Hello, Stranger escrita por Leh-chan


Capítulo 6
Segredos




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:: CAPÍTULO 6 – Segredos ::


[T
ora’s POV]


            Não havia noção do tempo. Não havia mais assunto. Não havia mais contato. Novamente, só me sobrou aquele temor infantil e eu estava tremendo. Logo, senti meu paletó ser jogado sobre mim, seguido de um comentário curto:

            – Toma...

            – Eu não estou com frio. – Respondi.

            – Está tremendo. – Retrucou.

            – Eu não estou com frio... – Insisti, já sem tanta intensidade. Ele se aproximou, fitando-me com curiosidade.

            – Mas você está tremendo...

            – Não de frio. – Afirmei.

            – Está com medo? – A pergunta saiu natural. Não respondi, e mais uns segundos de silêncio se estabeleceram até que o loiro continuasse. – Tem medo do escuro?

            – N-não...

            – De não sair mais daqui?

            Fiz que não com a cabeça. Ele continuou tentando:

            – De mim? – E sorriu, divertido. Não consegui acompanhar o sorriso. Resolvi que não faria mal contar sobre meu... Pequeno desconforto.

            – É apertado... E vai... Diminuindo, diminuindo... Sardinhas... – A ideia ficou desconexa, mas creio que ele captou. Passaram-se alguns segundos em que ele ficou me observando, mas aparentemente sem nenhuma intenção. Apenas observando.

            – Claustrofóbico? – Fiz que sim com a cabeça, incerto. Afinal, essa fobia nunca havia se manifestado antes na minha vida. Mas eu nunca fiquei preso em um cofre com um loiro tarado, também.

            – Hum... – Parou um pouco para pensar, me analisando com os olhos. Ao que me pareceu um “clique” (e eu quase pude ver uma lâmpada em sua cabeça), Hiroto pegou o celular que mantinha o lugar iluminado e desligou. Novamente, não podia enxergar nada (e além das luzes, eu estava sem meus óculos, que eu nem sei onde esse maluco enfiou).

            – Hiroto, por que você apagou a luz? – Minha pergunta foi respondida, porém, a voz que a respondeu não vinha mais do meu lado, e sim do outro lado da sala. Ou do cofre, enfim.

           – A bateria vai acabar, e quando a gente for precisar de luz, ela não vai mais estar aí. Além do mais, não há nada para ser visto aqui.

           Com o silêncio, ouvi seus passos, caminhando indeterminada e lentamente, talvez em círculos. Fiquei curioso com o motivo de tudo isso, mas não curioso o suficiente para esquecer a situação em que me meti.

           – Você está bem? – Perguntei, talvez mais por formalidade e irritação do que por preocupação.

           – Eu... Sim. Mas estou pensando num jeito de acabar com essa situação.

           – De uma forma ou de outra, alguém vai chegar para nos tirar daqui... Vão sentir nossa falta. Pelo menos, a minha, porque eu tenho mais trabalho pra entregar pro meu chefe hoje. – Assumi, mesmo não sendo algo animador. Uma vez na vida os relatórios dos estagiários seriam úteis para algo! E aquela confusão toda com o Kohara que, aliás, quando eu sair daqui tenho que matar por não vir trabalhar.

           – Não isso. Você aí encolhidinho no canto falando de sardinhas.

           Ah... Começava a entender o real motivo de apagar as luzes, então. E de sair de perto, tudo pra fazer o ambiente parecer maior. Não que tenha ajudado, mas a intenção foi boa. Ou talvez ele só tivesse medo de pessoas que tem medo, vai que isso exista?

           – Tudo bem... Não... Se preocupe. – Me cobri com meu próprio terno, por causa do frio. Queria que ele visse que estava tudo bem, mas por dois motivos isso não aconteceria: primeiro porque estava muito escuro e não se via nada. Segundo porque eu não estava bem.

           Voltemos à minha teoria de que eu sou um animal racional. Bem. As paredes não estão encolhendo. Tem ar o suficiente para passar a semana e até de tarde, alguém definitivamente sentirá nossa falta.

           ... Mas e se não sentissem? E se ficássemos aqui até toda nossa comida acabar, até congelarmos, ou se morrêssemos de pneumonia ou-

           Meus pensamentos foram cortados por um par de braços que eu não via, mas sentia em volta da minha cintura. Eram lentos e delicados, um abraço de uma pessoa tão desesperada quanto eu, talvez? Não sabia o que era, mas sabia o que ia ser quando consegui ver a ponta de um nariz encostando na minha. As respirações se tocando e eu sabia que havia um pouco de desespero naquele gesto.

           Logo seus braços me envolveram substancialmente e eu pude sentir uma pressão contra meus lábios. Um beijo.

           Apesar de já esperar por isso desde que ele se aproximou, me surpreendi. Não parecia um beijo daquele Hiroto pivete que me atazanava até pouco tempo atrás. Talvez fosse  só o fato de eu não beijar alguém a um bom tempo e querer acreditar em qualquer coisa naquele momento, mas ele parecia mais próximo da normalidade.

           Suas mãos me confortavam enquanto o beijo se aprofundava, de certa forma nos conectando. Limitei-me a acompanhar seu ritmo e deslizar os dedos por seus braços, levemente.

           Senti o nó de minha grava afrouxar até que aquele acessório inútil não me incomodasse mais. E depois disso, eu consegui ficar completamente inebriado com aquele doce aroma capilar misturado ao cheiro de café que eu próprio exalava. Talvez Saga estivesse certo em toda a baboseira que falava sobre minha vida pessoal. Talvez eu só devesse me entregar de vez em quando.

           Em alguns segundos, nossos lábios se separaram com um estalo, mas ele continuava muito próximo de mim. Alguns segundos de silêncio foram cortados por sua voz, não mais estridente, e sim em um sussurro, como se não quisesse que mais ninguém o ouvisse (não que alguém fosse ouvir, duh).

           – Eu morro de medo de ficar sozinho. Por favor, fique aqui.

           Isso realmente me surpreendeu. Limite-me a acenar com a cabeça enquanto ele saia de cima de mim e se colocava ao meu lado, roubando meu terno para cobrir à nós dois, beijando minha bochecha enquanto pegava o meu braço e passava por trás de si.

           – Hiroto... Você...?

           – Por que você não dorme um pouco? Você estava rabugento desde cedo, e eu tomei seu café.

           Sorri de leve, acariciando sua cintura. Talvez fosse melhor ficar só em silêncio, antes que o Hiroto chato voltasse. Já tinha até me chamado de rabugento, daqui a pouco ia ser “Tio Shin-chan” de novo. Aumentei meu sorriso com os meus próprios pensamentos idiotas e narcisistas. 

           Acordei depois de algum tempo. Uma hora? Duas? Dois minutos? Vai saber? Aqui dentro, o tempo não parece passar... Mas considerando o sono que eu (de fato) estava por nem ter dormido esta noite, acho que foi muito. E mesmo sendo um tempo grande, o loiro continuava em meus braços, dormindo com uma expressão tranquila. Desvencilhei-me dele com cuidado e retirei o celular do bolso da minha calça, apertando qualquer botão para acender o visor.

            Assim, levantei-me e ajustei minhas roupas, parando longamente para fitar a camisa suja de café. Sorri de leve. Caminhei até Hiroto e o cobri melhor com meu terno, crente de que o menino estava dormindo, mas foi engano meu. Ele me puxou novamente para o chão.

            – Tora... Fica aqui... – Falou manhoso enquanto se aninhava em meus braços, acariciando de leve minha face. Basicamente, esses gestos me fizeram derreter. E por um instante, tudo se resumia àquilo. Não sei o que mais o cofre guardava, mas além de tal objeto, a partir de agora, guardava um segredo.

            Puxei meu terno e cobri a nós dois novamente. Deixei que mais uma vez, o sono me embalasse... 

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Notas finais do capítulo

N/A: Boa noite.

Bem, não me matem pelo fluffy maldito. Mas sei lá né, apesar de parecer uma situação impossível, eu nunca fui um gay claustrofóbico e carente num cofre com uma loira tarada. Pode ser

Aliás... Esse é o penúltimo capítulo já... Que emoção. Em pensar que fiz essa fic pro aniversário do meu anjinho, e passou tudo tão rápido...

Obrigada a todos que estão acompanhando.