Frozen escrita por themuggleriddle


Capítulo 1
Congelado


Notas iniciais do capítulo

TomRiddle/GellertGrindelwald.
AU, muito AU.
Pseudo-ensaio para uma original.



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Grindelwald torceu o nariz ao olhar para o rosto esbranquiçado e murcho do homem caído no chão por sobre os cascalhos. Baldur era um bom seguidor, um bruxo poderoso, mas, aparentemente, nadar não era a sua especialidade. Uma pena perder alguém tão útil de uma forma tão idiota, mas também não era como se ele pudesse trazê-lo de volta a vida e dar-lhe um sermão sobre como ele não deveria entrar em um maldito lago caso não soubesse bater os pés e os braços para se manter na superfície.

“Queime-o,” ordenou ao rapaz parado ao seu lado – Elias, Emanuel ou Emmerich? Algum nome que começava com E – e este lançou-lhe um olhar assustado. “O que espera que façamos? Quer que o levemos de volta para a Alemanha?” Riu baixinho antes de tirar a varinha de dentro das vestes e apontá-la para o corpo no chão. “Incendio.”

Gellert sorriu ao sentir o calor das chamas que envolveram o cadáver. No frio da Sibéria, nada poderia ser melhor do que um pouco de calor.

***

Mais uma vez, chamas que devoravam o cadáver de mais um de seus homens o aqueciam. Dessa vez fora um bruxo mais novo, Geert, um jovem que havia se juntado à ele haviam apenas alguns meses e já demonstrava possuir um grande controle sobre magia e uma mente interessada na política. Era esse o tipo de seguidor que ele queria e era frustrante perder alguém como aquele rapaz, mas, outra vez, as águas do Lago Kucherla tomaram a vida de um bom seguidor.

Já havia anoitecido, coisa que acontecia relativamente cedo naquela parte do mundo, e a única iluminação no local eram os pequenos feitiços que seus homens lançaram ao redor do acampamento, pequenas chamas flutuantes que se encarregavam de manter a luz, alem das chamas enormes que agora davam fim ao corpo de Geert. Os outros já estavam em seus devidos leitos, fazendo com que apenas Gellert e outro homem estivessem expostos ao sereno. Ele o fazia pois não conseguia dormir, enquanto o outro, um bruxo chamado Kord, tinha a obrigação de manter a guarda naquela noite.

Mas Grindelwald não ficou por muito tempo sentado na beira do lago. Assim que as chamas se extinguiram, deixando apenas restos enegrecidos do que uma vez fora um de seus seguidores, o homem começou a cogitar a possibilidade de ir deitar-se, apesar de que a sua vontade era de ficar ali durante toda a noite para ver se mais algum tolo iria tentar se banhar naquelas águas. Apenas tomou a sua decisão de ir descansar ao ter a ilusão de ter ouvido um barulho de água sendo agitada, mas, ao olhar para o lago, não vira nada a não ser a superfície lisa e límpida das águas. Sua mente estava começando a lhe pregar peças, era hora de dormir.

***

Kord estava morto. Encontraram-no nas margens do lago, perto do pequeno riacho que ali desembocava, o único lugar onde a água continuava a vista, já que, naquela noite, o frio que recaiu sobre o lugar fora a última coisa que era preciso para congelar, de uma vez por todas, a superfície do lago, mesmo que a camada de gelo que o cobrisse fosse muito fina.

Os homens começaram a ficar temerosos. Esta era a terceira morte em quatro dias e, dessa vez, o morto não aparecera apenas gelado e murcho, como acontecera com os outros que haviam se afogado, mas também surgira com belos arranhões em seu rosto e hematomas em seus pulsos. Seus seguidores eram homens racionais, ele sabia disso, mas, vez por outra, lendas de criaturas e espíritos fantásticas sempre surgiam em situações como essas, principalmente quando se juntava gente de tantos lugares diferentes. O único inglês de seu grupo dizia que era um sereiano, mas Gellert sabia que sereianos eram restritos ao clima mais ameno e nunca sobreviveriam ao frio siberiano. Outro bruxo, um escandinavo, dizia se tratar de uma huldra, enquanto um escocês negava, dizendo que era uma merrow. Já seus conterrâneos insistiam que aquilo era obra de uma nix. Mas, de todos, os mais convencidos eram os dois russos que haviam se prontificado a guiá-los pela Sibéria naquela missão que já estava começando a parecer inútil e desgastante... Estes diziam se tratar de uma rusalka.

Apesar de ouvir sobre todas as criaturas sobre as quais seus homens falavam, Grindelwald se mantinha calado. Não queria dar a impressão de que também acreditava se tratar de uma criatura mágica, pois achava que aqueles bruxos estavam levando tudo para o lado místico e culpava aquilo aos russos. Gente mística e supersticiosa demais. Mas, apesar de manter-se cético quanto ao que falavam, o bruxo decidira que, naquela noite, seria ele quem manteria a guarda e mandara todos para seus leitos, ficando sozinho em seu posto sobre uma das pedras nas margens do lago congelado, de varinha em mãos e olhos atentos.

Quando finalmente se mexeu de sua posição terrivelmente desconfortável – o que devia ter acontecido já bem noite adentro, pois não se ouvia mais barulho algum vindo de seu acampamento, fora por conta de um barulho que ouvira. Gellert não conseguia distinguir da onde vinha tal som - o qual poderia muito bem julgar como sendo o vento, mas descartou tal possibilidade ao olhar para os pinheiros que margeavam o local e cujas folhas estavam estáticas, não sendo tocadas por brisa alguma – então levantou-se e tentou segui-lo. Para o seu desconforto, o barulho parecia estar vindo do rio que caía no lago, o qual ficava relativamente longe de seu acampamento. Se algo acontecesse, ele teria que usar um bom feitiço Sonorus para ser ouvido por seus homens... Mas tal preocupação logo desapareceu de sua mente quando finalmente teve uma boa visão do rio.

Havia alguém no meio das águas. Não era um animal, pois sua silhueta era exatamente igual à de um humano, mas Grindelwald não acreditava que era uma pessoa também, pois nenhum ser humano normal poderia estar no meio daquelas águas geladas, sem roupa alguma, e ainda não parecer estar se importando com tal fato.

Aproximando-se lentamente, como que para não ser notado e ainda com os dedos apertados em torno da varinha, Gellert percebeu que a pessoa – ele ou ela, não havia como distinguir direito apenas sob a luz da lua cheia que se erguia sobre eles – estava sentada sobre uma das pedras que ficavam visíveis por sobre a superfície da água, com as costas voltadas para ele enquanto penteava os cabelos longos com os dedos. O barulho que havia ouvido finalmente se fazia claro como sendo a voz do estranho, que cantava em uma língua estranha que ele julgou como sendo russo.

Em uma situação normal, Gellert Grindelwald teria lançado algum feitiço silenciador sobre si mesmo ou algo para escondê-lo, antes de pisar dentro do rio, fazendo com que o barulho de água ecoasse ao seu redor, mas aquela não era uma situação normal. Era como se aquela figura desconhecida o estivesse chamando. Ele tinha que se aproximar, tinha que tocá-la para ver se não era uma ilusão, tinha que olhá-la de perto... A voz do estranho também parecia fazer com que todos os seus pensamentos se esvaíssem, infiltrando-se em seus ouvidos e o comandando como uma maldição imperdoável.

Encantado pela figura misteriosa, Gellert não se importou ao ver que o barulho que fazia ao avançar pelas águas mais agitadas do rio despertara o interesse do outro, fazendo com que ele se virasse para olhá-lo. O bruxo parou abruptamente ao encontrar o rosto da pessoa. Ele conhecia aquele rosto e aqueles olhos azuis, assim como aqueles cabelos longos e molhados que pareciam ter um tom acaju.

“Albus...” o homem sussurrou e o outro sorriu, jogando o cabelo para trás e descendo da pedra.

A água já estava batendo quase em seu peito, mas aquilo não importava. Albus estava nadando em sua direção, apenas a sua cabeça para fora da água e seus cabelos ruivos flutuando atrás de si, fazendo parecer que ele deixava um rasto vermelho por onde passava. Um arrepio percorreu o seu corpo ao sentir as mãos do outro alcançarem a sua cintura e foi como se tal sensação o trouxesse de volta a realidade. Dumbledore não era mais um rapaz novo como aquele que o olhava naquele momento, assim como ele não estava na Sibéria, mas sim na Inglaterra, cuidando de um bando de crianças inglesas. Além de tudo, Albus não tinha aquela voz.

Como que percebendo aquela realização, “Albus” estreitou os olhos e, em questão de segundos, desapareceu por sob a água. Gellert correu para fora do rio, tropeçando nas pedras do seu leito, antes de apressar-se para as margens do lago, para onde sabia que o outro iria. Ao chegar lá, pôde ver, por debaixo do gelo translúcido, alguma coisa se movendo e a seguiu, mesmo sabendo que aquilo talvez fosse inútil e sem perceber que a cada passo que dava, se afastava cada vez mais de seu acampamento. Quando seu corpo já não agüentava mais a corrida, Grindelwald ergueu a varinha e, com um movimento, o gelo na superfície do lago explodiu, deixando a mostra as águas escuras.

“Saia dai! Crucio!” Um feixe de luz vermelha saiu de sua varinha e bateu contra a água, sem efeito algum. “Bastardo! Foi você quem matou meus homens, não é?”

Silêncio. O único barulho que podia ser ouvido era o da água se agitando devido ao feitiço. Esperou por vários minutos, antes de suspirar e abaixar a cabeça, esfregando os olhos com as mãos trêmulas.

“Foram eles quem vieram até mim.”

Gellert abriu os olhos para ver que não estava mais sozinho ali. Debruçado por sobre o gelo quebrado havia um rapaz que não lembrava Albus em absolutamente nada. Sua pele clara parecia ainda mais pálida por sob a luz do luar e seus cabelos curtos e escuros caiam-lhe por sobre o rosto, quase cobrindo-lhe os olhos claros e gelados.

“Você os atraiu,” disse Grindelwald, estreitando os olhos e se aproximando. O rapaz pareceu querer voltar para dentro da água, mas, depois de alguns segundos, debruçou-se ainda mais para fora. “Queria matá-los.”

“Ora.” Uma risada baixa escapou dos lábios do outro enquanto ele balançava a cabeça e batia com os dedos no gelo. “Não posso fazer nada, é da minha natureza.”

“Da sua natureza?”

“Oh, Grindelwald,” ele sussurrou, sorrindo. “Você deveria prestar mais atenção no que seus companheiros dizem.” Ele esticou os braços, deslizando os dedos pela superfície translúcida como se tentasse alcançar o bruxo. “Huldra, merrow, nix... Apesar de que estou mais acostumado com rusalka.”

“Pensei que rusalkas fossem moças virgens que haviam morrido perto da água.” Grindelwald riu, vendo o rapaz franzir o cenho. “Você não me parece uma moça.”

“Eu também não pareço o seu amigo Albus agora, não?” Um risinho baixo pareceu soar ainda na garganta do outro. “Mas há alguns minutos você poderia jurar que eu era ele.”

“Sim,” disse Gellert. “Truque interessante aliás. Transformação?”

“Ilusão.”

“Ah, sim. Eu devia ter imaginado que você mexe com a mente das pessoas.”

“É bem mais fácil quando se consegue entrar na cabeça dos outros,” disse a rusalka, sorrindo enquanto voltava a dobrar os baixos por debaixo do peito. “E mais interessante.”

Grindelwald observou o garoto por um tempo, irritando-se com o sorriso de provocação que aparecia em seus lábios, antes de dar o primeiro passo sobre o gelo que ainda estava fino. Ajoelhou-se assim que chegou perto do buraco que havia aberto sobre a água, ficando há apenas alguns centímetros da criatura.

“Você é muito corajoso para chegar assim perto por livre e espontânea vontade,” disse o rapaz. “Ou muito tolo...” Ele parou de falar assim uma mão do bruxo agarrou-lhe os cabelos enquanto a outra apertava a ponta de sua varinha contra a garganta do garoto.

“Não pense em atacar meus homens novamente, ouviu bem?”

“Eu já disse: eles vieram até mim. Se não conseguiram resistir, então tudo indica que são fracos.”

“Criatura insolente...!” sussurrou Gellert, apertando ainda mais a varinha contra a pele do outro, que apenas riu.

“Quer saber quem são os seus seguidores, Gellert Grindelwald?” ele perguntou, erguendo uma mão para deslizar um dedo sobre a madeira da varinha. “O primeiro tinha uma amante trouxa na Áustria. Se não acredita em mim vá até Salzburg e procure por Astrid Geliebte.” O bruxo estreitou os olhos e o rapaz apenas riu novamente. “O segundo queria deixá-lo assim que voltassem para a Alemanha, pois havia se juntado à você apenas por vontade do pai. E o terceiro... Ah, o terceiro era mestiço de mãe trouxa.”

“Pare de tentar me iludir com men-“

“Mentiras? Eu vi tudo isso na mente deles,” ele sussurrou, olhando para o homem com seriedade. “Assim como vejo Albus Dumbledore na sua nesse exato momento.”

“Ora, seu...!” Grindelwald soltou os cabelos do rapaz, antes de segurar-lhe os braços, puxando-o para fora da água enquanto murmurava um feitiço para dar mais estabilidade ao gelo sobre o qual estava. Soltou o garoto e, antes que este pudesse voltar para a água, colocou-se por cima dele e voltou a apontar a varinha para o seu pescoço.

“Você não quer me matar, Gellert,” ele sussurrou e, antes que o bruxo pudesse fazer qualquer coisa, alcançou os cabelos loiros de Grindelwald, segurando-os e puxando-o para mais perto. O homem pareceu perder o equilíbrio e, para não cair, largou a varinha para poder se apoiar sobre o gelo. “Você está interessado, tão interessado quanto ficava com Albus.”

“Cale a boca.”

Um sorriso apareceu no rosto do rapaz, antes dele se erguer e cobrir os lábios do outro com os seus. Gellert sobressaltou-se com a ação, mas não se afastou. Era incrível o quão gelados eram os lábios do outro e como, em uma questão de segundos, ele havia conseguido se enroscar em torno do bruxo, quase o imobilizando com beijos e carícias ousadas demais. Sentiu sua cabeça bater em algo e, ao abrir os olhos, Grindelwald estava no chão, embaixo da rusalka, que continuava a beijá-lo.

“Mein Gott,” sussurrou o loiro, sentindo as mãos geladas do outro entrarem por debaixo de sua túnica.

O rapaz sorriu ao perceber que, apesar de toda a resistência que o bruxo havia oferecido, ele já havia caído em sua armadilha da mesma maneira que acontecera com os outros. Abaixou a cabeça ao lado do rosto do homem, mas, ao invés de beijá-lo como fizera antes, pressionou o próprio corpo com força contra o outro, antes de quase encostar os lábios no gelo abaixo dos dois. Ele adorava como bruxos subestimavam a magia de criaturas mágicas, fazia as coisas serem muito mais fáceis.

“Slomaet dlya menya,” ele sussurrou e agarrou-se à Grindelwald enquanto ouvia o gelo se rachar abaixo deles.

***

O nome do rapaz que ficara incomodado ao vê-lo queimando o corpo de um de seus seguidores mortos era Elias. Agora ele sabia disso, depois de abrir os olhos e encontrar o dito cujo o puxando para fora do lago gelado. Demorou um bom tempo para entender o que estava acontecendo, já que seus sentidos estavam bagunçados e o garoto falava rápido demais, gaguejando e deixando letras escaparem das palavras, mas logo compreendeu que quase havia se afogado.

Assim que sua visão voltou ao normal, Gellert pôde ver grandes marcas avermelhadas circundando os seus pulsos, assim como o rasgo que havia em suas vestes. Elias continuava falando, mas não era como se o bruxo mais velho ouvisse alguma coisa, pois tudo o que conseguia ouvir era o vento soprando, soando como uma canção ao longe, vento o qual parecia não mover as folhas dos pinheiros nem por um centímetro.


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Notas finais do capítulo

Sereiano - todos conhecem, de HP.
Huldra - equivalente escandinavo das sereias.
Merrow - equivalente escocês das sereias.
Nix - equivalente alemão de sereias.
Rusalka - equivalente russo de sereias.
Slomaet dlya menya" - "quebre para mim", em russo.



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