Era uma noite como qualquer outra, Ittoki e Tokiya estavam no quarto, e, como sempre Ittoki chamava seu colega de quarto.

–Tokiya – Chamou Ittoki manhoso, deitado no chão, apoiado com os braços ouvindo música e lendo um mangá - O que você está fazendo?

–Nada que seja da sua conta. - Tokiya respondera seco.

–Tokiya, fala pra mim.

–Pare de falar comigo, está incomodando.

–Tokiya, Tokiya, Tokiya. –Ittoki o chamava ainda manhoso, parecia mais uma criança do que um adolescente chamando seu colega de quarto - Vamos brincar.

–Pare de me incomodar, você está atrapalhando. Vá deitar, ler um livro, dormir no quarto de outra pessoa! - Tokiya estava realmente irritado com o ruivo.

Os olhos do menor encheram-se de lágrimas, e, para não chorar na frente do maior saiu do quarto. Ele estava sentado no corredor encostado na parede chorando baixo quando ouviu passos, ele rapidamente se levantou e começou a andar cabisbaixo.Ouviu os passos se tornarem mais rápidos e sentiu alguém lhe tocar o ombro.

– Ittoki-san... O que houve? – Natsuki perguntou preocupado, o ruivo sempre foi animado, sempre sorrindo.

– Ah, Natsuki. – O ruivo falou com o falso sorriso no rosto – Posso dormir no seu quarto hoje? 

– Claro, acho que Syo-chan não se importa. Mas por que?

– Nada, eu só queria conversar com alguém. O Tokiya quase não fala.

– Eu estou indo para o quarto agora, você vem?

– Claro. Obrigado.

Se dirigiram ao quarto conversando sobre as aulas, entre outros assuntos.
Chegando ao quarto, encontraram Syo dormindo debruçado na mesa.

– Ittoki, pode dormir na minha cama, eu durmo com o Syo-chan. – Disse retirando o menor da mesa e o colocando na cama. Ittoki agradeceu e deitou-se na cama, assim como Natsuki, logo os dois adormeceram.



Ittoki acordou cedo, olhou a janela, observou o céu ainda escuro, com alguns traços alaranjados, mostrando que ainda estava cedo para a aula. Resolveu ir ao lago, gostava do clima lá, lhe acalmava.

Caminhava lentamente, até começar a ouvir um canto, tinha algo de familiar nela... Sim, conhecia ela. Era a voz de Tokiya. “O que ele faz aqui?” Pensou, escondeu-se entre as árvores e continuou ouvindo o companheiro cantar. Pensava na noite passada, resolveu voltar para o quarto, trocou-se e pegou seu material para as aulas.

Quando chegou na sala, ainda não havia ninguém nela, colocou seus fones de ouvido e escreveu bobagens em seu caderno. Estava tão pensativo, que não notou quando o sinal tocou, todos entravam na sala, e alguém estava a lhe chamar.

– Ittoki-kun... Ittoki-kun... – Chamava a pessoa.

Era Nanami. A garota por quem supostamente estava apaixonado.

– Ah, Nanami! Desculpe, estava distraído. – Disse retirando os fones. – O que houve?

– Bem, a aula já esta para começar... 

– O que? – Olhou para o relógio em seu pulso. – Você tem razão! Obrigado Nanami! – Disse sem graça.

A aula mal havia começado e Ittoki já estava bem longe daquela sala , mesmo estando dentro da mesma. Pensava no que deveria fazer ou dizer para o maior, estava confuso, não sabia se teria coragem de falar com Tokiya, e, mesmo que fizesse algo, acabaria falando muito e o outro se incomodaria. Lembrou-se então , de mais cedo no lago, o mesmo parecia triste. Por que ele estaria triste? O magoado ali era o ruivo. Por culpa do mais velho ele chorou na noite anterior. Neste pequeno tempo que pensou sobre o que deveria fazer, na verdade, não foi tão pequeno quanto imaginou. Ouviu alguém lhe chamando, era Ringo-sensei, parecia realmente bravo.

– Ittoki-san! Ittoki-san! – Ringo-sensei estava bravo, tanto que até os alunos se assustaram.

– R-Ringo-sensei? – Indagou assustado. “O que aconteceu?” Perguntava-se.

– Ittoki-san. Queria que soubesse que lhe pedi para que tocasse violão para a sala, mas como estava muito distraído, nem deve ter percebido. Por isso, peço que retire-se. – Ordenou, alterando o tom de sua voz para um tom mais doce.




Ittoki apenas se levantou e curvou-se, saindo, assim, da sala. Um dos melhores alunos havia sido expulso da sala, algo não podia estar certo. Não, algo definitivamente estava errado. Como havia sido expulso da sala, pensou ir para o lago, mas lembrou-se de Tokiya. Pensou, então, em ir arrumar suas coisas, não queria mais atrapalhar o maior. Foi isso mesmo que decidiu fazer, entrou com um certo medo no quarto, Tokiya podia estar lá, mas era quase impossível, um estudante da classe S faltar.Quando adentrou no local, para sua sorte, estava vazia. Começou, então, a arrumar suas coisas. Tirou suas roupas do armário,suas coisas de cima da mesa e foi arrumar sua cama para o próximo que dormisse ali, mas ao tirar o travesseiro encontrou uma foto. Era a foto de Tokiya quando mais novo, não sabia porque tal foto estaria ali, apenas a colou na cama do maior e saiu.

Enquanto andava pelo corredor junto a sua mala, pensou no que diria ao diretor, e antes que percebesse, estava em frente a porta da sala do mesmo.Bateu na porta três vezes, ninguém respondia, quando foi bater a quarta vez a porta se abriu e acabou batendo na testa do diretor.

– Desculpe-me, não sabia que o senhor estava aí. – Ittoki falou coçando a cabeça.

– Não precisa se desculpar, mas então, o que quer de mim? Você está com suas malas, quer viajar?

– Bem, queria visitar minha família... Soube recentemente que ela adoeceu.

– Entendo, sim, você pode ir visitar sua família. – Disse já se indo em direção a sua mesa. 

Percebendo que Ittoki continuava ali disse:

– Mais alguma coisa?

– Sim, queria trocar de quarto se possível.

– Por que? Não gosta de seu atual companheiro?

– N-Não, não é isso. É só que... Eu sou muito agitado para ele.

– Tudo bem, verei o que posso fazer.

– Obrigado. - Ittoki curvou-se e saiu da enorme sala.

Pensou em avisar Tokiya, mas poderia criar muitos problemas para o mesmo, então apenas foi em direção ao portão, saiu e andou um pouco para que pudesse pegar o primeiro táxi.




Quando a aula acabou, Tokiya foi direto para a classe A. Ainda preocupado com Ittoki por não tê-lo visto essa manhã resolveu conversar com o mais novo. Foi até a sala da Classe A, porém o ruivo não se encontrava. Observou novamente a sala, avistando Nanami. Aproximou-se da mesma, tocando seu ombro.

– Ichinose-san! O que houve? – Havia levado um pequeno susto, pois não tinha notado ele ali.

– Nada... Exatamente. Ér, onde está o Ittoki? – Perguntou um pouco constrangido.

– Ittoki-kun? Ele foi expulso da sala na primeira aula...

– Entendo, obrigado Nanami-san. – Dito, retirou-se.
Se dirigindo ao quarto.

Quando chegou no quarto apenas viu o lado do menor vazio, suas coisas não estavam mais lá, a cama estava arrumada, a mesa vazia, exceto por um papel. Tokiya foi correndo ver o que era. Era uma carta, não tinha muitas coisas escritas, apenas umas frase: “Sinto muito, acho que não te incomodarei mais.”. Ao ler aquelas palavras, sentiu um aperto no peito, não tinha certeza se aquilo era culpa sua. Com aquelas palavras ressoando em sua mente, foi a procura do ruivo, procurou em todas as salas, no estúdio de gravação, procurou pelo campus inteiro, perguntou a algumas pessoas mas nenhuma delas sabia sobre ele.Decidiu perguntar ao diretor se sabia do menor, quando chegou na sala a porta já estava aberta.

– Com licença. – Tokiya pediu formalmente ao diretor.

– Pode entrar. – O Diretor parecia se divertir jogando dardos. – Já é o segundo hoje, raramente algum aluno vem aqui, e hoje já tenho dois.Pode ser um novo recorde.

– Segundo? Quem foi o primeiro? Ittoki passou por aqui?


– Calma, calma. Ittoki...Ittoki...Ah sim , ele veio e disse que iria voltar para sua casa.E também, disse que queria mudar de colega de quarto, eu já arrumei seu novo colega de quarto e o mesmo vale para ele.

Resolveu ligar para o mesmo. Voltou para o quarto, pois havia deixado o celular lá. Procurou o número de Ittoki e ligou. Foi atendido no terceiro toque.



– Alô? – Disse a voz do outro lado da linha. Uma voz melodiosa. A voz de Ittoki, o que acalmou Tokiya.

– Ittoki? Onde você está? Como assim “Sinto muito” ? Como não vai mais me incomodar? – O mais velho lhe fazia um pequeno interrogatório pelo celular.

– Bem, eu... Eu estou em casa. Sinto muito por lhe incomodar. E ontem mesmo, você ficou bravo... Então eu pedi para que me mudassem de quarto. – O maior se sentiu culpado, foi muito duro com ele.

– Olhe, me desculpe.Poderia me dizer onde fica sua casa? – Perguntou. Queria vê-lo o mais rápido possivel.