Em Perigo escrita por bianoronha


Capítulo 19
Capítulo 19 - Congelada


Notas iniciais do capítulo

Peguem seus casacos, porque vai nevar nesse capítulo hehehe
Aproveitem e leiam as notas finais!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/247490/chapter/19

A porra do dia estava quente demais e meus braços estavam com a tendência de querer matar tudo o que viam pela frente, tinha pena do primeiro filho da puta que resolvesse aparecer em minha frente. Os diversos papéis jogados em minha mesa mostravam que havia milhares de depósitos e entregas a serem feitas, mas nada daquilo me importava, pois apesar das diversas atividades para terminar o dia parecia simplesmente... tedioso. Não apenas hoje, mas há meses.


Exatamente dois meses. A porra de maldito dois meses. Sessenta dias de puro tédio e pior: sabia exatamente o motivo de toda aquela sensação de tédio me alcançar. Dei um soco na mesa e passei as mãos no rosto, massageando. Levantei e caminhei até a janela, todos do Cartel usavam jaquetas grossas e a fumaça proveniente de lugares tipicamente frios saia de suas bocas demonstrando o solo coberto de neve presente em todo o país, mas por que meu escritório parecia ainda pior que o lado de fora?


O natal estava quase chegando e as atividades se tornavam cada vez menos intensas, mais algumas semanas e os iniciantes seriam dispensados para que pudessem voltar às suas casas, não, não por ser um chefe bonzinho, mas como era uma estúpida tradição e sendo o natal uma data sagrada para grande partes das pessoas, então não impediria que voltassem para suas casas. Parecia cômico ser tão pecador e ao mesmo tempo considerar o dia do nascimento do menino Jesus como dia sagrado, mas até mesmo os perdidos tinham suas crenças e apesar de ter plena consciência de que o céu deveria estar fechado para mim há um bom tempo, guardaria os dias sagrados.


Era a sexta-feira mais patética da minha existência e todos estavam no jardim praticando algum tipo de jogo para se divertirem e apesar de achar absurda a ideia de vários futuros mafiosos estarem correndo pela grama em alguma brincadeira estúpida, senti um pouco de inveja, fazia muito tempo que não realizava algo estúpido simplesmente para me divertir. Tudo era minimamente calculado, não havia tempo para perder e com isso a questão era: será que eu não estava fazendo justamente o oposto?


Focalizei os olhos em Jasper e senti ainda mais inveja, o maldito conversava animadamente com uma garota de olhos castanhos que reconhecia muito bem. Analisei suas roupas percebendo que seu cabelo parecia centímetros maior e com uma aparência cansada, estava trabalhando demais no Cartel?



Em segundos uma enorme frustração surgiu com um aperto formando-se dentro de mim, não sabia que porra era aquela, mas não gostava nada daquele maldito aperto dentro de mim. A mafiosa, além de extremamente teimosa, possuir uma enorme propensão para realizar estupidez, tinha mais um maldito defeito ou como diziam, uma qualidade: Ela cumpria com sua palavra.


Desde a morte de Ben não dirigira sequer uma palavra em minha direção, na verdade, nem aparecera em meu caminho. Havia dois meses que a via de longe, tendo que me satisfazer apenas com as notícias que ouvia sobre ela pela boca alheia. Alguns dias eu peregrinava por simplesmente todo o castelo, mas como se soubesse que passaria por ali, ela simplesmente sumia, como se me evitar fosse o único motivo de sua própria vida e a pior parte era aquele maldito aperto dentro de mim. Sim, estava agindo como um estúpido apaixonado que notava que a porra do cabelo dela estava maior e não sabia por que aquilo estava acontecendo comigo ou como parar.



Não podia ignorar que meus dias eram completamente sem graça sem a irritação natural que a perdição de garota trazia consigo, imaginar que o corpo macio e o cheiro inebriante que possuía não estava perto de mim e que talvez outro filho da puta estivesse sentindo de perto seu cheiro inebriante era estupidamente angustiante. Sabia que esse era meu fim, acabaria louco matando alguém por ai simplesmente por que uma garota se recusava a falar comigo.


Era oficial: havia virado um maldito estúpido por causa de Isabella Swan.


Há tempos atrás seria diferente. Há tempos atrás a furacão estaria morta no primeiro olhar atravessado, na primeira ofensa lançada à mim estaria de baixo da terra. Mas não era mais assim, não conseguia ser o líder do Cartel com ela e isso me deixava louco de raiva, não era possível que com a única que merecia não conseguisse ser o mestre, sabia que com ela, na maioria das vezes, só conseguia ser o Edward. Notei que a brincadeira que realizavam no jardim era algum tipo de corrida, em que ambos tinham que pegar alguém do outro time. Quando corria, Isabella soltava alguns sorrisos e parecia satisfeita de estar ali. Enquanto eu estava tendo a porra das piores semanas do ano e a maldita simplesmente parecia... feliz.


Fechei a janela com força fazendo o vidro trincar e voltei ao meu lugar, era o mafioso mais temido do país e não seria uma garota que atrapalharia, porém, antes que pudesse voltar às atividades, a porta foi escancarada com um baque forte e logo Step adentrou o local com dois dos seguranças carregando um homem assustado pelos braços.


"Mestre, foi difícil encontrá-lo, mas disse que conseguiria" Deu um sorriso de satisfação e avaliei o culpado por meus dias estupidamente entediantes com precisão.


"Então quer dizer que além de estúpido você é medroso" O homem me encarava com olhos assustados. "Fugir de mim foi seu pior erro, Caio"


"Tenho família mestre, não queria fugir de você, mas tive que protegê-los, voltei para me entregar, não ficaria fora para sempre" Disse com autoridade e soube que dizia a verdade. Caio estava há anos no cartel como atirador e nenhuma vez fugira, sempre me serviu com lealdade, mas seu único erro substituiu todos os anos de devoção. "Tínhamos a ordem de matar o menino, não foi culpa minha mestre, só cumpri suas ordens"


"É mentira" Step gritou em seu rosto. "Havia dito que as ordens mudaram, o menino não deveria ser morto, o mestre cancelou a ordem e você o desobedeceu, seu bastardo!" Um soco foi lançado em seu rosto enquanto se contorceu.


"Não achei que fosse verdade, mestre" Virou-se desesperado para mim. "Trabalho há anos aqui e o senhor nunca retirou uma ordem, sua palavra sempre foi lei e tinha de ser cumprida, não pensei que fosse verdade e..." O interrompi.


"Não tinha que pensar nada" Levantei da cadeira ofendido com as palavras. "Eu mando aqui, Caio, e se eu mandar retirar uma ordem, você tem que obedecer" Disse imponente fazendo o silêncio reinar, o homem permanecia de cabeça baixa. A raiva borbulhava cada vez mais dentro de mim, pois sabia que o que Caio dizia era verdade, jamais, em anos, havia cancelado ou mudado uma ordem, tudo que dizia tinha que ser cumprido, mas deveria saber que as coisas mudaram, deveria saber que não devia me questionar. "Sabe a porra da confusão que criou para mim?" Levantei seu rosto pelos cabelos. "Todos pensam que o matei, você criou toda essa merda para que eu resolvesse e não gostei nada disso."


"Conto para eles, senhor" Implorou-me. "Explico para todos que fui eu, que entendi tudo errado, posso explicar" Lágrimas rolavam por seu rosto e jogou-se no chão de joelhos. "Mas não me mate, imploro, tenho quatro filhos e minha esposa ficará devastada, por favor senhor, eu imploro"


"Tire dos meus pés" Os seguranças o levantaram outra vez. "Você não morrerá" Exclamei e recebi um olhar torto de Step. "E não explicará nada para ninguém, entendeu?" Gritei em seu rosto e ele abriu os olhos surpreso com minha misericórdia. "Não preciso que conserte nada, as coisas devem permanecer como estão" Avaliei o homem novamente. "Você atira bem demais para morrer, mas da próxima vez que me desobedecer, não pensarei duas vezes"


"Obrigado senhor, nem sei o que dizer, muito obrigado, de verdade, eu..."


"Saia" Ordenei, impaciente. "Levem-no daqui" Espantei com os braços e logo os seguranças se foram. Voltei para a mesa notei que Step me encarava.


"É por causa dela, não é?" Questionou com veemência. "Foi por ela que retirou a ordem, não foi?"


"Mas do que é que está falando, Step?" Mexi nos papéis com nervosismo, tentando organizá-los.


"Bella" Disse com simplicidade e me perguntei por que parecia que pela simples menção do nome dela meu estômago dava voltas dentro de mim. "Admita que retirou a ordem por que ela se apegou ao garoto" Levantei os olhos lentamente e encarei aquele que tentava tirar respostas de mim com puro ódio.


"Não preciso admitir nada à você, Step, lembre-se que é somente um subordinado" Meu rosto estava vermelho latejando de raiva e meus punhos fechados, não gostava de ser exigido, não gostava de cobranças, principalmente quando vinham de pessoas inferiores. Step bufou alto parecendo cansado.


"Mestre, não estou julgando" Caminhou alguns passos, me encarando de frente. "Sei exatamente que é o meu mestre e jamais sua autoridade será questionada, mas não o vejo apenas como chefe" Apesar de soar como um tremendo papo furado, sabia que estava sendo sincero. "Você ajudou minha família quando precisei e sinto uma enorme gratidão por isso, sempre serei grato" Consenti com o rosto lembrando-me de quando o pai dele estava na miséria e foi convidado ao Cartel, o que resolveu todos os problemas e dívidas aos banqueiros. "Mas me sinto na obrigação de avisar quando penso que algo está errado, é para isso que sou pago, para avisar quando as coisas estão erradas"


"Não entendo o que isso tem a ver com minha vida pessoal" Revirei os olhos de tédio.


"Você está errado" Decretou e antes que pudesse falar algo, esticou a mão mostrando que ainda não havia terminado. "Pode ser o mafioso mais temido e respeitado do país, mas quando o assunto é Isabella está em um ponto cego, não sabe como reagir e seu método tradicional de lidar com as situações não funcionam com ela"


"Isabella é somente uma garota estúpida que acha que sabe tudo da vida" Girei a cadeira e voltei os olhos para a janela onde ainda podia vê-la. 

"Isso é o que você diz, mas sabemos que é muito mais que isso" Aproximou-se da janela. "Ela tem luz própria e você odeia isso por que é apagado" Voltei os olhos perplexos para o homem ao meu lado confirmando minha ideia de que Step era um encubado que em breve encontraria sua feminilidade.


"É melhor você procurar algo bom para fazer ao invés de ficar criando histórias na sua mente" Voltei ao meu lugar e passei a digitalizar alguns depósitos enquanto Step soltava uma gargalhada.


"Certo, sei que é uma conversa estranha, mas o que quero dizer é que se sente falta dela deveria ir até lá" Sentou-se à minha frente tentando ser persuasivo. "Não é justo que sinta ódio por algo que você não fez, você não matou o garoto"


"Não importa, todos me odeiam nessa Cartel, mais um não faz diferença" Disse com a voz mais amarga que o normal. Estava mentindo, a opinião da semi-mafiosa mais teimosa do universo fazia diferença e eu sabia muito bem disso.


"Ela não o odeia, só está magoada" Deu de ombros. "Tenho que ver como está a missão" Olhou no pequeno monitor e voltou-se para mim. "Mas estou avisando, se fosse você não a perderia" Soltou uma risada e saiu com um baque surdo na porta, minhas mãos se fecharam apenas de imaginar algum desgraçado colocando aos mãos sujas em cima dela e outro soco foi disparado contra a mesa, acabaria louco até o final de semana se continuasse daquele jeito.


Não, não tinha matado Ben e simplesmente me odiava por isso, se a garota queria me odiar então realmente deveria ter dado um motivo verdadeiro para isso. Na noite em que havia levado a mafiosa para realizar a falsa missão, sabia que não conseguiria, sabia que jamais mataria uma criança, principalmente como Ben. Já o conhecia de algumas negociações antigas com o pai mafioso, inclusive, lembrava eu mesmo quando menor: ofuscado pelo furor da máfia, esquecido. Porém, era necessário que morresse, o pai estúpido pensava que poderia me enganar, vendendo informações privilegiadas sem ser punido por isso, essa era a ordem para os subordinados: matar o garoto, pois sabia que Isabella não conseguiria.


Mas naquela porra de noite, naquela porra de carro, tudo mudou. Na praia, enquanto dormia em meus braços a maldita só conseguia balbuciar frases desconexas sobre o garoto, exclamado que não deveria morrer, que deveria se esconder para preservar sua própria vida. Sim, eu havia virado a porra de um de um estúpido e liguei para Step cancelando a missão, por algum motivo a garota tinha se conectado ao garoto e não tiraria aquilo dela, mas como a o universo queria me fazer pagar por todos os anos de pecado, a missão, por algum motivo, havia sido realizada mesmo assim.


Ainda estava no escritório resolvendo os últimos relatórios da noite com a cabeça estranhamente entretida com os olhos castanhos que costumavam tirar toda minha paz, quando o telefone tocou com um Step desesperado na outra linha. "Caio realizou a missão", foram suas palavras. Não sei por que, mas todo meu corpo reagiu, sendo uma das primeiras vezes em que senti puro desespero. Pensei em Isabella e em como sofreria quando descobrisse o fatídico episódio. 


Levei a mão para ao rosto lembrando-me de minha decisão: não poderia me importar com os sentimentos de meus subordinados. Um mafioso não deveria retirar ordens, não deveria se preocupar com os sentimentos, não deveria sentir medo. Não importava se minhas escolhas magoariam a mafiosa. Precisava lembrar disso a todo instante, mas se tudo aquilo era verdade, por que meu peito apertava ao notar que não via a maldição de garota há semanas? Porque tudo tinha que ser diferente quando se tratava dela?


Sacudi a cabeça resoluto a esquecer qualquer coisa que se relacionasse com Isabella Swan, a maldita sairia de minha cabeça por bem ou por mal.








*








O dia parecia incrivelmente frio e tedioso, apesar de estar no jardim com várias pessoas que certamente amava, sentia que dentro de mim tudo era gelo.


Assim como o clima londrino, dentro de mim, estava quase nevando. Em todos os sentidos. Fazia dois meses desde a morte de Ben e tentava ignorar o mafioso por todo esse tempo. Nenhuma palavra fora pronunciada entre nós e me sentia satisfeita por conseguir, estranhando o constante nó que insistia em permanecer no meio de minha garganta.


Nada parecia fazer sentido, apesar de estar tudo em seu devido lugar. Estava bem, cada vez mais envolvida nas atividades do Cartel, rodeada de pessoas especiais que se importavam comigo e finalmente distante do homem que costumava tirar minha paz, mas apesar disso, os dias pareciam simplesmente do avesso, tudo estava de um jeito caótico e não sabia como ou o que consertar. Me sentia tão magoada por tudo que mal podia falar sobre isso, a morte de Ben me afetou de uma forma desproporcional. Havia visto o Cullen de longe algumas vezes e ao vê-lo algo dentro de mim contorcia. Os dias pareciam completamente inúteis sem o mafioso por perto, mas me sentia tão magoada pelo que tinha feito que a ideia de ter uma conversa com ele parecia uma afronta à memória do garoto, principalmente uma afronta a minha honra. Havia prometido que não voltaria a falar com o mafioso, e para mim, promessa feita era promessa cumprida.


Porém, não era o afastamento que mais me machucava e sim o silêncio que encontrara. Em nenhum dos sessenta dias que se passaram, Edward tentou qualquer tipo de aproximação, era como se fosse extremamente fácil para o mafioso ficar longe de mim, parecia até um alívio e me odiava por me incomodar tanto com isso. Havia um mês em que minha mente sonhava o mesmo sonho: Edward distante de mim, com mãos sujas de sangue. O sonho se apresentava de formas diferentes em cada noite, mas a essência era a mesma: ele extremamente feliz e me perguntava por que aquilo me incomodava tanto.


Sentei na grama fofa sentindo alguns fracos raios solares invadirem meu rosto, esquentando levemente e assisti a partida que estava ocorrendo. O time de Emmet estava ganhando por dois pontos do de Jasper e praticamente todos os iniciantes estavam envolvidos no jogo, era um alívio ter diversão em todo aquele ambiente de tensão que se instalara no cartel. Incrivelmente, de uns tempos para cá, Edward se tornara ainda mais rígido com relação aos funcionários, o que deixava todos ainda mais cansados. Mas alguma política do Cartel dizia que os feriados de final de ano deveriam ser rigorosamente respeitados, o trazia certa liberdade para nos divertirmos.


A verdade é que todos estavam se divertindo e apesar dos sorrisos que eu disparava para quem se aproximasse - sendo que praticamente todos eram falsos- não estava me sentindo feliz, algo em minha consciência estúpida me faziam voltar aos frios olhos azuis que encarei meses antes, tão frios que quase pude senti-los me congelar e apenas aquele lapso de memória fazia meu coração apertar ainda mais. Não conseguia equilibrar meus pensamentos e dentro de mim uma luta interna de sentimentos.

Uma Bella que sentia compaixão do Cullen e queria a todo instante saber como ele estava, ler os diários de Esme me fazia conhecer um pouco mais sobre os anos vividos no cartel e sobre a personalidade de Edward, desde pequeno se mostrava como um garoto solitário e isso me preocupava, de alguma forma, algo dentro de mim queria ficar com ele, queria mostrar que não precisava temer quem estava ao seu redor ou que não era errado se aproximar emocionalmente de alguém, algo dentro de mim queria mostrar a ele que depender de alguém não era fraqueza, era sinal de vivacidade, era natural.


Mas a outra Bella não admitia que qualquer um desses pensamentos reinasse por muito tempo e eu sabia que que era estupidez sentir algum sentimento bom pelo mafioso, não tinha capacidade de amar, a morte de Ben só comprovava que ele não se importava. Não se importava com Ben, não se importava com o que seus pais sentiriam, e o pior: não se importava comigo. Em nenhum momento imaginei que o mafioso sentisse algo por mim, ou que mostraria algum sinal de sentimentos bons, mas verificar que tudo isso era real, que ele realmente não se importava, me matava por dentro. Era por isso que a Bella fria precisava assumir seu lugar, não poderia deixar que ele me destruísse como fazia com todos os outros do Cartel, eu tinha que ser superior.


Apesar da extrema tristeza que insistia em aparecer dentro de mim, eu me obrigava a ser feliz, o que tinha com Edward era somente um caso passageiro e tudo que sentia não era nada mais que atração, por isso me sentia tão entediada distante dele, por que meu corpo o queria, por que existia uma maldita atração entre nós. Porém, ela seria morta e enterrada. Havia prometido a mim mesma que não deixaria com que o maldito mafioso me vencesse e cumpriria essa promessa nem que fosse a última coisa que eu fizesse. Olhei para o alto e pensei ter visto a sombra de alguém me observando na janela do andar superior, mas quando forcei a vista para ver melhor, notei que era apenas uma ilusão. Esfreguei os olhos com força, tentando fazer com que eles prestassem mais atenção, talvez eu estivesse trabalhando demais.


"Bella" Alice veio correndo em minha direção e sentou-se ao meu lado com um rosto nada agradável. "Juro que não entendo como pode gostar de Jasper, ele é um idiota" Desde da corrida do dia anterior Alice parecia ter adquirido um ódio súbito por Jasper por ele ter vencido todas as atividades, a verdade era que Ali era bastante competitiva e isso só me divertia ainda mais. "Que babaca, estava na cara que ele trapaceou, viu quando ele disse que eu estava no campo deles?" Exclamou indignada. "Faltava um metro para chegar na linha, juro que se ele vier querendo trapacear de novo vou me estressar de verdade"


"Jasper é um amor, você não vai conseguir odiá-lo por muito tempo" Gargalhei diante do rosto fechado de Ali, era difícil vê-la irritada, mas era engraçado pois parecia ainda mais bonita.


"Isso é o que você pensa, ele que se cuide" Revirou os olhos e voltou-se para mim, parecendo preocupada. "Como você está?"


"Que tipo de pergunta é essa Alice?" Dei um sorriso sem graça. "Você sabe que estou ótima"


"Pois não é o que parece, suas olheiras e seu rosto de cansada comprova justamente o contrário" Sentenciou com voz de mãe brava, enquanto eu dava de ombros.


"Só estou trabalhando demais" Confessei e ficamos em silêncio por alguns segundos, era meio trágico ficar perto de Alice pois ela sempre percebia quando algo estava errado, e tê-la tão perto de mim me trazia uma enorme vontade de perguntar por irmão estúpido de olhos azuis que ela tinha, mas não podia me dar ao luxo, guardaria minhas curiosidades e preocupações para mim, o mundo não precisava saber o quanto minha mente estúpida sentia falta das mãos firmes do mafioso.


"Edward parece péssimo" Avaliei o rosto de Ali e notei que ela olhava para o jogo, mas seus pensamentos pareciam estar distantes. "Quer dizer, está cada vez mais arrogante, me disseram que está cada dia mais rígido e isso me irrita demais" Confessou com a testa enrugada e eu senti vontade de dizer que aquilo me irritava ainda mais, porém, não diria uma só palavra sobre ele, acreditava fielmente que se bloqueasse qualquer assunto sobre o mafioso, ele sumiria de minha mente. Era um utopia, eu sei, mas ao menos tentaria. "Parece que o Edward que existia quando éramos crianças nem existe mais" Virou-se para mim novamente. "Você precisa ajudá-lo, Bella" Arregalei os olhos com a urgência do pedido e com a incompatibilidade de quem me pedia algo impossível de ser realizado. "Certo, eu sei que você o odeia e confesso que ele não é uma das minhas pessoas favoritas no momento, mas não pode abandoná-lo, ele precisa de você"


"Agora realmente parece que você está bêbada, Alice" Fechei o rosto a hipótese de doar qualquer tipo de ajuda ou tempo ao criminoso, ele não merecia absolutamente nada de mim, a não ser meu desespero que eu o daria com facilidade. "Edward seria a última pessoa da face da terra com quem me preocuparia em ajudar e aliás, não acho que ele queira ajuda"


"É claro que ele não quer, ele mal sabe o quão perdido está, é por isso que precisa ainda mais de você" Voltei o olhar carregado de irritação para ela que insistia no assunto. "E você sabe que está mentindo, quando tentaram matá-lo você atirou naquele homem só para impedir, então não me venha com essa história de que jamais o ajudaria"


"Aquilo foi necessário, Alice" Exclamei ainda mais irritada e sentindo a ponta dos pés formigarem devido ao frio. "Faria aquilo por qualquer pessoa, e só fiz por que não tive tempo de pensar, se não, provavelmente quem estaria enterrado agora seria seu irmão"


"Bella, eu sei que ele foi péssimo com o que fez com Ben e entendo por que está chateada" Confessou derrotada, tentando a todo custo me fazer entrar em seu raciocínio. "Mas não tem mais ninguém que se importe Bella, você tem que vencer isso, ele sempre faz essas coisas, sempre testa quem está ao seu redor para ver quem se importa suficiente ao ponto de permanecer mesmo quando ele faz besteira, você não pode desistir agora, tem que lutar por isso" Clamava com tanta veemência que me fazia ficar sem ar, a ideia me parecia cada vez mais absurda.


"Lutar pelo quê, Alice?" Perguntei sentindo algo doer dentro de mim com a voracidade de minhas palavras. "Nós não temos nada" Confessei a frase quase sem forças, deixando escapar um curto lamento pela realidade. Era verdade, nós não tínhamos nada e era exatamente isso que me matava por dentro. Eu não era nada para Edward Cullen e não importava o quanto eu lutasse por ele, não haveria nada. Nós éramos nada e confirmar aquilo a mim mesma era uma das coisas mais doloridas a fazer. "Não posso lutar por ele por que não significa nada para mim" Ela tentou se pronunciar, mas eu a calei. "Olha Alice, sei que você viu coisas na sacada aquele dia e sei que pensa que existe algo entre nós, mas não existe. Edward não tem capacidade de se envolver com nada, e sinceramente?" Abri os olhos passando-lhe sinceridade. "Nem eu tenho, não posso fazer isso, mesmo se existisse alguma possibilidade disso acontecer, eu não poderia, tudo que ele faz me machuca, até coisas que não tem absolutamente nada a ver comigo, não posso ficar com uma pessoa que me machuca pelo simples fato de existir, Alice, estou cansada de sofrer por absolutamente nada, estou cansada de sofrer por algo inútil, se for para sofrer, quero que seja por algo que valha a pena e definitivamente não é por Edward Cullen"


Soltei as palavras que a semanas estavam entaladas dentro de mim prontas para serem lançadas a alguém que as quisessem, era verdade, estava tão cansada de tudo aquilo, cansada demais das brincadeiras do Cullen, agora quem faria os jogos era eu e não seria humilhada novamente. Alice me olhou carregada de decepção, mal podendo ver o quanto eu estava decepcionada, o quanto o Cullen ma tirava as forças.


"Tudo bem Bella, deixa isso pra lá" Tocou em minhas mãos e arregalou os olhos assustada. "Meu Deus Bells, você tá queimando de febre"


"Estou?" Perguntei surpresa, mas não imaginei que estava com febre, parecia que todos estavam com tanto frio quanto eu.


"É claro que está" Esticou uma das mãos e chamou por Emmet que saiu do jogo por alguns minutos. "Emm, ela está queimando em febre" Estendeu a mão para mim e confirmou as palavras de Alice.


"Caramba Bella, você está muito quente, é melhor ir na enfermaria tomar alguma coisa" Me segurou pelos braços e me puxou do chão. "Eu disse que está trabalhando demais, sabia que isso ai acabar refletindo na sua saúde"


"Por favor Emm, é só uma febre, não precisa exagerar" Dei uma risada com o exagero dos meus amigos que sempre faziam de uma coisa maior do que realmente era.

 

"É só uma febre agora, mas pode virar algo maior depois" Ralhou. "Você está trabalhando como louca Bella, e se continuar assim vou ter que afastá-la de suas atividades"


"Depois a gente fala disso, certo?" Minha cabeça latejava e me sentia um pouco tonta, a ideia de ir para o quarto descansar me parecia muito atrativa, andei até as escadas e subi até meu quarto e o encontrei vazio, já que Jen estava no jogo, e me joguei na cama sem me importar com minhas roupas, quando ouvi a porta se abrindo.


"Oi" O rosto de Tiziano surgiu na porta sem seu típico sorriso e só quando o avistei notei o quanto ainda estava magoada com ele. Todas as revelações de meses atrás me deixavam chateada, sabia que ele não tinha nenhuma obrigação de me contar sobre o passado, mas havia acreditado nele, havia realmente pensado que ele era uma boa pessoa e de alguma forma, me sentia traída, como se o Tiziano alegre e espontâneo que eu conhecesse nunca tivesse existido.


"Como você entrou?" Disse com a voz mais ríspida possível, não ia facilitar para ele, não ia mesmo.


"Alice" Deu de ombros e sentou-se na minha frente, me encarando por alguns segundos sem dizer nada. "Senti sua falta"


"Sério?" Arqueei as sobrancelhas em ironia. "Eu até teria sentido sua falta, mas nem sei quem é você, então fica um pouco difícil" Sabia que estava sendo mimada e infantil, mas não estava com humor para tratar os outros com simpatia, principalmente quando havia milhares de mentiras no meio, acho que de todos no cartel, eu era sempre a última a descobrir as coisas.


"Você está brava" Deu um sorriso de lado e eu quase deixei minha raiva para lá. Eu disse quase. "Certo, isso é um bom sinal, quer dizer que você não me despreza"


"Estou a um passo de jogá-lo para fora do meu quarto, então diga logo o quer dizer, antes que eu o faça" Encarei com olhos firmes e ouvi uma gargalhada como resposta, o que fez com que meu rosto ficasse ainda mais fechado.


"Desculpe" Deu uma risadinha e voltou a ficar sério. "Certo, acho que devo um enorme pedido de desculpas a você"


"Você acha mesmo?" A ironia estava transbordando de minha boca, e por algum motivo minha mente acusava dizendo que não era para Tiziano que ela deveria ser lançada e sim para os malditos olhos azuis. "Que nada, você só omitiu que é o pai das duas crianças que mais gosto e me usou para chegar até o Cartel, é besteira, nem precisa pedir desculpas"


"Qual é Bella" Exclamou para mim com olhos angustiados, sabia que estava pegando pesado mas derramaria toda minha cólera sem me importar com as consequências, isso é o que a nova Bella fazia: colocava tudo para fora. "Não é justo que me acuse de usá-la, quem queria me usar para irritar o Cullen era você, eu só ajudei seus planos"


"Mas eu sempre fui sincera, desde o começo disse quais eram os meus objetivos, coisa que claramente você não fez" A voz subia uma oitava e já não sabia o que era falar calmamente, meus pensamentos voavam e uma leve tontura me incomodava fazendo com que minha cabeça latejasse.


"Queria que eu fizesse o quê, chegasse e contasse que era o pai dos sobrinhos do Edward?" Exclamou com o rosto vermelho e por algum motivo me causou ainda mais irritação. "Fazia anos que não vinha aqui Bella, desde o acidente da Cath e de repente recebo sua ligação e nem eu sabia como me portar diante disso" Levantou-se da cama e passou a andar de um lada para o outro, fazendo com que minha tontura aumentasse. "Senti tantas coisas ao mesmo tempo que nem sabia como reagir, primeiro pensei que fosse algum tipo de armadilha do Edward, já que ele decretara que me mataria algum dia, mas tive que vim, a simples chance de olhar novamente nos olhos da Lizzy me deixou tão maravilhado que perderia minha própria vida para que isso acontecesse" Tentei comentar, mas ele estava tão envolto em seus próprios pensamentos que prosseguiu, sem se importar se estavam ouvindo ou não, identifiquei que ele realmente queria desabafar como estavam sendo as coisas para ele. "Fiquei tão surpreso ao ver o tamanho do Gabe, tudo que sabia sobre ele era o que Cida me mandava nos e-mails e a única foto que possuía era de quando acabara de nascer, ao lado de Cath" Focou os olhos em mim novamente. "Sei que magoei você e peço desculpas por isso, mas preciso que entenda que esperei meses demais para um dia poder vê-los de novo e não podia perder a oportunidade"


As palavras pareciam tão sinceras que quase me fizeram lagrimar, simplesmente não conseguia entender o que estava acontecendo, se Tiziano amava-os tanto como dizia, por que fora proibido que de vê-los? Não fazia sentido que Alice não interferisse nas ordens de Edward se esse fosse o caso e parecia que a todo instante detalhes importantes fugiam de minha avaliação.


"Você os ama" Decretei.


"É claro que amo" Exclamou, mexendo os braços e voltando para cama, à minha frente.


"Não entendo" Confessei e aos poucos a antiga calma voltava para dentro de mim, fazendo com que meu tom de voz diminuísse. "Então o que o Edward disse é mentira?" Lembrava claramente das acusações feitas meses antes em que Tiziano fora descrito como alguém que não se importava com Cath ou com as crianças.


"Não, não é mentira" Confessou com certo toque de vergonha e decepção, impedindo que o interrompesse. "Conheci a Cath em uma das transações do Cartel, Carlisle fazia questão de levar os filhos para as missões e meu pai sempre fazia o mesmo, o que nos possibilitava de estarmos no mesmo ambiente, já que apesar de serem de cartéis diferentes, sempre trabalharam juntos" A menção de Carlisle me fez pensar novamente em como ele havia morrido, já que absolutamente ninguém falava sobre o assunto no cartel e nenhum dos diários de Esme citavam qualquer coisa sobre isso. "Ela era linda, todos os homens costumavam desejá-la em segredo, mas era a garota mais difícil do universo, sempre se sentia ofendida com cantadas baratas e não tinha um pingo de medo de meter a mão no rosto de quem viesse tirar gracinhas" A história era contada com um sorriso triste que demonstrava o quanto sentia falta. "Nunca esperei que ela fosse sentir qualquer coisa por mim, afinal, eu era um perdido" Deu de ombros. "Era mais velho alguns anos e dormia com todas as garotas que queria, o que me deixou com uma fama nada agradável, Edward era quem me acompanhava em todas as noites e normalmente era ela quem nos esperava chegar de madrugada, ficava horas me dando sermões por levar Edward para as festas e mal sabia que ficava extremamente sexy querendo dar uma de mãe preocupada"


Ele parou por alguns instantes e eu soube que ele tentava se lembrar do passado, não devia ser fácil ter um grande amor e ter de se despedir tão cedo, eu nunca havia me apaixonado de verdade, não desse jeito, até sentia uma inveja do sentimento que Tiziano carregava dentro de si.


"Teve um dia que estava tão incrível que não resisti e a beijei enquanto falava, nem sei explicar o quanto ela ficou irritada, disse que contaria para Carlisle do meu atrevimento e que provavelmente não sobraria nenhum pedaço de mim para contar história" Soltou uma gargalha e pude notar que seus olhos lagrimavam. "Mas ela não contou e todas as noites quando voltávamos ela estava lá e eu sempre a beijava, nas primeiras vezes ela ficou uma fera, mas depois de um tempo, juro que foi se apaixonando aos poucos. Depois de algumas semanas notei que gostava de mim, passou a frequentar as mesmas festas que nós e eu sentia a porra de um ciúme louco quando alguém tentava se aproximar dela e quando dei por mim, já estava domado"


Mal percebi que eu também sorria, não sabia por que, mas simplesmente adorava histórias de verdade, em que realmente um se apaixonava pelo o outro.


"Foi um choque quando ela disse que gostava de mim, parecia impossível que uma garota tão forte e pura se apaixonasse por um perdido como eu, mas ela o fez, porém, eu fui estúpido demais para retribuir" Confessou com desprezo. "Era novo demais e viciado em adrenalina, naquela época ficar com uma mulher só era um absurdo, no Cartel, se você quisesse ser um dos mafiosos mais temidos tinha de fazer por onde, transar com muita mulher e matar muita gente, e foi isso que eu fiz" Os olhos estavam distantes demais, perdidos nas lembranças do passado e a cada nova frase eu me identificava mais com Cath. "Na primeira vez, achei que ela me deixaria, fui para uma festa com Edward e fiquei com a primeira que apareceu, eu sabia que Cath também estava lá e que saberia de tudo que eu fizesse, mas fiz assim mesmo, queria que soubesse quem eu era, que soubesse que não mudaria por ela"


As palavras faziam com que um nó se formasse em minha garganta, a semelhança entre o passado de Tiziano e o presente de Edward era enorme e eu sabia que com o tempo, ao contrário de Tiziano, Edward só pioraria.


"Mas quando cheguei no Cartel com Edward ela estava lá me esperando, estava com o rosto inchado e sabia que tinha chorado por horas, só Deus sabe o quanto aquilo me matou por dentro, mas era melhor assim, me convencia de que se ela soubesse quem eu era de verdade, se afastaria de mim e pouparia a si mesma de conviver com um idiota como eu" Deu um sorriso novamente. "Mas ela como sempre, me surpreendeu. Disse que ficaria comigo não importava o que acontecesse, que não podia viver sem mim, e que eu podia fazer o que quisesse, contanto que voltasse são e salvo para ela todas as noites." Os olhos voltaram a ter foco e me encararam com um sorriso ainda maior. "Foi a primeira vez que senti meu coração acelerar por alguém, em apenas algumas frases ela conseguiu fazer meu coração acelerar como se eu fosse um adolescente apaixonado, e percebi que realmente era" Me encarava com certa urgência, tentando mostrar a loura que era tudo aquilo. "E foi assim que tudo começou, mesmo sendo um completo idiota e fazendo todas as besteiras que você puder imaginar, ela sempre me abraçava quando eu voltada à noite e eu sempre voltava para ela, na verdade, era a melhor parte na noite, chegar no cartel e perceber que ela me esperava era assustadoramente maravilhoso"


"Mas ela engravidou" Conclui.


"Sim, ela engravidou" Sacudiu a cabeça em concordância. "E eu simplesmente entrei em pânico ao ver que a barrida dela crescia a cada mês, e parecia loucura que ela parecesse tão feliz em carregar um filho meu na barriga, sempre ficava feliz quando tocávamos no assunto, mas não era assim comigo, eu não sabia lidar com essas coisas, mal sabia cuidar de mim e agora seria pai de uma criança, aquilo me assustou tanto que eu fugi" Confessou derrotado. "Sumi por meses e perdi o nascimento de Lizzy, quando voltei ela estava linda e eu era pai de uma linda menina que ela chamava de Elizabeth" Sorriu com a lembrança. "A primeira vez que a vi foi num parquinho e ela tinha os olhos azuis mais lindos que eu já havia visto na vida, era a cópia idêntica da mãe e senti meu coração palpitar forte quando vi o sorriso gostoso que ela dava, mas notei que não estava só, havia um homem carregando a minha filha, a porra de um homem que eu não conhecia estava namorando a minha mulher e carregando a minha filha, fiquei tão louco nesse dia que realizei missões para um mês inteiro só para me aliviar a porra da tensão"


Arregalei os olhos com a semelhança entre ele e Edward, aquilo tudo ficava cada vez mais bizarro e notava que apesar de ter tido as péssimas escolhas, ela amava Catherine, me senti mal por tê-lo julgado antecipadamente.


"Decidi que iria conquistá-la de novo e em um mês o cara já estava descartado, por algum motivo Cath me amava, até hoje não descobri por que, mas ela me amava e sempre me aceitava de volta. A nossa vida era sempre assim, eu sumia por um tempo e depois aparecia e ela me recebia de volta, convivi com Lizzie por anos, sempre sumindo e aparecendo, mas ela nunca me chamou de pai, na verdade, ela nunca soube que eu era seu pai por que eu sempre me recusei a dizer, dizia para Cath que era novo demais para ser pai, então ela sempre achou que eu fosse apenas um "tio" amigo da família e eu simplesmente me odeio por isso" Abaixou a cabeça, derrotado. "Quando Lizzie tinha seis anos, Cath teve o Gabe e novamente eu não estava aqui, estava acostumado demais a ir e vir e ser aceito de volta, mas dessa vez foi diferente. Quando voltei, não havia mais Catherine, o acidente a levou de mim e eu estava longe no dia do seu enterro, quando voltei ela já estava morta há semanas"


Ele parou de falar e lágrimas grossas rolavam de seus olhos e senti que meus olhos também lagrimavam diante da história contada, não sabia o que dizer, ele fora estúpido e tivera as piores escolhas, mas a amava e isso mudava tudo.


"Edward tem razão Bella, eu sou um filha da puta e estraguei a minha vida por isso" Limpou as lágrimas com a ponta dos dedos. "Perdi a única mulher que amei e perdi meus filhos, não sobrou nada" Ver um homem tão grande chorar como uma criança em minha cama me fazia ficar nervosa, eu não sabia o que dizer para acalmá-lo, mas o que realmente parecia era que ele estava derrotado sem nem ao menos tentar.


"Que papo é esse hein?" Levantei seu rosto com minhas mãos e o encarei. "Você não perdeu seus filhos, eles estão no andar de baixo e você pode ir até lá quando quiser"


"Eu sei que posso, mas tudo que vou ser para eles é um tio, perdi a chance de ser pai deles há muito tempo"

 

"Isso é história de gente covarde Tiziano, seus filhos precisam de um pai e você está aqui" Ele me encarou como se o que eu falasse fosse um absurdo.



"Olhe, só perdoo você se me prometer que irá contar a verdade à eles, você não tem ideia do quanto eles ficariam felizes em te ter como pai, a Lizzie te adora!"


"Eles vão me odiar Bella, não posso fazer isso"


"Isso é por causa do medo, mas não pode deixar que ele o vença, tem que fazer isso Tiziano, deve isso à Catherine"


"Juro que vou pensar sobre isso" Levantou-se e beijou minhas mãos. "Preciso ir agora, tenho muitas entregas para fazer e estou parecendo uma bixinha chorando na sua frente" Soltou uma risada e percebi que o ambiente estava mais leve. "Mas por favor, não me odeie, agora que sabe a verdade posso ser sincero com você e prometo que não escondo mais nada, palavra de escoteiro" Fez o juramento e eu ri.


"Não se preocupe, não costumo abandonar meus amigo só por que são idiotas, aliás, se fizesse isso, provavelmente estaria sem amigos" Ele sorriu e beijando minhas mãos uma última vez, saiu pela porta, deixando-me finalmente sozinha com milhões de pensamentos em minha cabeça.


A tontura só aumentara e minha cama parecia bem convidativa, a parede à frente tornara-se apenas em um borrão e imagens desconexas invadiram a minha mente, me fazendo relaxar.










*










Os papéis pareciam cada vez mais desinteressantes e faltava pouco para que todos eles fossem jogados na lixeira, minha paciência duraria muito pouco, mas antes que eu pudesse fazê-lo, uma garota entrou pela porta com um estrondo.


"Precisamos conversar, agora!" A voz sempre exigente de Alice invadiu o cômodo, me tirando dos pensamentos.


"Pensei que não estivesse falando comigo, voltamos a ser irmãos?" Dei meu típico sorriso de deboche que sabia que ela odiava, desde a morte de Ben, Alice se recusava a falar comigo, apenas mais uma para a fila.


"Não me venha com suas gracinhas Edward Cullen, você sabe por que estou aqui" Exigiu apontando o dedo em meu rosto, fazendo-me soltar uma gargalhada.


"Bem que eu queria, mas ainda não tenho o poder de ler mentes" Soltou uma risada irônica e sentou-se à minha frente.


"Não foi você que matou o Ben" Decretou e concertei a minha postura surpreso pela frase, maldito Caio que não segurava a língua. "E estou furiosa por isso"


"Você descobre que não o matei e fica furiosa?" Revirei os olhos com tédio. "Você é realmente surpreendente"


"Porque disse que foi você?" Me interrogou encarando-me.


"Poderia ter sido eu, quem sabe né?" Debochei e senti que ela me encarava fervilhando de ódio.


"Pode falar sério ao menos uma vez na vida?" Os olhos da garota marejaram e lembrei que Alice odiava ser feita de idiota. "Você não tem ideia de como estou me sentindo não é?" Exclamou, levantando-se e andando de um lado para o outro. "Eu odiei você por todas essas semanas e te matei mentalmente várias vezes por ter magoado a Bella e agora me sinto a pior pessoa do mundo, você sabe como odeio me senti culpada Edward" Soltei uma gargalhada revirando os olhos.


"Não se preocupe, perdoo você por isso, vá em paz minha filha" Imitei a voz do padre e ela deu um tapa forte em minha mesa.


"Já sei por que está fazendo isso, eu já sei" Estalou os dedos com pose de gênio e apontou para mim como quem aponta para o culpado de um crime terrível. "Você sempre faz isso, sempre tenta afastar as pessoas que gosta, por isso está fazendo isso, disse que o matou só para afastar Bella de você, mas não vai dar certo, eu vou contar à ela e..." Foi em direção a porta, mas antes que pudesse sair eu a alcancei.


"Não vai contar nada" A encarei de frente, impedindo-a de se mover.


"Jura?" Levantou o nariz, me desafiando. "Então vamos ver"


"Alice, juro que se contar algo eu sumo com a Bella e você nunca mais a verá" Encarei com olhos tão sombrios que ela notara a veracidade de minhas palavras, eu não estava brincando.


"Então é verdade, você está realmente levantando um de seus muros, você gosta dela"


"Não comece com suas besteira, Isabella não é ninguém para mim" Soltei seu braço e voltei para meu lugar.


"Não pode fazer isso Edward, não pode obrigá-la a te odiar"


"É mais fácil assim, é melhor que ela finja que me despreza, faz dos meus dias muito mais agradáveis" Dei um sorriso torto e voltei a mexer no computador enquanto Alice soltava uma gargalhada debochada.


"Jura?" Perguntou com ironia. "Pois desde o dia que ela disse para se afastar vejo você cada vez mais ranzinza e cheio de olheiras, aposto toda minha coleção de vestido que sente falta dela"


"Pois se prepare para ver seus vestidos queimando na fogueira, por que no dia que eu sentir falta daquela porra de garota, pode rezar que o mundo está acabando"


"Cuidado com o que fala Edward" Minha irmã afirmou e saiu de meu escritório soltando algumas gargalhadas, o que me deixou ainda mais irritado, será que eu não teria um minuto de paz naquele Cartel?


"Mestre!" Step entrou com urgência e eu tive a resposta de minha pergunta: Não, o mundo conspirava contra mim para me torturar e eu não teria paz naquela porra de cidade. "Mais dois invasores foram mortos nas fronteiras do cartel, eles estão se multiplicando à cada mês, a situação está caótica"


"Pare de falar besteiras, Step" Revirei os olhos. "São só atiradores invadindo meu Cartel, não há nada de caótico nisso, todos eles estão mortos"


"Sim, estão" Afirmou, se aproximando. "Mas já imaginou se algum dia não conseguimos pegá-los a tempo e eles consigam machucar alguém daqui de dentro?" Chegou um pouco mais perto, falando em um tom baixo como se contasse um segredo. "Já pensou se machucarem Isabella?"


Foi a gota d'agua. Bati uma das mãos na mesa e me levantei com pressa indo em direção à porta.


"Será que só sabem falar dessa maldição de garota nessa Cartel?"


Desci as escadas sem saber ao certo para onde ia, mas precisava ir para algum lugar onde ninguém me encontrasse, um lugar completamente distante da maldição de garota, mas ao observar onde estava notei que realmente o destino estava de sacanagem: estava parado em frente à porta da mafiosa. Encarei a porta por alguns segundos e lembrei que Edward Cullen não hesitava, Edward Cullen fazia o que queria, e se eu queria entrar lá, entraria e ponto final.


E foi assim que abri a porta numa velocidade absurda, sentindo a adrenalina percorrer o meu corpo, sem saber ao certo por que. A cena que encontrei me chocou: Bella estava jogada na cama, encolhida de frio e tremendo. Um nó se formou em meu estômago ao vê-la tão desprotegida.


Fechei a porta com cuidado e olhei para janela, confirmando que estava fechada, o que me fazia perguntar por que a garota tremia tanto já que não havia vento nenhum dentro do quarto. A cada novo passo dado em sua direção, me sentia ainda mais nervoso, como se a qualquer momento ela pudesse abrir os olhos e descobrir o quanto eu era patético por estar ali, mas a tentação de tê-la tão perto de mim era irresistível, então torcia para que seu sono fosse o mais profundo possível.


Sentei ao seu lado na cama e notei que ela não se movera, o que era um bom sinal. Seus cabelos realmente estavam maiores e ela parecia cansada demais, Emmet comentara semanas atrás que ela se envolvera em todos os tipos de atividades, braçais ou não, do cartel, para gastar seu tempo, que ela dizia que enquanto o corpo estivesse em movimento, a mente estaria cauterizada. Perguntei a mim mesmo do que exatamente ela gostaria de cauterizar sua mente, não imaginava que pensamentos pudessem ser tão ruins que precisavam ser ofuscados pelos trabalhos braçais e me preocupei ao pensar que talvez o pensamento que ela tanto desejava esquecer fosse sobre mim, mas se realmente fosse, ela estava enganada ao pensar que me esqueceria com qualquer coisa, minha presença era marcante até em pensamentos e ela teria de conviver com isso.


A ponta de meus dedos formigaram e senti uma vontade enorme de tocá-la, de sentir o quanto a sua pele era macia sobre meus dedos. Sim, eu estava pateticamente com saudades e ninguém precisava saber. Estiquei os dedos até alcançar seu rosto e quase pulei de susto ao notar o quanto seu corpo estava quente, era óbvio, ela estava com febre. Por alguns momentos não soube o que fazer e decidi ligar para que Emmet trouxesse algum tipo de remédio para febre que ele afirmou que logo levaria.


Jamais acreditaria se me dissessem que estaria algum dia entrando escondido no quarto de uma rebelde - que me odeia - para tocar o seu rosto e me preocupar por que estava com febre. O desespero era grande ao imaginar por que tudo aquilo estava acontecendo, e eu bloqueava com todas as minhas forças qualquer pensamento que pudesse acusar que eu me importava, era impossível, as palavras de Alice me perturbavam e eu precisava ignorar. Seus rosto possuía uma ruga de preocupação no meio da testa, o que fez com que eu esticasse o dedo e massageasse o local até que ela relaxasse, parecia errado que seu rosto possuísse qualquer tipo de preocupação. Ela não precisava se preocupar, não enquanto eu estivesse ali.


Uma batida leve na porta e o rosto de Emmet surgiu com preocupação.


"Está tudo bem aqui?" Perguntou com a voz baixa, tentando não acordar a garota.


"Acorde Isabella e dê o remédio, ela está queimando de febre" Dei alguns passos em direção à saída e notei que Emmet me encarava surpreso. "Se disser à alguém que me viu aqui, será punido"


"Minha boca é um túmulo, mestre" Ele fingiu fechar um zíper em sua boca e eu saí do quarto com pressa, não sem antes escutar uma risada vinda da boca de Emmet.

 

Porra de garota!












*








Acordei com a voz grave de Emmet que parecia mais sorridente que o normal e com um remédio sendo empurrado por minha garganta, percebi que tinha pegado no sono e só naquele instante percebi o quanto estava cansada das semanas anteriores. Jenny logo apareceu com sua típica empolgação, citando que naquela sexta-feira seria a última festa do ano que o cartel faria e que absolutamente todos os caras bonitos e ricos do país estariam lá e que eu estava proibida de ficar no quarto.


O resultado foi exatamente esse: precisei tomar um banho gelado para baixar a febre e estava enrolada em um vestido vermelho de tubinho que deixava meu decote bem visível, caminhávamos até a tão conhecida entrada das festas que ficavam no sub solo e apesar de toda a empolgação que Jen demonstrava, eu não sentia a mínima vontade de estar ali. Última festa do ano, isso não significava nada para mim.


"Qual é Bella, tira essa cara de enterro do rosto, vai espantar todos os caras bonitos" Ralhou em tom alto, já que a música eletrônica já invadia nossos canais auditivos no primeiro passo dado, avaliei o salão e me dei de cara com a cena mais patética da semana: no centro esquerdo do salão estava um enorme sofá preto e em seu centro estava Edward-idiota-Cullen com duas mulheres penduradas em seus ombros, uma de cada lado.


De repente o salão pareceu quente demais e meu sangue foi da ponta dos pés até a cabeça, em segundo a ideia de participar daquela maldita festa me parecia bastante atrativa. Nossos olhares se cruzaram e tive o prazer de desviar e desfilar até o bar para pegar alguma bebida, se seu iria joga, então precisaria de alguns copos para me divertir.







*







Era a porra do quinto copo que ela bebia e eu juro que se aquele filho da puta encostasse mais uma vez a mão na perna dela eu arrancaria aquele braço para que nunca mais fizesse gracinhas. Ela gargalhava com facilidade, o que mostrava o que eu já suspeitava há muito tempo: Ela era fraca com bebidas. A boca imunda do desgraçado se inclinou para perto dela mais uma vez e ele lançou alguma frase estúpida em seu ouvido que a fez gargalhar, era o fim, não tinha mais porra de paciência nenhuma, ela iria ver que não se brincava com Edward Cullen.


Caminhei a passos largos até o bar e encarei o sujeito de frente e ele logo devolveu o olhar provavelmente pedindo para morrer.


"Posso saber que porra é essa?" Ela estava de costa para mim e se virou tão lentamente que podia jurar que estava fazendo tudo de propósito, exatamente para me deixar irritado.


"É uma bebida maravilhosa, Ed" Estendeu o copo para mim, visivelmente bêbada e lançando um apelido patético. "Você realmente deveria experimentar"


"Não venha com suas gracinhas Swan" Puxei o copo de suas mãos e joguei no balcão com força. "Você vem comigo" A arrastei pelo braço até o meio do salão, quando ela conseguiu se soltar.


"O que pensa que está fazendo?" Gritou em minha direção e notei que o barulho diminuiu e diversas pessoas pararam de dançar para assistir a discussão.


"Se você pensa que vou deixar que fique com esse cara nesse estado, está muito enganada" Convenci a mim mesmo que só a estava impedindo por que estava bêbada, mas sabia que não era verdade, mesmo que estivesse sóbria eu a arrancaria dos braços do filho da puta, que aliás, estava bem próximo de morrer.


"Você não manda em mim, vá se foder" Esticou a mão e andou em direção ao desgraçado, mas eu a puxei de novo. A garota mal conseguia formular frases inteiras.


"Que fazer uma cena, vá em frente, todo mundo está assistindo, mas não vai sair com esse cara" Nossos rostos estavam à centímetros de distância e sentia que o sangue fluía todo para meu rosto, o ódio pulsava em cada veia e não deixaria que ela saísse com o bastardo.


"E quem vai me impedir, você?" Soltou uma gargalhada irônica. "Eu não me importo com você, não tem nada a ver com a minha vida e não manda em mim"


"Você não vai com ele" Disse em um tom ameaçador.


"Eu vou e você não vai impedir" Puxou o braço e virou-se de costa para mim, andando na direção do outro cara.


"Se você der mais um passo, vai pro inferno mais cedo" Minhas pistola estava na cintura, e se houvesse necessidade a pegaria para matar o filho da puta que queria se aproveitar.


Ela voltou-se para mim novamente e me encarou com o rosto de anjo caído.


"Eu vou e você não vai atirar em mim, sabe por que?" Empinou o nariz. "Porque você é um fraco que só fala fala fala, mas não faz absolutamente nada" Virou a costa e saiu com o cara ao seu lado, e pela primeira vez na vida, alguém me virou a costa.


Mas se ela achava que tinha me vencido, estava muito enganado.


Aquele desgraçado não tocaria em Isabella Sawn, disso eu tinha absoluta certeza.

 

 

 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Ok, eu tinha escrito uma nota linda pra vocês, mas apaguei sem querer e estou arrasada =(
Ok, eu disse que NEM TUDO É O QUE PARECE, PAREM DE ODIAR O MAFIOSO MAIS LINDO DO UNIVERSO OK, hahahaha Gente do céu, to com dó do Edward, mas acho que vocês estão gostando que a Bella torture um pouquinho né? hehehe
Gente, to com tanto sono que mal consigo escrever, mas quero AGRADECER DE CORAÇÃO por todos os comentários e recomendações, É ISSO QUE ME FAZ ESCREVER, sem vocês não sou escritora, então, obrigada, de coração!
às leitoras NOVAS: Seja bem-vindas! às ANTIGAS: Vocês são lindaaaas!
Aviso básico: EP TERÁ DUAS PARTES, ainda faltam uns sete capítulo para acabar a primeira, então vocês tem noção de que o negócio vai ser grande né? uhahuahua NÃO ME ABANDONEM TÁ?
Sério, preciso da opinião de vocês, então quem lê, gosta e não comenta, tome vergonha na cara e faça uma autora feliz!
Bia sem vocês não é bia!
Um beijo no coração!
PS: amanhã quando eu acordar vou responder TODOS os comentários, inclusive os do capítulo passado que não tive tempo de responder!