Obras De Arte escrita por anna-chan


Capítulo 1
Excesso de auto estima? Não...


Notas iniciais do capítulo

Essa fic é pra cereja.
Porque ela é a única que permanece do meu lado, nos dias bons e nos dias ruins. Porque nós sabemos que nosso futuro é falando do tempo, apenas para evitarmos nos machucar com palavras rudes. Porque, apesar de todas as brigas, sempre estamos juntas. E apesar de todas as palavras ruins, todas as crises, todas as brigas, ainda estamos ai. A uva e a cereja.
Porque é assim que vamos ficar, ano após ano, briga após briga, visita após visita. Porque não existe outro jeito para nós estarmos.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/249642/chapter/1

Que eu adorava ver a cara do meu empresário totalmente descabelado porque eu não conseguia criar nada, isso era um fato. Entretanto, naquele momento, até eu estava começando a ficar preocupado com a situação.

Já tinha passado momentos piores do que estava enfrentando, mas nunca uma crise tão grande de criatividade.

Um mês e nenhuma escultura nova. Chegava ser desesperador.

Não pelo dinheiro, mas sim por um branco tão grande em minha cabeça.

Tudo bem que eu estava adorando passar os dias inteiros olhando para o teto, jogando the sims, irritando meu empresário dizendo que iria jantar fora…Só que essa situação já estava passando dos limites. Até eu, o cara mais relax do mundo, estava precisando criar um pouco, para esvaziar a cabeça.

Eu e meu empresário estávamos mais para o Charlie e o Allan, daquele seriado Americano… Tinha certeza de que iria aparecer algo (como sempre aparecia), mas não perdia a oportunidade de espera-lo deitado no sofa, jogando video game, enquanto via Naoyuki gritando que o prazo estava terminando e iamos ficar sem dinheiro logo. Eu e ele, porque no atual momento, eu era o seu único cliente.

Era uma hora dessas, onde Naoyuki berrava que eu não estava me esforçando (eu já tinha desistido de tentar ensina-lo que arte não se faz sobre pressão) que decidi ir comer um lamen. Tinha deixado aquela bixa louca falando sozinho em meu apartamento, ignorando qualquer apelo que ele tivesse para que “tomasse jeito e não deixasse que nós passassemos fome”.

Sabia que meu dinheiro estava acabando aos poucos, mas não era porque precisava que iria criar qualquer lixo, apenas para vencer. Meu trabalho era maravilhoso, único!

Em alguns momentos eu até cogitava vender minhas obras mais íntimas, aquelas que eu guardava para mim, que eu considerava supremas, apenas para tirar Naoyuki do meu pescoço por alguns dias.

Mas desistia logo da ideia ao lembrar de que ninguém estava ao nível daquelas obras. E certamente não haveria um ser humano que teria dinheiro o suficiente para pagar o que elas valiam. Ainda mais quando eu achava que o valor delas era inestimável.

Fechei o olhos, dando uma gargalhada gostosa ao imaginar a cara vermelha, as bochechas redondas e o olhar furioso de meu empresário, provavelmente se segurando para não destruir meu apartamento.

Ah, como era gostoso ser sacana com ele!

Já tinha dito inumeras vezes para aquele gorducho que o problema dele era sexo. E claro, isso apenas servia para irrita-lo mais ainda e, por consequência, me propiciar boas risadas.

Quando percebi, já estava sentado a mesa, esperando aquela gostosura de porco, tão adorada naqueles dias frios do inverno escuro de Tokyo. Eu adorava me esquentar com aquele caldo, senti-lo queimando minha boca… era um pequeno ritual. Apreciar as cores do prato, aspirar o aroma e saborear cada instante do prazer que aquilo me causava.

Eu estava de olhos fechados, com o vapor quente tocando meu rosto, me preparando com um sonoro “itadakimasu”… quando fui interrompido.

“Sumimasen!”

Abri os olhos, encarando o individuo que havia atrapalhando meu momento único. Um moreninho, com bochechas rosadas e covinhas salientes, um sorriso estranho, cabelo liso, cortado num estilo um pouco antiquado para o meu gosto…

“Ano… sumimasen!” Ele cortou meus pensamento, me fazendo voltar o olhar para o estranho. “Você é aquele artista plástico famoso, Miyavi, né?” Ele me perguntou, sorrindo de um modo estranho, que fez um arrepio subir pelas minhas costas. Como ele sabia o meu nome? Ao mesmo tempo, senti meu ego inflando, por ser chamado de famoso. Eu tinha vendido algumas obras de arte aqui, umas ali, mas estava longe de ser famoso. Na tradução literal da situação, eu era um mal interpretado e minha arte, mal compreendida. Gostava de pensar que os seres humanos não eram evoluídos o suficiente para mim.

Enchi o peito e até esqueci que havia sido interrompido do meu ritual sagrado de degostação do lamen.

“Sou sim!” Respondi, crescendo ainda mais, quase perguntando se o moreninho queria um autografo. E, é claro, eu estava pronto para negar.

Artistas plásticos não dão autografos!

“Ah! Sou fã de suas obras de arte! São tão vanguardistas!” E meu ego ficou ainda maior. Eu não me cabia em mim, vendo meu trabalho finalmente sendo reconhecido. Já estava pensando em dar uma chance do moreninho falar algo quando fui cortado. “Foi um prazer conhece-lo!”

E ele saiu, me deixando lá, boquiaberto, sem saber o que tinha acontecido direito, como se tivesse sido atropelado por um trem. Aquele individuo tinha vindo até mim, atrapalhado meu jantar apenas para dizer que me conhecia?

Comecei a ficar revoltado com o atrevimento do rapaz, reparando como ele se vestia. De calça, camisa social e gravata, todo engomado, parecia mais um salaryman. Ele estava sentado a algumas mesas de mim, concentrado em seu lamen. E tinha interrompido a minha refeição enquanto o próprio agora encontrava-se degustando a sua, na paz.

O cabelo bem penteado, sem nenhum fio de cabelo fora do lugar me deixava intrigado. Como um cara tão careta poderia conhecer minha obra, tão inovadora, tão… futurista?

Reparei melhor e percebi que ele sorria. Era um sorriso bonito, mas me dava medo. Um medo que estava me atraindo. Eu estava viciado naqueles traços fortes, másculos, mesmo que emoldurados por toda aquela roupa cafona.

Certamente esse rapaz não combinava em nada comigo e minhas inúmeras tatuagens. Ele parecia ser do estilo mais quadrado, que repudiava pessoas como eu. Mas ele conhecia minha obra…

Eu estava intrigado, querendo saber mais sobre ele. E não hesitei. Deixei meu lamen, agora frio, sobre a bancada, me dirigindo àquele estraga prazeres.

“Sumimasen!” Exclamei, já sentando ao seu lado. Não me importava se era falta de educação ou não. Estava curioso sobre ele. “Como conhece minhas obras?”

Ele olhou para mim, assustado, sugando um pouco de lamen que havia em sua boca. Esperei ansiosamente por sua resposta, encarando-o, ao mesmo tempo que aproveitava para reparar ainda mais em seus traços.

“Eu gosto de arte vanguardista.” Ele explicou, me deixando ainda mais confuso. Comecei a questina-lo, de onde conhecia minha arte, como me conhecia, o que ele achava… E no final das contas, já estavamos discutindo a fundo minhas inspirações e minhas obras.

Uke Yutaka, como ele se chamava, realmente entendia de arte. Apesar do ar totalmente antiquado e quadrado, ele apreciava boa arte, como a que eu fazia. E estava fazendo bem para meu ego estava conversando com ele.

Já eram mais de meia noite quando Uke decidiu encerrar a conversa, alegando que estava tarde.

“Olha, fica com meu cartão, qualquer obra nova que você tenha, me chame para dar uma olhada.” Ele disse, me entregando o pequeno pedaço de papel. Fiquei sem graça, procurando em meus bolsos os cartões, lembrando-me, ao mesmo tempo que levava a mão a testa, que havia saindo sem.

Ele se despediu e eu encarei o cartão, encarando as letras ali escritas.

“Uke Yutaka, vendedor”

Busquei o nome da empresa enquanto, como se fosse ensaiado, ele virava para trás, dizendo.

“Eu vendo máquina para indústrias automotivas. Precisando de uma prensa automatica, só me ligar.”

Pisquei, voltando a olhar o nome da Compania. Não me era estranho o nome, mas não sabia o que era.

Perdido em meus pensamentos nem reparei que o rapaz tinha ido embora.

Caminhei até meu apartamento, ainda meio atrapalhado, sem saber muito bem o que tinha acontecido. Apenas sabia que aquele moreno tinha algo de diferente.

Virei a chave na porta, ouvindo um silêncio que indicava que Naoyuki tinha ido embora. Me joguei no sofá, ainda encarando o cartão. Minha cabeça estava a mil, com um milhão de perguntas, ideias rodando…

Em especial uma que ficava martelando, martelando, como se me falasse “vai agora para o atelie!”.

Ainda relutei por alguns minutos, depositando o pequeno pedaço de papel sobre a escrivaninha, enquanto caminhava até aquele quarto tão pouco visitado por mim naqueles dias.

Respirei fundo, sentindo o ar invadindo meu corpo, como se ligasse, tirasse do standy by todas minhas células, me deixando pronto para outra.

Os dias que se seguiram foram trancados, não parando nem para atender a bixa louca do Naoyuki, que estava ainda mais louco. Não tinha tempo ou vontade de irrita-lo, apenas de terminar aquilo.

E exatamente quinze dias após aquele encontro na casa de lamen, eu buscava aquele pequeno pedaço de papel, que jazia abandonado na escrivaninha a tantos dias…

“Boa noite, Yutaka-san. Você teria prensas automotivas para vender?"


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado e espero que a cereja tenha gostado. Ela estava querendo ler uma MXK então escrevi uma fic singela para ela. Opiniões são bem vindas.