The 68th escrita por Luísa Carvalho


Capítulo 8
A Entrevista


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem, eu deixei bastante mistério nesse capítulo!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/247443/chapter/8

– Vamos, vamos, June! Meu Deus, essa menina só dorme!

Abro os olhos lentamente e vejo o delineador prateado de Fennie brilhar em meio à minha vista embaçada.

– Fennie? O que você...

– Será possível que você nunca sabe o porquê de eu estar aqui? Hoje será sua entrevista com o legendário Caesar Flickerman!

É claro, a entrevista! A típica noite em que os tributos se sentam em frente a um homem de cabelo colorido e respondem perguntas sobre como foi ser sorteado ou ter se oferecido. A típica noite em que os tributos têm que pensar muito antes de dizerem alguma coisa se é que querem conseguir algum paraquedas prateado em situações de vida ou morte. A típica noite em que eu provavelmente estragaria tudo graças à minha estranha mania de não pensar antes de abrir a boca.

– Que... - estou balbuciando. - Que horas são?

– Quatro horas da tarde. Você chegou exausta do Centro de Treinamento, não demorou muito até desmaiar no sofá.

– Quanto tempo eu dormi? - O sono realmente anda me deixando confusa. Se houvessem me drogado antes, o resultado seria o mesmo agora.

– Ah, uma hora no máximo - Fennie responde, fazendo um gesto para demonstrar indiferença -, mas isso não importa. Venha, querida, você tem que ver o modelito que separei. Não tem como não amar!

Depois de me levantar meio tonta ainda sob o efeito da possível droga sonífera que me deram quando saí do Distrito 6, sigo Fennie pelo apartamento e tento parecer entusiasmada. Como da última vez, ela se vira e tira o vestido de um plástico azul. Em menos de um minuto, não é mais preciso fingir nenhum entusiasmo.

O vestido é turquesa e brilha ao refletir qualquer luz presente no local. É do tipo tomara-que-caia e tem detalhes em brilhante na parte de cima; não muito exagerado, não muito simples.. apenas na medida certa. Seu comprimento é totalmente longo, exatamente como uma princesa em um conto de fadas. É justo até certo ponto, até que se transforma em uma saia volumosa, o que valorizaria minha cintura fina.

Percebo naquele momento que é melhor ser uma princesa do que uma carruagem.

– Nossa... - consigo dizer.

– E então? Deixe-me adivinhar: você amou, não foi?

Não sou fã nº 1 da moda da Capital, mas preciso admitir para Fennie como realmente me sinto a respeito do vestido.

– Se eu amei? Sem dúvida alguma! Eu... simplesmente não tenho palavras pra descrever o quanto esse vestido é lindo.

Dou alguns passos para frente e abraço Fennie sem demais cerimonias. Preciso demonstrar o quanto sou grata por tudo aquilo; por ela me fazer gostar de parecer bonita, me convencer a deixar pelo menos uma vez na vida que as aparências façam seu trabalho.

– Obrigada - sussurro. - Não tenho como te agradecer por isso. É diferente de qualquer roupa extravagante da Capital, é maravilhoso na medida certa.

– Por nada, querida, esse é meu trabalho. Acho que o único jeito de me agradecer vai ser se você for o tributo mais bonito daquela entrevista.

Bom, talvez ter uma estilista possa ser um luxo dos Jogos ao qual eu posso me render. Afinal, é o único luxo que terei como novidade.

Soltando-me de seus braços, Fennie volta com seu entusiasmo de sempre e diz:

– Bom, chegou a hora do cabelo e da maquiagem! Não pense que um pouco de carvão e sua beleza natural vão ser suficientes hoje, mocinha. Porque, se uma abóbora pode se transformar em uma carruagem, uma carruagem não pode se transformar em uma princesa? - Pareço não entender nada do que ela disse, devido ao quão incrivelmente rápido ela o fez, mas Fennie balança a cabeça não dando importância. Abre então seu sorriso novamente e continua. - Essa noite você vai se vestir para arrancar suspiros de todos os 12 Distritos, porque da Capital você já tira desde que nasceu!

Forço uma risada por me sentir mal por Fennie. Comédia não é seu forte.

E assim o tempo passa: demora aproximadamente duas horas só para fazer a tal da maquiagem. Saio de lá com os olhos tomados por sombras e delineadores contrastando diferentes tons de azul para combinar com o vestido, e diferentes intensidades de prata brilhante para combinar com os sapatos, mesmo que eles não apareçam muito.

Meus lábios são cobertos com um brilho incolor, dando volume e deixando a maquiagem exatamente na medida certa.

Depois de maquiada, vejo uma equipe de pessoas vindo até mim om produtos para cabelo, escovas, pentes, alisadores e até o próprio chuveiro.

Uma mulher então se aproxima de mim e começa a molhar meus fios loiros com água e mais um milhão de produtos capilares. Quando acaba, outras três pessoas se aproximam e começam a secar e a cachear meu cabelo. São aplicadas extenções temporárias e, quando me levanto, sinto fios roçando até quase a metade de minhas costas.

Passa-se mais uma hora até que me vejo livre de qualquer outro tratamento de beleza em andamento. Finalmente posso me olhar no espelho.

Uau.

Isso é o que posso pensar sobre mim mesma. Uau.

O vestido cai perfeitamente, os sapatos servem perfeitamente. Os olhos ressaltam meu rosto inteiro e os lábios brilham sob a luz. O cabelo é preso em um penteado maravilhoso, enfeitado com delicadas presilhas em forma de flocos de neve prateados e brilhantes. Não consigo explicar exatamente, só consigo dizer que naquele momento tenho certeza de que é o vestido mais maravilhoso que já vi.

Como o esperado, o segundo entusiasmo mais patético toma conta da sala no momento em que Elise entra e começa a gritar coisas como "Ah meu Deus, você está maravilhosa!" "Parece uma princesa!" "Assim vai acabar conquistando até o Cameron!"

Por mais que esse último grito tenha sido estranho, ainda é Elise. E eu sei que ela é uma das únicas pessoas que me apoia, que realmente acredita em mim.

Então nós duas seguimos para a limosine que nos levaria até a entrevista, e é lá que encontro Cameron.

Para mim, ele está totalmente elegante e atraente, agora a coisa de que realmente preciso é que ele seja julgado assim também pelos patrocinadores.

Ambos compartilhamos nossos elogios até que a o automóvel dá a partida e, tomados pelo nervosismo, ficamos em silêncio.

**

A multidão simplesmente enlouquece quando Caesar Flickerman entra no palco.

Após introduções desnecssárias e palavras iniciais, Joy entra acenando e, com seu jeitinho doce, responde cada uma das perguntas fazendo os gritos alcançarem seu auge. Procura sempre fixar seus olhos castanhos nas câmeras, com um olhar que tem o potencial de conquistar toda Panem. Em seguida, Garret chega e aparentemente leva todas as garotas da Capital à loucura quando anuncia que não tem namorada em seu distrito.

Se Amelia ainda não havia amedrontado todos os tributos, com certeza conseguiu fazê-lo naquela noite. Com suas respostas diretas e objetivas, ressalta suas habilidades com as facas e espadas, sua agilidade, rapidez e seu claro objetivo de ganhar. Porém, não consigo me abster de um leve sentimento de raiva, pois, por mais dura que tenha parecido para nós, tributos, ela ainda é capaz de expressar o carisma necessário para conquistar a plateia tanto quanto fez Joy.

Amelia é seguida de Chad, que não parece impressionar muito. Claro que Caesar cuidou de tudo para que cada uma de suas respostas rendessem pelo menos algumas risadas da plateia, mas digamos que não fez sucesso.

O tempo passa e os tributos vão e voltam em questão de minutos. Em um piscar de olhos, percebo que o tributo masculino do 5 já havia saído do palco.

– Agora, senhoras e senhores, gostaria de apresentar o próximo tributo. Todos já conhecem a história de um de nossos 24 que... vamos dizer que já é de casa. Representando o Distrito 6, June Haylon!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E agora, hein?
Vestido da June:
http://www.perfeitamulher.com/wp-content/uploads/2011/10/vestido-para-15-anos-azul-turquesa.jpg
Penteado:
http://adrianeboneck.com.br/wp-content/uploads/2010/02/penteado-debutante-14.jpg
Comentários? (Rescrito em 17/07/2014)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "The 68th" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.