Procuro Um Namorado! escrita por StardustWink


Capítulo 7
Tentativa 7: A ponta do iceberg.


Notas iniciais do capítulo

Oláaaaa pessoal! Tudo bem? *v* Eu estou no meio de uma viagem com a família, mas me esforcei para conseguir internet para postar esse capítulo porque fiquei imensamente feliz com a recomendação maravilhosa que recebi da Aleyna ♥3333333 Muuuuuuuuito obrigada mesmo Kath!
Fico feliz em comentar também que estou adiantada na escrita de PUN, tanto que estou iniciando agora o cap 9. :3 Por esse motivo, farei postagens semanais, ou quando a internet podre daqui me deixar postar.
Enfim, boa leitura!



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Se alguém falasse para Gray que o mesmo receberia uma declaração de amor naquele dia, ele provavelmente encararia o sujeito por alguns segundos antes de rir de sua cara.  

Porque, sinceramente, aquela manhã não fora nem um pouco fora do comum.

 Além da chuva chata que caia do lado de fora, nada de notável aconteceu- Lyon pegou o primeiro lugar no banheiro outra vez, ele queimou seu café da outra vez e saiu de casa atrasado outra vez.

Apesar de o deixar irritado toda a manhã, o Fullbuster gostava de rotinas. Viver com coisas imprevisíveis já lhe havia custado muito nos tempos de faculdade, e ter algo com o que se prender todos os dias o deixava mais estável para realizar seus afazeres.

Depois que Ur morreu, era a única coisa que o mantinha normal.

Mas talvez esses velhos ditados sejam verdade, talvez as coisas ruins só aconteçam por um motivo em especial. Porque aquela vida nova que ele estava levando era muito melhor que a antiga, sem muitas coisas que o pudessem fazer sofrer da mesma maneira que a morte de sua mãe fez.

Ou talvez o destino só fosse um cara brincalhão e traiçoeiro, que criava situações só para desmanchá-las no segundo seguinte enquanto sorria satisfeito de sua obra de arte - ou, nesse caso, tragédia.

Já que, mesmo que Gray não fizesse ideia, aquele não era um dia comum - Típico, pode-se até dizer, mas com algo inusitado o suficiente para jogar sua vida pelos ares.

Esse algo, claro, teve início quando ele entrou pela porta dos funcionários do Aquário da cidade...

-- x --

- Bom dia. - Uma voz ainda meio irritadiça murmurou, soando pelos corredores estreitos. Seu dono de cabelo despenteado andou lentamente trocando saudações breves com outras pessoas, sonolento.  

- Ah, bom dia irmão. - Lyon sorriu para ele ao lado do escritório da gerente. - Não está um pouco atrasado?

- Diz o que nunca me dá carona até aqui. - Ele o encarou mortalmente.

- Se você demorasse menos, talvez eu te esperasse. - O grisalho deu de ombros. - Agora vá trabalhar, sim? Não ouse deixar a Juvia esperando.

Gray encarou seu irmão enquanto ele falava o nome de sua chefa com um brilho sonhador nos olhos. Ainda não comentara a suposta atração que ela sentia por ele, e pensava em até não falar nada.

- Você sabe onde ela está, pelo menos?

- Claro! Ela está checando os animais antes de abrirmos. Se eu não me engano, deve estar nos pinguins agora.

-... Tem vezes que eu tenho medo de você. - O moreno comentou com uma gota.

- Pelo menos as minhas técnicas de conquista funcionam. - O outro rebateu.

 Por que mesmo ele não tinha falado sobre o fato de Juvia ter dado em cima dele? Seria algo muito interessante para se comentar agora.

- Tá, que seja. - Ele revirou os olhos, decidindo que não queria tocar no assunto no momento. Acenou brevemente com uma das mãos e saiu andando para fora da ala dos escritórios, passando pelos corredores vazios do Aquário.

Eles abrem só às 10, lembrou-se. Mesmo assim, tinham que estar lá as oito em ponto para arrumar tudo. Gray sinceramente não via a necessidade disso, mas não poderia discutir com o diretor no segundo dia de emprego.

Chegou finalmente à ala dos pinguins, o frio atingindo-o fortemente no rosto. Felizmente, não via problemas com temperaturas muito geladas. Era até melhor, já que ele ficava menos propício a se despir sem querer como tinha costume.

Sua chefa estava agachada ao redor de muitas aves rechonchudas, analisando-as uma a uma com cautela. Seu rosto estava tão concentrado que só percebeu que ele estava ali quando já estava a uns cinco passos de distância.

- A-ah! - Ela o olhou com surpresa, chegando a gaguejar. - B-bom dia! Eu não tinha visto você chegar...

- Sem problema. - O moreno agachou também , encarando os animais. - Você tem que fazer isso todo o dia?

- Na verdade não, mas eu gosto de te ter certeza que estão todos bem. - Ela abriu um sorriso pequeno, - Só para garantir, sabe.

- Hmm. - Ele encarou. Virou-se para um dos pinguins que se aproximava dele. Sorriu levemente ao ver o pequeno encará-lo com curiosidade.

- Err... Sr. Gray? - A voz da azulada o acordou. O jovem olhou para cima, vendo-a já de pé. - Eu acabei por aqui... Se quiser me seguir...

- Ah, certo. - Ele levantou. - Para onde vamos agora?

- Golfinhos. - Os olhos cor de safira dela reluziram, e ele de repente soube quais eram os animais favoritos da bióloga.

O trajeto foi comum, assim como o resto das análises. Juvia era inicialmente responsável por checar se o ambiente em que os animais eram postos, sua alimentação e as condições da água, mas Gray percebeu que ela também tinha um quê de veterinária.

- Você nunca pensou em fazer veterinária além de biologia?

- Não... - Ela piscou. - Juvia... Uh, Eu amo animais de todos os tipos, inclusive os marinhos, mas... Não consigo imaginar que a vida de um poderia estar em minhas mãos.

- E não está? - Gray arqueou uma sobrancelha.

- Diretamente, nem tanto. - A bióloga olhou para baixo.

Era bem esforçada, ele ouviu dizer. Realizava diversos estágios durante a faculdade, chegando até a fazer trabalhos voluntários para o aquário. Aparentemente, tinha ficado amiga da gerente o suficiente para ela recomendá-la para o diretor e ser contratada logo que se formou.

E parecia um pouco menos nervosa que da última vez. Parece que uns três dias de trabalho eram o suficiente para deixá-los num estado minimamente mais íntimo - o suficiente para que ela não gaguejasse mais nem fugisse para o banheiro de tempos em tempos.

Também foi o suficiente para ele perceber algo além disso. Quando já estava indo embora, claro, mas melhor tarde do que nunca, certo?

- Juvia... - Ele a interrompeu a conversa que estavam tendo no saguão do lugar. Estavam há alguns minutos parados perto da porta, já que ele tinha a pequena esperança que a chuva parasse antes de ter de ir embora.

- O-o que foi? - Ela parou de contar sobre o incidente com o leão marinho que acontecera na semana anterior, com medo de ter feito algo errado ou de estar sendo entediante.

- Você não gosta de chuva ou algo assim?

- Eh? - Isso a pegou de surpresa. A mulher apertou mais o guarda chuva que levava nas mãos. - Como você...?

- É a terceira vez que olha para fora em menos de um minuto. - Comentou.

 Ela pareceu corar, fitando o chão. Se Lyon estivesse lá teria certamente perguntado o que acontecera em um tom preocupado, mas felizmente o mesmo tinha voltado mais cedo para casa, como sempre.

Espera... Felizmente? Não, Gray não tinha nada a comemorar por causa disso. O que estava acontecendo com ele?

- Eu não gosto de chuva. - Ela admitiu. Diante da encarada curiosa que recebeu, acabou por contar o resto. - Meus pais morreram num acidente de carro durante uma tempestade, há uns dez anos atrás... Desde então, coisas ruins sempre acontecem quando chove.

Ou melhor, aconteciam. Já que naquele dia...

-... Ah. - Estranho, ele se lembrava de uma história parecida com essa. Mas de onde? - Meus pêsames, eu...

- N-não precisa disso, Sr. Gray. Já faz muito tempo! - Ela abriu um sorriso, tentando convencê-lo. - A chuva já parou de me atormentar.

-... Como?  

 Ele ficou minimamente curioso. Tinha quase certeza de que, em algum canto de sua mente, uma lembrança lutava para surgir.  

- Ah... Se você quiser saber, então... Eu posso te contar. - A moça ofereceu, um brilho de expectativa presente em seus orbes azuis. Seria um ser divino dando uma chance para ela de fazê-lo lembrar?

Sim, e depois que ele o fizer, redescobrirá seu amor mútuo por mim e viveremos felizes para sempre! Ela sorriu com seu pensamento.

Mesmo assim, a parte já madura de sua mente a lembrou que as coisas não aconteciam exatamente desse jeito, e já era hora de deixar essas possibilidades absurdas para trás.

Mas o que a impediria de sonhar um pouquinho?

- Foi quando eu ainda estava no ensino médio...

Ela fechou os olhos, as memórias voltando facilmente como se tivesse tudo acontecido ontem. Mas claro, como ela se esqueceria de algo tão importante como aquilo...?

-- x --

Chuva.

 Frio.

 Mágoa.

A garota encarou o céu como se ele estivesse divertindo-se de sua miséria. Tinha sido abandonada novamente, deixada para trás na chuva sem saber o que fazer em seguida num parque bem longe de seu apartamento.  

Juvia fechou os punhos, observando o guarda chuva bordado que fora jogado no chão pelo seu agora ex-namorado. De uma maneira, já sabia que ele a deixaria um dia, mas tinha de ser logo assim, num dia de chuva?

Ele não se lembrava de seu trauma? De seu medo de perder ainda mais pessoas queridas exatamente em dias assim?

As lágrimas que caiam de seus olhos foram se misturando aos pingos que deslizavam pelo seu rosto, e ela sentiu vontade de desaparecer, de trancar-se no seu quarto e nunca mais sair, para que não tivesse mais nada que a chuva pudesse arrancar dela.

De repente, percebeu que uma pessoa se aproximava.

Não tinha forças nem vontade para encarar a pessoa de frente, muito menos para pedir que ela fosse embora. Só quando se aproximou, Juvia percebeu que se tratava de um garoto.  

De cabelo bagunçado, casaco cinza e com um guarda chuva preto. Mesmo escolhendo cores neutras, ele era definitivamente destacado no meio daquela vista tão feia e triste.

- Tá tudo bem com você? - Ele perguntou, se aproximando. A azulada permaneceu em silêncio.

- Ei. - O moreno insistiu. - Eu não sei o que aconteceu com você, mas se continuar assim vai pegar um resfriado.

Finalmente, ela ergueu seus olhos para encará-lo melhor - e deparou-se com duas piscinas de ônix que a olhavam com preocupação.

Preocupação, não pena, ela se lembrou. Decidiu que poderia ao menos pedir para ele ir embora, e assim o fez.

Ele a fitou por uns segundos antes de suspirar.

- Olha, eu realmente não sei por que você está aqui, mas isso não é motivo para ficar doente.

- Não faz diferença agora. - Ela murmurou. - Mesmo que eu fique doente, eu...

- Você o quê? - Ele chegou mais perto da garota. - Devia se importar mais com você mesma. Não importa o que aconteceu com você, tem que ter alguém que se importe ao mínimo para te dar uma bronca por pegar um resfriado de um jeito tão idiota.

A azulada lembrou-se do rapaz mal encarado com quem dividia o apartamento. Ele certamente iria ficar bravo, mesmo que disfarçasse isso dizendo que ela estava molhando a casa inteira.

Ela encontrou-se fitando o chão, então, sentindo-se um pouquinho arrependida. Só um pouquinho.  

- Então...? - O garoto perguntou, já um pouco impaciente.

- A chuva... - A garota olhou para cima outra vez. - Ela não vai me deixar só por eu estar protegida. Então mesmo que eu não pegue um resfriado, do que adianta?

- Qual é esse seu problema com chuva, hein? - A garota virou-se para trás, ignorando a pergunta. Sabia que estava sendo um pouco infantil, mas realmente queria ser deixada em paz.

E daí que Gajeel se preocuparia? Ele voltava pior quase todos os fins de semana para casa!

Ouviu passos. Será que teria ido embora?

Ela tinha quase certeza, mas provou-se estar enganada quando sentiu um tecido alojar-se em seus ombros, junto com a falta de chuva em sua cabeça.

 - O que...? - Encontrou o estranho estendendo o guarda chuva bordado por cima de sua cabeça, agora só com o uniforme por baixo de onde estava o casaco - e era de sua escola, para variar!

- Você é extremamente teimosa. - Ele observou. - Se me contar o lance da chuva que estragou a sua vida, você para de ficar aí parada que nem uma idiota?

- Eu não sou idiota! - Juvia protestou, mesmo que tivesse ficado corada pelo gesto gentil do garoto.

- Não é o que parece. - Ele abriu um sorriso - lindo, por sinal - e colocou a mão nos bolsos. - Até a pessoa mais idiota que eu conheço não fica que nem uma pessoa morta na chuva desse jeito.

Ela bufou, continuando a encarar. O jovem pareceu divertir-se com isso, pois riu levemente.

-... Se eu contar, você deixa a Juvia em paz? - Ela resmungou.

- Talvez. - Ele deu de ombros. - Só se a história for convincente.

- Está desafiando a Juvia?

- Por que você fala em terceira pessoa? - Ele sorriu mais. - É engraçado.

- N-não ria de mim-!

-Calma, não tô rindo. - Ele estendeu os braços em defesa. - Mas prazer em te conhecer, Juvia. Meu nome é...

--x--

Gray. Gray Fullbuster, órfão até os sete anos até de ser adotado junto de Lyon Bastia por Ur.

Era ele. A pessoa que salvara a vida dela tinha sido ele! Então era por isso que Juvia era tão familiar, porque eles se encontraram antes!

Como ele poderia ter se esquecido disso?

O moreno então piscou, lembrando-se de repente. No mesmo dia em que encontrara a garota da chuva, de cabelo ondulado e que podia ser teimosa mesmo que também inocente...

Fora o dia em que Ur tivera o acidente, certo? Ele tivera que passar a noite inteira no hospital...

Estava sem palavras.

- Você se lembra agora...? - A bióloga o observou timidamente enquanto ele parecia muito intrigado com a parede da recepção.

Ela suspirou em seguida. Não queria intimidá-lo, mas agora que ele sabia, ela poderia contar de todos os momentos que o seguiu na escola, sua vergonha de agradecê-lo, como ele ficava lindo todo suado depois de uma partida de basquete-!

Controle-se, Juvia, controle-se. Ela bateu em suas bochechas para acordar de seus delírios.

- E-espera... Então, todo esse tempo... - O moreno saiu de sua admiração súbita pelo papel de parede para voltar-se para ela. - Por que não me contou?

- Eu tentei, na escola, mas... Você não parecia me notar, então eu...

- Eu não...? Ahn? - Gray piscou. Bem que ele sentia que estava sendo observado durante o seu tempo na escola.

- Desculpa! - Ela curvou-se rapidamente para frente. - N-não queria te perseguir ou algo assim, Sr. Gray, mas eu...

- Não, eu... - Ele estava encontrando dificuldades para falar direito. -Eu deveria ter lembrado.

Outro silêncio se instalou.

- O que aconteceu... Além do que me contou?

- B-bom, depois que você me pagou um chocolate quente, me levou até em casa, e... - Ela sorriu. - Me lembro de que, justo quando chegamos em frente ao prédio, a chuva parou.

Ah, claro, ele lembrava-se daquilo. Tivera a vontade de rir ao ver tamanha coincidência acontecer, o que trouxera um sorriso ao seu rosto. Ele virara-se para a garota, e mencionara a frase que sua mãe sempre o falava quando estava triste.

- Não vale a pena se magoar com a chuva...

- Espere sempre pelo sol. - A bióloga terminou a frase.

Seus olhares se encontraram. Gray tomou a iniciativa de sair com ela do prédio, ainda um pouco confuso por todas aquelas novas informações que tinha na cabeça - e que na verdade não eram novas, apenas esquecidas.

- Err... Sr. Gray.

- Gray.

- Quê?

- Não precisa ser formal assim, me faz parecer velho. - Ele pediu. A garota corou, fitando chão enquanto balbuciava algo como “querer ser íntimo”, só para depois sacudir a cabeça.

Ele às vezes se perguntava se Juvia percebia que fazia essas coisas em público.

- T-tudo bem, então... - Ela murmurou. - Gray.

- Bom... Então nós no conhecemos há um tempo, não é? - Ele tentou continuar o assunto.

- É... Eu era da sala ao lado da sua lá na escola. - Murmurou. - Fiquei sabendo do que aconteceu com a sua mãe, então eu decidi esperar até falar com você, mas...

(Juvia ficara com tanto medo e expectativa que saíra correndo toda vez que o via no corredor. Talvez fora isso que a trouxera a mania de ficar o espiando de longe, por trás dos armários ou pilastras da escola.)

- Desculpa... Deve ter sido horrível que eu só lembrei daquilo com o ponche quando te vi. - Ele coçou a cabeça, um pouco culpado.

- Bom, eu... - Ela lembrou-se de novo de sua fugida para o banheiro de humilhação, e decidiu parar de falar.

- Você ainda mora naquele apartamento... O do lado do shopping?

- N-não! Eu estou morando sozinha agora, mudei para a casa ao lado... - Ela percebeu que não fora essa a pergunta, e corou. - Quer dizer... Sim, eu acho...

- Huh. Minha amiga tem um café perto dali. Você conhece?

- Tomo café lá nos fins de semana. - Ela sorriu. - Fico feliz da presidente do Conselho ter conseguido realizar o seu sonho, ela é uma pessoa muito boa.

(Na verdade, Juvia tinha odiado a ruiva por quase um ano depois de desconfiar que Gray gostasse dela por serem amigos de infância. Isto é, até todos da escola descobrirem que a Titania tinha um caso com o ex-delinquente juvenil da tatuagem peculiar num dos olhos.

Mas ainda tinha desconfiança da loira que sempre andava com seu grupo. Só o mero pensar de que os dois poderiam ainda ser grandes amigos a deixava nervosa e um pouco frustrada.)

- É... Pode se dizer que sim. - Fullbuster não achava Erza boa. Longe disso, na verdade, aquela garota podia ser o demônio quando estava com raiva.

Um outro silêncio confortável se instalou entre os dois, ainda incertos de como se comportar agora que se lembravam de tudo. Porém, a primeira armação do destino do dia escolhera uma ótima hora para intervir.

As gotas de chuva foram parando de cair uma a uma, e logo um brilho surgiu entre as nuvens do céu nublado.

- Olha, parou de chover! - Gray foi o primeiro que notou, saindo da marquise da frente do prédio para observar o céu. A azulada seguiu-o logo atrás, olhando com surpresa para o sol que surgia pelas nuvens, agora brancas.

- Que coincidência, hein? - Ele comentou, virando-se para a garota.

Mas Juvia não via uma mera coincidência. Ela via um sinal, um mandamento divino que a ditava o número de possibilidades que estavam à sua espera se ela dissesse aquelas três palavras.

Seu coração palpitou mais forte - ela esperara por anos, estava cansada de manter aquilo tudo para si. E agora, que o destino tinha sorrido para ela numa forma tão bela como o sol depois da chuva, pensava que finalmente conseguiria fazer o que tanto desejara.

Ela murmurou as três palavras, os olhos fixos no céu.

Gray tinha certeza de que ouvira errado. Só podia ser. Não tinha como ela falar aquilo do nada, logo após ele lembrar que a conhecia. Quer dizer, era... Louco, sem sentido, completamente impossível.

Ele então lembrou como a garota estava parada na chuva feito uma idiota quando se conheceram e mudou drasticamente de ideia. Balbuciou um “quê”, ainda não acreditando.

Ela se virou, com aquele sorriso brilhante e confiante - que fazia contraste com sua figura tímida e não muito autoritária de quando estavam trabalhando - e falou aquelas três palavras de novo.

- Eu te amo, Gray.

Não.

Não pode ser, isso não estava acontecendo.

Se fosse apenas atração, ele entenderia. Quer dizer, sabia que era bonito. Notava os diversos olhares das garotas por quem passava, não tinha muitas dificuldades para sair com alguém quando estava solitário, então tinha uma autoestima até que razoável.

Agora amor, algo tão especial e puro que sua mãe insistia em dizer que estava cada vez mais raro no mundo, aquilo era completamente diferente. Tinha sido ensinado que não era sempre que alguém sentia algo assim por você, e que ele nunca devia pronunciar aquelas palavras sem ter certeza do que estava fazendo.

E vendo Juvia lá, radiante, falando aquela frase com tanta convicção, ele não podia negar de que sentira o coração falhar uma batida. Já recebera declarações de garotas, mas nenhuma delas parecia ter absoluta certeza do que dizia.

Mas a bióloga à sua frente parecia ter guardado esse sentimento por tanto tempo, o desenvolvendo meticulosamente, mantendo-o vivo ao ponto de esperar por ele...

Aquilo era, sem dúvida alguma, amor.  

- Gray... - Ele piscou, não conseguindo tirar palavras de sua boca. A azulada o encarava, sombras de arrependimento escurecendo seus olhos.

- Uh... Juvia, eu... - Ele tropeçou nas palavras, nervoso demais para pensar no que estava dizendo. - Isso foi tão de repente... E-eu não sei o que dizer... -

- Não precisa! - Ela o interrompeu, o brilho confiante voltando aos seus olhos. - Juvia pode esperar! Quer dizer, eu posso... Eu só queria...

Falar o que estava guardado consigo por tanto tempo. Imaginar como ele reagiria, se ficaria feliz, se coraria, se permaneceria impassível para depois envolvê-la num beijo demorado...

- Eu posso esperar por você, Gray. - A bióloga insistiu. - Não se esforce para me responder. Eu só queria que você soubesse que depois de todo esse tempo, eu ainda...

Ela olhou para cima, e safira encontrou-se com ônix. Diferente da última vez, ela não conseguiu adivinhar o que estava sentindo ao olhar para ela - felicidade, surpresa, vergonha, decepção...

- Eu ainda te amo.

E tenho certeza de que continuarei te amando por um longo tempo.

- Juvia, eu...

- Agora eu tenho que ir. - Ela abriu um sorriso pequeno, olhando em volta. Felizmente, não havia muitas pessoas por perto. - Como eu disse, não se preocupe. Eu posso esperar o tempo que for preciso, Gray.

- Mas eu não...

- Até mais!

Ela já estava andando apressada até o sinal antes que ele terminasse a frase. Juvia sabia que estava fugindo, sabia que a resposta que ele talvez já tivesse poderia não agradá-la...

Porém, estava tão feliz de finalmente contar seus sentimentos que não pôde evitar o sorriso que tomou conta de seu rosto.

Enquanto isso, o Fullbuster ficou ali parado, imóvel.

A sua chefa, a garota que tinha “salvo” há anos atrás, o amava. E ele não sabia absolutamente nada do que fazer.

Não sabia o que sentia por ela. Como poderia? Tinham se conhecido realmente a pouquíssimo tempo! E além disso, tinha Lyon, que já o pedira ajuda para conquistá-la...

Estava em apuros. Precisava de uma pessoa sábia que pudesse o dar conselhos amorosos.

E como seu melhor amigo era um tapado e Lucy provavelmente riria da cara dele, ele teve de partir para a única alternativa restante.

Nem que essa última fosse a ‘rainha das fadas’, Titania.

...Pensando bem, ele ainda estava ferrado com qualquer das opções que escolhesse.

-- x --

Bixlow acabara de chegar ao Rajinshuu, o bar que costumava ir desde o ensino médio. Depois do choque que fora encontrar a Demônio Strauss trabalhando como modelo, ele precisava de um gole de algo forte para engolir a notícia.

Pelo menos ele conseguira um emprego. Não tivera muita sorte com o outro na loja de brinquedos já que as crianças ficaram com medo dele e de sua tatuagem na língua.

Como se elas soubessem o quanto aquilo tinha doído!

- Me vê o de sempre, velho. - Ele pediu para o barman que limpava um copo no bar, que foi rápido para preparar seu pedido.

Olhou em volta, à procura de alguém que poderia se interessar pela notícia. Mas além de Kinana que estava ocupada levando alguns drinks e Cana que estava dormindo no fim da bancada com um barril ao seu lado, não havia ninguém...

Ele ajeitou a touca com uma das mãos, tomando um gole da bebida que acabara de ser deixada no balcão. A quentura familiar que veio em seguida foi reconfortante, e ele levantou o copo para tomar outro gole.


Isto é, se não visse alguém entrando pela porta do bar.

Abriu um sorriso quase instantâneo. Essa pessoa definitivamente gostaria de saber da novidade. Ele acenou para o homem ao lado da porta para ele vir sentar ao seu lado.

- O que você faz aqui? - O outro perguntou assim que se sentou. - Ever não tinha conseguido um emprego para você?

- Acabei de voltar de lá. - Respondeu com entusiasmo. - Você não vai acreditar quem é a garota de quem vou tomar conta.

- Fala logo.

- A Strauss! Pode acreditar? - Ele tomou o resto da dose, seus bonequinhos chacoalhando com o movimento como se estivessem rindo junto dele.

O homem ao seu lado pareceu surpreso com a notícia. Claro, ninguém esperaria que a antiga arruaceira de olhos azuis vivos pudesse tomar uma reviravolta tão grande para virar modelo.

Principalmente ele. Quer dizer, não tinha ninguém que a conhecia mais do que ele, de suas loucuras e manias e de como ela era linda com o cabelo ao vento e aproveitando a liberdade, muito mais do que poderia ser apenas em frente às câmeras.

Mas, para ela chegar a esse ponto... Sentia falta de Mirajane, mais do que conseguia admitir, e tinha certeza de que, no fundo, ela também.

Estava decidido. Virou-se para Bixlow mais uma vez, vendo que este já estava no segundo copo.

- Ei Bix, onde é que você foi para saber disso?

- Hm? - Ele piscou. - No hospital daqui do lado, sabe? Parece o apartamento dela foi um dos que pegou fogo, e a irmã foi uma das vítimas, pelo que parece.

- Irmã? Aquela baixinha de cabelo curto? - Arqueou uma sobrancelha. - Ela não tinha ido morar com os...

- Tinha, sim, mas parece que voltou. - Tomou um gole da bebida, - Ela vai ficar lá até quarta feira.

- Ah, bom saber.

- O que você vai fazer, Laxus? - Bixlow encarou o amigo desconfiado.

- Vou dar uma visitinha à Mira.

O loiro sorriu: finalmente a veria novamente.


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Notas finais do capítulo

Pois é, parece finalmente vimos o último personagem ~envolvido~ especialmente na trama (e nos casais, cof cof.) . Personagens difíceis como ele são bons de escrever~
Bom, se tudo der certo, vejo vocês semana que vem. Tenham um ótimo 2013, e até mais! owo/