Lembranças De Um Verão escrita por Sarah Colins


Capítulo 7
Capítulo 6 – Desabafo


Notas iniciais do capítulo

Olá queridos leitores!
Postando capítulo novo, hoje mais cedo como tinha avisado, pois tenho um aniversário de uma amiga pra ir a noite.
Percy e Annabeth já partem pra sua 'viagem' nesse capitulo. Espero que gostem das aventuras deles por lá ;)



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A conversa com Clarisse definitivamente tinha mexido com a minha cabeça. Eu não parava de pensar nas coisas que ela havia me dito. Ficava refletindo sobre esse negócio de falar abertamente sobre meus sentimentos. Como é que a gente fazia isso, afinal? Será que não havia nenhum livro que explicasse isso de forma prática e eficiente? Não seria tudo mais fácil se houvesse uma receita, uma fórmula? Era difícil tentar expressar com palavras como me sentia. Ainda mais quando se tratava de Percy. Quando eu estava com ele não ficava me preocupando em definir o que é que existia entre a gente. Eu apenas sentia. E aquilo era suficiente pra mim.

Agora que surgia uma situação que talvez afetasse esse equilíbrio que havia entre nós, eu já não sabia como agir. Demorou quase um ano pra eu dizer que o amava. E quando fiz isso foi um tremendo desastre. Tanto que quando ele tentou tocar no assunto de novo eu simplesmente “fugi”. Percy tampouco era muito bom nessa matéria. Mas ele até que tentava, através de gestos e através de suas, sempre presentes, brincadeiras e piadinhas. E eu gostava das coisas daquele jeito, não queria que mudassem. Mas infelizmente, se quiséssemos amadurecer, teríamos que entender e assumir o nosso amor.

– É... então é isso ai Annabeth Chase! Você vai ter que encará-lo – Disse pra mim mesma.

– Quem é que você vai ter que encarar? – Meu coração parou por alguns segundos e logo em seguida voltou a bater muito acelerado. Olhei para o lado e vi um Percy Jackson com cara de confuso. Ele havia aparecido do nada ali e eu estava tão envolta em pensamentos, de novo, que não notei quando ele chegara. Tinha passado boa parte da manha ali, no estábulo. Tentando ficar um tempo sozinha enquanto não resolvia o que ia fazer. Mas Percy que era muito amigo dos Pégasos do acampamento acabou me encontrando ali.

– Ninguém. Só estava me referindo a um desenho que encontrei no laptop de Dédalo e que ainda não consegui decifrar do que se trata – Torci para que tivesse soado convincente.

– Sei... E desde quando você fala sozinha? – Ele falava num tom divertido, mas ao mesmo tempo era como se estivesse me sondando. Como se desconfiasse que tinha algo mais ali.

– Não sei, está tão vazio aqui que devo ter imaginado em voz alta e nem me dei conta.

– Está mesmo muito vazio por aqui. Aliás, posso saber onde a senhorita se enfiou a manhã toda? Te procurei em tudo que é lugar – Sua voz de preocupação se intensificou quando ele me abraçou apertado e depois beijou minha testa.

– Eu estava por ai... Fui dar uma volta para arejar as ideias e ver o pessoal do acampamento.

– Estava me evitando, ou é impressão minha?

– Não, claro que não! Não seja bobo! – Lhe dei um beijo rápido e depois o encarei com uma expressão séria – Na verdade, é que eu precisava pensar sobre umas coisas. Umas coisas que queria falar com você – Eu tinha que tomar coragem de uma vez. Já passava das 11 da manhã e logo Percy iria querer partir. Quanto antes eu conversasse com ele melhor.

– Entendi. Mas teremos tempo pra conversar a caminho do Palácio de Poseidon. Agora acho que é melhor nos apressarmos, que ainda temos que almoçar e pegar nossas coisas. Você já arrumou as suas né?

– Se eu já arrumei? Claro que sim! – Menti na cara dura, eu não tinha nem começado a preparar a minha mochila. Tinha acordado bem cedo pra poder ir procurar Clarisse sem que Percy soubesse e desde então não tinha voltado pro meu chalé – É que eu precisava muito falar com você Percy...

– Depois conversamos, prometo!

– Mas é que... está bem! – Ele não me deixou completar, já foi me puxando pela mão em direção ao refeitório. Eu não tive outra escolha se não segui-lo e esperar uma melhor oportunidade para conversarmos.

***

Depois de almoçarmos em tempo record, cada um se encaminhou para seu chalé a fim de buscar suas coisas. Como eu ainda não tinha arrumado nada, tive que correr para alcançar Percy a tempo. Ele iria me esperar no começo do caminho de pedras que levava a praia. Eu definitivamente não sabia o que levar. Afinal o que se leva pra uma visita ao fundo do oceano? Acho que poucas pessoas já puderam se fazer essa pergunta. E tenho certeza que menos pessoas ainda conseguiram respondê-la. Então tentei pegar um pouco de tudo. Não esqueci da minha faca nem do meu boné dos Yankees, que poderiam vir a ser muito úteis.

Sai do chalé super apressada e quase tropecei na soleira da porta. Corri por uma parte do caminho, mas quando estava já próximo ao local do encontro, reduzi a marcha, pra não dar na cara que eu estava me esforçando pra não chegar atrasada. Sorte que Percy não era muito ligado nessas coisas de horários. Ele me esperava com sua mochila nas costas e com uma vara de pescar na mão. Eu estranhei ao ver aquele objeto em suas mãos e assim que cheguei perto dele perguntei:

– O nosso passeio inclui uma parada para pescaria e eu não estava sabendo? – Ri logo depois enquanto ele se virava pra mim e depois voltava a analisar a vara de pescar, como se checasse que ela serviria.

– Não. Isso é algo que vamos precisar pra nossa viajem. É essencial na verdade. Você vai entender quando chegar a hora.

– Tá bem, se você esta dizendo. Então, vamos?

– Vamos! – Ele segurou minha mão e me puxou numa direção diferente da que eu imaginava.

– Mas nós não íamos pelo mar?

–Nós vamos pelo mar.

– E por que você está indo nessa direção.

– É que vamos até o píer, nosso barco está nos esperando lá.

– Barco?

– É, não tinha falado ainda? Vamos de barco até certo ponto do caminho.

– Ahhh tá. Achei que íamos usar aqueles cavalos marinhos simpáticos que nem na vez que fomos com Tyson ao Mar de Monstros.

– Não, a viajem é muito longa. Pra mim não teria problema, mas seria extremamente desconfortável pra você despois de um tempo.

– Que bom que pensou nisso! – Disse eu insegura – E quanto tempo vamos demorar pra chegar lá?

– Se seu namorado não fosse filho do Deus do Mar, poderia demorar alguns dias. Mas como você foi sortuda o bastante pra me conhecer, chegaremos lá em apenas algumas horas.

– Que bom que sou uma garota de sorte! – Apesar das minhas frases positivas, o tom que eu empregava estava mais para o pessimismo. Eu não conseguia disfarçar o meu desconforto e receio.

– Não vai me dizer que está com medo? – Debochou ele, ao chegarmos ao final do píer onde dava pra ver a diminuta embarcação que nos levaria a alto mar. Paramos e Percy se voltou pra mim segurando minhas mãos e as levando até seu peito.

– Não é isso. Eu só não sei se estou pronta pra isso.

– Como assim? Não sabia que tinha problemas com viagens marítimas.

– E não tenho. O problema não é a viagem em si. E sim o propósito dela.

– Já te disse que não tem porque se preocupar com isso – ele me deu um olhar terno e levou minhas mãos aos lábios para beijá-las. Ficou me olhando nos olhos, até eu me perder completamente neles. A ponto de esquecer sobre o que estávamos falando – Vem, vamos embarcar.

Ele pulou dentro do barco primeiro e depois me ajudou e fazer o mesmo. Me sentei embaixo de uma espécie de toldo que havia no barco, e coloquei minha mochila num canto. Percy se encarregou de desamarrar o barco e checar o motor. Eu sabia que não íamos precisar dele, afinal Percy tinha o dom de controlar as aguas do mar e fazê-las nos levar pra qualquer lugar, mas sempre é bom prevenir, caso acontecesse algum problema e não pudéssemos navegar com “mágica”.

Instantes depois estávamos sentados lado a lado, abraçados. As águas do mar se movendo ao redor de nosso barco, fazendo-nos avançar a uma velocidade impressionante. Percy colocou o braço em volta de mim e eu instintivamente encostei a cabeça em seu ombro. O sol estava bem forte, mas já ia abaixando. Sorte que o barco tinha cobertura. Ficamos um bom tempo em silêncio, só olhando o mar que se perdia no horizonte. Por um momento eu me esqueci do que estava a ponto de fazer. Esqueci que teria de enfrentar um Deus. Um dos três grandes. Esqueci que eu poderia decepcionar meu namorado por não ser aceita pela sua família imortal. Esqueci que enfrentava uma guerra interna para entender e expressar meus sentimentos. Esqueci-me de todos os problemas. Estava relaxada e tranquila. Até que esqueci de abrir os olhos e adormeci.

Sonhei que estava rodeada de água por todos os lados. De alguma forma eu conseguia respirar e não me afogava. Uma construção imensa feita de pedra e decorada com corais se levantada a minha frente. Olhei em volta, mas não havia ninguém, Percy não estava ali comigo. Eu flutuava a poucos centímetros do fundo do oceano. Comecei a me mover lentamente, nadando. Não conhecia aquele lugar e me sentia perdida. Dei impulso para chegar a uma das janelas da tal construção majestosa. La dentro eu podia ver e ouvir duas figuras que conversavam.

Uma delas era Poseidon. Eu me lembrava dele, da vez que o tinha visto no Olimpo. Ele estava no tamanho natural, de quase três metros de altura, mas com a aparência de um humano em suas roupas velhas de pescador. O outro era Tritão, filho imortal de Poseidon. Eu o reconheci pela longa calda de peixe.

– Não posso acreditar que aceitou o pedido desse semideus abusado!

– Ele é meu filho, assim como você – respondeu o Rei dos Mares de forma serena.

– Não me compare com um mortal insolente e intrometido como ele. Será que esse tal Percy Jackson não se contenta com toda a “atenção” que está recebendo por ter salvado o Olimpo? Agora ele quer vir “colocar as asinhas de fora” por aqui também? Ele não preferiu defender o Olimpo enquanto nossos domínios estavam sendo invadidos e destruídos? Então que fique lá com seus amigos semideuses. Ninguém esta interessado em saber quem é a desmiolada que resolveu cair na lábia dele...

– Já basta Tritão! Você mal conhece Percy e só o que faz é julga-lo pelo que falam dele. Percy não vem aqui porque quer ter lugar em meio reino. Ele apenas esta se comportando como o mortal que é. Se para ele é importante que eu conheça essa tal namorada que ele arranjou, então eu o farei. Ainda que existam coisas mais importantes nesse momento com que me preocupar. Não devo negar um pedido de meu filho.

– Está certo. É você o Deus desse palácio. É você quem manda em tudo aqui. Só não diga que eu não avisei quando Percy começar a querer exigir um espaço permanente por aqui.

A imagem do semblante desdenhoso de Tritão se esfumaçou e eu acordei. Eu estava deitada no fundo do barco, debaixo do toldo, com a cabeça encostada na minha mochila. Ainda havia luz do sol por toda parte então foi difícil abrir os olhos. Quando enfim me acostumei com a claridade vi Percy mexendo de novo em sua vara de pescar, concentrado. Ele amarrava alguma coisa na linha de pesca, que eu não consegui identificar o que era. Quando notou que eu estava acordada ele sorriu.

– Chegamos!

Eu fui me aproximando dele ao mesmo tempo em que olhava pros lados e só via mar e mais mar. Um verde sem fim. Olhei de novo pra Percy que continuava sorridente.

– Percy, estamos no meio do nada.

– Não, estamos exatamente em cima do Palácio de Poseidon. Ele está apenas há dois mil pés de profundidade.

Olhei para o mar novamente e depois para Percy. Eu havia acordado muito cedo naquele dia e isso me faz dormir a viajem toda. Não tinha tido tempo de conversar com Percy sobre aquilo que eu queria. E ainda, pra ajudar, aquele sonho me mostrou que o plano de Percy tinha sim, muitas chances de dar errado. Eu não tinha mais tempo. Estávamos ali prestes a pular no mar e afundar até a morada de Poseidon. Era agora ou nunca.

– Percy, eu não quero fazer isso.

– O que exatamente você não quer fazer? – perguntou ele, parando de mexer na vara de pesca e fixando seus olhos em mim.

– Isso. Quer dizer, não quero conhecer seu pai. Não quero que ele saiba que sou sua namorada. Ele nunca aprovaria.

– Ok, deixa eu ver se eu entendi. Você acha que meu pai não vai “aprovar” o nosso namoro?

– É, e o seu irmão Tritão. Você me disse que ele já não gosta muito de você. Se chegar lá e ainda com uma namorada, não vai dar muito certo.

– Sério que está preocupada com isso?

– Claro que estou!

– E esperou até agora pra me dizer?

– É que... eu, eu tentei te dizer antes, mas você não deixou. Ficava me dizendo que estava tudo bem, mas não está Percy, isso não vai dar certo e...

– Annie, para. Para de paranóia e me escuta, ok? Esse é o meu presente de aniversário de namoro. Te trouxe aqui para conhecer o Palácio e para te apresentar ao meu pai porque isso é importante pra mim. Mas em nenhum momento eu pensei em pedir a aprovação dele nem de ninguém. Afinal já estamos namorando há um ano e eu não me lembro de você ter dado ouvidos à Atena quando ela deixou bem claro que era totalmente contra a gente ficar juntos.

– Mas eu acho que...

– E definitivamente, mesmo que meu pai não dê sua benção ao nosso namoro – ele continuou como se eu não o tivesse interrompido – Eu não vou deixar que nada de ruim te aconteça. Enquanto estiver comigo, estará segura.

Eu sorri. Poderia me achar uma tonta com todo o drama que estava fazendo por aquilo. Mas de certa forma, foi bom poder desabafar com ele. Dizer tudo que estava me intrigando. E foi melhor ainda ouvir ele tentando me confortar. Me explicando que tudo ficaria bem. E acima de tudo, dizendo que mesmo que eu estivesse certa em estar com medo, nós iriamos enfrentar isso juntos. Passei a mão em seu rosto e ele se aproximou pra me beijar. Deixamos o beijo se prolongar por mais alguns segundos. Depois nos afastamos e Percy voltou a pegar a tal vara de pescar.

– Agora que você está mais confiante, me ajude com isso aqui. Afinal temos que dar um jeito de você descer até o fundo do oceano sem morrer.



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Notas finais do capítulo

beijos ;**
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