Hello, Stranger escrita por Leh-chan


Capítulo 3
Mais um pouco de trabalho




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:: CAPÍTULO 3 – Mais um pouco de trabalho ::


[T
ora’s POV]


            Uma palavra: maldito-despertador-dos-infernos. Minha cabeça estava prestes a explodir e ele continua tocando e tocando apesar de eu estar o esmurrando e esmurrando. Virei-me na cama para poder vê-lo melhor. Cinco e meia da manhã... Legal! Talvez eu tenha dormido uma hora inteira!

            Muito bem, Tora. Você é um ser racional, portanto, dotado de um cérebro desenvolvido. Use-o!

            Arranquei o adorável despertador da tomada e... Não é que o som foi embora?! Melhor, BEM melhor. Mesmo assim, estou com a mesma sensação de ontem: hoje não será um bom dia. E eu nunca mais ignorarei uma sensação dessas, ok? Mas tenho que ir pro trabalho, e, aliás, tenho que chegar lá às 8. Se levo, geralmente, trinta minutos para chegar e mais uns trinta pra me arrumar, terei duas horas para concertar aqueles relatórios.

            Levantei da cama lentamente, o corpo implorando por mais cinco minutos. Caminhei para o banheiro, bocejando, coçando os olhos... Enfim, naquele bom-humor matinal típico de quem passou uma noite lindíssima. Apressei-me a entrar em baixo do chuveiro, que estava com a água propositalmente congelante. No mesmo instante, acordei para a vida, assustado, todo arrepiado. A água escorria de meus cabelos até os pés, e eu só queria meu cobertor.

            Um banho mais do que rápido foi suficiente. Enxuguei-me com pressa e enrolei a toalha na cintura, andando em direção ao closet. Era um lugar deveras espaçoso e organizado.

            Caminhei até uma grande porta onde encontrei todas as minhas camisas penduradas em cabides ou dobradas em prateleiras. Procurei, seguindo o caminho dos olhos com a ponta do dedo indicador, até que achei uma das minhas favoritas: uma num tom vermelho-sangue. Vermelho... Minha mente voltou-se para a jaqueta que provavelmente pertencia ao tal Hiroto. Mais tarde preciso ligar para ele... Ah! Não é só porque eu tenho dinheiro que não vou cobrá-lo pelo estrago, oras!

            Logo estava vestido com uma calça e paletó completamente pretos e a dita camisa vermelha. Dentre os sapatos que ali estavam, optei por um preto com sola antiderrapante. Sabe como é, só pra garantir. Por fim, me dirigi à parte mais profunda do lugar, onde havia um grande armário. Abri o mesmo, e dentro dele, havia um espelho e várias gavetinhas, todas contendo gravatas. Escolhi, mais uma vez, a minha preferida: era preta e possuía listras finas em um tom de cinza.

             Já comentei o quanto eu odeio dar nós nas gravatas? Os meus sempre ficam terríveis. Transpassei-a pelo meu pescoço e fitei o espelho, para poder ficar mais fácil. Quando olhei para o mesmo, uma pequena surpresa: meus lábios não estavam mais inchados. Pelo menos isso! Parece que aquela mesma entidade divina que não me deixou sem transporte ontem resolveu me proteger, ou estava com muito dó mesmo. Não importa. Fiz um nó no pescoço de qualquer jeito (quase prendendo os dedinhos junto) e passei rapidamente a mão por meus cabelos molhados. Hm, não estão de todo mal, e assim ficarão.

            Voltando para o quarto, minha cama estava arrumada e havia uma bandeja de café sobre a mesma. Provavelmente, coisa da minha “assistente”, Ayaka... O que faria sem ela?

            Ayaka é filha de Himawari, minha governanta. No início, a mãe temia deixá-la sozinha comigo. Foi difícil explicar que eu não gosto de mulheres. Hoje, não viveria sem a Aya-chan: ela faz de tudo para mim, nem sei qual o nome do cargo dela, daí uso assistente mesmo.

            Comi rapidamente as torradas, sem nem sentir o gosto das mesmas direito, e botei todo aquele café para dentro. Precisaria de muita cafeína se quisesse sobreviver. Desprezei todas as outras guloseimas que havia ali, nem com fome eu estava.

            Sobre a mesa de cabeceira, encontrei minha maleta, agora toda organizada, e sobre ela, duas colunas de papéis: uma arrumadinha e outra completamente perdida. Ao lado de tudo, um bilhete. Não pude deixar de sorrir enquanto abria o mesmo.


            “ Bom dia, Shinji-san.
            Desculpe-me por ser tão intrometida, mas como meu quarto é próximo do seu, notei que havia chegado muito mais tarde que o normal, e fiquei preocupada, por causa da chuvarada que teve ontem. Levantei-me e me deparei com aquela bagunça imensa na sala. Seus papéis jogados e molhados estavam datados para o dia de hoje, então, se não se importa, recolhi-os e passei alguns a limpo. Não consegui recuperar todos, pois alguns estavam muito molhados, então esses eu apenas sequei com o ferro de passar e coloquei separado dos demais.
            Espero não ter sido inconveniente.
                                                                                                  Atenciosamente,

                                                                                                                     Ayaka”.

            Kami-sama. Se eu não soubesse que sou gay, teria me apaixonado por ela agora mesmo. Talvez dê tempo de eu terminar... Devem ter só mais umas 30 folhas no monte das “não-legíveis”. Preciso lembrar de agradecê-la...

           Pensei que iria terminar rápido, mas estava enganado. As folhas que ela deixou lá eram as que estavam realmente ilegíveis. Demorei uns 15 minutos só pra decifrar o nome “Noburo” em uma das páginas. Por fim, não teria tempo de imprimi-las em casa, então coloquei tudo em um pen drive.

            Retirei os óculos, colocando-os no bolso do paletó. Fechei o lap top e enfiei dentro da mala. Certifiquei-me de pegar uma maior, onde coubessem todos os papéis desta vez.

            Passei em frente do espelho e ajeitei meus cabelos novamente, para então sair do quarto. Percorri a enorme casa quase correndo, olhando o relógio. Se eu me apressasse, nem chegaria atrasado!

            Já estava na porta quando Ayaka me interceptou.

            – Bom dia, Shinji-san. – Disse, fitando-me com seus olhos âmbar e um sorriso delicado nos lábios. Imediatamente, soltei minha mala no chão, não me importando muito com isso e a abracei fortemente.

            – Aya-chan! Você é meu anjo, ouviu? Muito, muito, muito obrigado! – E passei a dar vários beijinhos em sua bochecha, o que a fez soltar um risinho. Soltei-a um pouco depois, e outra moça uniformizada já estendia minha mala que eu havia deixado cair. Era Himawari, não parecia muito feliz. Mas isso não é novidade, ela nunca parecia muito feliz.

            – Não foi nada... É melhor se apressar ou chegará atrasado. Mas antes... – Ela me entregou uma sacola. – Encontrei uma blusa vermelha jogada na sala ontem de noite. Hum, ela estava molhada, e de longe dá pra ver que não é sua, então a lavei e está aqui para entregar ao dono. – Antes que eu pudesse responder, ela saiu me empurrando. – Agora vai logo, Amano-san! Tenha um bom dia! – E começou a acenar, mesmo vendo que eu estava próximo. Sorri e voltei a correr, até que cheguei à garagem.

            Ver meu amado Corolla todo amassado não foi a melhor coisa para minha auto-estima, mas procurei ignorar e fui até a parede, onde haviam algumas chaves penduradas, junto com seus respectivos controles. Peguei uma que sabia ser de um carro enorme, lindo e confiável para pisos chuvosos e safáris. Apertei o botãozinho do controle e ouvi um barulhinho, virando minha cabeça para a direção de onde o mesmo viera, achei o carro que procurava. Corri até ele, abri a porta e entrei. Joguei tudo ali dentro e dei partida. Talvez hoje fosse um dia melhor... 

-

           Nada de carro amarelo. Nada de noiva. Nada de faróis fechados. O caminho foi demasiadamente tranquilo... Acho que a pessoa que estava me castigando perdeu a criatividade.

            Agora adentrando a mesma porta giratória pela qual eu saí apenas algumas horas atrás, me veio algo em mente: Kazamasa. Não vou esquecer o que fiz por ele, não mesmo.

            Novamente dentro dessa caixa de sardinhas super-desenvolvida. Algumas pessoas que passam me cumprimentam, eu faço um gesto com a cabeça e fim. Que se danem.

            Corri logo para a minha sala: ainda precisava imprimir aquelas folhas antes que meu amável supervisor, Sakamoto, chegue. Não, isso não foi irônico: Saga é um amor de pessoa... Só que ele confia demais nas minhas habilidades, e isso sempre me dá trabalhos exaustivos. Trabalhos dele.

            Cheguei, finalmente, à minha conhecida porta. Estava trancada, como sempre, e eu retirei as chaves do bolsinho da mala, abrindo-a e correndo para dentro. Acho que tanto café não faz bem... Estou sutilmente hiperativo, né? Daqui uma hora eu sei que estarei sonolento novamente. É a vida.

            Rapidamente, liguei o computador que havia em minha mesa. Enquanto ele carregava o sistema operacional (famoso “Janelas”), eu carregava a impressora com folhas, a ligava, a verificava. Tudo parecia certo. Assim, pluguei o pen drive na entrada devida e suspirei aliviado quando vi a primeira folha de pagamento escorregar pela abertura da máquina, seca e uma gracinha, como deveria estar. Já ia começar a festejar minha “escapada” quando ouvi uma voz conhecida.

            – Bom dia, Tora. – Virei-me e me deparei com Takashi sorrindo para mim e segurando um montão de papéis. Mais trabalho? Será possível? – Então... Eu vou ignorar o fato de você ainda estar fazendo o trabalho que era pra estar me entregando e ir direto ao ponto. Tenho algumas surpresinhas pra vocêeee! – Prolongou o “e”. Parecia feliz... Oh, mau sinal.

            – Sim, senhor... – Disse, num tom visivelmente desanimado. Fazer o quê?

           – Ânimo! Olha, eu trouxe os relatórios dos estagiários para você, viu como sou bonzinho? – Comentou, enquanto colocava aquele monte de lixo na minha mesa. Ótimo. – E... Seu aprendiz, Kazamasa, não entregou o relatório. Acho que ficará feliz em saber que, depois de passar a noite toda fazendo sabe-se-lá-o-que com você, ele não compareceu ao serviço hoje. – E lançou-me um olhar malicioso. Como ele sabe que fiquei aqui com o Shou até mais tarde? Não importa.

            – Ei ei ei, não é nada disso que está pensando. Acontece que o estagiário idiota ao qual você me designou não sabe dividir por cem e eu tive que ficar ajudando ele.

            – Sei, sei... Enfim, eu não vim aqui pra isso. Mais tarde nos acertamos... Mas se quer saber, ele é uma gracinha, e você precisa conversar com alguém por que anda muito rabugento. – Ele está perdendo a noção do perigo, né? Ah, Pai... Dai-me paciência... Porque se me der força, eu juro que esgano... – A-ham... Então... Hoje receberemos um cliente importante. Fui avisado de que ele chegará daqui a pouco e quer retirar algo de um cofre de segurança máxima... O cofre 897. – Oitocentos e noventa e sete? Oito com nove dezessete, mais sete, vinte e quatro. Mau sinal? Esse cofre é famoso por aqui. A família deve guardar lá uma fortuna, pois ele é muito bem protegido.

            – E...? – Só não entendia o que eu tinha a ver com isso, claro.

            – E eu quero que você vá junto. Existem todos aqueles procedimentos e tudo mais...

           – Mas esse é SEU trabalho, Sakamoto!

           – Eu estou... Com... Uma pessoa me esperando na minha sala. – Respondeu, com simplicidade, mas se embaraçando um pouco. É, acho que eu sou o único sem namorado por aqui. Um viva pro Shinji - Vivaaaa!

            – ‘Tá certo, ‘tá certo... Obrigado por avisar, pelo menos.

            – Disponha. Esteja pronto... Quanto às folhas de pagamento – Ele apontou para a impressora. – Vamos fingir que esse encontro nunca aconteceu e você as entrega mais tarde, certo? Beeeeeeeeeeeeem mais tarde... – E sorriu antes de sair da minha sala, praticamente saltitante. Fechei a porta e me dirigi diretamente para minha cadeira, sentando-me nela e observando distraidamente a barra verde que representava o processo da impressão enquanto colocava novamente meus óculos e pensava no protocolo a ser seguido quando tínhamos esse tipo de cliente.

            Os cofres de segurança máxima eram geralmente contratados por empresas, para guardar quantias enormes, ou por velhas ricas que guardavam meia dúzia de jóias. Mas o 897 era um cofre especial. Além de todas as senhas, leitores óticos e outros protetores, a parte interna do cofre era especializada. Mantinha luzes especiais, refrigeração especial, segurança dobrada. Não pude deixar de ficar curioso para saber quem era o dono e o que havia lá dentro.

            Não demorou para que todos os documentos ficassem prontos. Retirei-os da minha mala e juntei aos novos, agora os arrumando em ordem alfabética, enquanto imaginava... Uma moça alta e loira, com um salto maior que minha cabeça, vestida de preto, entrando no cofre comigo. Lá, ela me dizia que o marido havia acabado de falecer, que ela veio buscar o dinheiro... E queria fugir comigo para Vegas. Sim, minha imaginação é fértil. É pensando merda que se aduba a vida.

            Terminando de organizar as folhas de pagamento, coloquei-as dentro de um saco plástico e etiquetei “Folhas de pagamento – Julho/2009”. Acabou? Nenhum raio vai cair em cima delas? Nenhuma bigorna, piano, ou vaso com flores? ÊÊÊÊÊÊ! Agora era só esperar a loira tarada... Ri de mim mesmo por um pensamento tão bobo, até que meu estomago começou a roncar. Lembra a fome que eu não estava de manhã? Chegou agora. Graças aos céus, Ayaka colocou algo comestível na minha mala, só não cheguei a ver o quê. Pelo menos ela sabe das minhas alergias, portanto, nada da minha mala pode me matar. Talvez uma lapiseira, mas só junto com um pouco de criatividade.

            Já estava ansioso caminhando em direção à maleta quando alguém (ou algo, vai saber?) bateu na porta. É lanchinho, você infelizmente terá que esperar...


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Notas finais do capítulo

N/A: E olhem só... O dia do Tora está melhorando. Novo dia, novas expectativas. Será que vai continuar assim?

Só pra deixar vocês ansiosos... O próximo capítulo se chama "A loira tarada?"

Mandem uma reviewzinha comentando sobre a fic, que eu fico feliz e a loira não será uma mulher-bomba determinada a matar o Tora. E queria aproveitar o assunto para agradecer os comentários que recebi recentemente, muito obrigada ♥