Desviei o meu rosto da direção de Klaus.

Não era possível que eu não posso ter uma vida normal, como todos os outros. Primeiro, me disseram que eu era descendente de Anna, a shadow-kissed de Vladmir, e agora, Klaus diz que eu sou uma reencarnação de Julianne, a amada dele.

–- E então, minha adorada? -- Klaus me obrigou a olhá-lo. -- Qual é sua escolha?

–- Não. Toque. Nela. -- Ouvi Dimitri rosnar ao meu lado.

Bravo. Eu já estava completamente encrencada, e agora o Deus russo queria bancar o herói.

Klaus gargalhou friamente, virando-se para Dimitri.

–- E o que você faria, Belikov? Está indefeso, fraco. Sabemos quem ganharia esta luta facilmente.

Pela primeira vez, vi Dimitri encolher-se pelas palavras de Klaus, mas logo em seguida cerrar os punhos por ser chamado de fraco.

–- Sim, controle-se, Belikov. -- Klaus disse, com um sorriso travesso cruzando o rosto novamente. -- Porque eu sei suas fraquezas. Você é exatamente como seu pai. Olena, uma jovem dhampir que iria formar-se, mas desistiu de tudo por amor a seu pai. Em amor por Zeklos, que não sabia dar valor à mulher que tinha. -- Os olhos de Klaus ficaram distantes, com uma expressão sonhadora. -- Exatamente como você. Exatamente como você não soube valorizar Rose. Como você a magoou, e continua magoando.

Uma lágrima solitária desceu por meu rosto, e eu lutei para que outras não caíssem.

Klaus apontou para mim, e Dimitri virou o rosto em minha direção.

–- Não vê? É o que digo, Rose merece outro final. Um final feliz. Feliz e eterno. -- Klaus finalizou, levantando-se e ficando em frente a mim.

–- E então, minha amada. Qual sua escolha? -- Klaus perguntou novamente.

–- Roza... -- Dimitri tentou me dizer algo, mas Klaus o interrompeu.

–- Calado, Belikov! Fique sabendo que você não é tão divertido assim.

Abaixei a cabeça, ainda pensando em tudo o que acontecia. Eu definitivamente não queria ter que escolher. E pior ainda, eu não queria abandonar Dimitri. Mas todas as opções, sugeriam isso.

Levantei meu rosto lentamente, encarando Klaus.

–- Klaus... -- sussurrei.

Ele se abaixou novamente, ficando da minha altura.

–- Klaus... -- sussurrei novamente.

–- Sim, minha amada? -- Klaus sorriu, vitorioso.

–- Klaus... -- o chamei novamente.

–- Diga, Rosemarie. -- ele disse, pacientemente, inclinando-se para perto de mim.

–- Vá ao inferno! -- praguejei.

Klaus afastou o rosto de mim, com o choque estampado em sua expressão.

–- Sua... -- ele gritou, mas não terminou a frase.

Klaus ergueu a mão, como se fosse me bater. Todos os meus músculos se encolheram, para tentar me tirar do alcance de seu tapa, mas eu sabia que nada adiantaria.

Mas quando a mão se aproximou de mim, ele hesitou.

No andar debaixo, pude ouvir um barulho soar, como se entrassem sorrateiramente na casa.

Klaus abaixou-se novamente, puxando meu rosto para perto dele, enquanto gritava:

–- Quem está aqui?

–- Eu não... -- tentei dizer, mas fui interrompida.

–- Não minta para mim, sua vadia! Quem está aqui? -- ele gritou novamente.

–- Ela não sabe! -- Dimitri gritou, ao meu lado.

Klaus me soltou, passando pela porta e indo em direção ao andar de baixo.

–- Você... você está bem? -- Dimitri perguntou.

Balancei a cabeça em concordância.

–- Me perdoe... -- Dimitri suplicou, e quando eu encarei aqueles olhos castanhos, senti meu coração se quebrar.

–- Eu não vou te deixar. Não importa o que aconteça. -- prometi a ele.

–- Hei, camarada, você sabe alguma coisa que anule o efeito da verbena? -- perguntei a ele.

Dimitri ergueu a sombrancelha.

–- Estacas de prata. -- respondeu.

Me movi, tentando ver se minha estaca ainda estava em meu bolso. E por sorte, Klaus não havia retirado-a de lá.

–- Merda. -- resmunguei.

–- O que foi?

–- Minha estaca está no bolso, mas eu não consigo pegá-la... -- sussurrei

Dimitri percorreu o quarto com os olhos, procurando por algo para me ajudar a pegar a estaca mas Klaus apareceu na porta segurando dois corpos.

Ele atirou o primeiro no chão, e ele caiu perto de mim.

Soltei um grito ao perceber quem era.

Seus cabelos pretos estavam totalmente desarrumados, e seus olhos azuis gélidos focalizados, com um leve brilho. Seu peito subia e descia levemente, como se ele estivesse com dificuldades para respirar. No pescoço, o sangue escorrido era um contraste para sua pele pálida, como a de um Moroi.

–- Rose... -- ouvi a voz dele me chamar, como se pedisse ajuda.

Eu o encarei, paralisada.

Céus! O que Christian estava fazendo aqui?

–- Solte meu sobrinho, crápula! O trato era você pegar a Hathaway! Liberte Christian e Dimitri, agora! -- uma voz feminina berrou na porta, enquanto discutia e se debatia contra Klaus.

Natasha.

–- E você, sendo uma Ozera, acreditou. -- Klaus gargalhou e sua risada gélida ecoou pela sala, enviando calafrios por todo meu corpo. -- Agora, você também faz parte do trato.

Klaus atirou Natasha contra parede, fazendo com que ela batesse e caísse, sem forças, no chão.

–- Muito bem. -- ele limpou um filete de sangue - provavelmente, de Christian - que estava em sua boca. -- Tenho assuntos para resolver. Na volta, cuidarei de vocês.

Ele bateu a porta com a maior força possível, e eu me surpreendi pela porta não ter quebrado.

–- Mas que merda vocês estão fazendo aqui? -- gritei.

–- Te salvando. -- Christian sussurrou, sem forças.

–- Garantindo que você vá para o inferno. -- Natasha rosnou.

–- A única pessoa que irá para o inferno, será você, Natasha. -- Dimitri rosnou de volta, fazendo ela se encolher no canto da parede.

Tasha rosnou em direção a Dimitri, com uma ameaça estampada em seu olhar.

–- Veremos. -- ela disse, sorrindo com a malícia explícita em sua expressão facial.

Ela se levantou, e começou a caminhar desajeitadamente em direção a mim.

Revirei os olhos.

–- Vai me bater, ou puxar meu cabelo, cadela? -- perguntei.

–- Você teria sorte se eu apenas fizesse isso, querida. -- Ela respondeu, e por um instante, eu tive medo.

Havia algo diferente, completamente diferente no olhar de Natasha.

–- Você descobriu muitas coisas sobre mim, não foi mesmo? Entrando no meu quarto, roubando meus diários, me espionando.

–- Na verdade, espionar foi efeito coláteral. E foi bem divertido ver o Belikov murmurar "Roza" enquanto você usava compulsão nele para te beijar. -- Christian disse, sentando-se no canto do cômodo enquanto se recuperava.

–- Chris! -- adverti.

–- Pois bem. Então você viu. Então, me responda, você conseguiu ler o último diário?

–- Não... Não tive tempo. -- respondi, envergonhada. Eu ainda não tinha descoberto tudo sobre Vacasha.

–- Então, como seu último desejo, eu lhe contarei, Rosemarie. -- ela cantarolou, sentando-se em frente a mim. -- Percebeu que o terceiro diário termina quando Lucas e Moira se despertam? Então, tem um detalhe que você não soube. Foi fácil induzir Moira a se despertar, ela era fraca, então a compulsão deu conta do recado. Mas Lucas... precisei de uma forcinha extra. Você tem um irmãozinho, Chris. Eu tive um outro filho. O nosso filho, Dimka. -- ela se virou sorridente para Dimitri, que a encarava, surpreso e incrédulo. -- Eu estava grávida nessa época, mas também tive um caso com Lucas, então usei o filho como chantagem para que ele se transformasse.

–- Como eu nunca percebi que você estava grávida? As pessoas notariam! -- Christian perguntou, enojado.

–- Sabe, eu não cuidei do culto final de seus pais, Christian. Eu apenas mandei que Daniella Ivashkov pagasse a missa, enquanto eu viajava para o exterior.

–- E por que Daniella faria isso? -- perguntei.

Tasha me lançou um olhar divertido.

–- Creio que Dimka ainda não saiba, não é mesmo, querida?

–- Mas que merda vocês estão falando? -- Dimitri gritou.

–- Quem conta, Rosemarie? -- Tasha perguntou, me desafiando.

Suspirei.

–- Você é filho de Nathan Ivashkov, Dimitri. E é irmão de Adrian.

Dimitri arregalou os olhos. Eu pensei que fosse o choque pela revelação, mas então a escuridão me atingiu, junto com uma forte dor na nuca que indicava que eu havia sido atingida.

Por Natasha.