A escuridão da noite já tinha caído, transformando o céu em
um mar negro de lembranças. No centro, estava a lua; cheia e brilhante. Em sua volta, como se tentando protegê-la, pairavam estrelas, com diversos graus de brilhos e tons distintos. Elas conseguiam transformar aquela imensidão vazia em um universo capaz de hipnotizar quem o observasse, nem que fosse apenas por um mísero segundo. Era um espetáculo lindo... Lucy estava presa nele.

Pela janela em frente a sua escrivaninha, seus olhos castanhos escaparam, grudando-se na noite. Involuntariamente, sua mão direita repousou a caneta que segurava em cima das folhas de caderno. Ela estava escrevendo, coisa que sempre fazia quando não conseguia dormir. Era como se o papel a acalmasse, retirasse todas as coisas ruins de dentro dela. E escrever ali, de frente para a janela,
acalmava-a ainda mais. Parecia que, desta forma, as palavras corriam ainda mais soltas, o céu fazia com que seus sentimentos pulassem do coração direto para o papel.

Sentia-se protegida, calma. Era tão bonito... nunca se cansaria de olhar para a noite daquele jeito. Mesmo estando sentada em uma cadeira fria de madeira, parecia estar tão confortável... por mais que a temperatura caísse a medida em que a noite passava, sentia-se aquecida...

Seus lábios esboçaram um sorriso calmo enquanto os olhos se
fechavam. Seus músculos relaxaram, ela sentiu que finalmente podia se render ao cansaço, estava bem. Sempre estaria bem com o céu ao seu lado. Entregou-se a imensidão... assim como em muitas noites antes; como em muitas que ainda estavam por vir.

Quando os fios loiros se acomodaram sobre as páginas escritas, o leão pôde ouvir que a respiração de sua dona estava lenta e estabilizada. E saiu de sua jaula, utilizando sua própria força. Foi então que Loki a viu, dormindo.

Mais uma vez, tinha utilizado de sua própria magia para
suprir um capricho seu. Não, não era um capricho... observá-la nunca seria algo assim, ela nunca seria algo superficial para ele. Era mais como uma necessidade para sua existência... cada mísero fragmento de seu corpo chamava por ela, assim como toda sua alma. Ele era dela, e isso não se baseava a uma chave. Era muito além disso. Sua chave dava a ela o direito sobre sua força, porém ele dava a ela o direito sobre seu coração.

A única parte dela que podia ter era seus sonhos, era vê-la sonhar, em paz. E nunca deixaria ninguém tirar isso dele. Nunca deixaria qualquer um que fosse quebrar os sonhos daquela garota linda. Vê-la sorrir era seu combustível.

A lua refletia em sua pele branca... ela era a sua lua. E
ele, apenas uma entre todas as estrelas do céu, cuidando dela, protegendo-a de todas as formas que conseguia. De fato, não eram tantas quanto desejava que fossem. Aquela maga estrelar era teimosa, inquieta, barulhenta e um imã de confusões. Sempre que sentia perigo em volta dela, ele entrava em cena. E a ajudava. Tentava salvá-la cada vez, como se estivesse tentando agradecer-lhe por tê-lo salvo. Era uma dívida eterna, e, ao mesmo tempo, era algo maior do que simplesmente isso. Era sua vida. Ele vivia por ela, ele estava vivo por causa dela.

O leão antes estava na ponta de um precipício, ele estava se
entregando a escuridão. Ele era uma estrela caindo cada vez mais rápido em direção ao nada. E então ela apareceu, a sua lua. E ele pôde novamente ver um mundo para o qual antes estava cego. O sorriso doce dela o fez sorrir novamente, e agora ele não queria que ela parasse de sorrir de forma alguma.

De certa forma, vê-la relaxada relaxava-o. Podia sentir o cheiro dela impregnado em todo o quarto. Era uma mistura de flores de cerejeira e baunilha. Era fresco, porém doce, calmo, porém agitado. Era tudo que via nela, ela era tudo que via.

Por mais que eles fossem de mundos diferentes, ela nunca
deixaria de ser o seu mundo.

Delicadamente, colocou por trás de sua orelha os fios loiros
que teimavam em cair na face adormecida. Puxou a cadeira com cuidado, para não fazer nenhum ruído, e segurou-a em seus braços, como uma princesa.

A sua princesa.

Ao menos em sonhos, ele poderia se dar ao luxo de ser o
príncipe dela. Pelo o menos em meus sonhos, pensou.

Senti-la tão perto... era tão bom. Queria que ela ficasse em seus braços daquele jeito para sempre. Queria protegê-la e cuidá-la, para sempre.

Chegou até a cama. Não queria ter chegado, queria ficar com
ela em seus braços pela eternidade.

Com cuidado, colocou-a sobre os lençóis, cobrindo-a logo em
seguida. Era tão cuidadoso com ela, que a loira nem se mexia. Estava dormindo profundamente.

Acariciou levemente a face branca, repousando seus lábios na testa da dona da sua chave – e do seu coração.

– Boa noite, minha princesa. – Sussurrou docemente no ouvido
da loira.

E, novamente, ela estava só naquele quarto.