Crepúsculo escrita por Kori Hime


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Obviamente essa historia é dedicada a Nyuu_d :D



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Robin estava sentada na sala de espera, aguardando ser chamada pela diretora da escola. A morena não tinha ideia do que a diretora queria falar com ela. Era sempre muito responsável e nunca criava problemas na escola. Já era seu último ano, e não era comum ir na diretoria do colégio. Mais alguns minutos, ela viu a porta ser aberta. De lá, saiu uma garota ruiva que nunca vira antes, e logo atrás a diretora.

A garota era uma das alunas do primeiro ano. Robin costumava vê-la na biblioteca da escola. Sempre carregando diversos livros. Geralmente, ela a ajudava a pegar um ou outro livro que ficava no alto da prateleira. Nami, era seu nome. Não sabia se a garota iria reconhecê-la. Afinal, não se falavam muito.

Robin acenou, sorrindo gentilmente, mas foi ignorada. Nami passou por ela com os olhos fechados e os lábios apertados. A morena ainda viu Nami passar pela porta da outra sala até desaparecer de suas vistas. Ouviu a voz da diretora lhe chamar para entrar na sala e assim terem sua conversa.

Como imaginou, não era nada muito grave. Robin foi convidada para representar a escola em algum programa de perguntas e respostas. Ela aceitou a proposta. Iria começar a estudar naquele dia mesmo. Depois da aula de biologia, Robin foi direto para a biblioteca, estaria dispensada das aulas de ginástica para participar do game. Não ficou muito contente, porque gostava de fazer os exercícios, principalmente a corrida com obstáculos ou revezamento de bastão. Suas longas pernas, e seu tipo físico permitia que ela fosse bem veloz.

A morena suspirou e empurrou a porta da biblioteca, deixou a mochila sobre uma das mesas do fundo e foi até a seção de livros de história, começaria por eles porque era o que mais se identificava. Após meia hora de leitura, Robin sentiu que era observada. Ela ergueu os olhos e vasculhou pela sala. Havia somente a coordenadora da biblioteca, sentada em sua cadeira com fones de ouvido nas orelhas. Robin voltou a leitura e teve a impressão de que alguém passou próximo a si. Ela então se levantou e passou por alguns corredores de livros enfileirados e bem organizados nas prateleiras.

Robin ouviu um choro baixinho e passou a andar lentamente até o próximo corredor, onde encontrou a garota ruiva sentada no chão, com as mãos segurando suas pernas, e a cabeça apoiada nos joelhos. A morena não sabia se era conveniente aproximar-se, mas seria rude abandoná-la ali sozinha.

– Vá embora. – Nami disse, trincando os dentes e segurando as lágrimas. Robin não se mexeu. Tombou a cabeça para o lado e sorriu. Preocupada com o estado em que Nami se encontrava. Talvez algo grave tenha acontecido. – Eu quero ficar sozinha!

– Tem certeza? – Ela finalmente disse, abaixando-se e ficando quase na altura de Nami.

– Me deixa sozinha. – Nami disse, com sua voz manhosa, e as lágrimas escorrendo sem controle.

Robin sentiu necessidade de protegê-la. Era triste vê-la chorando. Já que em todas as lembranças que tinha da ruiva, ela estava sempre sorrindo, e dando trabalho para a coordenadora da biblioteca, com sua risada alta.

– Está bem. Eu vou te deixar sozinha. – Ela ergueu o corpo e Nami apenas pode ver as longas pernas de Robin cobertas por meias roxas. – Mas se precisar falar com alguém, eu estarei logo ali atrás.

Ela acenou e saiu.

Robin não conseguiu mais se concentrar na leitura. A imagem de Nami chorando não saia de sua cabeça, os minutos foram passando e ela olhava no relógio a cada tic tac. Sentia-se incomodada com aquilo, porque normalmente era muito controlada. Não costumava se distrair dessa forma.

Ela então viu Nami caminhar pela biblioteca, em sua direção. A ruiva sentou-se na cadeira a sua frente. Robin não disse nada, apenas lhe lançou um sorriso. Nami estava com seus olhos avermelhados e o rosto molhado pelas lágrimas. Elas ficaram em silêncio por algum tempo. E mesmo sem dizer qualquer palavra, Robin sentia-se mais confortável. Voltou a sua leitura, que rendeu bastante. Nami pegou um dos livros e começou a ler. Hora e outra ela dava um sorriso. Mesmo que pequeno. 

Elas ficaram ali o restante da tarde, lendo. Já era quase a hora de fechar a escola, foram convidadas a se retirarem para que os livros fossem guardados e a biblioteca fechasse.

As duas caminharam juntas pelo corredor da escola, em direção à saída. Nami carregava apenas uma mochila. Robin estava com sua bolsa e mais dois livros na mão. Em um momento, a morena parou de andar. Nami virou para trás e lançou um olhar que servia também como um pergunta do porquê ela parou do nada.

Robin segurou os livros com uma mão e com a outra entrelaçou seus dedos aos de Nami e a puxou para outra direção. Elas correram pelo pátio vazio do colégio e subiram as escadas.

– Onde estamos indo? – Nami perguntou, quase sem fôlego. Não estava preparada para uma corrida daquela.

– Vem. – Robin piscou para a ruiva e continuou subindo, até chegarem a uma porta vermelha com uma placa avisando a saída para o terraço. Robin soltou da mão de Nami e largou sua bolsa no chão, colocando os livros sobre ela. Nami fez o mesmo, deixou a mochila no chão e caminhou pelo terraço. O sol estava se pondo, e as primeiras estrelas começavam despontar no céu. Nami olhou para cima e suspirou. Robin se aproximou e a abraçou. Sem saber se poderia ou não. Ela apenas sentiu vontade de demonstrar a Nami que ela estava ali e que se importava.

Nami virou-se e retribuiu o abraço. A ruiva era mais baixa, e apoiou a cabeça no colo de Robin. Ela apertou os dedos ao redor da cintura da morena e voltou a chorar. Robin queria poder dizer alguma coisa, mas sequer sabia o motivo da tristeza de Nami. Achou melhor não dizer nada. Acolheu Nami em seus braços e acariciou seus cabelos.

– Desculpe, desculpe. – Nami disse, limpando o rosto com as mãos. – Você mal me conhece e esta aqui me consolando. Eu deveria ir para casa.

– Não! Não vá. – Robin segurou a mão de Nami, antes que ela se afastasse. – Eu disse que estaria aqui se precisasse conversar. Se quiser falar...

Nami abaixou a cabeça e virou-se para olhar o pôr do sol.

– Minha mãe. – Ela começou a falar, aproximando-se da grade de proteção do terraço. Escorando-se nela. – Está doente.

Robin aproximou-se da ruiva e encostou-se também na grade. – E a diretora disse algo que te deixou assim? Mais triste?

Nami respirou fundo.

– Não temos dinheiro para pagar a escola. Minha irmã já foi transferida para outro colégio, um público, e hoje foi a minha vez.

– E não tem nada que possa ser feito? Um acordo?

– Não! Já foram feitos todos os acordos possíveis. Não vai ter jeito. Começarei na nova escola semana que vem.

– Mas já estamos no final do ano. Isso vai te prejudicar.

Nami olhou para Robin. Ela não entendeu porque, mas estava feliz porque ter alguém que pudesse desabafar. Já que nenhuma de suas amigas sabia de seus problemas familiares. E logo uma pessoa desconhecida, ou quase desconhecida estava ali, ao seu lado. Nami sentiu-se contente pela companhia.

– Obrigada. – Ela disse. – Por me trazer aqui. Por se importar com meus problemas. A propósito. Meu nome é Nami.

– Sim. Eu já sabia. – ela fechou os olhos, sorrindo. – O meu é Robin.

– Robin. É um nome bonito. – Ela encolheu os ombros, olhando para o pátio do colégio. Pensando em como iriam sair dali se estava tudo fechado.

– Nami?

– Hmm?

– Eu posso te visitar? Na nova escola?

– Claro.

As duas continuaram a ver o sol se por, e o céu escurecer. Viram o segurança da escola passear com uma lanterna pelo pátio, e decidiram descer as escadas. Receberam uma bronca, obviamente, mas foram acompanhadas até a estação de metrô ali perto. 

Robin iria para uma direção oposta de Nami, sabia disso porque sempre via a ruiva sentada no banco do outro lado da plataforma do metrô. Ela acompanhou Nami até a plataforma, e aguardou que o trem chegasse. Nami agradeceu pela companhia e entregou um pedaço de papel para Robin. Entrando no trem rapidamente, após lhe dar um beijo no rosto.

Robin esperou até que o trem fosse embora para abrir o papel e ler o endereço e o número de telefone de Nami. A morena sorriu, guardando o papel dentro da bolsa.

As semanas passaram rapidamente para Robin. Ela estava muito ocupada com os estudos. O programa seria em um mês, e não estava preparada. Ou pelo menos não se sentia pronta ainda para aparecer em rede nacional, respondendo perguntas difíceis para a maioria dos jovens estudantes. Ela estava mais preocupada com sua imagem sendo exibida do que com as perguntas. Não era muito do tipo que chamava atenção, mesmo com sua altura exagerada para a média. Era sempre muito discreta mesmo com suas saias de pregas e as meias longas do uniforme.

Sua mãe, Olvia, abriu a porta do quarto e ofereceu um lanche para a filha, que recusou. Mas depois de muita insistência ela acabou sendo vencida. Robin tomou o suco relaxando na cadeira do quarto. Girou na direção da cama e viu o celular sobre o travesseiro. Ela pegou o aparelho e vasculhou a procura do número de Nami. Até aquele momento elas não haviam se falado, somente trocaram mensagens pelo celular. Nami estava se adequando a nova escola, e já estava fazendo novas amizades. Robin não achou que seria difícil isso acontecer, porque ela era mesmo muito comunicativa e cativante.

Ela digitou uma mensagem rapidamente e recebeu a resposta um minuto depois.

Robin sorriu. Nami era muito engraçada, sempre a fazia sorrir. Logo em seguida Nami mandou mais uma mensagem:

“Temos que marcar um dia para fazer algo.”

“Seria maravilhoso. O que você sugere?”

“Minha mãe vai ter alta amanhã, vamos comemorar.”

“Fico muito feliz por vocês. É uma comemoração só da família?”

“Na verdade eu estava pensando em te convidar.”

“Mesmo?”

“Sim. Mas só se não tivesse algo mais importante para fazer.”

Robin olhou para a sua escrivaninha cheia de livros. Em seguida respondeu a mensagem.

“Não, não tenho outra coisa mais importante.”

Olvia e Robin passaram o resto da tarde na cozinha, trabalhando num bolo de laranja. A mãe de Robin não era a melhor cozinheira, mas sempre caprichava, principalmente quando estava na cozinha com a filha, que lhe passava a receita cuidadosamente para que tudo ficasse perfeito. Ela tentou conversar também sobre quem era a jovem que a filha tanto conversava, mas Robin era reservada demais para dizer alguma coisa, ou pelo menos era cedo.

O bolo foi levado a geladeira e decorado com rodelinhas de laranja no outro dia antes de sair. Olvia estacionou o carro na frente da casa de Nami, e por mais curiosa que estivesse, deixou a filha descer do carro combinando um horário para retornar. Mesmo que Robin não achasse necessário porque ela preferia ir de metrô. Dessa vez Olvia não insistiu, deixou que Robin fizesse o que achava melhor.

Nami abriu o portão de madeira as pressas assim que ouviu o sininho tocar. Robin estendeu as mãos para a ruiva pegar o bolo feito por ela.

– Que gentileza. Parece tão gostoso. Eu adoro laranjas. – Ela pediu para que Robin entrasse.

– Eu não sabia do que fazer, então me recordei da sua mochila.

– Minha mochila?

– Sim. É estampada com laranjas.

– Ah! Sim. É mesmo. – ela riu. – Você é tão observadora.

As duas entraram na casa e retiraram os sapatos. Logo em seguida, Nojiko, a irmã mais velha de Nami veio correndo para receber a visita. Ela e Robin já haviam se falado algumas vezes nas aulas de ginástica, já que costumavam correr juntas.

Bellemere, a mãe de Nami e Nojiko estava na cozinha. Ela escondeu rapidamente o cigarro que tentava acender com o isqueiro quando as filhas reclamaram ao entrar no cômodo. Limpou as mãos no avental e cumprimentou Robin. Nami mostrou o bolo e deixou sobre a mesa que estava bem arrumada.

– Espero que estejam com fome porque eu fiz muita comida. – Bellemere ofereceu refrigerante para as meninas e mandou que elas fossem para a sala porque ainda não estava pronto.

– Ela parece muito bem. – Robin sentou-se no sofá, segurando uma almofada em seu colo.

– Sim. Ela não se deixa abater com qualquer coisa. No hospital mesmo já era difícil mantê-la deitada na cama. – Nami ligou a televisão e elas assistiram algumas propagandas bizarras até a comida ficar pronta.

A família de Nami era pequena, assim como a de Robin. Mais tarde chegaram algumas outras pessoas para cumprimentar Bellemere, e Robin achou que já estava ficando tarde.

No portão, Nami fez bico ao se despedir da morena. Ela queria que Robin ficasse mais, ou pelo menos dormisse lá aquela noite. Ela riu.

– Não posso. Tenho que estudar.

– Que pena. Quando eu vou te ver novamente?

– Acho que só depois que esse programa passar.

– Mas vai demorar. – Nami cruzou os braços.

– Podemos conversar até lá. – Robin também cruzou os braços, estava anoitecendo e começando a ventar. – Você me espera até lá?

– Hmmm. Posso tentar. – Nami sorriu, agradecendo pela visita.

Robin aproximou-se e beijou-a no rosto, indo embora em seguida. O mês passou se arrastando, como Nami mesmo reclamava em suas mensagens de texto. Robin a convidou para ir assistir ao programa ao vivo. Nami não queria deixar sua mãe sozinha com Nojiko por pura preocupação, não que a irmã não fosse responsável. Mas acabou aceitando o convite.

Olvia e Robin foram buscá-la de carro em sua casa e de lá partiram para a emissora de televisão. Havia uma turminha escolhida a dedo pela diretora, para fazer parte da torcida da escola. Nami ficou na plateia com Olvia e outros convidados. Robin foi levada para o camarim e no horário marcado seguiu para o palco, onde iniciou-se o programa. Inicialmente a morena ficou um pouco nervosa com todas aquelas luzes e câmeras. Pessoas gritando e torcendo, mas relaxou quando as perguntas foram sendo sorteadas e no fim, venceu.

A torcida da escola invadiu o palco para cumprimentar a vencedora. Vários papéis picados prateados e balões caíram sobre o palco. O apresentador finalizou o programa e Robin no meio de toda aquela confusão, buscar enxergar Nami entre os convidados.

Nami ainda estava no mesmo lugar, junto de Olvia, mas Robin só conseguiu aproximar-se depois de algum tempo, quando tudo ficou mais calmo e as pessoas começaram a sair do estúdio.

– Estou orgulhosa de você. – Olvia deu um beijo na testa da filha. – O que acha de comemorarmos? Podemos ir tomar um sorvete ou comer alguma coisa.

– Mãe. – Robin disse ternamente, olhando para Olvia que entendeu o recado.

– Certo! Já entendi. Mamãe espera em casa. Mas não quero que chegue muito tarde.

Robin moveu a cabeça, concordando. Nami sentia seu rosto ferver quando se despediu de Olvia. 

– Vamos?

– Para onde? Eu nem sei como chegar em casa daqui, não prestei atenção no caminho.

– Tudo bem. Vem comigo. – Robin entrelaçou os dedos nos de Nami e dessa vez caminhou tranquilamente para fora do estúdio de televisão.

Nami podia sentir todos os pelos do corpo arrepiados com o toque de Robin, e como elas se esbarravam sem querer cada vez que caminhavam pertinho uma da outra. Parecia um choque térmico. Robin mantinha seu sorriso tranquilo nos lábios, enquanto Nami estava entrando em combustão. Com suas bochechas avermelhadas e os olhos inquietos olhando em todas as direções.

Até que pararam diante de um parque. Havia brinquedos para crianças, plantas e uma pista de corrida. Atravessaram o parque de mãos dadas, e seguiram até um mirante. O sol já estava se ponto. Nami olhou para o céu vermelho, misturando-se com o azul da noite. Fascinada.

Ela sentiu os dedos de Robin escorregarem até soltarem dos seus. Por um instante sentiu-se perdida e sozinha, sem a proteção dela, mas no minuto seguinte recebeu um abraço. Um abraço que aguardou desde a primeira vez que viram o pôr do sol juntas.

Robin encostou a testa na de Nami e roçou o nariz no da ruiva. Fecharam os olhos, e todo o barulho a sua volta foi diminuindo até que nada mais parecia incomodá-las.

Nami afastou-se um pouquinho para poder visualizar o céu novamente.

– Você não foi me visitar na escola ainda. – Ela disse num tom de reclamação.

– Eu vou. Prometo.

– É bom mesmo. – Nami a abraçou forte, sentindo novamente aquela onda de calor preencher seu corpo. Depois sentia uma tranquilidade e uma paz.

– Eu vou estar sempre com você.

– Promete? – Robin jogou uma mexa dos cabelos de Nami que estavam caindo no rosto dela por causa do vento.

– Sim. – Aproximou mais o rosto e beijou os lábios de Nami, segura de seus sentimentos e de que era correspondida igualmente.


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