– Hm, ah filha... – ele disse pausando cabisbaixo, mas eu continuei focando em seus olhos. – Por que você quer saber disso?

– Sabe, pai, eu não sei mais se Stratford é o meu lugar. – eu disse com um olhar confuso e ao mesmo tempo triste, mas meu pai parecia não querer encontrar seu olhar com o meu. – Não sei se foi mesmo uma boa ideia nós nos mudarmos pra cá.

– Mas por que, filha? – ele tentou fugir do assunto. – Você reencontrou Pattie, Justin, Chaz, Ryan... Por que iria querer embora? – ele continuava não olhar pra mim.

– Eu sei que tenho todas essas pessoas maravilhosas a minha volta. Mas o problema é outro. – eu disse fazendo uma pausa e olhando pra baixo. – Tudo nesse lugar lembra da mamãe. Tudo nesse lugar lembra do assassinato dela. – eu disse voltando a olhar devagar para seus olhos que continuavam focados no chão.

– Me desculpa filha... Eu... Eu não gosto de falar desse assunto. – ele disse parecendo bravo olhando pro chão.

– Mas pai... – tentei.

– Jessie. Eu não consigo, tá bom? Chega. – ele disse olhando pros meus olhos com um olhar de fúria.

– Eu cansei! – eu disse me alterando e me levantando. – Já cansei de você fingir não se importar com a morte da minha mãe! Eu cansei você não querendo conversar desse assunto comigo! Sabe o que é para uma filha perder a mãe? Sabe o que é sentir a falta dela afagando meus cabelos toda vez que eu tinha algum problema? – eu disse colocando a mão no peito, dando ênfase em tudo o que eu falava. – Eu sinto falta dela! E eu só queria que você entendesse isso, ou pelo menos tentasse entender. Por que você não demonstra nenhum sentimento de carinho, ou dor quando falamos da mamãe? Só fica com esse ar de mistério pra cima de mim? Eu sinto muito a falta dela, pai! – eu disse mais alto, repetindo. – Muito mais do que você.

Quando senti que as minhas lágrimas estavam prestes a vir, me tranquei no quarto. Ouvi alguns resmungões como “Jessie! Volta aqui, agora!”, mas eu não queria mais intrigas. Acho que já estava bom só por aquele dia. Joguei a chave longe, do outro lado do quarto, bruscamente. Só sentei na minha cama e abracei meus joelhos chorando como uma idiota.

Sabe, ás vezes eu só queria que as pessoas me entendessem.

Acordei com um facho de luz vindo direto no meu rosto. Se tinha uma coisa que me encomodava, era acordar daquele jeito.

Joguei os cobertores pra um lado da cama, e me levantei devagar. Todo mundo que me conhecia, sabia que eu não conseguia ficar na cama depois de acordada. Olhei pro relógio. 9:00 a.m.. Que lindo, pensei com ironia.

Me espreguicei e fui em direção a janela. Fechei-a bruscamente, com um movimento violento que resultou em um barulho estrondoso pelo meu quarto, que fez as paredes estremecerem. Dei de ombros e fui em direção ao chuveiro. Deixei a água cair lentamente sobre meus ombros. Uma questão de 10 minutos de reflexão da vida. Saí com uma toalha enrolada ao meu corpo, e fui em direção ao quarto, da minha suíte. Lá, me vesti.

Resolvi dar uma caminhada, conhecer a vizinhança. Talvez seria uma boa.

Depois, fui escovar meus dentes e arrumar minha cama.

Quando eu ia girar a maçaneta, meu iPhone começou a tocar. Bufei, e vi que era uma mensagem. Fui em direção á janela fechada, e a abri, com os olhos ardendo depois que o sol bateu nos mesmos. Encostei na parede e li a mensagem:

você quer sair hoje com a gente? ryan, chaz, selena e eu? talvez a gente vá no cinema a noite ou mais tarde.

Justin

Perguntei-me como aquele garoto tinha pego meu celular. Dei de ombros, e aí me liguei: descobri o nome da namoradinha do garoto. Ri fraco. Cinema? Justin e Selena? Ryan, Chaz e eu? Espera, ele nos convidou pra segurar vela?

hm, você tem sorte de eu estar acordada a essa hora, bieber.

ah, não sei se vou. depois eu penso.

Jessie

Respondi e guardei o celular de volta na minha bolsa. Ele tocou de novo, informando uma nova mensagem mas deixei quieto.

Resolvi sair, já eram 10:30. Fui abrir a porta. Lembrei de tudo que aconteceu de novo e procurei a chave em todo meu quarto. Quando finalmente a achei, ela estava atrás do pé da minha poltrona. Suspirei aliviada, e abri a porta com leveza.

Não sabia se meu pai estava em casa, e eu não queria mais brigas, nem me desculpar. Até porque eu achei que ele não merecia. Pendurei a chave de volta e andei como se tivesse na lua até a sala. Quando percebi que ele havia saído pra trabalhar, voltei os meus passos normais e fui pegar uma água na geladeira. Lá havia um bilhete.

Querida Jessie,

Me desculpe por ontem. Eu não queria ser tão rude com você. Você estava certa. Eu fui um idiota. Mas olha, eu quero que saiba que eu me preocupo sim com a sua mãe

Dei uma pausa na leitura e ri fraco. Ah tá, pensei, até parece.

e quero que saiba também que eu só quero o seu bem, querida. Você é minha filha, jamais desejaria o mal pra minha pequena. Eu te amo muito. Me desculpe.

Jack

Amassei o bilhete sem sentimentos e joguei dentro da minha bolsa. Chega. Vamos jogar esses pensamentos estúpidos pra fora, certo? Achei que uma boa caminhada iria resolver.

Fechei a porta, e andei pela rua de trás da nossa vizinhança até achar uma pracinha.

Olhei pro meu relógio, eram 11:00 a.m. em ponto. Na rua só tinham pessoas correndo, pessoas com carrinhos de bebê e levando seus cachorros pra passear. Em si, era uma rua relativamente calma. Eu gostava da aparência da praça também. Estava florida, e era recheada de árvores, bancos, e boas sombras.

Me sentei em um dos bancos e peguei um livro. Deixei meus pensamentos se avoarem com a história que eu estava lendo até que senti uma pessoa sentando ao meu lado.

Deixei passar e não tirei meus olhos da minha leitura. Depois a pessoa passou os braços pelos meus ombros. Aquilo já estava me irritando. Quando eu ia levantar a cabeça pra dizer algo, a pessoa finalmente falou:

– Ah, qual é Jess? Além de não responder minha mensagem no seu celular vai ficar me ignorando? – Justin disse.