Revirei cada gaveta e armário da casa procurando por uma panela, mas o mais próximo disso que eu encontrei foi uma frigideira. Depois de tirar tudo do lugar e colocar novamente, acabei decidindo cozinhar arroz com com batata e kani, que eu achei pela metade no fim da geladeira.

– Você tá cozinhando arroz em uma frigideira? - perguntou uma voz presunçosa, conseguia até ouvir o sorriso na cara dele.

Me virei, pronta para dar um esporro. Eu não sou empregada, eu só vim aqui para dar banho nas crianças, colocar na Disney e receber cinquenta dólares. Mas assim que me virei perdi toda a coragem. Na verdade não sabia nem mesmo o que queria dizer inicialmente. Billie Joe estava encostado na parede de braços cruzados, me olhando com desdém.

– Parece que é a única panela da casa - respondi com a voz trêmula.

Ele soltou um risinho como se eu fosse uma autista tentando achar raiz exata de 23. Senti meu rosto ficar quente de vergonha e já começava a bufar de raiva novamente. Ele ergueu a mão em direção à uma tonelada de panelas que permaneciam penduradas de forma óbvia o tempo inteiro bem em cima do balcão. Eu devo ser uma autista mesmo.

– Só pode tá de brincadeira... - falei para mim mesma - Agora já tá quase pronto.

– O cardápio é só arroz ou você tava esperando desocupar a panela pra fazer mais outra coisa? - quanto sarcasmo! ele parecia estar se divertindo as minhas custas.

– Isso é um risoto, é assim mesmo que se come. Só arroz com kani e batatas dentro. Foi o que eu consegui fazer...

Ele franziu o cenho e foi checar o arroz borbulhante no fogão. Tentou fisgar um pedaço de kani e tirou o dedo rápidamente, só conseguindo na segunda tentativa. Enfiou a carne rosada na boca e cospiu prontamente na pia. Fiquei boquiaberta com a audácia do sujeito, já estava montando a artilharia quando ele deu um sorriso bobo revelando um dente ligeiramente torto.

– Ninguém vai comer isso. Eu duvido que você coma isso - disse em tom desafiador - Eu te pago o dobro do que você vai receber se você conseguir comer isso.

Me senti ofendida e desafiada ao mesmo tempo. Que ousadia a dele. Eu estava fazendo um favor e ainda ficava menosprezando meu cardápio? Sem contar que apesar dos baixos recursos consegui inventar um prato que tinha um cheiro delicioso. Peguei uma colher no escorredor e fui em direção ao fogão. Abaixei o fogo e enchi a colher de risoto. Que gosto de bosta! As batatas não tinham cozido, o arroz estava duro e o kani tinha absorvido o tempero instantaneo de ervas que eu tinha refogado o arroz. Tentei engolir mas não dava, só consegui engolir o orgulho e cuspir aquela lavagem. Ouvi a risada de cunho quase maquiavélico que ecoou pela cozinha.

– Qual é - já estava ficando puta com isso tudo - Eu não posso fazer mágica. Não tem nada que eu saiba cozinhar aqui, eu disse que eu não sabia cozinhar. Como uma casa não tem nenhum congelado ou nada do tipo? Como Adrienne deixou vocês aqui sem comida?

Ele deu um sorrisinho, antes de se abrir em uma gargalhada.

– Vamos só pedir uma pizza - disse se sentando na tampa do balcão pegando o telefone - Me diz o número.

– Da pizzaria? - perguntei sem entender.

– É.

– Como eu vou saber?

– Procura - suspirou como se eu tivesse realmente cansando a paciência. A sorte era que eu tinha o número da Hut no celular e não estava afim de fazer confusão por besteira. Disse o número enquanto ele esmagava os botões do telefone agilmente. Depois de chegarmos a um entendimento onde nós dois e as duas crianças ficassem satisfeitos (Uma pizza pra cada um. Sério.), Billie Joe se entocou em algum buraco da casa novamente e as crianças inventaram de jogar Twister.Fazia muito tempo que eu não me contorcia daquele jeito, mas estava sendo surpreendentemente divertido. Tinha me esquecido do quanto gostava de me alongar quando fazia balé a uns anos atrás.

– Mão direita no vermelho! - gritou Jake com tanto ânimo que parecia estar a beira de um colapso. Quando segui a ordem, me deparei com Billie parado na porta com quatro caixas de pizza equilibradas em uma das mãos, assistindo distraído o desenrolar no jogo com olhos tão fixos que, se eu não soubesse melhor, diria que traçavam luxúria. Ele pareceu despertar balançando a cabeça quando me levantei do tapete e me coloquei em uma posição digna novamente. Ele deu mais um daqueles sorrisinhos quebrados e soltou alguma piadinha sobre nossa desenvoltura no jogo.

– Eu não vou conseguir comer nem a metade disso. Ninguém vai - analisei a pizza que estava na minha frente.

– Eu vou - disse Joey levantando as sobrancelhas.

– Eu também vou - falou Jakob para imitar o irmão.

Comi dois pedaços (podia ter comido quatro, mas não queria parecer uma vaca louca). Quando todo mundo tinha comido o suficiente para estar entupido de queijo até a laringe, me deitei preguiçosamente sobre o carpete estofado de oncinha. Não passou muito tempo até que os meninos já estivessem pulando de novo, me chutando, passando por cima do meu cabelo e gritando desesperadamente.

– Vamos jogar mais uma rodada de Twister - sugeriu Billie Joe com um sorriso malicioso no rosto.