Sesshoumaru tinha reconsiderado mas, no fim, acompanhou Hikari até ao poço e ordenou-lhe que ficasse com a mãe de Kagome, vivendo como humana.

- A tua mãe vai ver se assim o estás a fazer daqui a alguns dias. – avisou Sesshoumaru – Não desafies as minhas ordens.

Deprimidas, mãe e filha abraçaram-se e Rin ficou a ver a Hikari a entrar dentro do poço e a desaparecer como se fosse uma sombra. Como combinado, Sesshomaru, Rin e os subordinados partiram imediatamente depois, com a bruxa, que continuava amarrada a Ah-Hu.

Deixando-se ficar para trás, Sesshoumaru colocou-se e começou a caminhar ao lado da bruxa.

- Estou a ver que mandaste a tua herdeira embora. – disse ela – Estás a ficar sentimental.

- Já descobriste uma maneira de reverter os sintomas do Yoru? – perguntou Sesshoumaru, ignorando-a. Ela iria ver o quanto sentimental ele tinha ficado quando a matasse lentamente.

- Acho que já sabes o que é que tem de ser feito para ele deixar de ser um demónio completo. – disse a bruxa, olhando para Rin – Ele tem de comer a mãe e absorver as células humanas dela para voltar a ser a hanyou.

- Se assim é, qualquer humano serviria. – disse Sesshoumaru.

- Mas ele recusasse a comer outro humano a não a mãe, primeiro. – lembrou-o a bruxa – E acho que sabes o que vai acontecer se ele se recusar a comer durante muito mais tempo.

Ele morreria, pensou Sesshoumaru. Mesmo sendo um demónio, sem comida, ele pereceria na mesma, tal e qual um humano.

- Se é essa a tua solução e não consegues pensar em mais nenhuma, já não preciso mais de ti. – disse Sesshoumaru, pondo-se em posição para atacar – Tiveste uma boa vida?

- Sesshoumaru-sama! – excamou Rin, quando ele estava prestes a atacar – O que é que está a fazer? Ela é a nossa única hipótese de voltarmos a ter o Yoru.

- Ela não nos serve de nada. – disse Sesshoumaru – A única solução dela não é viável.

- O teu filho teria de te comer… - disse a bruxa, mesmo antes de Sesshoumaru a matar.

Rin tapou a boca com as mãos e olhou para a bruxa, que agora jazia em cima de Ah-hu, sem vida. Olhou para Sesshoumaru com os olhos arregalados e abanou a cabeça. Sesshoumaru abanou a cabeça ainda com mais convicção.

- Não vou deixar que ele te coma. – disse Sesshoumaru, antes de Rin ter tempo de dizer que não se importava de se sacrificar. Enquanto falavam, Jakan ia-se livrando do corpo da bruxa – Eu sou o herdeiro da família, depois da minha mãe. Depois de mim…

- Depois de si, disse que ia ser a Hikari, mas acabou por mandar a Hikari para a Era da Kagome! – exclamou Rin – E agora matou a única pessoa que podia arranjar outra solução para acalmar o Yoru!

- Rin…

- Afinal, o que é que pretende fazer!? – gritou ela, com os olhos fechados e as mãos em punho – Pretende deixar o seu reino sem um governador!? Pretende deixar a Hikari no mundo da Kagome para sempre e fugir do Yoru!? Ele é meu filho! Quero-o de volta! Quero que ele esteja bem por isso, se isso incluir sacrificar o meu corpo o que é que importa!? Porque é que você se importa!? Eu sou só sirvo para fornecer herdeiros! Certo!?

Instalou-se o silêncio. Rin estava a olhar para ele. Até Jaken queria ouvir a resposta do mestre. Será que ele finalmente dir-lhe-ia o que sentia. Não, ele era demasiado orgulhoso para admitir que gostava dela. Provavelmente, inventaria uma desculpa qualquer para que Rin continuasse com ele.

- Já não queres continuar a andar comigo, Rin? – perguntou Sesshoumaru, com a mesma cara inexpressiva – Preferes servir de comida para um demónio?

- Sim! – respondeu Rin, surpreendendo Janken – Eu vou servir de comida para um demónio.

Sesshoumaru caminhou lentamente em direcção a Rin, parando a centímetros dela. Pôs-lhe as mãos nos ombros e olhou-a nos olhos.

- Então não te importas que seja eu a comer-te? – perguntou Sesshoumaru, completamente serio – Achas que não o faço? Por vossa causa, já não como há dias.

- Sesshoumaru-sama! – exclamou Jaken, quando viu os olhos dele a ficarem vermelhos.

- Sesshoumaru-sama… - murmurou Rin, a tremer. Tentou dar um passo atrás, mas sentiu as garras dele a cravarem-lhe a pele.

- Estás com medo, Rin? – perguntou Sesshoumaru, empurrando-a violentamente contra uma árvore – Porque é que está com medo de te oferecer à pessoa que amas quando estou prestes a perecer por falta de comida?

Sesshoumaru baixou-se e cravou os dentes no pescoço Rin, até sentir o sangue dela a escorrer-lhe pelo canto do lábio. Quando se afastou, Rin estava com os olhos fechados e ele estava com os lábios manchados de vermelho.

- Serias capaz de aguentar essa dor até o Yoru estar a lamber os teus ossos? – perguntou Sesshoumaru, vendo as lágrimas de Rin a escorrerem enquanto levava uma mão ao pescoço – Serias capaz de o fazer pelo Yoru mas não por mim?

Rin não respondeu. Seria capaz de fazer qualquer coisa pelo filho. Mas para isso, teria de perder Sesshoumaru. Não queria perdê-lo.

- Eu vou caçar. – anunciou Sesshoumaru – Se não estiveres aqui quando eu voltar, saberei o que decidiste.

Com as pernas a tremer, Rin viu os olhos de Sesshoumaru a voltarem ao normal e viu-o a afastar-se. Quando ele desaparecer no meio das árvores, ela escorregou até estar sentada no chão. Jaken correu até ela.

- Rin. – começou Jaken, sabendo que Sesshoumaru nunca diria que a amava, mas fazer-lhe aquilo? Nunca pensaria que ele fosse tão longe para manter Rin com ele – O que é que vais fazer?

- O que é que eu vou fazer, Jaken-sama? – Rin repetiu a pergunta. Estava completamente confusa – A Kagome-san disse para ser forte, mas não sei quem hei-de escolher?

- Rin. – Jaken queria dizer-lhe, mas não podia fazê-lo directamente – O Sesshoumaru-sama foi atrás de si quando eu disse-lhe que ias casar. Apesar de odiar humanos, manteve-te com ele durante este tempo todo. Rin, tira as tuas conclusões. Ele só precisava de um herdeiro e tu sabias que ele estava orgulhoso da Hikari quando te pediu por outro herdeiro. Porque é que achas que ele fez isso? O Sesshoumaru-sama sabe que tencionavas partir e voltar para a aldeia. Porque é que achas que…

- De o que é que estão a falar? – perguntou Sesshoumaru, que tinha voltado da caça mais depressa do que Jaken pensara – Nada de desnecessário, espero.

- Nada, Sesshoumaru-sama! – exclamou Jaken.

- Então porque é que ainda não curaste a Rin? – perguntou Sesshoumaru – Afinal, pelo que presumo, ela decidiu ficar.

Sim, tinha decidido ficar, pensou Rin, enquanto Jaken curava a ferida que Sesshoumaru tinha causado com ervas medicinais. Faria qualquer coisa para salvar o filho. Mas também queria ver Hikari a crescer e ficar com Sesshoumaru até os seus últimos dias.

Arranjaria outra maneira de ajudar Yoru e arranjaria uma maneira de mudar as ideias de Sesshoumaru e trazer Hikari de volta.

- Vamos. – ordenou Sesshoumaru, vendo Rin levantando-se enquanto limpava as lágrimas – Se ficarmos aqui durante muito tempo, o Yoru vai encontrar-nos.

Rin anuiu e começou a caminhar ao lado dele.

Sesshoumaru, olhou de lado para a ferida que tinha causado a Rin, agora coberta por ervas medicinais.

Agora já sabia porque é que Yoru queria come-la, pensou Sesshoumaru  enquanto lembrava-se do sabor da carne dela e lambia o lábio.

Ela era deliciosa.

…

3 Anos Depois

Apesar de Yoru dever ter apenas três anos, parecia seguir Hikari, que ainda se encontrava na Era de Kagome e tinha agora dez anos.

- Cheguei. – anunciou Hikari, deixando os sapatos à porta.

- Bem-vinda. – cumprimentou a mãe de Kagome, vindo até à entrada, onde viu Hikari a tirar o laço que tapava as suas orelhas – Como é que foi a escola.

- Ainda bem que temos de usar touca quando temos natação. – suspirou Hikari, enquanto tirava os chinelos – Esconder isto está a ficar cada vez mais difícil. Quando for trabalhar, não vou poder usar sempre um laço.

- Pretendes ficar mesmo aqui para sempre? – perguntou a mãe, vendo Hikari a passar por ela, na direcção do quarto – Não tens saudades dos teus pais?

- Foi o que o meu pai quis. – disse Hikari, antes de fechar a porta do quarto – Vou estar cá dentro a estudar.

- Quando o jantar estiver pronto eu chamo-te. – avisou a mãe, suspirando.

Mesmo que ela dissesse que não tinha intenções de voltar, continuava a treinar todos os dias antes de amanhecer, pensando que ninguém tinha percebido. Provavelmente partiria não tarda muito. Ela não gostava de despedidas desde que se despedira da mãe, há três anos atrás.

No entanto, Hikari surpreendo-a quando desceu as escadas com passos apressados e desceu as escadas.

- Eu vou à outra Era. – avisou Hikari, surpreendendo a mãe, que parou imediatamente de cortar as cenouras – Devo voltar dentro de uma semana. Pode dar uma desculpa à escola?

- Claro. – disse ela, mas não tinha a certeza se ela voltaria – Mas por que é que vais agora?

- Acabei de me aperceber de uma coisa. – respondeu Hikari, enquanto voltava a calçar os sapatos – Preciso de avisar os meus pais. Mas depois disso eu volto.

- Está bem. – disse ela, vendo Hikari abrir a porta – Faz uma boa-viagem.

- Obrigada. – Hikari fez uma vénia – Eu volto logo.

Ela sorriu quando Hikari fechou a porta.

Rin não a deixaria voltar.