Paixão Pós-morte escrita por RoBerTA


Capítulo 15
Incompatibilidade é eufemismo


Notas iniciais do capítulo

Consegui postar no dia que prometi ^^ Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/247089/chapter/15

-Desvia!
O que?
Olho para Manu que olha para a bola que vem em minha direção... Peraí, minha direção?!
Me jogo no chão chegando imediatamente a conclusão de que levar a bolada seria menos doloroso.
-Você ta bem?
Manuela parece preocupada, e aquilo seria... Remorso?
-Sim.
Digo enquanto me levanto do chão e limpo minha roupa.
-Beleza.
Ela dá de ombros e sai, me fazendo duvidar se ela é, ou algum dia já foi humana. Continuo jogando aquele jogo horrível onde se tem que fugir das bolas que os jogadores do outro time jogam na tua direção. É simplesmente deprimente precisar correr de uma bola. Ou levar bolada, como agora.
Ponho a mão na cabeça, onde já sinto um galo. Foi aquele Jonas, o tal marrento e briguento quem jogou. Será que devo tentar, sei lá, discutir com ele a favor da minha reputação? Aliás, eu tenho reputação?
Não precisei nem pensar muito se deveria tomar uma atitude, pois Gabriela tomou por mim. Fico olhando, assim como todos os outros que pararam de jogar sentindo cheiro de briga. Ela chuta a canela dele, que é o dobro do tamanho dela, com uma expressão obstinada.
Carraca, essa garota é fora da casinha.
-E da próxima vez que machucar o meu amigo de novo, o chute vai subi até atingir teus países baixos!
Sem observações mentais para o que ela acabou de dizer.
-Desde quando ele precisa de uma garota para defendê-lo!?
Jonas parece estar se segurando para não matar certo alguém, que certamente tem sorte de ter nascido menina.
Ela suspira. Deuses, não! Da última vez que ela suspirou, não saiu coisa que presta da boca dela.
-Ele é... Delicado.
Me jogo no chão fingindo estar tonto com a bolada, para quem sabe impedi-la de falar mais alguma coisa sobre mim que na verdade não deveria falar. Mas o único ser que percebe minha encenação desesperada é Lauren, que corre na minha direção. Nem a minha própria namorada percebeu!
-Lipezinho, você está bem?! Ó céus, será que a bolada te causou hemorragia interna e agora você vai morrer!?
Sinto agonia ao ouvi-la dizer aquilo, além de chata é burra como uma pedra.
-Sai dai, que eu cuido dele.
Gabriela usa aquele olhar metralhador típico dela em Lauren.
Levanto num salto, ignorando o resto dos curiosos que parecem estarem torcendo por um barraco. Que povo, hein.
-Eu não preciso de ajuda nenhuma, estou me sentindo super bem. Foi só uma bolada, não precisa de toda essa baderna. Vamos continuar o jogo.
E são com essas palavras másculas que volto a minha posição, de fugitivo, e recomeço a jogar.
Com sorte não acontece mais nada do gênero, e antes de terminarmos a partida, o professor volta e nos manda jogar basquete. Beleza, aquelas bolas são muito atrativas, especialmente se acariciarem o teu rosto.
Minha altura me impede de jogar mal, o que é um grande aleluia. Nosso time esta ganhando, e finalmente começo a gostar um pouquinho de educação física, até que uma tragédia acontece.
-Aaaaaaaaaaaaaah!!!
Ponho as mãos entre as pernas, me jogando no chão, sentindo uma dor horrível nos meus países baixos, como diz Gabriela. Todos ficam em silencio respeitando meu minuto de dor. Mas ninguém é capaz de ficar em silencio por muito tempo em um momento desses.
-Ops, foi mal.
Olho com muita, mas muita raiva para Gabriela, que está corando. Como alguém cora de arrependimento? Aliás, como ela ta corando, se é uma zumbi desalmada?!
Encontro folego em algum lugar, enquanto continuo no chão.
-Estou oficialmente cortando relações contigo, Gabriela.
-Deixa de ser chato, já me desculpei. Levanta dali e para de ficar fazendo cena. Você é gay, e não bebê, esqueceu?
Silencio mortal na quadra.
Ela não disse isso, disse?
Aliás, onde esta a Manuela quando se precisa dela?!
Levanto, mas manco um pouco, e nem me dou o trabalho de olhar para minha ex amiga e os meus colegas atônitos.
Saio pela porta do ginásio sem olhar para trás e vou para a sala pegar minha mochila sem me importar se ainda tem aula. Vou fugir, nem que tenha que pular a cerca. Aliás, não tem cerca, o que facilita as coisas. Ignoro a dor e pego minha mochila, jogando-a por cima do ombro e encarnando aqueles carinhas que conseguem andar nas sombras, sei lá o nome deles. Se é que tem.
-Você ta bem?
Meu olhar a silencia, que ando ao meu lado de cabeça baixa. Sair da escola sem ser notado é moleza, acho que vou fazer isso mais vezes. Nem quero pensar em como vai ser segunda. Agora sim que posso chamar a escola de meu inferno partícula sem pensar duas vezes.
Percorro o caminho olhando para o chão, às vezes olhando se não tem nenhum poste na minha frente. É, já bati num poste uma vez, e não estou a fim de repetir a dose.
Algo me faz parar. Sinto um arrepio que vem de dentro para fora, me fazendo bater os dentes e tremer da cabeça aos pés. E tudo parece virar estática, enquanto sinto, ou melhor, não sinto, mais nada. Não ouço nada. Não vejo nada. Não sinto nada. Nem mesmo frio. Estou amortecido, sem saber exatamente o porquê. Mesmo assim, meu corpo se vira contra minha vontade. Minha visão começa a voltar aos poucos, enquanto a luz do dia começa a consumir a escuridão pelas beiradinhas, pouco a pouco. Volto a sentir o calor na minha pele. E por fim, minha audição retorna com a voz de Manu ao fundo, parecendo desesperada. Mas não sou capaz de distinguir o que ela esta me dizendo. Toda minha atenção está volta para a velha sentada no banco, diretamente me encarrando. Seus olhos estão vagos, e sei que ela é cega sem precisar que alguém me diga, pois tenho certeza. Mas mesmo assim, mesmo cega, me encarra. Olhos vagos que parecem invadir meu ser, sem permissão. Ela segura com força o tecido sobre o peito, acima de seu coração. Sua boca, aberta, não emite som algum. Nem seu rosto possui expressão, ou indícios de sentimentos. Mas sei, sei que ela esta em agonia. Posso sentir. Não me surpreendo com o que vem a seguir.
Sinto algo molhado e escorregadio se esgueirar em minha mente, se infiltrando, me cumprimentando e matando as saudades.
Senti sua falta. Mas voltei por você.
A velha de repente desaba sobre o banco, quebrando nossa ligação e atraindo um monte de pessoas ao seu redor.
Duas coisas tenho certeza.
Primeiro, a senhora está morta.
Segundo, a voz voltou.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!