Vida De Monstro - Livro Dois - A Magia escrita por Mateus Kamui


Capítulo 19
XIX - Will


Notas iniciais do capítulo

Mais um capitulo fresquinho para todos, e mais um capitulo que achei particularmente fraco, mas espero pela opiniao de voces nos reviews



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XIX – Will

Eu pensava que até agora eu já tinha me prejudicado de todas as maneiras possíveis, mas nada se comparava a essa vez, eu estava amarrado com algo muito frio, parecia ser correntes de aço, e não conseguiu nem me mover e nem mesmo enxergar um palmo a minha frente, eu estava no total breu.

Se ainda estivesse com meus poderes eu poderia enxergar ali, mas a escuridão era grande demais para o meu estado atual, era quase como se eu estivesse na escuridão do espaço. Além disso parecia que a gravidade do local era absurdamente maior do que a que estava acostumado, eu não conseguia me mover, poderia dizer que era culpa das correntes, mas antes mesmo de ficar preso eu já não conseguia e o ar parecia assustadoramente mais pesado ali:

-Acorde prisioneiro – disse alguém vindo da esquerda, mas que eu não enxerguei e pela voz deveria ser um homem

-Já estou acordado carcereiro

-Bom, o chefe quer falar com você agora

O homem me pegou pelo braço e começou a me arrastar por algum lugar que eu não tinha a mínima noção de onde estava, já estava nessa situação a horas desde que cheguei a esse lugar escuro e estranho. Andamos por mais de meia hora até pararmos, deveríamos estar em algum lugar cheio de gente, pois dava para escutar as respirações pesadas deles:

-Identifique-se preso – falou alguém que deduzi ser o chefe pela voz autoritária que parecia ser feminina

-Eu gostaria “chefe”, mas não consigo enxergá-lo direito

-Você não enxerga na escuridão? Você ao menos consegue andar?

-Também não

-Ora soltem o rapaz soldados, ele não passa de um inútil, nunca seria capaz de nos oferecer algum problema – eu queria xingar aquela pessoa de todas as formas que eu conhecia, mas na condição atual o máximo que ganharia era uma surra

Senti as correntes sendo retiradas, mas mesmo sem elas ainda não conseguia me mover e nem enxergar:

-Não se preocupe verme, nos vamos acender uma luz para você – ouvi risos no local e então uma luz iluminou tudo, ela era fraca, mas mesmo assim meus olhos arderam por um momento, estava no escuro total a muito tempo e isso não ajudava, mas aos poucos comecei a perceber quem eram os meus “anfitriões”, um bando de seres de peles roxas, cabelos azuis e olhos totalmente brancos, haviam doze no total ali e um deles estava sentado em um trono feito de cristal, que era da onde saia a luz

-Obrigado “chefe” – falei tentando me levantar do chão, mas meu corpo não se erguia, era simplesmente impossível

-Um verme prisioneiro não precisa me chamar de chefe, não a mínima honra nisso – falou a mulher que sentava no trono, ela e outros dois que deduzi serem os guardas eram os únicos que carregavam alguma arma, lanças com cristais nas pontas – Quem é você verme prisioneiro?

-Chamo-me William Maquiavel, um príncipe do inferno

-Ora – a mulher com um simples pulo foi parar onde eu estava, mais de sete metros de distancia, mesmo com a gravidade enorme – Um demônio aqui?

-Estou tão surpreso quanto a senhora – ela então me acertou um soco que me jogou três metros para a direita

-Não minta pra mim verme, um príncipe do inferno não seria afetado pela falta de luz e muito menos por essa gravidade

-Vamos dizer que sou especial – tentei levantar, mas ainda era inútil – Eu perdi meus poderes a pouco tempo e vim parar aqui durante minha busca pelo retorno das minhas forças

-Você veio parar bem longe então, você está em Edoras príncipe, um outro mundo muito distante até mesmo da Terra, quanto mais do inferno, nosso mundo não possui luz como pode perceber, nossa única fonte são cristais luminescentes especiais, mas nos não precisamos deles já que enxergamos no escuro, e a gravidade desse mundo é dez vezes maior do que a Terra

-Dez vezes? – droga era por isso que não conseguia me mexer no meu estado atual de forças

-Sim, agora que já sabemos que você é quem é podem levá-lo de volta para a prisão

-O que disse? – assim que falei os guardas me pegaram do chão como se eu não fosse nada

-Quando tiver nível para vir até meu salão sem precisar de ajuda poderá conversar comigo de igual para igual, até lá não passa de um verme que nem mesmo pode andar moleque

Em pouco tempo a luz sumiu e me vi de volta a escuridão e em pouco tempo fui jogado no chão, de volta a sela provavelmente, mas dessa vez não fiquei só, jogaram do meu lado algumas coisas. Andei até o canto onde as coisas estavam e tentei tatear tudo, mas até mover os braços era difícil, eram mochilas pelo que percebi, devia ser as mochilas dos outros, mas se elas estavam aqui onde eles estavam? Onde Amy estava?

Continuei a tatear em busca de algo e acabei enfiando a mão em algo pastoso, devia ser algum tipo de mingau. Tentei levar tudo a boca, por sorte era fácil de engolir a comida, mesmo que ela fosse horrível, podia dizer que aquela era facilmente a pior comida que já provei, mas era melhor do que passar fome.

Depois de comer senti minha força aumentar, o mingau podia ser horrível, mas era provavelmente o alimento mais nutritivo que já comi, senti meu corpo com energia total depois de comer aquilo. Tentei erguer meu corpo, mas mesmo assim era difícil demais, antes eu erguia meu próprio peso, agora eu precisava erguer dez vezes ele, e sem uma super-força para ajudar.

Passei um bom tempo tentando levantar do chão, não podia dizer quanto, já havia perdido noção de tempo naquele local, mas eu demorei, demorei muito, a prova disso era que antes de eu conseguir qualquer progresso eu recebi outra tigela de mingau, se eu estava recebendo outra refeição então já se tinha passado um bom tempo, ou então eles eram bonzinhos com seus prisioneiros:

-Coma verme – disse o mesmo guarda da ultima vez – Pode ser que assim possa conseguir ao menos ficar em pé fracote

-Vamos ver quem é o fracote quando eu sair daqui elfo da noite

Sim aquele povo eram os lendários elfos da noite, eu li sobre eles, aqueles que eram chamados de os servos da noite, as características pelo menos eram iguais as de que ouvi falar e já que o elfo da noite não soltou nenhum riso ou deboche acho que tinha acertado.

Mais um bom tempo de tentativas, já havia tido minha quarta refeição e nada acontecia, e pelo que notei todas eram periódicas e deviam ser feitas a cada seis horas, se já comia a quarta refeição então já havia se passado um dia terrestre, um dia sem a Amy. Eu não podia continuar daquele jeito, sem saber nenhuma noticia dela.

Lutei por muito tempo contra aquela força invisível maldita até que resolvi dormir, não era só porque estava comendo muito e tinha energia que não deveria descansar. Não sei quanto tempo dormi, mas acordei com um prato de mingau me acertando a cara, eu até iria reclamar, mas era inútil por enquanto, aquele povo provavelmente só respeitava os fortes e para eles eu era só um verme fraco e inútil, e eles tinham razão nisso.

Mais duas refeições e então eu consegui, senti meu corpo sendo erguido, estava quase em pé quando mais um prato de mingau voa direto no meu nariz me fazendo cair e soltar sangue na comida. Comi o mingau ensangüentado e tentei me levantar, demorou bem mais dessa vez, mas consegui novamente, um corpo agora se mantinha em pé, mas eu ainda não conseguia andar, nem mesmo um passo, só conseguia arrastar os pés com dificuldade, muita dificuldade.

Depois de me arrastar por algo que pareciam quinze centímetros resolvi me deitar no chão, mas só tentei e então meu corpo caiu no chão de uma vez me fazendo ficar com vários machucados, eu tinha que lembrar que levantar ficava mais difícil, mas o cair ficava mais fácil também.

Depois de mais três refeições já consegui dar meu primeiro passo, algo bem difícil já que assim que eu erguia o pé ele tendia a fundar de volta no chão, mas eu estava conseguindo, já tinha perdido a noção dos dias, mas ainda não tinha perdido a esperança de revê-la, ninguém ia me separar de Amy, ninguém , nem mesmo esse mundo estúpido e o seu povo ridículo.

Mais quatro refeições e já estava andando, com dificuldade, mas já dava treze passos perfeitamente. Depois que se pega o jeito tudo fica mais fácil, em apenas mais duas refeições e eu já andava calmamente pela sela, mesmo esbarrando nas paredes de pedra de vez em quando e caindo, eu já andava, mas não enxergava.

Enquanto comia mais um prato eu esbarrei em uma mochila e resolvi abri-la para ver se achava alguma pista, mas achei algo melhor, uma lanterna. Liguei aquele aparelho e iluminei o local, estava realmente numa sela, um local com paredes de pedra a uma porta de ferro na frente:

-Ora o verme achou uma forma de luz? – encarei o guarda e andei até ele – O que vai fazer? Me bater?

-Não, não ainda, só quero que mande um recado para a sua “chefe”, dia a ela que daqui a três refeições eu vou ir ter uma conversa com ela

-E por que não vai agora? Você já consegui andar e conseguiu sua preciosa luz também

-Eu já disse, daqui a três refeições

Andei até um ponto da sela e desliguei a luz, daqui a três refeições eu já estaria pronto. Comecei a fazer flexões e abdominais junto as caminhadas, já conhecia todo o perímetro da sela, cada parede, cada pedra no caminho, não precisava de luz para me mover ali, só precisava ter noções dos meus passos.

Quando terminei a terceira refeição levantei do chão e encarei o guarda apontando a lanterna para ele:

-Podemos ir agora – falei andando na direção da porta

-Ótimo então – falou o guarda abrindo a sela e me guiando por aqueles túneis úmidos, escuros e empoeirados

Quando chegamos ao salão a “chefe” não estava sozinha, dessa vez outras sete pessoas carregando lanças estavam presentes:

-Ora se não é o verme – falou a “chefe” se erguendo do trono de pedra e iluminando o local com a luz do seu cristal

-Você me disse para vir aqui quando pudesse andar e eu vim, agora que tal me responder algumas perguntas?

-Faça então príncipe

-Vocês viram ou possuem algum humano nos seus domínios?

-Humanos? Meu povo não vê nenhuma outra raça a mais de dois séculos demônio, você foi o primeiro nesse tempo todo

-Entendo – eles não estavam aqui, droga – Onde fica Edoras “chefe”?

-Desculpe príncipe, mas apenas uma pergunta por prisioneiro, se desejar mais perguntas terá que vencer meus guardas, um guarda derrotado uma pergunta será respondida, não pense que estamos fazendo isso para ludibriá-lo príncipe do inferno, é assim com todos os prisioneiros

-Jamais duvidei da sinceridade de suas palavras “chefe” do elfos da noite, se essa é a única forma de obter minhas respostas então será a forma que usarei

-Ótimo vejo que vocês demônios por mais fracos que sejam são muito determinados, se quer tanto assim lutar por que não luta com seu próprio guarda?

O guarda jogou a lança no chão e ficou a cinco metros de distancia, se o único jeito era lutar, então que lutássemos. O guarda partiu na minha direção com uma velocidade assombrosa, eu só conseguia andar, mas não correr, ainda estava alem das minhas forças poder esquivar dos golpes dele e com um único soco no rosto eu cai no chão com o nariz quebrado e sangue banhando minha face:

-O príncipe arrogante não passa de um verme como qualquer outro – disse o guarda e eu já estava cansado de me chamarem de verme

Senti cada fibra do meu corpo ficando mais forte, meu corpo parecia estar ficando mais quente a cada segundo, eu estava banhado no puro ódio que apenas os demônios do sétimo círculo podem alcançar.

Corri na direção do guarda, pareça ter ficado mais forte graças ao ódio. Troquei socos com ele, mas era difícil agüentar, cada soco meu corpo parecia que ia na direção do chão, mas nem por isso fraquejei, assim que vi uma brecha desferi agarrei ele e acertei uma joelhada nas suas costelas, pelo grito que deu ai cair no chão devo ter quebrado uma ou duas costelas.

Mas isso não atormentou nem um pouco o elfo da noite, ele se ergue do chão como se nem estivesse ferido e então voltou a atacar, dessa vez não eram só socos, mas também chutes e cotoveladas, por sinal uma das cotoveladas me acertou em cheio no ouvido me fazendo cair novamente.

O maldito era forte e havia estourado meu tímpano com a cotovelada, estava desnorteado quando levantei e ele se aproveitou para me acertar três socos diretos na cara me fazendo tombar de novo.

Meu rosto estava inchado e cheio de sangue, meu senso de equilíbrio ainda demoraria para se restaurar com minha regeneração atual, continuar essa luta era inútil, eu não tinha chances com minha força e resistências atuais:

-E então príncipe o que escolhe? Continua ou desisti? – perguntou a “chefe” se aproximando

-Desisto, mas nesse momento, quando estiver pronto retornarei

-Bom ouvir isso

Depois disso fui jogado de volta a sela junto de um prato de mingau, estava acabado, mas nem mesmo isso me impediria de comer. Depois de comer comecei a me exercitar, nada iria me impedir de sair daquele lugar e se a única forma era conseguindo minhas respostas então eu iria lutar para consegui-las.

Depois de mais quatro refeições e uma dormida rápida estava pronto novamente. Dessa vez nem precisei da ajuda do guarda, já sabia o caminho e ele não parecia mais que ia me ajudar é tanto que todas as outras refeições não foram mais entregues e sim jogadas derramando boa parte da comida no chão duas vezes.

Quando chegamos ao salão a “chefe” não disse anda, apenas ergue o braço e nos colocamos nas nossas posições de batalha. Ele avançou antes de mim, claro ele era mais veloz então sempre estaria na dianteira, mas isso não importava. Assim que ele se aproximou com um soco me abaixei e desferi um soco na perna dele, o maldito pulou, mas eu já esperava por isso, antes que ele chegasse ao chão eu rolei para o lado e assim que ele caiu acertei um soco direto na nuca fazendo com que o guarda caísse no chão.

Ele parecia ter quebrado o nariz mesmo que parcialmente, um sangue azulado escorria do seu rosto e isso parecia ter deixado ele furioso, bom. Ele veio cego de raiva na minha direção e tentou desferir um soco no meu peito, eu agarrei o braço dele e o derrubei no chão, ele era pesado, mas eu já estava bem mais forte. Assim que ele bateu contra o chão desferi um soco na sua caixa torácica fazendo ele tossir e cobrir o peito se esquecendo totalmente de levantar, quando ele percebeu o erro já era tarde, acertei um chute direto na boca dele fazendo ele rolar pelo chão cuspindo dois dentes e um pouco de sangue azul.

Quem dera aquilo fosse o suficiente para derrubá-lo, o maldito ainda parecia nem estar ferido já que ele avançou ainda mais veloz que antes. Ele desferiu um soco na direção do meu ouvido, mas defendi com o braço que ficou dormente após o ataque, ele estava não só mais veloz, mas também mais forte.

Uma sequencia de socos furiosos vieram na minha direção, se eu não me esquivasse a luta acabaria ali, eu tinha fazer alguma coisa. Joguei meu corpo na direção do dele e acertei uma cabeçada bem no diafragma dele, o guarda então cambaleou para trás ofegante, perfeito. Avancei na direção dele e acertei seis socos no estômago do guarda fazendo ele vomitar algo parecido com as tripas de algum animal:

-Parem! – gritou a chefe se aproximando – Você venceu príncipe e nem pense em reclamar guarda, a luta foi justa para ambos os lados e sei que se continuasse só acabaria perdendo um bom guerreiro, faço sua pergunta demônio

-Como posso sair desse local? – me aproximei da “chefe” e ela me encarou nos olhos

-Você não pode

-Como é?

-Esse lugar é um enorme complexo subterrâneo com milhares de quilômetros, ninguém nunca saiu daqui, estamos tentando, mas ainda não conseguimos chegar a superfície, se é que ela existe

-Só pode estar de brincadeira

-Quem dera, nosso complexo já tem mais de dois mil metros de altura e ainda não saímos daqui, e a cada metro se torna mais difícil de escavar, nossa alimentação consiste apenas em carne de alguns tipos de vermes que vivem aqui e o excremento de um tipo de planta que vive aqui nas profundezas, ninguém sabe explicar como uma planta vive nessas condições, mas nos agradecemos por isso, por acaso o mingau que você come é o excremento dessa planta

-Droga!!! – gritei tão alto que pensei que ficaria sem voz, não podia ser possível, não depois de tudo – Tem que haver uma saída

-Se tem nós ainda não a encontramos príncipe, pensei que poderia nos ajudar nesse ponto

-E como eu poderia?

-Me siga

Andamos durante mais de duas horas, sempre descendo, passando por vários túneis, alguns cheios de elfos, outros com as supostas plantas que ela falou e outros completamente vazios, mas depois dessa longa caminhada nos finalmente chegamos ao nosso destino, um enorme salão de pedra semelhante ao da “chefe”, mas aquele tinha dimensões muito maiores, poderia caber mais de cinco mil pessoas e ainda sobraria um bom espaço:

-Venha demônio – a “chefe” me guiou até o meio do salão, no chão do salão, bem no centro dele, havia desenhado um círculo perfeito adornado com alguns símbolos nos extremos dele – Foi aqui que nosso povo apareceu pela primeira vez em Edoras, nos pensamos em escavar aqui, mas apenas a entrada do lugar foi possível ser aberta, o resto parece ser feito de uma rocha resistente demais para ser partida nas nossas condições atuais

-E o que isso tem haver com uma possibilidade de sair?

-É isso que eu quero que você me diga, o que acha que está escrito no círculo?

-Eu só quero que você me responda como escreveu isso

-Por que?

-Isso daqui, você sabe ao menos que língua isso está escrito?

-Não príncipe, pensei que você pudesse saber

-E sei, isso são runas draconianas, o alfabeto da língua dos dragões

-É mesmo? Dragões? Tem certeza?

-Eu não tenho porque mentir “chefe”, eu não vou ganhar nada assim

-E o que está escrito?

-Ae elos dit ae Won

-E o que isso significa?

-A união faz a força

-O que?! – bem eu acho que não era essa a resposta que ela queria pelo rosto enraivecido que ela ficou – Como assim a união faz a força?

-O que você queria? É isso que está escrito, não tem engano, mas se você não sabe o que isso poderia significar eu é que não vou saber

-Desculpe – ela falou recobrando o jeito de antes – É só que essa era minha última esperança, talvez houvesse ai uma forma de sair desse lugar

-Talvez seja isso, a união do seu povo é a força que precisamos pra sair daqui

-Mas quando demônio? Já estamos escavando a dois séculos, dois séculos, e sei que você quer sair daqui tanto quanto nós, talvez até mais

-E eu quero, mas não consigo nesse estado atual

-Eu entendo, não vou cobrar de você mais do que isso, pode ficar com um quarto comum se preferir

-Não, já estou acostumado com a sela, conheço ela perfeitamente e não acho que me habitaria a outro lugar tão fácil, vou ficar lá

-Certo então, suas refeições serão no mesmo ritmo de sempre, é assim para todos nos

Quando cheguei a sela me joguei no chão, havia uma escritura na língua dos dragões aqui e isso não se vê todo dia, se Rubys estivesse aqui talvez ele me ajudasse a entender o por que de um dragão escrever aquilo nesse local. A última coisa que fiz foi comer uma refeição de então adormeci, parecia que minha estadia naquele lugar ia demorar mais do que eu jamais pensei.

Acordei com um prato de mingau sendo colocado do meu lado, dessa vez era um guarda diferente que havia entregado a comida. Enquanto comia revistei as mochilas em busca de novas coisas úteis, acheis três pilhas que cabiam perfeitamente na lanterna, achei uma lata leite em pó, sete barrinhas de cereais, dois sanduíches que já estavam com um mal cheiro devido ao tempo que passaram naquele estado, uma toalha, papel, caneta, repelente, dois livros de fantasia e o ultimo item, aquele que eu não queria nunca mais ver, mas que naquele momento eu agradeci por tê-lo comigo, a adaga negra de Caim, Amy devia tê-la colocado ali para grande problema que tivéssemos e eu tinha esse grande problema.

Sai da sela e andei até o salão da “chefe” dos elfos da noite, ela estava conversando com um grupo de homens que deveriam ser uma espécie de conselho:

-Mil desculpas pela intromissão “chefe” – falei cortando a conversa – Mas acho que sei como resolver nosso problema sobre achar a superfície

-É mesmo? – os olhos brancos da “chefe” pareceram brilhar na escuridão – E como faremos isso príncipe?

Pedi para que ela me guiasse até a parte mais alta das escavações, e foi um processo muito demorado, paramos três vezes para comer no caminho e só não paramos uma quarta porque eu a impedi. Valeu a pena perder a refeição, pois vinte minutos depois já estávamos no lugar, um espaço que mal cabia nos dois e que não tinha saída:

-Então como vai resolver nosso problema? – perguntou a “chefe” tentando se manter afastada de mim, algo que era difícil naquela situação

-Prepare-se querida, pois hoje vocês vão avançar muito mais do que jamais devem ter avançado na sua vida nessa maldita escavação

Concentrei todo o meu ódio naquela adaga e aos poucos senti a aura negra me cobrir, era quase como usar o poder de Rubys, mas muito mais sombrio e maléfico. Canalizei a energia negra ao meu redor e comecei a retalhar tudo no meu caminho, estava em um frenesi enquanto subia em uma vertical perfeita, aquela gravidade gigantesca agora parecia até menor do que a da Terra, mas não durou muito, em pouco tempo senti meus tendões rompendo e alguns músculos estourando e então caí.

Por pouco não me choquei contra o chão, a “chefe” impediu minha queda por pouco e ambos rolamos alguns metros:

-Quantos metros? – perguntei levantando de cima dela

-Por volta de trezentos e cinqüenta metros pelo que pude ver, demoraríamos no mínimo vinte anos para chegar aquele nível, mas graças a você fizemos isso em poucos minutos, mas não acho que você esteja bem

E não estava, não era só o meu corpo, mas a minha mente também parecia absurdamente cansada e fraca, quando percebi já estava indo em direção ao chão novamente.

Tentei me mexer, mas havia alguma coisa tapando o meu rosto, era confortável, chegava a ser bastante macio, devia ser um travesseiro, mas quando abri os olhos percebi que o tal travesseiro de travesseiro não tinha nada, na verdade eram duas coisas e não apenas uma, dois seios:

-Mas o que é isso?! – gritei pulando para fora da cama onde estava deitado, uma cama bem macia e de verdade

-Se chama seios príncipe do inferno – falou a “chefe” se levantando da cama, nua por sinal

-Vista algo “chefe” – por sorte eu estava de calça

-Pare de me chamar de “chefe” William Maquiavel, somente meus servos me chamam assim

-E como devo chamá-la? – procurei pela minha camisa, mas ela não estava ali

-Sua camisa não existe mais, ela estava tão imunda que era impossível ser limpa então resolvi queimá-la e deveria ter feito o mesmo com a sua calça

-Você ainda não respondeu a minha pergunta

-Eu sou Alatariel

-Certo Alatariel então que tal agora me explicar por que estava dormindo nua ao meu lado?

-Bem, você já havia perdido três refeições, agora quatro por sinal, então eu cheguei no meu quarto pessoal onde você dormia e vi esse seu rosto tão lindo dormindo, não resisti e acabei dormindo ao seu lado – enquanto falava ela se aproximava de mim e quando percebi estava cercado – Mas não se preocupe, tudo se resumiu a apenas um sono, não fui além mesmo que quisesse muito

-Eu agradeço – afastei o corpo dela e andei até a porta do quarto que era feita de ferro – Mas agora devo ir comer

-Ainda faltam duas horas, mas pode comer algo que a nesse quarto

Andei até onde ela apontou e peguei algo que pareciam as tripas de um animal e engoli, o gosto era terrível, menos terrível do que a do mingau, mas ainda sim terrível:

-Obrigado

-Não foi nada, tudo pela sua grande ajuda

-Quanto tempo eu já estou aqui? Já perdi até a noção dos dias

-Nove dias pelo que contei, mas pode passar muitos mais se desejar

-Meu único desejo é sair daqui e encontrar a garota que amo, a única que amo

-Você é tedioso príncipe – disse Alatariel sentando na cama e comendo uma das tripas como se fosse a melhor coisa do mundo

-Quando terminar de comer o mingau irei continuar minha escavação

-Eu agradeço novamente, se apagar novamente vou trazê-lo para a minha cama novamente, e não garanto que irei me controlar

-Entendi o recado “chefe”

Comecei a andar pelos corredores até encontrar a minha sela, revisei tudo que havia ali e comi duas barrinhas de cereal, as tripas não eram tão nutritivas quanto o mingau, na verdade nem mesmo todas as barrinhas juntas seriam. Comecei a fazer uma serie de flexões e abdominais, duzentas de cada uma só por puro aquecimento e poucos minutos após terminar o prato com mingau apareceu na minha porta. Depois de comer peguei a adaga e andei até o local da escavação, mas dessa vez já fui para lá usando o poder da adaga, não podia perder tempo andando até lá mesmo que isso custasse já cansar meu corpo previamente.

Quando cheguei ao local comi algumas tripas e mais uma barrinha de cereal e então liberei o poder no máximo. Após algo em torno de catorze horas apenas quebrando rochas senti meu corpo ruindo novamente e parei no mesmo local, fiquei sentado em um buraco a mais de dois mil metros a cima de qualquer outro elfo, o local perfeito para não ser atormentado, mas horrível para alguém na minha situação de fome, cansaço e com o corpo todo machucado internamente, mas eu já havia pensado nessa possibilidade e estava preparado:

-Mercumes – senti uma luz esverdeada cobrindo meu corpo, aquela era a palavra em draconiano para curar, além de curar meu corpo mais veloz do que jamais sonharia aquilo também significava outra coisa, Rubys estava por perto, perto o suficiente para me enviar seu poder pelo menos, ou talvez fosse o poder de outro dragão, mas nenhum dragão enviaria suas forças para um desconhecido então só podia ser Rubys e se ele não estava ali no subterrâneo ele só podia estar na superfície

Peguei na adaga novamente e usei seus poderes, se continuasse a usar os poderes da adaga e os de dragão na medida certa eu poderia cavar por um logo tempo, talvez durante semanas sem me cansar.

Já estava cavando por mais sete horas quando aconteceu, eu acertei um golpe esperando encontrar apenas mais pedras no caminho, mas então eu encontrei luz, um pequeno e finíssimo feixe de luz, mas aquele era o sinal que eu precisava e como que gostaria de não tê-lo encontrado naquele momento. Assim que o pequeno buraco que abriu eu senti a pressão do ar aumentar brutalmente, era quase como se estivesse sendo puxado por um ciclone, usei os poderes da adaga e escapei daquela sucção, mas em compensação me vi caindo de volta ao chão e usando novamente os poderes da adaga escapei de me partir em pedacinhos:

-Ora vejam só quem apareceu – disse Alatariel, dessa vez vestida

-Eu consegui – falei me recompondo

-O que você conseguiu?

-Eu achei a saída

-Como assim conseguiu a saída? – Alatariel me pegou pelos ombros e todos que estavam ali ficaram boquiabertos

-Eu cavei, cavei e cavei ainda mais até encontrar um pequeno feixe de luz, mas tenho uma má noticia, talvez péssima

-Por que péssima? Você finalmente conseguiu aquilo que nos buscávamos a dois séculos, como isso pode ser péssimo?

-Simples, quando abri o buraco eu senti meu corpo quase sendo sugado em direção ao buraco

-E?

-E que não tem lógica a não ser em duas situações, a primeira é que exista alguma poderosa força lá fora puxando tudo e a outra, bem a outra é que é péssima mesmo

-Fale logo príncipe do inferno estamos loucos aqui querendo saber

-Existe apenas outra situação que penso que isso aconteceria, caso você estivesse dentro de algum local pressurizado e então abrisse o local no vácuo você geraria algo parecido com o que eu senti, e essa é a questão

-Esta querendo dizer que a cima de Edoras existe o vácuo?

-Sim, mas não necessariamente vácuo, mas sim o espaço sideral, vocês vivem aqui embaixo com certas criaturas adaptadas a falta de luz como os vermes e as plantas especiais, mas vocês nunca tentaram pensar do porque existem tantos animais e plantas abaixo da superfície?

-Talvez ela fosse tóxica

-Tóxica ou então é porque seria impossível viver nela por outro motivo, imagine que você vive em um mundo sem atmosfera, um mundo onde não existe proteção contra os raios solares e muito menos oxigênio e nutrientes porque tudo escapa para o espaço

-Mas nossa gravidade é gigantesca, nada deveria escapar daqui

-Outra questão, quanto mais eu subia mais fácil ficava mesmo eu ficando mais cansado, a gravidade parecia diminuir quanto mais eu subia, deve existir algo nesse mundo que torna a gravidade absurdamente grande, mas que os surte efeito em um certo espaço que talvez não abranja toda a crosta do planeta

-Então esta dizendo que lá em cima a gravidade é menor do que aqui? E que lá não existi atmosfera ou nenhum tipo de forma de vida?

-Exato, não me pergunte o porque, pois tudo que digo é apenas uma suposição, uma suposição que quero muito que esteja errada porque se não estiver será impossível sair daqui e pior, logo o buraco vai se expandir com a gigantesca diferença de pressão e ele vai aumentar e vai sugar cada vez mais coisas para o espaço

-Você não esta dizendo que meu mundo pode estar condenado?

-Bem – senti algo me puxando e um feixe de luz relativamente grande batendo a cima de mim – Acho que é isso sim 


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Notas finais do capítulo

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