- Liah levanta-te! - gritaram do andar de baixo.

Acordei, abri os olhos com algum custo pois os raios de sol entravam pela janela e batiam-me na cara. Esfreguei a cara.

Já era domingo... Ainda esta noite voltava para o colégio.

- Liah, ouviste o que te disse? - disse a minha mãe abrindo a porta do quarto.

- Já estou acordada. Bom dia. - respondi.

- Bom dia. Toma banho e veste-te rápido! Temos de ir acabar as compras. - disse e saiu.

Levantei-me da cama e fui para a casa de banho. Entrei na banheira e tomei um banho rápido. Depois voltei para o quarto e vesti-me

Desci até à sala.

- Bom dia filha. - disse o meu pai.

- Bom dia. - respondi.

Fui até à cozinha e tomei o pequeno-almoço. Estava a acabar quando a minha mãe apareceu.

- Ainda demoras? - perguntou-me.

- Estou quase. - respondi. - Mãe tem calma.

- Calma? Tens de voltar hoje à noite para o colégio e temos de acabar as compras. Ainda falta muita coisa. - respondeu ela.

- Vamos lá. 

Levantei-me e saí de casa acompanhada pela minha mãe.

- O pai não vem? - perguntei,

- Não, sabes como ele acha as compras chatas. - disse ela.

- Pois... Ele não acha as compras chatas, acha chato é ir às compras contigo. - sussurei a última parte,

- Disseste o que? - perguntou ela.

- Que estou entusiasmada por ir às compras, é isso. - sorri.

Chegamos ao centro comercial e segui a minha mãe até uma loja.

- O que achas destes tops? - perguntou-me ela, mostrando isto : 

- Mãe eu não gosto. - respondi. - Não tentes obrigar-me a usar as roupas que tu queres que eu use,

- Escolhe o que quiseres. - respondeu chatiada.

Fui dar uma volta pela loja e voltei com isto : 

- Mãe gostas disto? - perguntei.

- Sabes bem que gostava que fosses mais femenina. Que usasses mais vestidos... - começou a dizer.

- Mãe não tentes mudar-me! Eu já exprimentei, e acho que me fica bem. E a Shopie acha o mesmo. - disse eu.

- Quem é a Shopie, filha? Alguma amiga do colégio?

- Não mãe. A Shopie é... - comecei a dizer.

- Não quero ouvir falar mais nisso, nunca mais! Sabes bem que estás proibida de falar nisso. Foi por causa disso que foste para o colégio! - ela quase gritou.

- Mãe calma. Desculpa. - pedi.

- Toma dinheiro. Compra o que quiseres, e depois vai ter comigo ao restaurante. Preciso de dar uma volta. - e afastou-se deixando-me sozinha.

Esta é a minha vida. Chamo-me Liah Collins e tenho 17 anos. Tenho os cabelos castanhos claros e os olhos azuis. 

Ando num colégio privado porque... bem, não vamos falar sobre isso. Mas só precisam de saber que o motivo porque estou no colégio, é o motivo pelo qual discuto diariamente com a minha mãe.

Não sou das mais populares, na verdade ninguém repara em mim. Talvez por eu também não querer que o façam, escondo-me.

A minha vida é complicada, mas eu já me habituei a ela. Nasci assim e não o posso mudar. Sinto-me uma aberração por isso.

Comprei o que queria e depois fui ter com a minha mãe ao restaurante.

- Já voltei mãe. Desculpa aquilo que aconteceu. - disse eu.

- Vamos esquecer isso, está bem Liah? - pediu ela. - Eu não quero que nos chatiemos antes de ires embora. Esquece isso, ignora isso.

- Se fosse assim tão fácil, mãe.

- É fácil. Basta quereres.

O que ela não sabia é que eu estava farta de lutar contra aquilo, farta de me sentir "a estranha". Eu queria apagar aquilo de mim, arranca-lo, mas simplesmente nada resultava...