Procuro Um Namorado! escrita por StardustWink


Capítulo 12
Tentativa 11: Primeiro encontro?


Notas iniciais do capítulo

OLÁAAAAA, PESSOAL!!!! A QUANTO TEMPO! Eu devia ter terminado esse capítulo em janeiro, só para constar, mas o período final de provas acabou com a minha vida e me deixou sem motivação nenhuma para escrever algo..... Só que chegou fevereiro, chegou a semana do Valentine's Day, e eu pensei. Não, eu tenho que terminar isso para sábado. E aqui estou eu!!! (;v;)/

E o que seria melhor num dia como esse como um capítulo de um encontro, certo??? Um encontro que estávamos esperando desde o começo da fic, que dará muito certo, não é???

EEEE EU TENHO UM AVISO PARA DAR. Como a autora que vos fala gosta de dar hiatus enormes de um ano e esquecer a ordem das coisas que planeja, eu esqueci de adicionar uma coisinha do capítulo 10. Eu já editei, então é, vão dar uma olhada lá /sighs/ Eu tenho que parar de ser tão avoada, pelamor. E MUITO OBRIGADA PELOS 200 COMENTÁRIOS!!! eu realmente não mereço vocês, cara ljdlfksdflksjdflk

Enfim, espero que gostem do capítulo! Terão algumas explicações nele, mas não tudo. Não seria divertido revelar a parte legal da história toda de uma vez, certo~?



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Se Levy McGarden tivesse uma lista de piores dias da sua vida, ela tinha certeza que aquele seria o primeiro.

Afinal, aquela era a primeira vez em que seu despertador não tocara no horário certo – graças a seu celular que perdeu a bateria–, que ela se enrolara tanto se arrumando que não tivera tempo de tomar café da manhã, e que logo hoje ela tinha aquela aula terrível de física com fórmulas e mais fórmulas que ela nunca entenderia se não estivesse bem alimentada.

A garota de cabelos azuis culpava seu azar pela noite anterior em que ficara lendo o mais novo livro que resgatara da biblioteca; um com uma história tão envolvente que a deixou até quase uma da manhã virando páginas e mais páginas até que seus olhos não conseguiam mais ficar abertos.

E, bom, agora ela estava atrasada por causa disso. Muito atrasada.

Ugh, maldito ônibus que demorou! Maldito condutor que parou em todos os pontos e da mulher que passou quase um minuto inteiro perguntando coisas para ele só para sair do ônibus depois! Ela praguejou para si mesma enquanto se apressava pela rua, o prédio grande de sua escola já podendo ser visto à frente.

Sabia que a culpa era sua por tudo aquilo, mas seu cérebro de sete horas da manhã e mau humor por estar com o estômago roncando fariam qualquer estudante de ensino médio xingar tudo o quanto é empecilho à sua frente até a escola, e Levy não ficara de fora desse padrão.

Talvez fosse isso que a fizera perceber todas as coisas minúsculas durante seu caminho... Como, por exemplo, o tênis preto quase imperceptível perto de um arbusto grande ao lado da entrada.

A garota parou e encarou o objeto.

Ela sabia que estava atrasada, provavelmente levaria uma bronca do professor quando entrasse na sala, mas aquilo era curioso demais para se deixar passar. Aquele calçado estava logo depois do portão, quase imperceptível na lateral e definitivamente ligado a uma perna.

Ah, não. Essa história é familiar demais. A garota engoliu em seco, dando um passo hesitante na direção do calçado, uma mão subindo para segurar com força a alça de sua bolsa. Ela tinha lido algo muito parecido um mês atrás, a história de um assassinato na escola que terminava com a descoberta de que o professor de biologia era o culpado.

Porém, por mais que a professora Cosmos fosse estranha e tivesse uma adoração esquisita por flores carnívoras, ela não achava que a mesma seria capaz de homicídio. Nesse caso...

Levy hesitantemente chutou a perna do estranho, vendo se ele mostrava alguma reação.

– Errr... Oi? Você tá bem? – Ela tentou perguntar, chegando mais perto para espiar por trás do arbusto, mas acabou nem precisando fazer isso. A cabeça do garoto apareceu de trás das folhagens em seguida, seu cabelo negro longo bagunçado e cheio de folhas.

Ele vive!, era o que ela queria gritar, mas achou essa frase parecida demais com Frankenstein e o desconhecido estava vivo, e não era um zumbi. Pelo menos, Levy esperava que não fosse. Enfim.

– Urgh... – O garoto parecia ainda não ter se situado direito, esfregando um dos olhos e olhando para os lados. Levy chegou a achar que talvez fosse um maluco qualquer que tinha invadido o prédio da escola para dormir lá, mas o uniforme que ele estava usando sugeria o contrário.

Mesmo assim, era deveras esquisito.

– Está tudo bem com você? Sabe que o sinal já bateu a um tempinho, não é? – Ela tentou outra vez, tombando a cabeça levemente para o lado enquanto o dito estranho acabava de tirar uma folha amassada do cabelo. Seus olhos se dirigiram para ela em seguida, e a garota congelou momentaneamente ao perceber que eles eram um tom de vermelho vivo que ela nunca vira antes.

Se fosse qualquer outra pessoa, talvez ficasse com medo daqueles olhos. Mas, para uma garota que já lera um mundo de livros de ficção e tinha os amigos mais estranhos do universo, Levy sabia que aquilo poderia ser o menor de seus possíveis problemas.

– O sinal...? Urgh, já é de manhã? – Ele resmungou mais para si mesmo do que para ela, voz um pouco rouca, provavelmente porque acabara de acordar.

– C-como assim já é de manhã? – A garota piscou, arregalando seus olhos comicamente. – Você estava aqui desde ontem?!

Viu? Algo muito mais estranho que olhos vermelhos.

– Dá para falar mais baixo, nanica? Eu tô com uma dor de cabeça do cacete aqui. – O moreno ignorou sua pergunta, levantando uma das mãos para tocar sua cabeça. – Você consegue ser pior que a mulher da chuva quando ela fica falando sobre aquele idiota do-

– Ah, desculpa se eu estou assustada porque você resolveu dormir no meio do jardim da escola. – Levy o interrompeu, tom de voz pingando ironia e mãos fechadas em punhos. – Se você quer mesmo perder o primeiro tempo de aula, que fique aí mesmo!

– Não é como se eu fosse muito, de qualquer forma. – O garoto deu de ombros, bocejando em seguida e ignorando o olhar atônito da menina à sua frente.

Espera aí... Esse é o perfeito estereótipo de delinquente juvenil, não é...? Foi o que sua mente conseguiu conjurar enquanto ela encarava o estranho. Se os piercings no rosto e cabelo exageradamente longo já não lhe diziam isso, agora a mesma tinha certeza.

Levy engoliu em seco. Ela não queria se envolver com alguém assim, não quando ela tinha uma reputação de garota mais inteligente da sala para manter. Não que ela quisesse ter uma reputação, as coisas só eram difíceis de evitar quando você anda sempre com livros na mão e casualmente vai bem em provas.

– Olha, se você quiser ficar aí, tudo bem. Mas um inspetor deve passar logo logo por aqui, então eu aconselho você ir se esconder em algum lugar para não levar detenção. – Ela parou por um momento, - Isso é, se você se importa em ganhar uma ainda.

– Não é como se eu amasse ficar aqui depois da escola, baixinha. – Ele a respondeu, revirando os olhos, e finalmente tomou impulso com as mãos para se levantar.

De repente, a resposta arrogante que ela estava prestes a retrucar morreu na ponta da sua língua. Aquele garoto era gigante. Ela devia bater um pouco abaixo do peito dele, e isso era estranho e difícil de lidar com quando Levy estava tentando discutir com o mesmo.

– B-bom, pelo jeito que você estava dormindo aqui antes, eu não duvido. – Finalmente, ela conseguiu responder, bem antes do moreno que tinha uma sobrancelha arqueada pela demora dela pudesse falar mais alguma coisa. – E meu nome não é baixinha, nem nanica; é Levy.

– Que seja, Levy. – Ele sorriu para ela, mostrando parte de seus dentes afiados, e sua garganta repentinamente ficou seca. – Eu não deveria estar dizendo isso para você?

– Não precisa se preocupar, eu tenho vantagens pelo professor gostar de mim. – Ela estava mentindo, claro; seu professor de física era do tipo que não pegaria leve nem com seus próprios filhos se eles chegassem atrasados na aula. Mas ela não queria que ele soubesse disso. – Agora se me der licença, eu estou indo!

Ela deu meia volta, pisando forte até a entrada do prédio principal e quase virando de volta quando ouviu um “Gihi” soar de trás dela. O que a garota queria, parando para falar com o aluno delinquente que vive faltando aula e aparentemente dorme no jardim do colégio quando bem entende? Ele pelo menos deveria achar um lugar mais escondido para isso!

Levy suspirou. Talvez eles não fossem tão espertos quanto os garotos dos livros. Os delinquentes desses romances que de vez em quando ela pegava para ler sempre pareciam ter sido agraciados com uma mente brilhante para viver faltando aulas e ainda serem espertos o suficiente para passar. Pessoas assim eram mitos, nada além disso.

Hmmm, isso parece ser uma boa crítica. A garota pensou para si mesma. Tinha começado a dar uma corridinha até sua sala assim que passara pela porta principal, mas sua ansiedade crescente de ter que abrir a porta da sala na frente de todo mundo a fez desacelerar um pouco. Talvez eu devesse colocar isso na minha próxima matéria...

Para quem se intitulava uma ‘rata da biblioteca’ em sua coluna semanal de livros do jornal da escola, scriptfairy não era nada mais nada menos do que Levy McGarden, uma garota outrora normal que cobria algumas horas na biblioteca da escola para poder passar a tarde lendo sem culpa. Aquele sempre fora seu lugar favorito para pegar livros depois da biblioteca de sua família, e a garota tinha certeza de que já tinha lido quase todos os livros de lá, então.

Sim, ela deveria continuar pensando no que escreveria para essa semana, ou senão Lucy definitivamente a mataria. Não tanto pois eram melhores amigas, mas Levy conhecia a editora-chefe do jornal do colégio o suficiente para saber que ela tinha um temperamento forte.

...No entanto, sua mente ainda não conseguia desgrudar-se completamente do garoto estranho que vira antes. Ele certamente era de sua turma; lembrava-se de vê-lo algumas vezes sentados no final da sala, e também discutindo com os garotos, só que faltava tanto que a mesma não conseguira gravar seu nome desde o início do ano. E olha que já tinham se passado dois meses!

Levy bufou levemente, segurando a alça da bolsa mais perto de si mesma. Não é como se ela fosse falar com ele uma outra vez, mesmo. Aquele garoto parecia rude demais para o seu gosto, e tinha certeza que Lucy falara para ela que ele não tinha uma reputação muito boa. Algo como um rumor dele pertencer a alguma gangue...?

Enfim, nada com o que ela quisesse se envolver.

Mal sabia ela que aquela história estava longe de acabar.

xxx

Sim, certamente aquele estranho não era alguém com quem ela quisesse se envolver. Mas os encontros de ambos pelos corredores ficaram tão frequentes que Levy não pôde ignorar sua curiosidade crescente sobre ele.

O que aquele garoto pretendia, afinal? Ela nunca entendera o tipo dele, que parecia não dar a mínima para seu futuro. Levy podia ter sim lido milhares de livros que lidavam com pessoas assim, mas a garota tinha a mínima decência de saber que aquilo era ficção, e pessoas reais eram bem diferentes. Não podia simplesmente atribuir todos os seus problemas a angústia de adolescente e a perda de um ente querido aleatório; isso era irreal.

Ela não podia evitar; Levy estava curiosa.

Talvez fosse por isso que ela acabou flagrando aquela pequena cena aquele dia.

O garoto – Gajeel, pelo que Lucy a contara – estava parecendo ser intimidado por outros dois, que o cercavam contra uma parede enquanto o mesmo os encarava parecendo não muito impressionado.

Levy apertou o livro que levava contra seu corpo. Aqueles corredores ficavam vazios àquela hora depois das aulas, a mesma provavelmente só os encontrara lá por estar cortando caminho até a entrada da biblioteca. Além disso, Gajeel não parecia nem um pouco incomodado com a situação, ele provavelmente não teria problemas com aqueles dois. Ainda assim...

Se algum inspetor vir esses três aqui caso uma briga acontecer, ele vai ter problemas... Uma voz em sua mente terminou seu raciocínio. Se Lucy estivesse certa, ele já estava encrencado o suficiente faltando tantas aulas; se aquilo acontecesse...

A garota não sabia por que estava fazendo isso, sério. Ser uma justiceira nunca fora de seu feitio – ela normalmente deixava a impulsividade para Lucy – só que ela estava lá, bem a tempo de impedir algo, e Levy não poderia deixar isso acontecer.

Sem falar que, talvez, ela fosse finalmente descobrir qual era a daquele garoto.

Outro xingamento. A garota desviou seus olhos castanhos para a visão à sua frente, percebendo que o garoto loiro acabara de segurar Gajeel pelo colarinho da blusa, e Levy notou o brilho irritado nos olhos vermelhos do moreno. Ela tinha que agir antes que aquilo escalasse muito.

Respirando fundo, Levy deu um passo para frente do corredor, entrando na visão dos três garotos.

– Ei, vocês! – Ela anunciou, tentando fazer a melhor impressão de Erza que conseguia pensar em poucos segundos. – Aqui não é lugar para arrumar confusão, sabiam? Querem que eu chame o inspetor?

Ela pôde ver os olhos de Gajeel arregalarem ao reconhecê-la, mas os outros dois só pareciam irritados que alguém atrapalhara sua discussão. No entanto, ao invés de tentarem reagir ou algo assim, o loiro apenas soltou a blusa de seu alvo, murmurando um ‘tsc’ antes de se afastar.

– Isso não acabou, babaca. – O loiro anunciou para Gajeel, que não respondeu coisa alguma enquanto observou-os ir. Levy aproveitou isso para dar alguns passos em direção a ele, um bico desenhando-se em seus lábios rosados.

– O que você acha que está fazendo? – Perguntou, encarando-o com irritação. - Dormindo atrás de um arbusto e agora brigando no meio do corredor? Você quer ser expulso?

– E o que isso tem a ver com você? – Ele desviou seus olhos para ela, não se preocupando em virar-se totalmente em sua direção.

– Nada, só o fato de que essa é a segunda vez que você atrapalha minha vida em menos de uma semana. – A garota rebateu, segurando mais o livro contra si. – Me desculpe por te tirar daquela briga antes que algum inspetor chegasse.

– Eu poderia ter dado conta daquilo muito antes, baixinha. – O garoto bufou, o que aumentou ainda mais sua raiva. Tudo bem que ele era gigante e rude, mas custava pelo menos agradecer?

– Ora seu... – Levy não estava mais ligando para a altura daquele garoto, ela iria ensinar ele uma lição nem que fosse à base de gritos. E sim, ela estava prestes a dar os últimos passos até ele quando ele decidiu fazer isso primeiro.

– Mas valeu por isso, de qualquer forma. – Ele falou com um sorriso torto, descendo uma de suas mãos para dar batidinhas leves na cabeça dela.

Em um segundo, toda a raiva que Levy antes tinha explodindo em seu corpo deu lugar à confusão, e seu rosto que antes já estava vermelho de raiva assumiu uma coloração escarlate.

– O-o quê...? – Ela murmurou, levantando a cabeça para olhá-lo de frente, mas, pela segunda vez naquele mesmo dia, Gajeel foi mais rápido.

– Ah, então você lê o mesmo tipo de livro que a mulher da chuva, huh. – Ele comentou para si mesmo, encarando a capa. A garota piscou, e sentiu a raiva de antes voltar.

– E-ei você, me devolve isso-! – Ela pediu, mas o garoto apenas levantou o livro mais alto, dando aquela risada estranha de antes novamente. Levy definitivamente odiava pessoas altas; ainda mais as que usavam de sua altura para atrapalhar sua vida, como agora. Ele podia ser, sei lá, alguns centímetros mais baixo? Ela nunca pegaria aquele livro dele a esse ponto- E ela estava adorando a história, então...!

– Por que você quer tanto esse livro? Com um título desses, parece chato. – Ele perguntou, ainda com aquele sorriso irritante. A garota bufou, aproveitando que ele descera o livro para ver a capa para arrancá-lo de sua mão no segundo seguinte.

– Não julgue um livro pela capa. Nunca ouviu falar desse ditado? – Ela retrucou, segurando seu tesouro recuperado contra o corpo.

– Sim. Não costuma ser muito verdade, não. – Ele respondeu com a mesma expressão de antes.

Levy piscou, e estreitou os olhos. Aquela afirmação era um pouco irônica, visto que o garoto com cara de delinquente juvenil à sua frente não fizera nada além de um garoto irritante de sua sala faria até agora.

Será que ela deveria se preocupar mais com ele?

A garota suspirou; ela não tinha tempo para ficar refletindo sobre isso.

– Bom, se me der licença, eu tenho que cobrir meu turno da biblioteca agora. E também gostaria de continuar lendo meu livro. – Ela falou, então, lançando-o outro olhar irritado antes de se virar. Andou um, dois, três passos, antes de parar novamente. - ...E, por favor, tente não se meter em muita confusão. Eu não posso estar aqui da próxima vez para te livrar de uma.

– Como eu tinha dito antes, eu poderia ter lidado com aquilo eu mesmo, Levy. – Ele deu de ombros, cruzando os braços.

Levy arregalou os olhos levemente por ele ter usado seu nome de novo, e o lançou um último olhar irritado antes de se virar, não se importando em se despedir. Seus passos se tornaram rápidos na direção da biblioteca; o mais rápido para longe dele, o melhor.

Ele não precisava de sua ajuda? Bom, tudo bem, ela não o ajudaria então. É nisso que dá tentar ser legal com pessoas desse tipo, Levy.

A garota repetiu isso incessantemente em sua cabeça, tentando ao máximo ignorar o vermelho de suas bochechas que surgira ali desde que ele a chamara pelo nome pela última vez.

xxx

É claro, ela devia ter ouvido a si mesma. Aprendera da pior forma de que confiar numa possível bondade em pessoas como ele era tolo de sua parte, um deslize que seu eu de dezessete anos faria, mas que ela não cometeria mais.

Levy perdera muitas coisas naquele dia. Os livros da biblioteca da escola, os que ela não conseguira ler por inteiro. O livro em especial que nunca tivera o tempo de terminar. Seus materiais de escola, todos os seus cadernos...

A pior coisa que perdera, no entanto, não fora nenhuma daquelas. Fora porque ela tinha começado a confiar nele, e Gajeel tinha traído sua confiança como se ela não fosse nada. Levy tinha mesmo que parar de ser tão estúpida, pensando que poderia ajudar alguém como ele.

A vida, afinal, não era que nem um livro.

Naquele dia, Levy tinha perdido um pouco de sua esperança em finais felizes.

xxx

Ambos sentavam um de frente para o outro, na mesa, em silêncio. A faixa que Levy colocara naquela manhã – a sua preferida, que escolhera para ele – ainda permanecia em seu cabelo, mas o sentido de usá-la não estava mais lá.

O homem à sua frente era metal, cujo ela passara dias conversando animadamente sobre tudo, contando de sua vida, dos problemas que enfrentava. Era o que possuía um gosto incomum por gatos, que já fora membro de sua banda favorita, que parecia ser ao mesmo tempo rude e também sabia falar tudo aquilo que ela queria ouvir.

Levy não havia admitido nem para si mesma, mas aquele era o homem a quem ela tinha começado a se apaixonar.

E, ao mesmo tempo, ele era o homem a quem ela mais odiara em toda a sua vida.

Era engraçado como o destino gostava de estragar a vida das pessoas.

–... Então era por isso que eu achava o nome familiar. – Ela pôde ouvi-lo dizer à sua frente, mas não tirou os olhos da mesa. – Era o que você usava no jornal da escola, não era?

–... Se você sabia, então por que não falou nada? – Levy apertou o tecido de seu vestido contra as mãos, lutando contra o nó que tinha se formado em sua garganta. Aquilo não podia estar acontecendo. Não era possível. – Você estava querendo se divertir à minha custa?

– Não, por que eu faria isso? – Ele respondeu, tom de voz levemente ofendido, e ela sentiu a vontade súbita de rir. Ah, sim, porque ele faria aquilo, exatamente?

– Não sei, Gajeel. Talvez você quisesse rir mais de mim como você fez naquele dia antes de botar fogo na biblioteca de escola? – Dessa vez, ela levantou seus olhos. Seu tom de voz pôde sim ter escalado mais do que o necessário, mas Levy não estava ligando mais para isso. Toda a frustração e mágoa que se acumulara dentro de si mesma naqueles últimos minutos estava se transformando em raiva.

Eu não- Olha, eu não lembrava onde tinha visto o nome, tudo bem? – O homem suspirou pesadamente, passando uma das mãos por seu cabelo longo. Pela faixa vermelha que ela pedira para ele usar. Seu coração apertou dolorosamente por um momento. – Eu sabia tanto quanto você, fairy-

– Não me chame disso. – Ela o cortou. Só ele pode me chamar disso. O homem que conhecera por aquele chat, o que aparentemente nunca tivera existido. – Eu não confio em você. No que mais você mentiu? Também inventou seu gosto por gatos para parecer mais confiável?

– Não. Eu não teria o Lily na minha capa, teria? – Ele retrucou, suspirando e levantando a tela de seu celular onde uma imagem do mesmo gato preto da foto de metal podia ser vista por trás dos aplicativos.

– Então- Você trabalha mesmo numa mecânica? Tem uma amiga que aparentemente te colocou no site? – Levy não podia confiar nele, não podia, não podia. – Encontrou o meu perfil por pura coincidência, também?!

– Sim, trabalho. E aquela era a Juvia, ela estava na reunião ontem. – Ele respondeu as perguntas dela o mais calmamente possível; se Levy não tivesse nenhuma convicção de que ele estava mentindo, poderia ter visto que sua voz também soava frustrada. – Eu... Achei o seu perfil assim que entrei, achei que conhecia o nome. Não consegui lembrar onde, mesmo assim.

– Como podem haver tantas coincidências assim, então? Isso não acontece, Gajeel! – Ela bateu as mãos na mesa, fazendo um prato pular levemente. As pessoas tinham começado a olhar, mas aquilo não era importante.

– Eu não sei, Levy. Mas eu nunca menti para você. – Ele rebateu, voz se elevando, aparentemente tão frustrado quanto ela.

A garota sentiu seus olhos marejarem.

– Mentiroso.

Ele não tinha nenhuma resposta para aquilo. Também, não havia como ele rebater algo que era verdade – ele havia mentido para ela, sim. Há muitos anos atrás.

–... Eu não me orgulho daquele dia. É provavelmente uma das coisas de que eu mais me arrependo de ter feito. – Por fim, Gajeel suspirou, voltando a olhar para a mesa. – E por mais que eu tente mudar, não vou conseguir apagar aquilo. Eu sei disso.

Levy, em meio à sua confusão de pensamentos, arregalou os olhos.

Seria aquilo, talvez... O erro que ele disse que havia cometido...?

Ela comprimiu os lábios. Não. Ela não podia fazer isso de novo.

– Olha, isso não vai dar em nada. – Gajeel falou, por fim, se levantando. Levy olhou para ele com os olhos arregalados, a dúvida de antes ainda presente em sua mente quer ela queira ou não. – Se você não confia em mim, eu não posso fazer nada. Eu não posso mudar o que aconteceu, então...

Ele dirigiu os olhos para os dela e, por um momento, ela se viu de volta no pátio de sua escola há anos atrás. No entanto, dessa vez, Gajeel não manteve a troca de olhares por muito tempo – ele se virou.

Ela achou que ele só sairia andando, mas o mesmo hesitou na mesma posição. Por fim, ele falou alto o suficiente para ela ouvir.

–... As coisas que eu falei para você naquele site... Eu não menti. – Depois de dizer aquilo, porém, ele começou a andar.

Levy observou suas costas enquanto ele se afastava, lentamente, perdida. Ela... não sabia o que fazer agora. A pessoa perfeita que encontrara em Magnolia era justamente a última que queria ver. A por quem passara horas e horas conversando... A que havia acabado de dizer que tinha falado a verdade para ela. Ela ficara tão feliz, por ter alguém que a entendia. Agora, no entanto...

Ela não sabia mais o que pensar. Metal tinha se tornado importante demais para ela. Aquilo era óbvio de se notar; Levy não sentia como se seu coração tivesse se partido em mil pedaços com nenhum outro encontro que não dera certo em todos aqueles anos.

A única pessoa que a fizera sentir isso fora ele, e aquela era a segunda vez.

A garota comprimiu suas mãos em punhos.

...Ela era uma idiota.

Seus pés se moveram por instinto, correndo para longe da mesinha do café. Seus olhos estavam queimando, o nó de sua garganta não havia se desfeito, ela estava com vontade de gritar. Mas ela não parou de correr.

Levy o avistou depois de alguns segundos, andando um tanto lento por entre os outros da rua. Trincou os dentes, fechando as mãos em punhos. Ela era uma idiota, mas...

Se ainda havia algum traço de verdade, por mais pequeno que fosse, de que Gajeel realmente fora o metal que conhecia, ela...

GAJEEL!

Ela não queria perdê-lo.

O homem se virou, aparentemente surpreso, assim como outras pessoas próximas. Levy ignorou todas elas, porém, andando em linha reta até ele, mãos fechadas em punhos.

–... Se você realmente se arrepende do que fez, então... – Ela murmurou, tentando recuperar o fôlego por ter corrido tanto, buscando algo em sua bolsa. Finalmente, tirou um cartãozinho pequeno, branco e verde claro, e o estendeu. – Então eu tenho uma proposição.

– O que...? – Ele piscou, confuso, pegando o papel e o encarando.

– Esse é o cartão da minha biblioteca. Por todos os livros que você queimou e por ter traído minha confiança... – Levy não acreditava que estava fazendo. Por que ela estava falando aquilo? – Você vai ser meu ajudante.

– Oi? – Gajeel estreitou os olhos. – Eu não tenho tempo para isso, acho que você lembra.

– É, claro, exceto nas quartas e sextas quando você sai cedo da faculdade de tarde e, vamos ver, na quinta quando é seu dia de folga da mecânica pela manhã?

– Você tá mesmo sugerindo isso-

– Sim, eu estou, Gajeel. – Ela o cortou, impassível. – Você está arrependido, não está? Então prove. Você tinha dito que eu precisava de um assistente, não disse?

O homem a encarou, estreitando os olhos, e ela devolveu o olhar. Por fim, ele suspirou, enfiando o pequeno cartão em um dos bolsos.

–... Tudo bem. Se isso vai fazer você acreditar em mim. – Ele suspirou por fim, levando uma de suas mãos para sua nuca. – Quarta de tarde então, certo?

Levy assentiu. Ele suspirou de novo.

– Tudo bem, que seja. Até lá então.

Ele se virou, e recomeçou a andar. Levy o observou ir, outra vez, parada por entre as pessoas que iam e viam. As que haviam parado para observar o que estava acontecendo já haviam ido embora, mas ela não tirou seus pés do asfalto.

A garota olhou para baixo.

O que ela tinha feito?

Colocando uma das mãos sobre a boca, Levy finalmente permitiu suas lágrimas de caírem. Ela tinha o aceitado novamente, por um impulso idiota de procurar por uma pessoa que não existia. Por que era tão estúpida? Queria correr até ele novamente, gritar para que se esquecesse de tudo, para que nunca a procurasse novamente. Queria Lucy, Jet ou Droy, qualquer um que ela pudesse se esconder atrás.

Porque ela sabia que, se ela confiasse nele mais uma vez e ele a traísse de novo, Levy não conseguiria mais recolher os pedaços de si mesma.

xxx

Mirajane encarou a pessoa parada à sua frente com um sorriso, dividida entre bater a porta na cara dela como se não houvesse visto ninguém ou pelo menos perguntar o que ela estava fazendo ali antes de partir para a opção A.

E na casa de seu irmão, ainda por cima. No almoço de domingo.

Ah, sim, era provavelmente porque Bixlow era imprevisível a esse ponto.

– Então... Eu tinha quase certeza que ouvi Ever dizendo que você só seria meu guarda costas durante os meus eventos da semana. – A Strauss comentou, tentando manter seu tom de voz controlado.

– É assim que você diz oi para amigos antigos, Mira? – O homem colocou as mãos na cintura, abrindo um sorriso para ela, mas a mesma deixou de sorrir para encará-lo com uma expressão séria. Ele fez bico. – Você podia pelo menos ter dito oi, né.

– Olá, Bixlow. O que você quer? – Ela tentou de novo, ainda o encarando.

– Bom, Ever me deu o endereço do seu prédio para eu saber aonde era caso acontecesse alguma coisa, e... Eu passei aqui para dizer oi?

Mirajane estreitou os olhos. Depois, ela suspirou, abrindo mais a porta. Pelo menos ele não tinha vindo lá porque Ever era paranoica demais, então facilitava um pouco.

– Entendo. Mas por que hoje? Devia ser seu dia de folga. – A beldade perguntou, se encostando no portal de entrada.

– Ah, bom, eu tinha outra coisa para falar com você, para falar a verdade-

– Mira-nee? Com quem você tá falando aí na porta, o almoço já tá- Eh? – Justo quando ele ia continuar, Lisanna colocou a cabeça por cima dos ombros dela, surpreendendo ambos. Ela sorriu. – Ah! Bixlow, o que você tá fazendo aqui? Veio para almoçar com a gente?

Mirajane estava prestes a olhar para o lado e negar rapidamente, mas foi interrompida pelo barulho de um estômago roncando. Ela dirigiu seus olhos novamente para seu antigo amigo, que tinha levado uma de suas mãos para coçar a cabeça, parecendo sem graça.

– Eu acabei não almoçando antes de passar aqui...

Ela continuou o encarando. E encarou mais. Depois suspirou, se desencostou do portal e fez espaço para ele entrar.

– Vamos lá, entra, tem bastante comida para mais um. – Mirajane disse, e observou-o passar pela porta sem conseguir evitar o pequeno sorriso em seu rosto. Os bonecos de madeira continuavam presos na mochila dele, claro.

– Ah, eu vou colocar outro prato na mesa então! – Lisanna sorriu para ele e partiu em direção da cozinha, deixando os dois sozinhos na sala.

– A queimadura já está melhor? – ele perguntou, encarando o lugar para aonde a mais nova tinha ido.

– Hm, já está cicatrizado e tudo.

– Sei... Ela cresceu rápido, não é. – Bixlow falou, e ela olhou para o lado, para a expressão estranhamente séria do mesmo. Mesmo que continuasse problemático na maioria das vezes, ela não podia negar que ele tinha amadurecido. Ela também tinha, afinal.

– É. Todos nós crescemos, eu acho. – Mirajane ajeitou uma mecha para trás da orelha, sorrindo levemente para ele. – Você quer algo para beber? Vamos indo para a cozinha.

– Ah, valeu Mira, mas eu queria falar algo com você antes. – Ele colocou uma mão na nuca, desviando o olhar por um momento.

A albina piscou, reconhecendo a linguagem corporal de longe. Normalmente ele fazia isso sempre que iria tocar num assunto que ela não estava a fim de ouvir... E esse assunto, no presente, só poderia se resumir a uma pessoa.

Ela suspirou.

– Não, Bixlow. Eu não quero saber por que ele não foi para a reunião de turma. – A mulher comentou antes que ele pudesse dizer alguma coisa, não o dando tempo para responder. – Vocês estavam ocupados no dia, não é? Eu entendo.

– Mira... – Bixlow não parecia disposto a deixar isso de lado, seu rosto continuava com aquela mesma expressão. – Ele queria ir, mesmo, mas...

– Você não precisa explicar, sério. – Ela abriu um sorriso largo – e falso – para ele, e se virou em direção à cozinha. – Vamos, o almoço já deve estar pronto.

Ela pôde ouvir quando ele suspirou, as bonecas tintilando quando o mesmo começou a andar atrás de si. Mirajane decidiu ignorar o olhar que ele provavelmente estava direcionando à suas costas.

Laxus sempre queria muitas coisas, pelo que parecia. Queria não ter feito as burradas que fizera no passado. Queria não ter a deixado na mão. Queria aparecer do nada em sua vida novamente, bagunçar os pensamentos de sua mente e sumir outra vez, esperando que ela fosse atrás dele depois.

Mirajane, porém, não iria mais se submeter àquilo. Ela devia aprender a não se levar por esperanças fúteis.

A beldade tirou todos os rastros de seu ex de sua mente, concentrando-se no ambiente familiar à sua frente. Ela lutara por tudo aquilo por tanto, tanto tempo, e não seria tão idiota de pensar em perder novamente.

E ele já fora uma coisa que ela perdera há muito tempo, de qualquer forma.


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Notas finais do capítulo

*assobiando inocentemente* Eu nunca prometi uma coisa exatamente romântica para esse cap, não é... Hahahaha..... Enfim, é, aí está o twist que todos estavam esperando owo' A partir de agora, vamos entrar na parte mais LEGAL da fic~ Eu tenho muitas coisas más planejadas para vocês, seus lindos. Por favor não me odeiem, isso é necessário wlefrjklfjfkljl

Eu ainda ficarei de férias até o meio de Março, então vamos ver se eu consigo escrever mais alguma coisa até lá. Mas enquanto isso, aproveitem o carnaval, quem gostar de dançar dance bastante, quem é como eu e prefere casa tome muitos banhos gelados, e bebam muito líquido!!

Até mais!



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