Não Fui Criada Para A Vida escrita por Juliana Pires


Capítulo 4
Relembrando


Notas iniciais do capítulo

O passado mal resolvido é a tortura do agora.



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Já entediada, a recepcionista me chama para entrar na sala. Eu entro e deito no divã, e olho para Lucius e ele já com os papéis na mão, perna cruzada e óculos na ponta de seu nariz, me pergunta com um pequeno abrir de boca:

– Como estás ?

– Eu estou um pouco entediada na verdade, obrigada! – disse a ele com uma cara de cansada e um levantar de sobrancelhas um tanto exagerado.

– Ah ótimo então! Mas como foi a sua semana? Dormiu bem? Os pesadelos pararam? Conte-me tudo. – Dava para perceber que ele já estava ficando animado.

– Então, eu me comportei estranho esta semana, e os pesadelos nunca vão parar. – eu disse isso e mal percebi que meu olhos já estavam molhados.

– Lana, então este novo mês vamos falar sobre isto, já que os remédios que te prescrevi antes não funcionaram, vou ter que entrar em um assunto onde não queria, mas será preciso para sabermos o que anda acontecendo com o seu subconsciente. – eu concordei e me deitei, já que estava realmente cansada e pouco afim de tocar neste tal assunto que faria a minha dor eterna ser ativada, eu sabia o porque dos meus pesadelos, mas eu não iria dizer, iria deixar ele mesmo descobrir, não sou eu mesmo que pago estas consultas.

– Se preferir feche seus olhos e pense, relembre, vou levar seu pensamento a três décadas atrás, consegue se recordar de algo? O que veio primeiramente em sua mente?

–Claro que consigo, o meu tio apareceu primeiro. – Eu já estava chorando, e meu coração diminuiu, latejando fortemente contra o meu peito e minha angústia.


– Porque ele veio primeiramente em sua cabeça? Me conte mais sobre isto, me conte em como foi a sua infância. – Infância, esta palavra era tortura em outra. Não queria contar, não queria relembrar aquilo, minha vida horrível, eu passaria mal e não dormiria por noites.


Lana estava muito triste por não poder ter dormido com as canções de sua babá, e por estar em um lugar estranho, um lugar pequeno e escuro. Ela estava com medo, mais levantou do colchão gasto onde passara a noite, e foi indo devagar até a claridade da porta para ver o estava acontecendo. Seu tio a esperava sentado na mesa com uma cara de desdém, juntamente com um saco marrom sobre a mesa e um cabide pendurado na cadeira. Ela olha e ele diz:

– Não é a comida perfeita que você come, mas tem pelo o menos, então não reclame. Sua roupa para o funeral acaba de chegar da lavanderia, sinta-se importante queridinha, ninguém espera ver o filho dos Reylles mal vestida em pleno enterro dos pais. – ele levanta e da uma risada estrondosa.

– Eu não tomei banho, – disse ela com seu rosto angelical indicado para o tio – e não sei me trocar sozinha.

– Nossa menina, não te ensinaram a fazer isso sozinha? Tens cinco anos, tem que saber se virar já! Eu não te tocarei, a não ser para te dar umas bordoadas!

Lana se lembrava mais ou menos de como se tomava banho, então foi. Se vestiu, e pediu carinhosamente para seu tio fechar o zíper das costas, ele fez uma cara meio torta mais fechou, se lembrando que a menina tinha somente cinco anos e de que é impossível a própria pessoa fechar o próprio zíper.

Ela não estava acostumada a sair de casa sem estar com os cabelos impecáveis, ela só se olhou no espelho e chorou, por só poder pentear seus cabelos, seu tio a ajudou reclamando por ser uma completa imprestável. Ele a jogou dentro do carro e se dirigiu ao funeral que era distante de onde estavam. Chegando lá Lana sai correndo para abraçar a sua babá, seus conhecidos e pede para não ficar mais com seu tio, não consegue ver seus pais, pois os caixões estavam lacrados. Ela chorava muito e fugia de seu tio, que bebia e comia durante a cerimônia.


Na hora do enterro todos foram caminhando, o absurdo era que o dia estava bom, tinha muito sol, brisa fresca e passarinhos cantando em suas árvores. Lana foi junto de sua babá, o padre dizia coisas que ela certamente não entendia, mas naquele momento ela só chorava e se despedia pela última vez de sua felicidade, seus amigos imaginários passavam a mão em sua cabeça e sofria junto. Seu tio não deixou ela ficar até o final e foram embora, para a sua nova residência que ficava em uma casa humilde em Bellwood em Nebraska, do lado de Columbus onde morava antes da tragédia.



– Isso é a recordação mais antiga de sua infância que você pode ter? – disse Lucius.

Então eu enxuguei o meu rosto molhado e me sentei, olhei para o relógio da sala quieta e vi que já se passara duas horas, é estranho a sensação. Eu estava até meio tonta, olhei para Lucius e ele estava sem o seu óculos, sentado em uma posição confortável e com um copo grande café na mão.

– Está tudo bem Lana? Parece um pouco confusa, não pretendia fazer uma sessão de duas horas, me desculpe por não ter te interrompido. – ele balançou a cabeça um pouco preocupado.

– Lucius, não se preocupe, estou bem, só... foi um pouco doloroso voltar ao passado. Posso ir embora? – eu disse e apontei para a porta.

– Pode sim, e me desculpe mais uma vez.

– Esta tudo bem, vou indo então, até a próxima sessão! – virei de costas para ele e comecei a caminhar em direção para a porta.

– Lana! – ele já estava de pé – eu preciso te contar algo. – eu virei para ele e ele tinha tirado o óculos, ele estava com um sorriso no rosto, o que seria?



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Notas finais do capítulo

Digam o que acharam por favor (: e não percam o próximo capítulo *-*