?

-A gente troca as camas, tá bom assim?

-Se bem que quem me garante que você não andou sujando essa também? –Ela interroga enquanto sai da cama e se senta no tapete.

-Então se é assim eu não sentaria aí também...

-Que nojo Sean! –Minha irmã se levanta irritada e se senta em uma cadeira.

-E nem aí...

-Sean! É melhor eu não encostar em canto algum. –Ela diz, enquanto se levanta fazendo cara de nojo. Claro que antes de hoje nunca fiquei com ninguém dentro de casa, mas confesso que está sendo muito divertido ver minha irmã pirando. -E aí, o que eles decidiram? –Ela me interroga cruzando os braços.

-Agora sou o namorado oficial de sua amiga.

-Como é? Tadinha dela.

-Hahá também te amo. Era isso ou morrer.

-Bem feito. –Alice me dá um tapa na nuca e então corre até a porta. –Você vai limpar aquela bagunça e me dar um colchão novo. –Ela sai e volta logo em seguida. –E se você ousar partir o coração de minha amiga eu arranco o seu. Entendeu Sean?

Ótimo, mais uma ameaça de morte. E dessa sim tenho medo... Pergunto-me se esse namoro com a Glória vai durar pelo menos um mês... Espero que sim.