In Love With Her escrita por naty


Capítulo 32
Entre a matemática e a verdade


Notas iniciais do capítulo

:*



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EDUARDA

 

Ótimo! Tentar conversar com Manuela não surtiu efeito algum. Tudo que eu consegui foi um beijo e a certeza de que não tinha mais a confiança do meu amor. Doeu, doeu muito ouvir da boca da Manu que ela não conseguia mais confiar em mim. E saber que eu fui a única culpada por tudo isso, só me colocou mais para baixo do que já estava.

Não sei o que faria da minha vida sem a minha baixinha. Esses dois meses de namoro pareceram uma eternidade enquanto estávamos juntas. Mas bastou terminarmos para que eu percebesse o quão pequeno foi o espaço de tempo que pude passar ao lado dela antes de fazer uma burrada do tamanho do mundo. Não tive tempo de conhecer todos os seus segredos, seus medos, experiências, foi tudo tão rápido.

Obriguei-me a sair do estado de letargia em que me encontrava desde que Manu me deixara plantada naquele banheiro. Eu tinha que reagir, tinha que conseguir a minha menina de volta.

Passaram-se duas semanas e Manu recusava-se a falar comigo mais que o necessário. Não era mal-educada nem grossa, porém, me tratava com tamanha indiferença que eu preferiria mil vezes o seu desprezo que aquela frieza. Manuela parecia uma geleira comigo, e eu merecia.

Tentei de todas as formas possíveis uma reaproximação, mas ela estava irredutível, sempre me repelia. A nossa separação causou mudanças nas nossas amizades, pois, querendo ou não, nós tínhamos os mesmos amigos, e isso acabou afetando na nossa convivência com eles.

Rafa estava desolado com o término do nosso namoro e tentava fazer as vezes de cupido, porém, tudo sempre saía às avessas quando ele armava das suas. Lucas e Matheus tentavam me dar todo o apoio possível e chegaram até mesmo a sugerir que eu tentasse respirar novos ares e conhecer novas pessoas, mas eu não poderia. Ainda era muito recente, e mesmo que se passassem anos, creio que a sensação de vazio devido a falta que Manuela me fazia seria a mesma.

 

 

 

MANUELA

 

 

— Duda, para de insistir, por favor... Isso só vai te machucar e me machucar ainda mais – falei pela quarta ou quinta vez naquela semana

— Eu não vou desistir, Manu. Te amo demais pra te perder assim, volta comigo, deixa eu consertar meus erros...

— Chega, Eduarda! Você quer voltar? – ela assentiu com a cabeça – Então me responde uma coisa, como você imagina um relacionamento sem confiança? Acha que teria futuro? Me diz! – falei e ela apenas permaneceu muda, me observando com aqueles olhos que me derretiam inteira.

— Não tem volta, Duda, entende isso de uma vez por todas. Não quero te ver sofrendo assim, vamos acabar logo com isso. Queria muito que a gente tivesse dado certo, queria mesmo, mas, infelizmente, não deu.

Pude ver entendimento em seus olhos, mas apenas por um milésimo de segundo, o que veio em seguida foi uma determinação ferrenha.

Droga, a teimosia daquela garota não tinha limites, ela não desistiria, pude ver em seus olhos.

Balancei a cabeça e saí dali. Fui para casa estudar, logo o Rafa e a Ana chegariam para concluirmos um trabalho de Matemática que estávamos fazendo juntos.

Quando eles bateram à porta, fui abrir, e Rafa já foi logo entrando, fazendo cena com o seu jeito afetado.

— Oi, gata! – abraçou-me, roubando um selinho antes que eu pudesse protestar.

— Rafael, toma jeito, garoto! – falei em uma falsa crítica e dei lugar para que Ana entrasse logo atrás dele.

Os materiais que precisaríamos já estavam todos sobre a mesa que iríamos usar para o trabalho.

Depois de jogar um pouco de conversa fora e rir muito das gracinhas do Rafa, resolvemos dar início à nossa tortura pessoal: Matemática. Se havia algo que nós três tínhamos em comum era que odiávamos essa matéria. Seria um longo trabalho...

Quase duas horas mais tarde, ainda estávamos na metade daquela porcaria.

— Desisto! Essa merda não tem solução! – Rafa largou o lápis sobre o papel de forma brusca

— Isso é coisa do capeta – reclamou Ana – Já tentei resolver de todas as formas possíveis, e nunca chega nem perto das alternativas!

— Ah, gente, não pode ser tão difícil assim, dá aqui essa questão que eu vou tentar resolver – peguei a folha e o livro didático, copiando a questão para resolvê-la

Alguns minutos depois, deitei o meu lápis sobre a mesa, desistindo também. Não era possível! Eu estava levando uma sova de uma equação! Uma equação!

— E então, bonitona, conseguiu? – Rafa zombou – Acha que só porque é gostosa sabe de tudo...

— Acha mesmo que eu sou gostosa, Rafinha? – perguntei, fingindo me insinuar para ele

— Ei, ei, parou por aqui, minha diva! É gostosa, sim, mas eu não quero provar, deixo claro! Que nojo! – falou alto, Ana não se aguentava de tanto rir, e eu fazia força para manter a expressão sedutora no rosto

— Que foi, Rafa? Acha que não dá conta do recado? - levantei-me da minha cadeira e sentei em seu colo, fingindo que iria beijá-lo

— Sai pra lá, sapata! - Rafa levantou-se de um pulo, e eu fui arremessada ao chão

Ana já estava quase no chão ao meu lado de tanto que se dobrava de rir de nós dois.

Levantei-me passando a mão na bunda, que estava dolorida por amortecer a queda.

— Me machucou, seu grosso! - reclamei ainda massageando o local do impacto contra o chão

— Bem feito! Tá achando o quê, mona? Presta bem atenção aqui em mim, eu e você – falou gesticulando – Nun-ca, nunca vai rolar, nunquinha! Desculpa, gata, mas a Duda me mata se eu te pego! – alfinetou, ele sempre dava um jeito de trazer a amiga à tona. Duda nunca fora um “assunto proibido”, mas se pudesse, eu evitava falar dela, é claro. Estava tentando lidar com o fim do nosso namoro.

— Não precisava ter me jogado no chão, Rafael, eu estava brincando – respondi – E além do mais, parece até que você não me conhece, ô, robocop gay! Não gosto de homem, esqueceu, idiota? - reclamei

— Isso é para você aprender, não sou traíra, não pego peguete ou ex-peguete de amigo ou amiga minha... Diferente de uns e outros por aí – finalizou com um olhar azedo para o lado de Ana

— Não vem pro meu lado, não, bicha! Em primeiro lugar, você não estava pegando aquele garoto

— Mas estava a fim!

— E que culpa tenho eu se ele te trocou por mim? – provocou, e Rafa fechou ainda mais o semblante.

— Você o seduziu! – acusou a amiga

— Ah, me poupe, drama queen! Eu tava mais bêbada que um gambá, não tinha condição alguma de seduzir alguém.

Eles continuaram discutindo por um bom tempo. Sentei no sofá esperando o fim da discussão.

O motivo da discussão era a briga que a Ana teve com o Guto (o namorado imprestável). Ana ficara tão nervosa com Gustavo que acabou indo com Rafael para uma boate GLS – mesmo sendo menor de idade, Rafa sempre conseguia entrar nesses lugares, eu só não sabia como. Na boate, Rafael acabou se interessando por um rapaz (moreno, alto, bonito e sensual, como eles me descreveram), que devolvia as investidas dele, até ver Ana e ficar com ela, podre de bêbada, no fim da noite. Para Rafael, aquilo era inadmissível, ele achava que era traição por parte da amiga. Ana, por sua vez, só veio a saber o que acontecera no dia seguinte, depois de tomar um remédio para a dor de cabeça e perguntar ao amigo emburrado como havia sido a noite, não se lembrava de absolutamente nada.

— CHEGA! – gritei, fazendo os dois me olharem assustados - Que coisa mais chata essas briguinhas de vocês dois. Parecem duas loiras muito burras discutindo para ver quem é mais estúpida!

— Insensível! – me acusaram ao mesmo tempo e se entreolharam, começando a rir um da cara do outro.

Não me segurei e caí na risada junto a eles. Voltamos a nos sentar na mesa, e eu olhei para o nosso trabalho inacabado:

— E então, o que faremos com isso?

— O que acha de colocar fogo? – Ana sugeriu, e eu concordei, rindo

— Affe! Isso já estaria pronto há décadas se a Duda estivesse fazendo com a gente – Rafa reclamou, e eu senti um peso enorme no coração por separar Duda de seus amigos

— E-eu... sinto muito por isso – falei baixo, observando o pó de borracha que estava sobre a mesa como se fosse a coisa mais interessante do mundo.

— Você não tem culpa, Manu – Ana me consolou – Você até a chamou para fazer conosco, ela é que não quis.

— Aquela egoísta preferiu fazer sozinha a nos ajudar... traidora – emburrou-se Rafael

No outro dia, chegamos cedo à escola para ir à biblioteca atrás de ajuda para concluir o trabalho que deveria ser entregue e apresentado no primeiro horário. Eu estava louca atrás de um livro que trouxesse uma luz, qualquer coisa que não me levasse direto à mesa de Eduarda para pedir ajuda.

Não teve jeito, o sinal já havia tocado, e a bibliotecária queria me enxotar dali o mais rápido o possível para se ver livre de mim.

— Manu, vamos logo, lá na sala a gente dá um jeito nisso – Ana me puxou, e fomos para a sala, que já estava lotada, e, ironicamente, o único lugar livre era ao lado de Duda.

Resignei-me e me sentei ao seu lado. Duda me deu um sorriso iluminado acompanhado de um bom dia. Respondi por educação e me dediquei novamente àquela maldita equação.

— Algum problema? – Duda me perguntou ao me ver aflita na resolução daquela questão, que era justamente a que deveríamos explicar passo a passo e convencer a professora de que tínhamos aprendido a matéria

— Não, nenhum – resmunguei

O tempo foi passando, e a Duda apresentou seu trabalho com perfeição, sem a ajuda de ninguém, ela mesma preferiu assim. Só teria mais um grupo antes do meu, e eu já estava suando em bicas.

— Tem certeza que não quer ajuda? – Eduarda perguntou novamente, e eu resolvi deixar meu orgulho de lado

Incrível! Em menos de cinco minutos a questão estava resolvida, com todos os cálculos na folha à minha frente.

—...Então é só usar esse macete, trocando esse número e essa incógnita de lugar fica fácil de resolver. Não é o jeito mais recomendável de se fazer, uma vez que elimina mais da metade dos cálculos, mas no final, o resultado é sempre correto se você souber o que fazer.

Assim que a Duda terminou de falar, o outro grupo terminou a sua explicação, e fomos chamados à frente da turma.

A apresentação foi um sucesso, com a ajuda de Eduarda, conseguimos o total que o Rafa precisava no trabalho para recuperar a nota vermelha da etapa anterior.

— Obrigada, Duda, não sei nem como agradecer – falei ao me sentar ao lado dela e fui presenteada com o seu melhor sorriso

— Tudo que eu puder fazer por você, eu faço, Manu – seus olhos brilhavam intensamente ao me olhar. Uma declaração estava implícita em sua expressão.

A aula passou rápido, e logo já era hora da saída, e, mais uma vez, fui abordada por ela. Duda parecia ter declarado o final da aula como “a hora oficial de tentar reatar com a Manuela”.

E a cada dia ela me surpreendia com uma coisa nova, uma nova declaração, um poema de sua autoria, flores, doces. Todos os dias era um mimo diferente que ela me trazia.

Estava cada vez mais difícil continuar dando fora atrás de fora nela, mas eu não ia cair de cabeça em uma relação com uma pessoa que eu tinha perdido a confiança. Por mais que amasse Duda, isso não bastava por si só.

 

 

EDUARDA

 

Estava indo para casa depois de levar mais um belo fora na porta da escola quando me lembrei de algo importante que estava passando despercebido por mim com toda aquela coisa de tentar reconquistar Manu.

Eu me esqueci completamente do que Márcia me falara antes de partir para o exterior. Karina ter sido expulsa de casa não poderia ficar desse jeito. Algo me dizia que tinha muito mais coisas que eu não sabia nessa história. Coisas que poderiam mudar a minha vida radicalmente. Decidi que investigaria até descobrir toda a verdade.

Se minha irmã tinha sido expulsa, que chance eu teria de ser eu mesma dentro daquela casa? Como eu esperava viver sem me assumir. Viver com medo de ser descoberta no meu “segredo proibido” não era uma opção. Eu enfrentaria aquilo de cabeça. E com um pouco de sorte, conseguiria distrair meus pensamentos e tirar Manuela da cabeça por algum tempo.

Mandei uma mensagem para mamãe avisando que não almoçaria em casa e dei meia volta, indo na direção do apartamento de Karina, ali perto.

— Já vou! – gritou pouco antes de abrir a porta com uma toalha enrolada nos cabelos e um robe de cor vinho cobrindo-lhe o corpo – Duda!

— Eu preciso falar com você – falei séria, sem nem ao menos cumprimentá-la

— Claro, entre – preocupou-se minha irmã

Entramos na sala e eu estava tensa com a conversa que teríamos, seria melhor tirar aquela história a limpo com a fonte mais segura que investigar por conta própria e correr o risco de me equivocar com algo.

— Senta, vou só me vestir e volto para falar com você – Karina falou e foi em direção ao seu quarto, deixando-me sozinha.

Fiquei pensando nas palavras que usaria para abordá-la, e logo Karina já estava de volta, vestindo um shorts amarelo apagado e uma blusinha verde.

— Pronto, Duda – ela sentou-se no sofá de frente para mim e me olhava curiosa, tentando imaginar o que viria – Pode falar

— Vou ser direta

— Tudo bem, manda a bomba – tentou brincar, mas viu que a minha expressão não se alterou e logo deixou o sorriso morrer em seus lábios

— Eu quero saber por que você foi embora de BH

Peguei-a desprevenida, e ela vacilou na resposta.

— E-eu fui estudar, você sabe disso! – falou nervosa, cruzando as mãos no colo, demonstrando seu receio em falar sobre esse assunto

— A verdade, Karina, por favor – pedi olhando-a

— Essa é a verdade, Eduarda!

— Mentira! Por que você não quer contar? – exaltei-me um pouco por ser feita de boba

Ela permaneceu em silêncio, os olhos esbugalhados para mim, que quase gritei ao ouvir a mentira que ela insistia em contar.

— Eu sei que você foi expulsa de casa. A questão é: por que você foi expulsa?


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Notas finais do capítulo

oq acharam do capítulo? repararam que dessa vez eu nem demorei para postar? kkkkk