For Amelie - 1a Temporada escrita por MyKanon


Capítulo 6
VI - Acordo no shopping




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_ Ora, ora, veja só quem temos aqui!

“Não foi comigo, não foi comigo, não f...”

_ Veio almoçar aqui Cris?

Eu fechei o livro e o encarei.

_ Sim, com a minha mãe. – “Ou seja, vá embora.”

_ Legal... Eu vim comprar um presente pra minha namorada... É aniversário dela semana que vem.

Eu olhei para os lados procurando quem poderia ter perguntado alguma coisa sobre os motivos dele estar no shopping.

_ De repente você podia até me ajudar, vamos?

“Nem por decreto!”

_ Não vai dar.

_ Sua mãe já chegou?

_ Não.

_ Então, vamos, é rápido... Só queria uma opinião feminina sobre uns perfumes.

_ Por que não pediu à Bia?

_ Ahn... É uma longa história. Você não vai querer saber.

_ Tem razão.

Essa foi sem querer. Mas sempre que eu dava um coice ele achava graça. Talvez se eu começasse a fazer piadas eu conseguisse o que queria...

_ Vamos lá rapidinho, é só cheirar e dar sua opinião.

“Cheirar e dar sua opinião.” Frase muito mal formulada essa.

_ Mel...

Minha mãe surgiu ao lado do banco onde eu estava.

_ Oi mãe.

Levantei e dei um beijo nela. Um silêncio constrangedor pairou sobre nós. Percebi que minha mãe ficou apreensiva com a presença do Aquiles. Talvez imaginando que ele estava me importunando como ela estava acostumada a ver. Bem, na realidade estava, mas não era intencional como os outros faziam...

_ Seu amigo? – ela perguntou receosa.

Ele não era meu amigo... Mas também não era alguém com quem devesse se preocupar. Pelo menos por enquanto.

_ Ele tá na minha sala...

_ Eu sou o Aquiles!

Ele se precipitou a cumprimentá-la, o que demoveu um pouco da ansiedade dela.

_ Encontrei com a Mel por acaso aqui, e pedi pra ela me ajudar numa compra, mas já que a senhora chegou, fica pra outro dia...

Mel?!!! Como ele se atrevia?!!!

_ Ah, tudo bem... Por que você não vai Mel? Depois você me encontra na praça... Eu posso guardar uma mesa pra gente enquanto isso...

_ Como o Aquiles mesmo sugeriu, eu posso ajudá-lo outro dia... Vamos comer logo, estou com fome.

_ Ai Mel, pára com isso... Vai ajudar seu amigo!

A insistência da minha mãe estava ficando mais incômoda do que a idéia de ajudá-lo com os perfumes. Eu suspirei, vencida.

_ Tá, seremos rápidos. – enfatizei a palavra enquanto o fitava irritada.

***

Encostei-me no balcão de braços cruzados enquanto a vendedora espirrava algumas fragrâncias em pequenos pedaços de papéis. Eu sabia perfeitamente que não estava ali para ajudá-lo. Ele estava forçando uma amizade esdrúxula.

_ O que você acha desse? – ele me estendeu uma das tiras de papel.

_ É ótimo. – respondi sem nem me aproximar.

_ Como você sabe? Você nem sentiu o cheiro...

_ Senti daqui.

_ Ahn, então é forte... Melhor não. Cheira esse.

“$%#*¨@”

_ Aquiles, qual seu problema comigo?

Dessa forma eu obtive também a atenção da vendedora. Acho que ela notou que a conversa que se seguiria não seria agradável, então saiu alegando buscar outros perfumes no estoque.

_ Hã?

_ Desculpa a sinceridade, mas eu não quero fazer amizade. Sua perseguição está me irritando. E esses perfumes estão me dando dor de cabeça.

Eu devia ter feito isso logo no início... Assim ele ia se desculpar e me ignorar como o restante da sala.

Ele colocou os papéis sobre o balcão e virou para me encarar.

_ Tá falando sério?

Ele estreitou aqueles olhos verdes divinos, o que me deixou sem ação por um instante. Mas eu era mais forte!

_ Sim.

_ Você está parecendo um caixa eletrônico de novo.

Eu bufei irritada, parecia que ele não sabia o que era falar sério.

_ Desculpa, mas eu não resisti! – riu um pouco, depois retomou – Eu não achei que fosse perseguição... Você é quem deve estar com alguma idéia fixa muito ruim das pessoas.

Ele parou de falar e ficou só me olhando. Então acho que estava esperando que eu falasse de novo... Ops, ele estava me deixando sem graça.

_ Que seja. Mas não muda o fato de não querer ser sua amiga.

_ Então agora você me desculpe, mas eu queria tentar. Você acha então que eu não deveria dar um perfume?

_ Você não me ouviu?!

_ Ouvi sim, e você, me ouviu?

Ele virou-se para o balcão, estudando as fragrâncias em dúvida.

_ E por que você quer tentar?

_ Por causa disso. Adoro sua sinceridade dilacerante. Se você não joga na minha cara o quanto sou chato, você me ignora na maior cara de pau. Você não inventa desculpas, não dissimula. Quero aprender alguma coisa com você.

Fiquei repassando mentalmente as razões dele. Não pareciam muito convincentes, mas eram tão originais... Ele estava dizendo que queria moldar o caráter dele comigo? Acho que nunca recebi um elogio tão subjetivo antes. E com argumentos tão... morais?

_ E então? Você reprova a idéia dos perfumes?

Eu ainda não recobrara minha consciência completamente.

_ Eu... – firmei a voz e então respondi – Presentear alguém com perfume exige muita intimidade. Não se esqueça que quem deve gostar da fragrância é ela, não você.

Ele sorriu agradecido e então disse:

_ Certo, vou dar uma blusa.

_ Não pense que vai ser fácil Aquiles.

_ Vai ser mais fácil do que o perfume com certeza...

_ Estou falando de ser meu amigo. Daqui pra frente as coisas vão ser piores. Você me deu a liberdade de te mandar se ferrar quando me encher o saco.

_ É assim que se fala Mel!

_ E não me chama de Mel.

_ Por quê? É um apelido tão bonito.

_ Só não me chama de Mel.

_ Tá bom... Mel.

Se eu continuasse com a reprovação, só iria cair na provocação barata dele.

Ele olhou para o fundo da loja e disse:

_ Bem, parece que você assustou mesmo a vendedora. Mas como eu não vou mais comprar perfumes... Ei, Mel!

Eu já estava saindo da loja. Ele correu para me alcançar.

_ Nem pense que vou ajudá-lo com a blusa.

_ E por quê?

_ Não faço o estilo da sua namorada.

_ Como você sabe?

Sabendo oras... Era óbvio que a namorada dele seria de Bia pra lá. Linda, loura e fashion.

_ Experiência de vida.

_ Hoho! Falou a experiente!

Comecei a andar para a praça de alimentação com o encosto ao meu encalço.

 _ Tá começando a me encher.

_ Você atinge seu limite bem rápido hein... Somo amigos há apenas cinco minutos...

_ Não somos amigos.

_ Tá bom, estamos trabalhando numa amizade... Estou indo bem?

_ Não.

_ Como posso melhorar?

_ Só faça silêncio.

_ Mas assim é muito chato Mel.

_ Pára de me chamar de Mel...

_ Mas eu gosto...

_ Eu não.

_ Por quê? Sua mãe chama...

_ Ah é, como não pensei nisso! E já que você é perfeitamente comparável à minha mãe...

_ Por que você não gosta?

_ Certo, me chame de Mel se isso te fizer ficar quieto.

_ Tá me pedindo para escolher?

_ Estou pedindo para se calar.

_ Ah, já disse que assim é chato...

_ Chato é você.

_ Você também.

_ Ao menos nunca persegui ninguém.

_ Ao menos nunca fui paranóico.

Ah não... O que que eu fui fazer ao aceitar a presença dele?

_ Já estou aprendendo alguma coisa, não estou?

Chegamos na mesa onde a minha mãe estava e ela convidou:

_ Quer almoçar com a gente Aquiles?

_ Acho que ele ainda tem que comprar o presente, não tem Aquiles? – perguntei ameaçadoramente.

Ele pareceu recuar um pouco com meu tom sombrio, mas como ele era um inconveniente de primeira...

_ Se a senhora não se importar...

_ Que isso, senta aí.

Não tinha escolha. Minha mãe fora conquistada. Dava pra notar que ele conseguia fazer isso facilmente com todo mundo... Comigo foi diferente, pois eu tive um treinamento árduo na arte de evitar as pessoas. Mas mesmo assim eu entrei num acordo com ele. Ele conseguiu romper a barreira que construí com tanto cuidado... E não se esforçou tanto. Eu o conhecia havia apenas 2 dias. Um se considerarmos apenas 24 horas.

Continua


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