Sobre Milagres E Finais Felizes escrita por Ellie Bright


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Porque senti vontade de postar fic e porque esta fic não está tão ruim e porque é niver do teme. Importante: a fic já tem dona e é a Kapuchi do ffnet ♥



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Sobre milagres e finais felizes

Sasuke's pov.

Não é que ele falasse de outra forma ou que fosse um alienígena ou uma espécie mutante do homo sapiens, mas ele era diferente. Eu pude saber disso quase desde o começo, quando vi aquela criança na creche ainda. Não era porque ele era loiro dos olhos azuis, não por isso, aparência nunca foi o que me chamou a atenção, mas sim a forma como ele se expressava, gesticulando muito e quase sempre sorrindo.

Meu primeiro pensamento foi se o maxilar dele não doía de tanto sorrir.

Os olhos azuis cintilavam diferentes de todos os outros olhares; sua voz espalhafatosa conseguia quebrar a barreira de aço que coloquei ao meu redor. Até mesmo quando, aos meus doze anos, meus pais morreram na vez que minha casa foi invadida por assassinos; o dia que o meu irmão ficou cego. Eu só queria me vingar e por isso me fechei em um redoma de vidro, em uma forma de me proteger, talvez, mas eu só pensava em destruir. Destruir, vingar, queimar: todos esses verbos ardiam em minha consciência e eu pensava que era cheio de sanidade.

Observar Naruto me fez ver que eu era incrivelmente corrompido. Eu era pérfido (e ainda sou).

O certo seria se eu cuidasse de Itachi, que vivia se batendo nas paredes e nos móveis da casa, mas era ele quem cuidava de mim. Sempre estando perto de mim e me mantendo sobre o controle, não deixando que pensamentos depreciativos e por vezes violentos invadissem a minha cabeça, mas mesmo assim ver os olhos negros do meu irmão sem vida, me enchia de ira, de uma vontade irracional de ferir.

E Naruto servia como o sol nesse momento. É difícil de crer que eu possa dizer isso, mas Naruto iluminava a minha vida como um sopro morno de verão, trazendo conversas levianas e discussões inúteis, mas ainda assim leve o bastante para afastar todos os pensamentos corrompidos que eu tinha. Eu conseguia viver assim. Por ele, embora Itachi também tivesse sua parcela nisso tudo e, de certo modo, eu era razoavelmente feliz.

Não sei a partir de que momento eu comecei a sonhar com o céu. Não importava se era um dia de sol ou se era nublado, ou mesmo se uma tempestade me arrebatasse até as profundezas sórdidas das trevas (sendo exatamente assim: com eufemismo). Nada importava porque ainda continuava sendo o céu. O céu daqueles olhos. Era Naruto.

Naruto, de uma forma pouco habitual e nada discretamente, virou meu amigo; e uma obsessão. Eu odiava quando ele ia para a roda de amigos e me deixava; eu odiava a eterna sociabilidade dele; odiava quando ele era visto pelas outras garotas; odiava quando  a garota que ele supostamente gostava o agredia; odiava quando ele estava longe de mim. E eu o vigiava, não permitia que ninguém falasse mal dele na minha frente, muito menos que lhe fizessem mal. E eu passei a ansiar o dourado, tocar o brilho do sol com minhas próprias mãos, não me importando se eu iria queimá-las ou se seria tachado de profano. Porque Naruto era tudo o que eu não poderia ser, nem poderia tocar sem manchar; mas eu o tocava em meio às brigas.

Naruto era irritante, ainda deve ser. É que luz demais incomoda e não há ninguém normal que vá discordar disso, creio eu.

Ele vinha à minha casa quase todos os dias, me obrigava a comer ramem e só Deus sabe como eu não fiquei a beira da morte por insuficiência de nutrientes – Itachi sempre dizia que eu tinha um lado dramático e, reparando bem, talvez eu tenha mesmo. (Só um pouco). Nós brigávamos até rolarmos pelo tapete branco da minha finada mãe e eu sentia cada um de seus socos nas minhas articulações, mas eu o machucava tanto quanto ele me machucava. Nessas horas eu pensava (e ainda penso) que esse amor é masoquista. Mas ainda era pele com pele, era calor e dor; eram aqueles olhos fixos nos meus.

Ele era meu nesse momento.

E eu não sei quando, nem porque, nem em que momento aconteceu, mas eu o puxei para mim um dia e o beijei. Foi um roçar de lábios nada delicado, nem doce ou gentil, pois foi em meio a uma briga. Eu simplesmente puxei seus cabelos e forcei seu rosto a encontrar o meu e nossos lábios se tocaram daquela forma brusca, mas perfeita.

Eu queria, de uma vez por todas, absorvê-lo bem junto a mim. Para que eu roubasse um momento da vida dele, para que ele talvez entendesse o que ele fazia comigo. Para que ele ficasse comigo, mas Naruto me empurrou, seus olhos me fitavam atônitos como se não acreditasse no que eu o forçara a fazer e me disse impropérios, salientando que eu enlouqueci.

Mas é claro que eu enlouqueci. Ele arrancou a minha sanidade – ou o que restava dela.

Ele saiu de casa e me evitava nos corredores da escola. Eu não podia sequer ver aquele olhar, sem que eu visse a estranheza nublar o azul; o azul estava tão manchado e corrompido como eu. Ele me olhava como se eu fosse uma pessoa doente, talvez ele finalmente estivesse me enxergando como eu sou; eu o manchei com minha estranheza.

E não me arrependia. Não me arrependo, aquele instante ainda é meu. Ele foi meu naquele momento, sem que nenhuma garota irritante ou qualquer outro conhecido dele pudesse roubá-lo de mim ou do que nós éramos juntos.

Entretanto, a ausência entre nós me fez ter pesadelos com o céu, que nunca mais aparecia diante dos meus olhos; o mundo não passava de fumaça. Em meio a isso, Itachi teve um acidente doméstico. Ele estava andando na sala quando escorregou no tapete da sala e bateu a parte de trás da cabeça com força na quina da mesa; ele desmaiou e não voltou a acordar. Eu chamei a ambulância e tudo foi rápido demais, menos às horas que esperei o diagnóstico: edema cerebral. Um bem grave. Itachi resistiu enquanto pôde, durante alguns dias eu ainda tive fé, mas seu tempo de vida se esgotou.

Nos livros e filmes o final é diferente. É claro que sim, mas a minha vida não é a porra de um filme. A minha vida é real e Itachi não resistiu. E por mais que eu quisesse manter meus problemas só para mim, de alguma forma, a informação vazou na escola no dia que me chamaram no meio da aula e me disseram que meu irmão estava morto.

Depois de meses, eu encontrei o céu, mas não valia a pena encará-lo. Naruto saiu da sala e quis falar comigo, mas o que eu teria a dizer para ele? Nada. Ele ainda era o céu que eu queria ter, mas a forma que eu o amo, que o desejo é insana. E é pro próprio bem dele que eu vou alcançar o céu de outra forma.

Porque é só o que me resta a fazer: sentir a brisa gelada da manhã, e com um pouco mais de coragem, apenas um pouco mais e tudo estará terminado.

_xxx_

Naruto's pov.

Eu não consigo descrever o que sinto ou o que devo pensar. Tudo fica girando e quando parece que eu vou me concentrar em alguma coisa, que eu espero que seja supérflua ou leviana (palavras que eu aprendi com o bastardo), tudo foge antes que eu consiga parar e tudo volta ao mesmo ponto: a culpa é toda minha. Se Sasuke está semimorto, a culpa é minha por tê-lo afastado de mim – e tudo por uma ilusão.

Eu achava, tinha quase certeza, que amava Sakura, com todas as minhas forças e o repeli naquele dia, mesmo que todo o meu corpo ansiasse por aquele toque, mais até do que eu queria admitir. Eu queria tanto corresponder, mas havia alguma coisa que me impediu. Não sei se era o choque, o medo ou se era por qualquer outro motivo. Eu não sei, não entendo de sentimentos complexos, mas o que importa isso agora? O que adianta eu admitir o ciúme que eu sinto dele porque todas as garotas o desejam? Que fariam mil e uma coisas por ele? Do que adianta eu me sentir envaidecido sempre que lembro que o bastardo sempre implicava comigo quando eu me distanciava dele?

Eu sei que fui burro por não notar os sinais. Eu queria esquecer os sonhos que eu ansiava o céu noturno sem estrelas, porque o céu da noite são como os olhos de Sasuke, repletos de mistério e profundidade. Não há serenidade, mas há certa plenitude e isso (oh céus, como isso é gay, mas verdade) me cativa. Sasuke, em si, é fascinante (outra palavra que ele me ensinou), seja na aparência ou na forma de agir; ele é como um caçador particularmente perigoso.

Sasuke é uma espécie de vício alucinante, uma droga alucinógena que me deixa fora de mim. É idiota a forma como eu fico possessivo com ele e sempre que eu fico longe dele, tentando me livrar desse vínculo de sangue, mais refém dessa perdição eu fico. Eu sei que me gabo por conseguir a atenção de Sasuke, por conseguir resolver cada enigma proposto pela imensidão negra daquele olhar e por conseguir sorrisos retorcidos tímidos, mas tão prepotentes quanto o próprio Uchiha (que é um bastardo, já disse?)

Eu sei que Sasuke é meu, ele é alguém de poucas palavras, mas eu sei que ele é todo meu, mas eu nunca disse que eu sou dele. Eu nunca o autorizei a isso porque, claro, eu sou um idiota. E eu não consertei o estrago a tempo e nem sei se posso fazer isso agora. Porque, bem, Sasuke é um babaca, ele é cabeça-dura, muito mais do que eu. Ele sequer acredita em finais felizes ou que milagres possam, de fato, existir. Vejam só, o cara é tão cabeça dura que se jogou do quinto andar do prédio onde mora e ainda está vivo, seriamente lesionado, mas vivo.

É que ele caiu na sacada do homem que morava no quarto andar. Esse cara deve ter acordado com um susto, resolvido tomar café na varanda e ter encontrado um corpo na sacada, bela forma de começar o dia, não? O que importa é que o idiota do Sasuke recebeu socorro a tempo. E esse bastardo precisa ficar vivo para ele saber o quão importante ele é para mim. O quão dele eu sou e foda-se o mundo. Ou melhor, que ele fique vivo para me foder. Ou que eu foda ele. Tanto faz.

Nunca tive tempo para reparar no quanto esse amor é distorcido, não por sermos do mesmo sexo, mas sim porque a distorção faz farte de nós e eu nem sei se distorção é uma palavra que existe no dicionário. Acho que eu sou doente, um insano e sei lá mais o que, isso é tão gay, quanto verdade, mas já não me importo mais com isso.

(Eu só me importo com ele.)

Se bem que a distorção, se é que essa palavra realmente existe, não passa de uma desculpa nossa para criar drama, para dificultar as coisas. É como dizer ósculo em vez de beijo e amplexo em vez de abraço. Nós somos parecidos, mais do que eu queria; somos próximos, mais do que seria permitido. Estamos ligados de uma forma que ninguém ousaria saber e, para ser bem sincero, isso também é só da nossa conta.

Eu sei como é perder alguém: vovô foi assassinado por publicar uma matéria sobre um político qualquer e a vovó ficou profundamente ferida, está em coma sem chances de acordar até hoje. Pensando bem, a tragédia sempre esteve na nossa cola, né, bastardo? Está mais do que na hora de termos um final feliz, né?

Já não sei mais o que pensar. É difícil ter alguma linha de raciocínio enquanto o cheiro de produto de limpeza e essa atmosfera doente são inalados. Há quanto tempo aquela luz vermelha pisca na sala de cirurgia?

_xxx_

Sasuke's pov.

Quando acordei senti todos os meus ossos arderem e a minha carne queimar, meus olhos pareciam que derreteriam perante a luz do quarto. Eu estava em um hospital? Como era possível? Eu saltei do quinto andar; não havia possibilidade de continuar vivo.

Nunca acreditei em milagres, tão pouco em final feliz – isso é coisa para filmes e livros.

–Hey bastardo, finalmente a bela adormecida acordou? –a voz de espalhafatosa de Naruto parecia tão cansada que quase soaria irreconhecível. –Como você está?

O que eu poderia responder? Estou vivo, quando não queria estar? É estúpido demais para eu dizer, então apenas desvio o olhar. Concentro-me na parede branca do meu lado, o ar-condicionado é silencioso, mas não posso dizer o mesmo das parafernálias médicas que estão ao lado da minha cama.

O que ele estava fazendo aqui? Por que justamente ele? Será que teve uma crise de remorso por eu ter saltado para a morte? Seria cômico, se não trágico e absurdamente infantil: Eu saltei porque quis, não que isso importe para alguém.

–Você me deixou preocupado, idiota. –continuou Naruto. Ele era assim tão falante? Sim, ele era, já estava quase me esquecendo disso. Quase.

–Hn.

–Céus, eu tinha esquecido que você é um 'comunicador nato'. –disse Naruto, sua voz em um tom mais brando e eu me virei para encarar um sorriso tímido, repleto de alívio.

Seus olhos estão nublados, mas ainda azuis. Tão azuis quanto o céu inalcançável, não importa a neblina, ainda é o meu céu que eu vejo todas as vezes que encaro aquele olhar. Não importa o que eu ou ele façamos: não há como fugir disso. Desvio o olhar, não posso sucumbir ainda mais; ele não me pertence - não da forma que eu quero e que eu preciso.

–Você é meu. – disse Naruto resoluto. –Não há como você fugir disso Sasuke, agora me encare.

Eu o encarei, mas não pela ordem que ele me deu.

–Não me dê ordens. – eu lhe disse e, por Deus, essa é a minha voz? Rouca e tão sussurrante quanto o sibilo de uma serpente. Minhas cordas vocais doem. Há quanto tempo eu não tomo um copo de água?

Naruto se ergueu da cadeira onde estava, indo até um móvel em frente a minha cama e voltou trazendo um copo de água. Delicadamente, de um jeito que eu jamais esperaria dele, ele me ajudou a me sentar (nem posso mensurar o quanto as minhas costelas doeram com o simples movimento de me impulsionar para frente) e tomar um gole de água, que parecia um veneno de tanto que doía.

–Acalme-se. Eu estou aqui. – disse Naruto me ajudando a voltar à posição inicial. – Você perdeu muito sangue, quebrou muitos ossos e é um milagre estar vivo. Irônico não acha?

–Hn.

Irônico é apelido! Eu diria que a vida é composta por várias piadas repletas de humor negro, como se quem escrevesse o destino fosse o ser mais sarcástico do universo, mas,  é claro, por que outra forma Naruto estaria aqui? No meu leito, com esses olhos profundamente azuis e arrebatadores, tragando-me para algum lugar que eu secretamente ansiei desde que me entendo por gente?

–Por que está aqui? –perguntei.

–Achei que já soubesse, senhor prepotência. – retrucou Naruto em um tom sério, mas ainda assim sereno; um tom pouco habitual. Seus olhos cintilavam para mim quase (eu sei que não é quase) ternos. –É algo que você sabe antes que eu mesmo pudesse saber.

De repente minha boca ficou incrivelmente seca, minhas mãos pareceram ficar ainda mais geladas e o sangue ter parado de circular no meu corpo, provocando uma tontura agonizante. Franzi a sobrancelha, ainda tentando entender (embora eu saiba o que ele queira dizer, mas saber não implica em aceitar e aceitar levaria a um final feliz, que eu nunca acreditei).

Os lábios de Naruto tocaram os meus em um toque muito leve, diáfano, que mal acreditei. Quentes e convidativos, mas foi apenas um mero roçar inocente e delicado, como nosso primeiro beijo não foi. Depois ele se levantou da cadeira e andou em direção a porta.

–Fique bom logo, bastardo. – disse Naruto. –Aí eu vou fodê-lo de jeito.

Antes que eu pudesse retrucar, ele fechou a porta e desapareceu no corredor. A verdade me atingiu em um rápido flash de luz, tão inusitado quanto a muito aguardado; não consegui evitar um sorriso.

–Só em seus sonhos, perdedor. – murmurei antes de dormir outra vez.

Afinal, eu precisava ficar bom logo, não temos mais tempo para fugir ou para negar, porque toda a obsessão e tudo o que nós distorcemos e que nos distorceu: tudo não passa de amor. Piegas, talvez, mas é a verdade.

E pela primeira vez na vida eu acho que posso acreditar em milagres e finais felizes.

Porque Naruto acredita; porque ele existe.


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Notas finais do capítulo

Well, não acredito que transformei isso num fluffy tão sem graça. Aliais, uma pergunta pra vocês: no meio da fic vocês também sentiram vontade de espancar o Sasuke e dar um soco no Naruto? Porque eu senti. De verdade.
Só não foi uma sensação maior do que colocar fogo na minha faculdade... Mas, well, acredito que todo universitário um dia já sentiu essa vontade...
Espero que tenham gostado!



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