Os dedos do rapaz deslizaram nos fios lisos e macios da menina deitada sobre si, o braço pequeno envolvendo o corpo bem definido e grande do rapaz.Sentiu seus olhos lacrimejarem novamente, fechando-os e deixando que as lágrimas estivessem livres para deslizar no rosto de traços exóticos.

- Oppa? - A garota perguntou, naquele tom suave e inocente.

- Esta tudo bem, Eunnie - Ele respondeu no mesmo tom suave, voltando ao silencio.

O tempo que gastou ali deitado naquela cama, envolvendo o corpo de sua prima naquele abraço caloroso, deixou que sua mente lhe levasse a todas as decisões e escolhas que tivera no dia anterior, voltando também à razão de tudo isso.Se lembrou do momento em que tivera uma visita e do resultado dela.

- Precisamos resolver isso logo - A voz fria do rapaz ecoou por toda a sala daquele apartamento pequeno - Quando não esta trabalhando, você esta enfiado naquele quarto, tocando aquele maldito piano - Deixou ele falar e desabafar, ele tinha todo o direito - Estou cansado, exausto de esperar de você o que eu nunca vou ter. Acabou.

Poderia gritar, chorar e implorar, se jogar aos pés dele e pedir com todas as suas forças que ele lhe desse uma segunda chance, mas sabia... Não iria acontecer.

Fechou os olhos e nada disse, aquele silêncio todo incomodou o mais velho entre os dois que não dissera mais nada e deixou o apartamento, levando suas malas e todas as lembranças que tinha daquela vida que haviam dividido.

Son DongWoon, pianista e cantor de música tradicional, com seus 1,82 ele tinha o coração de todas as mulheres em suas mãos. Seu charme chamava a atenção, mas o que realmente encantava no garoto, era seu sorriso meigo e olhar infantil, suas palavras doces e a inocência que parecia transbordar de si.

Características que conquistaram o crítico de música, Jang HyunSeung. Um rapaz desajeitado, sendo todo o oposto do que seria o músico, suas piadas mal interpretadas fora o que conquistara o coração do rapaz.

Não demorou para que logo os dois vivessem uma história de amor, dividindo seus dias, suas vidas. A rotina sendo sempre com um ou outro adicionado a todas as atividades diárias, sempre acabando o dia com os dois deitados em sua cama, rindo e se amando.

Em um ano, a empresa cobrava ao musico mais comprometimento, que ele trabalhasse duro e se dedicasse mais, assim descobriram o maior defeito de DongWoon: perfeccionismo.

Dedicou dias para o seu trabalho, esqueceu por alguns instantes os dias em que viviam com HyunSeung. Todos os dias, dedicava o mínimo possível de seu tempo, algumas vezes terminava o trabalho e seguia ao quarto, para observar o namorado adormecido e outros eram ocupados em sentar-se ao seu lado e esperar que o sono viesse logo e finalizasse o clima pesado que ficava. Ambos sabiam que não daria certo assim.

Balançou a cabeça com força para apagar aquelas lembranças de sua mente, tentar cobrir a dor que sentia no momento. Sentado sobre a cadeira, naquela mesa de jantar onde os membros de sua família estavam em sua despedida. Deixava o país para fugir de tudo o que havia acontecido nos últimos anos, o que apagava o sorriso bonito que ele sempre carregava em seu rosto infantil e deixava aquela expressão melancólica. Todos entendiam que era preciso, incluindo o seu melhor amigo que deixara de lado o amante para dedicar algumas horas de carinho ao rapaz.

Lee KiKwang, sempre estivera ao lado de DongWoon, sempre dedicando o que podia e o que não podia por ele, poderia dizer até que ele agia como um irmão mais velho quase chegando a um pai. Naquele momento vivia um romance, que não era de conhecimento de DongWoon porque não importava a ele o que o amigo fazia entre quatro paredes, se isso lhe fizesse feliz então continuaria apoiando-o. E todos os sorrisos largos que KiKwang dava a ele diziam bem, ele estava sim feliz com o amante e isso sempre fora algo que ele admirava em seu amigo. Nunca conseguia esconder seus sentimentos.

- Vou sentir tanto a sua falta Woonie – A voz manhosa do mais velho fizera o músico sorrir, mesmo que o sorriso não fosse o mais alegre de todos os que DongWoon costumava dar – Você nunca tentou conversar com ele, tentar uma segunda chance?

Um suspiro longo e pesado.

- Não posso exigir isso dele. Eu fui o culpado.

KiKwang sempre discordou dessa conclusão do amigo, desde o dia em que ele surgira em seu apartamento, ignorando completamente a presença de seu namorado e chorando, soluçando, sofrendo em seus braços como nunca vira.

Foi depois desse dia que descobrira que seu namorado era amigo intimo de HyunSeung e que DongWoon não fora o único que sofrera com essa decisão. KiKwang era a prova perfeita de que ambos viviam intensamente cada capítulo daquela história e só por isso não conseguia saber o que era o certo ou o errado a se fazer em relação a tudo.

Suspirou pesadamente e respondeu:

- Só quero que seja feliz Woonie.

“Atenção! Passageiros do vôo 767-300 de Incheon International para Los Angeles International, com escala em Honolulu International. Por favor, se dirigir ao portão A5”

A voz feminina invadia sua mente no momento em que os olhos se abriram. Havia tirado um rápido cochilo e nem mesmo tinha notado o tempo que passou ali, sentado naquele banco na sala de espera, com sua bagagem de mão e todos os documentos necessários para seguir até o interior do avião. Massageou a região do pescoço, movimentando-o levemente e ouvindo os estralos que fazia com o ato, os olhos encontraram a imagem de seu amigo que conversava animadamente com um jovem, usava o uniforme de piloto e tinha uma expressão bem séria, pela maneira como ele conversava com o homem poderia dizer até que ambos viviam um romance.

Sorriu ao imaginar que talvez aquele fosse o namorado do amigo, não o conhecia e nunca perguntara ao outro sobre ele, assim como o próprio amigo fizera com o seu relacionamento. KiKwang era jornalista, trabalhava em uma revista de música e foi assim que eles se conheceram e se tornaram amigos. Em meio às viagens que faziam sempre, KiKwang sumiu e depois de alguns dias viera com uma aliança prateada em seu dedo e um sorriso largo, dizendo que estava namorando.

Mais uma vez ouvia a voz feminina informando sobre o portão em que deveria seguir e isso lhe arrancou um suspiro cansado. Se levantou e seguiu até o amigo.

- KiKwang, preciso ir – A animação do amigo em questão de segundos desaparecia, assim como o olhar daquele que lhe fazia companhia mudava. Se abraçaram, ficaram alguns minutos se despedindo e então DongWoon se afastou, deixando o rapaz ali com o companheiro.

Entrou no avião e só quando sentou na cadeira indicada em sua passagem que sentiu o peso em seu coração e não conseguiu conteu mais as lágrimas que deslizaram livremente pelo seu rosto. Estava deixando sua família e amigos para trás, só pra esquecer um amor.

Quando o avião partiu, KiKwang sentiu algo em si gritar para fazer algo. Virou-se para o namorado e deixou claro em sua expressão que queria fazer alguma coisa pelo amigo, notou também que o olhar era recíproco.

- O que podemos fazer JunHyung?

O homem retirou o cap e ajeitou os fios loiros claro, enquanto pensava no que poderia fazer. Sabia que HyunSeung sofria tanto quanto o amigo de seu namorado e desejava muito vê-lo com aquela alegria quase infantil novamente, os suspiros apaixonados e comentários estúpidos sobre o quanto estava feliz e que sua vida estava perfeita.

- Vou levá-lo até o seu amigo, deixaremos que eles se ajeitem.

Três meses se passaram, mas para HyunSeung parecia ter se passado três anos. Os dias rotineiros e acinzentados o deixavam mais deprimido. Não tinha qualquer brilho no olhar, sorrisos espontâneos e não estava se importando muito com a aparência. Os cabelos agora batiam em seu ombro, o rosto tinha a marca da barba sempre mal feita e as roupas sempre vestidas de qualquer jeito, escolhidas sem qualquer vontade.

A beleza de HyunSeung sumia com o passar dos dias.

JunHyung estava muito preocupado com o amigo, mesmo que não demonstrasse muito. Precisou de muito tempo para convencê-lo de viajar com ele para uma excursão na terra do Tio Sam, tendo a liberdade de escolher o local e até mesmo o hotel no qual se hospedariam. JunHyung colocou o seu vôo para Los Angeles, pedindo um hotel sofisticado, conseguindo também passagens para acompanhantes, sendo ele o piloto principal e com ajuda de seu co-piloto DooJoon, conseguiu com muita facilidade fazer com que, sem notar, HyunSeung estivesse próximo de DongWoon.

Dia 22 de julho, um vôo de Incheon International direto para Los Angeles International partia às 18 horas. Piloto, Yong JunHyung e o co-piloto Yun DuJun, comandavam com atenção e comprometimento toda a viagem, mesmo que no avião, em meio aos passageiros estivesse Lee KiKwang, namorado nada normal e muito apaixonado do piloto. Das horas longas de vôo, algumas escapadas do piloto e minutos gastos no banheiro do avião, chegaram em segurança no aeroporto internacional da cidade de Los Angeles.

Foi complicado para KiKwang descobrir onde vivia o amigo agora, invadir seu estúdio e gastar um dia inteiro para ocupar o amigo, sem que ele desconfiasse de seus planos.

- Ah, por favor, Woonie – A manha dele sempre vencia a seriedade de DongWoon e como o músico odiava aquilo.

- Tá certo, Aj. Vou com você nesse tal café e depois volto pro meu trabalho – Falou em um tom ríspido, ignorado pelo amigo que parecia muito feliz com a resposta do músico. Respirou fundo e vestiu o seu casaco grosso, ajeitando os cabelos castanhos escuro e colocando os óculos.

Para DongWoon, parecia que o tempo não tinha passado, sua aparência continuava impecável e a beleza dele ainda era o seu maior forte. O que todos haviam notado, até mesmo seus fãs, era a falta de sorrisos e o olhar apagado, uma tristeza notável. Estava feliz de ver o melhor amigo ali, sem a distância enorme que havia criado agora e podendo ter o carinho dele novamente, mas ainda tinha aquele peso que carregava em seu peito.

A custo seguiu até o café escolhido pelo amigo para conversar, colocar toda a conversa deixada de lado por todo o tempo em que vivera ali em dias e podendo enfim conhecer o namorado, quase noivo e marido de KiKwang. Ao entrar no estabelecimento, fora recebido com um sorriso largo do homem que não vestia mais aquele uniforme imponente de piloto, os cabelos loiros armados com um topete bem chamativo, os dedos carregado de anéis e a blusa sem mangas mostrando a tatuagem feita no ante braço com uma escrita em latim. As calças jeans um pouco folgada junto ao tênis dava uma imagem bem mais largada ao homem.

Conversaram um pouco, sentados a uma mesa no segundo andar, conseguiram aos poucos fazer o rapaz sorrir e rir, mesmo que os olhos ainda carregassem aquela tristeza. O celular de JunHyung tocou, ele atendeu a ligação rapidamente e então deixou o local sendo seguido por KiKwang, deixando ali o músico sozinho e preocupado com o que poderia ter acontecido. Foi nesse tempo que DongWoon voltou a pensar em sua vida, mais uma vez se lembrando do que vivera em Seoul, se lembrando de HyunSeung. Uma lembrança tão forte e tão viva que poderia até dizer que o via naquele lugar, caminhando de forma hesitante e surpresa até sua mesa, curioso diante de sua imagem.

Continuaria dizendo que estava sonhando acordado até o momento em que ouviu a voz dele.

- O que está fazendo aqui?

Piscou algumas vezes e se levantou, olhando fixamente ao rapaz sem acreditar no que via. Fizera a mesma pergunta a ele e então ambos disseram o nome de seus amigos.

- O que? JunHyung é seu amigo?

- KiKwang é seu amigo?

- Eu poderia esperar isso do Aj.

- E eu do Joker.

O silêncio se instalou no local, até o momento em que a mão de DongWoon tocara os cabelos longos e ondulados de HyunSeung, soltando um riso baixo e infantil. Não foi preciso mais para que algo se aquecesse no interior de HyunSeung, que sorriu.

Ambos perceberam que não era a distância que faria os dois curar as dores que sentiram a tantos dias longe um do outro, mas estarem por perto. Se sentaram e então conversaram, como amigos, sem qualquer sinal de que um dia foram namorados.

Falaram de suas vidas, dos seus dias, de seus amigos e notaram que estavam morrendo todos os dias. Se apagando diante da tristeza em que viveram.

- Senti sua falta – A voz meiga de HyunSeung invadiu a mente do músico que sorriu, dizendo em silêncio, deixando só o movimento de seus lábios dizer o que seu coração gritava: “Eu também”;

Não falaram mais nada, terminaram o café e saíram daquele lugar, nem mesmo se lembrando dos amigos que haviam sumido. Caminharam um pouco pela cidade e observaram tudo o que tinha daquele lugar, parando em uma pequena praça onde se sentaram, um do lado do outro. Aos poucos se aproximavam, aos poucos se tocavam de forma sutil e não demorou para que os lábios se selassem.

Ainda se amavam muito, jamais negariam isso e naquele momento, o passado não importava. Se beijaram suavemente, se abraçaram de forma calorosa e ali ficaram, sentindo um ao outro como se nunca tivessem se afastado, como se o dia anterior aquele fosse exatamente o último em que adormeceram juntos assistindo a um filme aleatório na TV.

- Eu amo você, Woonie.

- Sempre amei você Seungie.

O sorriso nos lábios do crítico nasceu naturalmente, sempre derretido as palavras doces com aquele exagero infantil que só DongWoon conseguia pronunciar. Fechou os olhos para sentir melhor aquele calor gostoso, acomodado como um gato contra o corpo grande do coreano de traços exóticos.

- Amanhã vou ao salão, preciso voltar a ser lindo – Disse distraído, ignorando o riso debochado do mais novo.

- Você está sempre lindo Seungie, para de exagero – O riso continuava, enquanto a saudade se tornava só uma lembrança.