Lá estava ela mais uma vez sozinha em seu de lugar secreto. Coisas embaralhadas e sem algum sentido especifico, se passavam pela inocente mente da menina.

Ele havia lhe prometido que estaria o seu lado em todos os momentos. Eles fizeram um pacto afinal. Como ele poderia não se lembrar? Deveria esquecê-lo. Era a decisão mais sensata naquele momento, pois ele iria embora. A faculdade. Ela já imaginava que no final era a bendita medicina que estaria no meio dos dois como sempre. João ficaria quilômetros e mais quilômetros dela. Como iria conseguir suportar essa distância enorme entre ela e o seu amor platônico? Lia sempre havia lhe dito para aceitar, porque era certo acontecer.

Ainda teria de dividi-lo com Milly. Oh, como ela odiava Melissa por roubar seu menino. Ela teria de aceitar que de agora em diante, eles seriam um casal, e que iriam para o mesmo lugar. Viveriam juntos. Seriam felizes juntos. Como ela lidaria com isso afinal? Amava-o desde pequena. Havia tentado de todas as formas possíveis e impossíveis esquecê-lo, mas como? Seu frágil coração parecia não permitir que isso acontecesse.

A noite de hoje estava fria, como o coração da jovem. A neve caia lenta e calma. Parecia mais um aviso que a natureza estava lhe dando. Um aviso de como seria daqui pra frente. Frio e sozinho. Sem sentimentos. Apenas viva, que estará tudo bem. Viva. Aceite a realidade e siga com a sua vida menina, pois ela é curta. Se ela fosse ao menos um pouco mais velha... Só lhe faltava um ano...

Maldito tempo. Maldito sentimento idiota. Maldito João. Como ela poderia continuar gostando de um idiota como ele até hoje? E ele sabia. Sim, ele conhecia sobre os sentimentos dela. Ele alimentava-o ainda mais a cada dia que se passava. E ela se sentia tão idiota por permitir que isso acontecesse. Sentia-se idiota por deixar, sem fazer um mínimo de esforço pará-lo. Mas agora basta. Ele tinha preferido Melissa, pois então que ficasse com ela. Ana tentava se convencer a todo custo de que os sentimentos só a prejudicavam a cada vez mais enquanto, em passos lentos, o rapaz se aproximava. As batidas de seu coração aceleraram: Ele estava ali. Mas como? Era o seu lugar. Apenas seu.

- Por que não estranho te encontrar aqui Ana?

- É o meu lugar secreto. O que esta fazendo aqui? Não deveria estar a caminho do aeroporto? - Disse sem olhá-lo.

- Bom, acho que agora ele não é tão secreto assim, não é mesmo? Sim, eu deveria. Mas eu não saio daqui sem uma explicação, de por que a minha melhor amiga não foi se despedir de mim.

- Você sabe como eu odeio despedidas. Não gostaria de te ver indo embora, principalmente quando eu sei não vai ter volta.

- Sabe, não vai ser assim. Pequena, eu só estou indo para a faculdade. Eu sempre voltarei. Sempre voltarei para você.

Ele não deveria dizer essas coisas, pensou ela. Era tão cruel ele lhe dizer essas coisas.

- Não me engane, e não se engane Jô. Nós sabemos que isso não vai acontecer. Você vai fazer tua vida por lá com Melissa. Nós sabemos que você nunca vai voltar, e que eu talvez nunca saia daqui.

- E a tua faculdade, pequena? O que vai acontecer com a minha futura astrônoma? – Disse se sentando ao lado da menina.

- Eu vou me formar por aqui mesmo. Você sabe, nunca fui fã de cidades grandes. Só espero que realmente ocorra tudo bem.

- Vai ocorrer pequena. Ou você esqueceu que nós vamos nos casar? Você vai se formar ser uma astróloga renomada e de sucesso e eu vou ser o marido orgulhoso. – Ela riu.

Ele ainda lembrava-se da bendita promessa? Ele tinha apenas 8 anos na época, e ela 7. Haviam acabado de assistir Aladim, e ela ainda estava encantada com o amor dos dois personagens. Eles estavam no sofá da casa dela, apenas duas crianças ingênuas. Mas naquele momento, uma promessa foi feita. “Nós vamos nos casar. Eu prometo te fazer feliz.” Uma promessa ingênua e infantil, mas como ele sempre dizia, não poderia ser quebrada. “Nenhuma promessa deve ser quebrada Ana. Quando uma promessa se quebra, ela leva um coração a ser quebrado também.”.

- Você está indo embora com a sua namorada para outro estado João. E ainda tem a cara de pau de me garantir casamento? – Ele fez uma careta. Ele não estava indo embora com a namorada, só com Melissa. E bom, ela não significava nada para ele, não é?

- Eu estou indo para a faculdade buscar o meu futuro e da minha família. Buscar o nosso futuro, princesa.

- Para Jô. Vamos parar com as brincadeiras e as ilusões, nós sabemos que não vai ser assim.

- Sabe uma vez uma menininha muito inteligente me contou uma história sobre uma estrela apaixonada. – Isso a fez rir.

A lenda dos dois. A lenda antiga que seu avô sempre lhe contava. E que seu amigo sempre repetia quando queria algo.

–“Cadente era uma estrela solitária. Ela vivia em Avra.  Lembra-se de Avra Ana? Um belo dia, a estrela se viu caminhando sozinha pelo reino, um dia normal. Solitária como sempre gostava de dizer. Foi quando em sua frente uma luz intensa apareceu. Era Tarva, a estrela do Norte. A estrela que representava a vitória. A estrela mais brilhante já existente. Ela era linda.

Ele havia vindo lhe entregar uma mensagem da grande rainha Ariel. A mensagem dizia a vontade de união que ela possuía aos dois reinos. O reino de Calorma nunca mais tinha sido o mesmo após a morte de seu rei.

O tempo foi se passando, e tanto Tarva quanto Cadente foram se apaixonando, até um casamento ser proposto. Casamento esse que não iria proporcionar a Rainha Luna.

Luna sempre havia sido apaixonada por Tarva, ele deveria se casar com ela afinal.

Com raiva pelo amor dos dois, ela decidiu que os mataria no dia do casamento tão esperado. E assim foi feito.

O dia em que Tarva de Calorma e Cadente da Avra se foram foi o mais triste para os dois reinos.

Mais estrelas não morrem, elas apenas se mudam. Mudam seu brilho. Viram anjos.

Roga a lenda, de que antes da cruel morte, eles haviam feito uma promessa. Promessa de amor eterno. Ele sempre voltaria para ela. E ela sempre o esperaria. ” E você prometeu me esperar Ana, e eu prometi voltar para você.

Realmente Pequena, espero que você cumpra a tua parte no acordo.

- Você conta essa história tão bem Jô. – Disse enquanto se acomodava perto do rapaz.

- Está fugindo do assunto.

- Não estou não.

- Então promete que vai me esperar.

- Por que eu deveria?

- Por que nós ainda vamos ser muito felizes. Vamos nos casar não se esqueça.

- Não existe casamento sem amor João.

- E quem disse que eu não te amo?

- Você ama amor de amigo. Um casamento é mais que isso. Você esta se mudando. Se mudando com Melissa. Então por favor, não me iluda.

- Eu nunca te iludia Ana, pelo contrario, sempre fui honesto contigo pequena. E quanto a Melissa, se ela não estivesse indo encontrar seu noivo, até que poderia ser...

- Noivo? – Ela olhou para ele assustada. Por que ele estava sorrindo?

- Sim bobinha, noivo. Ta vendo, não escuta e sai tirando suas conclusões. Aliás, eu ainda estou dolorido pela surra que me deu ontem.

- Você é tão idiota Jô. – Disse rindo.

- Um idiota que te ama. Então, vai me esperar?

- Vou sim.

- Então vamos, eu tenho que entrar em um avião ainda hoje. – Ele se levantou e esticou a mão para menina, que prontamente negou.

- Não, prefiro não ir contigo. Eu realmente odeio despedidas. Mas eu prometo que vou te esperar. Te esperarei como a Cadente esperou, e talvez sempre espere, pelo Tarva.

- Tudo bem, eu aceito isso. Eu volto, eu prometo. Adeus Cadente. – Ele depositou um beijo delicado na testa da menina. – Espere por mim, por que eu sempre voltarei por você.

- Adeus Tarva.

E com isso ele se foi. Mas ele voltaria. Voltaria pela sua Cadente. A menina chorou, mas um choro de alegria, por que ele voltou. Ele voltou para junto dela como havia sido prometido.

Fim.