The Stars Shine Bright ~ Observatório Belladona

     Céu estava muito mais estrelado do que das outras vezes e sua cor era de um roxo com matizes azul-real. O vento carregava um doce aroma de sorvete e o som do rio  era nostálgico.

     O telescópio auxiliava os olhos cinza-esverdeados a observar a complexidade dos astros reais, que com tanto esmero admiravam. A altitude do Observatório Belladona também ajudava, localizava-se no alto de uma montanha, rente à nascente do rio Alhuspell - um rio de águas claras -  e rodeado de ruínas. Ao redor cresciam várias belladonas vermelhas, rosadas e brancas que formavam um jardim estonteante aos olhos. Ali ficava o Observatório Belladonna.

    As orelhas escamosas estavam frias como sempre e Nidhary puxou o capuz da blusa e cobriu a cabeça. As asas draconeas de dezenove anos, agitavam-se para tentar aquecer o corpo de sangue frio.

     Ele é um Gria, uma raça meio humana, meio dragão. Como todos os dragões, possuía asas e orelhas pontudas e um belo par de chifres. Sem esquecer-se da esguia cauda escamosa e fina, que tanto orgulho – e equilíbrio! – dava a um dragão.

     Nidhary observava todos os dias as estrelas no despertar da noite. Conhecia a todas e a todas dava apelidos. Havia a Scarlet, com seu brilho intensamente vermelho; Freena, a que sempre despertava primeiro que todas as outras; Carmelia, a que... Bem, são milhares, e não temos interesse em saber, certo? Perdão, há mais uma, que nos acompanhará por mais tempo, a quem ele apelida de "Brigite", que é a que dentre todas tem o brilho mais forte. E como! É até meio complicado de vê-la pelo telescópio pois os rápidos olhos cinza-esverdeados não aguentam seu brilho intenso! E é por isso que ele gosta tanto dessa estrela.

     - Nidhary! - uma voz feminina gritou - Nidhary! Ajude-me com estas caixas!

     Nidhary fingiu que nem ouvia. Não gostava quando era atrapalhado na observação de suas estrelas. A autora do grito é Lyssie, uma gria de cabelos curtos e negros, na altura dos ombros. Ela tem olhos avermelhados e é pálida.

     - Nidhary! - ela esbravejou vendo que Nidhary nunca iria ajudá-la.

     Ela é a namorada de Nidhary. Estão juntos há alguns poucos dias - deveras. É professora de dança, tem vinte-e-um anos e é muito famosa por seu talento, além de desejada por todos os garotos da cidade. E por quê ela está com Nidhary? Bem, Nidhary a gosta muito, deveras - mas prefere mais às estrelas? - Nidhary conseguiu conquistá-la com um trato de que, se em uma semana, ele conseguisse algo de extremo valor que explicasse o seu amor à ela, ela casaria-se com ele - e óbvio que ela não irá se casar, idiota! O pobre Nidhary aceitou, está realmente cego de amores e Dona Lyssie-namoradeira está se aproveitando dele enquanto isso - não posso chamá-la de vadia porque ela trabalha, okay, mas tenho vontade. Outro motivo pelo qual aceitou o trato, foi a extrema alegria e satisfação ao ver a cara do nobre Mistal quando Lyssie lhe propôs o trato; seu rival na conquista da namoradeira.

      - Nidhary... Você nem sabe o que eu tenho nestas caixas... - a voz dela tornara-se desmedida - Você me ama, não é?

      As orelhas de Nidhary abriram-se e este virou-se na direção de Lyssie, imediatamente.

      - É claro que a amo Lyssie.

      - Mais do que essas estrelinhas? - disse ela aproximando-se e acariciando seus cabelos, com um ar sensual.

      - Ahn... - ele corou e as orelhas encolheram-se - Oras! - rapidamente puxou-a para si, fazendo-a sentar-se em seu colo e roubou-lhe um beijo ardente (Devemos deixar claro que ele também se aproveita enquanto pode)

      - Estou curiosa para ver o que você anda preparando para mim... - disse ela com um sorriso de orelha a orelha - é de ouro?

      - Não, meu amor, algo melhor... - ele disfarçou a inquietação da cauda que movia-se.

      É claro que, Nidhary não havia preparado nada... Era pobre e não possuía tanto dinheiro para comprar o que a amada almejava - ouro, jóias, diamantes, coisas desse ramo. Tinha um TOC na cauda, que sempre agitava-se quando ele possuía uma grandiosa ideia ou estava profundamente perdido em pensamentos.

      Fora adotado por um homem - humano -, botânico e criador de cavalos, que o acolheu depois que seus pais o abandonaram. Foi encontrado em um estábulo, dentro de um recipiente de comida, enrolado em uma toalha velha e apenas com um lenço negro e pomposo enrolado no pescoço. O homem, que era meio pobre, identificou-se com ele e resolveu criá-lo. Trabalhava para o rei Leark - que na época estava vivo. Educou-o e ofereceu-lhe tudo de bom e que sua renda podia dar. Agora descansava em paz debaixo das terras azuis de Arathyla e deixou o Observatório e toda a sua coleção de estudos para Nidhary. Assim, Nidhary aprendeu a tornar-se um garoto responsável e higiênico, cuidando do Observatório e tendo-o como morada.

      - Espero que seja... Quero ver o quão grande seu amor por mim é! - disse enquanto pegava a caixa, novamente.

      - Mas é claro meu amor!

      - Nidhary! Veja! - Lyssie apontou para o Céu e quase deixou cair a caixa, numa posição grotesca.

      Nidhary voltou-se para a direção de onde Lyssie apontava e sorriu. Um ponto azul brilhante movia-se lentamente no Céu púrpura colossal. Nidhary levantou-se e fez um gesto de vitória com os braços(aqueles de Level Up):

      - Uma estrela cadente! - seus olhos brilhavam e ele agitou-se - Veja! Veja!

      - Estou vendo! Como brilha, estou tonta! Ai meus pobres olinhos! - reclamou Lyssie enciumando a alegria de Nidhary.

      - Nossa! E veja o rastro que deixa! - sua cauda balançava frenéticamente ao ver a estrela que deixava um rastro cintilante enquanto caía - Veja que lindo! Parece purpurina!

      - Parece ser de diamante... - disse Lyssie baixinho

      - Lyssie! Lyssie! - Nidhary seguiu na direção de Lyssie e segurou as suas mãos, fitando-a nos olhos - Eu vou trazer aquela estrela para você!

      - Oh! - Lyssie espantou-se e seu olhar tornou-se carinhoso.

      - Sim, vou trazê-la para você, como prova de meu amor! - ele sorria emocionado - E vou agora mesmo!

      - Veja, falta como um dia para que seu prazo termine! - cruzou os braços e fez uma cara amarrada.

      - Certo, voltarei o quanto antes, meu amor! - roubou um beijo de Lyssie e entrou dentro da casa - Encontro você na cidade.

      - Certo! - deu um risinho. Tinha certeza de que ele atrasaria-se.

      Lyssie pôs a caixa para dentro da casa - finalmente! -  e pegou suas coisas. Lançou um olhar sensual a Nidhary que arrumava suas coisas. Logo despediram-se e Lyssie saiu e voltou à cidade - o que não é de grande importância retratar.

     Nidhary recolheu uma mochila cheia de mantimentos, calçou sapatos confortáveis e pegou seu lenço negro e bordado abençoado  e amarrou-o ao pescoço. Logo pegou o telescópio e guardou-o na mochila. Trancou a casa ao sair e amarrou a chave no pescoço, como um colar.

      Foi até o estábulo e escolheu um cavalo. Encilhou-o adequadamente para uma viagem. Montou-o e ele logo tornou-se de pele esverdeada e crinas de um branco puríssimo.

     Estes cavalos, criados pelo pai de Nidhary, foram nascidos em Conto de Fadas, uma cidade próxima à Arathyla. A pessoa pode comunicar-se com eles através do pensamento, além de eles tomarem a forma desejada à que seu montante almeja - se você quiser um cavalo rosa com bolinhas laranjas, simplesmente terá. Não é uma boa ideia dar-lhes nomes, para eles é com uma desonra. Sentem-se mais livres sem um nome. Nidhary entendia-se muito bem com este cavalo, era seu escolhido. Ele sempre o reconhecia por um sinal nos olhos; um olho era negro e o outro vermelho. Ele o respeitava e eram companheiros. Desde a primeira vez que havia montado nele, com nove anos, galopou o curso inteiro do grande rio Alhuspell sem cair. "Isto é raro em cavalos de Conto de Fadas!", dizia seu pai. Acariciou-o com um sorriso acolhedor e o cavalo correspondeu brilhando.

      Nidhary e seu cavalo, seguiram então o curso do rio Alhuspell em busca da Estrela que daria à sua amada.