For Amelie - 1a Temporada escrita por MyKanon


Capítulo 20
XX - Na paz do suplício


Notas iniciais do capítulo

Música: Damned and Divine (Tarja Turunen)
Beta reader: Keli-chan

~*~

Gente... finalmente...



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Os soluços haviam cessado. Apenas meus olhos estavam ardendo um pouco. Fazia quase duas horas que eu estava naquela posição fetal, tentando manter a mente vazia.

Fiquei mais algum tempo do mesmo jeito, até resolver que era hora de reagir.

Aqueles fantasmas foram criados por mim mesma, logo, eu mesma precisaria me livrar deles. Se eu já tinha assumido que gostava dele e podia lidar com o fato dele ter namorada, por que eu estava me debulhando em lágrimas? Eu esperava que a Daphne fosse lenda, só podia ser isso...

Tomei um banho e comi alguma bobagem enquanto esperava minha mãe. Aleguei estar com sono para ela não me fazer perguntas sobre meu silêncio fora do normal.

No dia seguinte saí um pouco mais cedo de casa para não encontrá-lo na entrada. Subi até o bloco 2 onde seria a aula de física e me sentei no banco próximo à porta. Como estava muito cedo, duas senhoras estavam varrendo a sala. Quando elas saíram, antes de trancarem a porta perguntaram se eu preferia esperar lá dentro. Eu aceitei e sentei numa das últimas bancadas.

Eram apenas 6:35.

 

It won't help if you wait for me
Não vai ajudar se você esperar por mim

I'm a slave to the dark
Eu sou um escravo da escuridão

I know I'm not a saint, you see
Eu sei que eu não sou santa, você vê

The dawn is when it starts
A manhã é quando isso começa

 

Como iria encará-lo novamente? Por que tinha que admitir que estava apaixonada justo quando descobri que nunca seria para ele algo além de uma amiga sarcástica? O que fazer com esse sentimento recém descoberto? Se eu não me livrasse logo dele, só pioraria minha situação... Justo agora que estava começando a me dar bem na escola... Justo agora que meu mundo estava tomando uma forma... Uma cor.

Eu tinha que estragar tudo, não é mesmo? Eu tinha esse dom... Eu conseguia desgraçar minha vida mesmo sem mover um músculo.

As pessoas começaram a adentrar a sala.

Eu precisava me preparar para encontrá-lo novamente.

_ Oi Cris! - a Thaís acenou de lá de baixo.

Retribuí com outro aceno.

Já estava quase dando a hora de começar a aula, logo ele também estaria ali.

A Bia entrou na sala gargalhando, discreta como sempre, e eu tive certeza de quem estaria em sua companhia. Depois de me localizar, ele parou de falar com a Bia e deu a impressão que pediu licença a ela. Subiu até a minha bancada e sentou-se ao meu lado.

_ Não estamos na aula de química. - lembrei sem olhar para ele.

Ele deu uma risada gentil e perguntou:

_ Por que não assistiu o jogo ontem?

_ O sol estava muito quente, e eu ainda não me sentia completamente bem.

_ Sério?

 

Feel the shadow of my oblivion
Sinta a sombra de meu esquecimento

Hoping mercy would show her face
Esperando que a piedade mostrasse sua face

On the road to your own perdition
Na estrada para sua própria perdição

In the coal-blackened rain
Na chuva negra como o carvão

 

Era hora de encará-lo. Eu tinha que me livrar daquela paixão platônica. Ou pelo menos enfrentá-la como aconselhara minha mãe. Um salve para Albert Einstein!

_ Acha que estou mentindo?

_ Não disse isso.

_ E então?

_ Sei lá, você parecia empolgada... E... Não sei, acho que estou vendo demais, mas achei que...

Mas ele parou. Ergui uma das sobrancelhas, encorajando-o a continuar. Ele continuou quieto estudando minha expressão. Ficamos ambos quietos, um desafiando o outro a falar.

_ Achou o quê? - decidi perguntar.

_ Vai ser muito inco[ô]modo se eu assistir a aula de física aqui?

_ Vai.

_ É uma pena, porque eu vou ficar.

Eu tentei sustentar uma expressão séria, afinal eu queria acabar com toda aquela intimidade que havíamos criado entre nós, mas não resisti. Ele era tão inconveniente e tão aprazível ao mesmo tempo...

Ele também deu risada, e ficamos rindo por algum tempo. Não tinha jeito, eu teria de enfrentar mesmo.

O professor entrou na sala, então silenciei e prestei atenção.

_ Mel...

_ Sim?

Ele não disse nada. Virei-me para ele a fim de saber o que acontecia. Ele continuou quieto, apenas me encarando.

_ O que houve, Aquiles?

_ Nada não. - respondeu sorrindo, ajeitando-se para também assistir a aula.

Deixa pra lá então. Não vamos complicar a minha situação.

Na aula de matemática a Bia se enfiou entre nós dois e não conversamos mais. Na aula de história sentamos mais perto, mas ele ficou discutindo algumas jogadas com os colegas de equipe. Saímos todos juntos para o intervalo, mas enquanto eles tomavam o caminho da lanchonete, eu me dirigi para a sala de geografia.

_ Ah, então vamos estudar um pouco de química. - disse o Aquiles desistindo de acompanhar a turma para a lanchonete.

_ Química, Aquiles? Aff, deixa de ser nerd! - reclamou a Bia.

_ Nerd? Eu quase fiquei com zero! Deixa quieto vai... Você não está nem aí porque não tem DP.

_ Não é isso... É que você pode estudar química outra hora... - argumentou a menina.

_ Vou estudar química agora. - E virou as costas para ela.

Uau... Será que ele queria tanto estudar química? Enfim, eu adorei aquela atitude, parecia que finalmente ele estava cortando aquele cordão umbilical cultivado pela Bia com tanta tenacidade.

Ela soltou um muxoxo de irritação e seguiu para a lanchonete.

_ Química? - perguntei irônica.

_ Ontem a Daphne quase me escalpelou por causa da Bia... - Mas ele parou como quem se dava conta que dizia o que não devia.

O que ele estava pensando? Era por minha causa? Será que ele imaginava o que eu estava sentindo?

Sentei no banco perto da sala de geografia e tirei meu livro de dentro da bolsa. Só para não ter de olhar para ele.

_ A minha vida tá uma completa bagunça... - ele começou, sentando-se no encosto do banco.

Fingi não prestar atenção.

_ A Daphne apareceu de surpresa ontem. A gente não anda muito bem...

Não era por minha causa. Ele estava com problemas com a namorada. E por que eu fiquei tensa? Continuei fingindo que lia.

 

Frozen in time, yearning forbidden wishes
Congelado no tempo, ansiando por desejos proibidos

Damned and divine
Maldito e divino

Scars of my broken kisses
Cicatrizes de meus beijos quebrados

What will follow if tomorrow's blind?
O que virá depois se o amanhã está cego

My eternal night

Minha noite eterna

 

_ E é meio estranho... Porque às vezes falamos de casamento, mas às vezes eu paro pra pensar... Como posso saber se estou pleno com ela?

Eu devia estar com cara de terapeuta de casais.

_ Ela é muito ciumenta, e deveria ser ao contrário, levando em consideração a carreira que ela quer seguir...

Quase que eu me esqueço, a Daphne era uma linda modelo. Não esquecer que a Daphne é uma linda modelo... Não esquecer.

_ Mas eu entendo. Eu também fico inseguro às vezes. Assim... Ela vive dizendo pra mim que confia em mim, porém prefere não abrir margem para as oportunidades, mas aí eu penso... Se eu não tiver a oportunidade, então significa que a minha fidelidade não está completamente provada, não concorda?

Onde ele queria chegar? Por que ele escolheu justo a mim para ter essa conversa?

_ Sabe por que estou há um ano e seis meses com ela? - ele sabia que eu não ia responder, então continuou por conta própria – Porque sinceramente eu nunca mais me interessei por nenhuma outra garota depois de começar a namorar com ela.

Continuei imóvel e inexpressiva.

_ Mas e se isso acontecer?

A mão que segurava o livro tremeu levemente, mas não me atrevi a me mover.

_ Significa que é hora de terminar?

Era evidente que eu não era a pessoa mais aconselhável para responder essa pergunta... Encolhi os ombros em sinal de descaso.

_ Eu sei que você não está lendo.

_ Por que está dizendo isso? - perguntei sem desviar os olhos do livro.

_ Porque suas pupilas não estão se movendo.

Bem observado da parte dele. Fechei o livro, mas continuei encarando a capa.

_ Estou prestando atenção ao que está dizendo.

_ E por que finge que não está?

Sei lá.

_ Não sou a pessoa mais indicada para te dar conselhos amorosos.

_ Você é tão peculiar Mel... Sabe, a Daphne está achando que estou diferente.

Que relação aquilo tinha com a observação que ele tinha feito sobre mim? Subi os olhos até ele.

_ O que isso tem a ver?

_ Não sei. Só tenho certeza de uma coisa... Tem a ver com o que eu dizia.

Hã?!”

Senti meu coração acelerar enquanto minhas mãos começavam a suar.

_ Explique-se melhor.

_ Eu não saberia dizer... Pode ser besteira... Posso até estar confundindo as coisas... Mas acho que...

Era o que eu mais queria ouvir na vida. Era o que eu daria um olho para saber...

Mas como sempre, a inconveniente da Bia surgiu na escada.

_ Vim fazer companhia! - gritou sorridente ainda de longe.

_ O que você ia dizer mesmo? - Eu precisava muito saber antes dela se aproximar.

_ Nada urgente.

Bia, sua @#$%*...”

Ela sentou-se entre nós dois, e só então notei que estávamos bem próximos. Tive de abrir espaço antes que ela se sentasse no meu colo.

Ela iniciou uma conversa superficial, e deixei por conta do Aquiles. Depois o pessoal começou a surgir na escada e entramos para a aula de geografia. Tudo bem, ainda tinha nossa ida para o trólebus...

Depois da aula de geografia fomos para a aula de inglês. O Aquiles estava estranhamente quieto, e eu normalmente quieta, então a única que fazia barulho era a Bia.

_ O trabalho é para sexta-feira, não é gente? - ela perguntou tentando chamar nossa atenção.

_ Sim, mas está pronto. Trarei amanhã para a professora ver se está bom. - respondi distante.

Pouco antes de acabar a aula vi o Aquiles atendendo ao celular.

A hora de ir embora estava quase chegando. Os quinze minutos seguintes foram os mais longos da minha vida... Mas por fim passaram.

Até a portaria seguimos em silêncio, apenas ouvindo a Bia tagarelar. Lá tivemos de nos despedir, o pai dele havia ligado para avisar que viria buscá-lo... Eu estava com tanta raiva por não poder conversar em paz com ele que nem prestei atenção ao motivo... Era algo relacionado com o trabalho.

 

As the wind takes me away from you
Como o vento me leva pra longe de você

Before the morning light
Antes da luz da manhã

My sins are fading into view
Meus pecados estão dissolvendo em visão

I'm so weary deep inside

No fundo eu estou muito cansada

 

Mas que coisa Amélia Cristina! Não dê tanta brecha...

Decidi chegar mais cedo no dia seguinte também. Se ele quisesse dizer alguma coisa, que tomasse a iniciativa.

A primeira aula era de SIC e quando ele chegou, eu já estava situada no meu lugar, perto da porta. Ele sentou-se atrás de mim e a Bia logo atrás, e me cumprimentou normalmente:

_ Bom dia Mel!

_ Bom dia. - respondi meio irritada, mas sem querer demonstrar.

A aula passou meio devagar, ainda mais porque tivemos que responder algumas questões para entregar. A Bia seguiu com a gente para a aula de matemática, por isso, acabei não trocando muitas palavras com o Aquiles.

Para a felicidade da turma, e minha decepção, fomos informados que o professor havia faltado. Instantaneamente a sala começou a dispersar. Alguns meninos foram para a quadra assistir ao treino de outras salas, algumas meninas foram para a lanchonete...

_ E aí Aquiles, pra onde você vai? - perguntou a Bia encaixada no braço dele.

Ele se livrou do braço dela enquanto dizia:

_ Vou estudar um pouco de biologia agora... A prova dela também está chegando.

_ Você anda muito estudioso, hein... Cuidado Cris, ele vai acabar te superando! - gracejou a Bia.

_ É né. - disse por falta de vontade de responder.

Bom, então vamos estudar biologia né... Fazer o quê?

Seguimos os três para o bloco 2 e sentamos próximos à escada que levava à sala de química. Logo surgiu a Thaís e a Camila junto com o Rafa. Pouco depois os meninos de truco também se juntaram a nós. Agora a roda estava bem grande. Todos tiraram seus livros de biologia e tentaram estudar sobre os reinos.

Em intervalos regulares alguém me fazia alguma pergunta. Em poucos minutos estava todos concentrados.

Um Trident surgiu em cima do livro que eu lia. Olhei para o Aquiles e ele estava me observando lindamente. Mas como ele era sempre lindo, acho que não contava muito...

_ Filo Arthropoda... Será que cai? - me perguntou, preocupado.

Eu estava com muita raiva. Mas ele conseguia dissuadir qualquer sentimento ruim que eu tinha quando olhava para mim. Fazia tempo que eu não reparava no verde-paz dos olhos dele.

 

Feel the shadow of my oblivion

Sinta a sombra de meu esquecimento

Hoping mercy would show her face
Esperando que a piedade mostrasse sua face

On the road to your own perdition
Na estrada para sua própria perdição

I may see you again
Eu posso te ver de novo

 

E a raiva que eu tinha, não era raiva... Era apenas frustração. Não era culpa dele, era minha.

_ Com certeza. É o reino que possui o maior número de espécies. Mas é só você decorar que eles são triblásticos, protostômios e celomados.

_ Ah... Só? - perguntou num tom engraçado.

Eu sorri gentil e confirmei.

_ Obrigado Mel.

Oh Deus... Como ele era perfeito...

_ Por nada. Bem, vou aproveitar essa aula vaga para procurar a professora Rute e perguntar sobre o trabalho.

_ Quer que eu vá com você? - ele perguntou.

_ Aonde vocês vão? - intrometeu-se a Bia.

_ Vou procurar a professora Rute. Mas não precisa, é rápido.

Só porque a Bia queria ir junto, aí que raiva!

Peguei o trabalho na pasta dentro da mochila e subi as escadas em direção à sala dos professores.

Depois de falar com a professora, o trabalho fora aprovado com louvor. Corri de volta para a escada, para dar a notícia ao pessoal.

Imaginei que isso os deixaria satisfeitos com a minha performance, tornando-os ainda mais agradáveis comigo.

Chegando no topo da escada eu dei uma ajeitada nos cabelos e tirei os óculos. Se eu queria ser vista como uma pessoa mais legal, devia ao menos tentar parecer uma pessoa mais legal.

No patamar antes de terminar a escada eu ouvi a voz dele. Não resisti à tentação de parar para ouvir o que estava falando sobre mim.

_ Não gente, só amizade...

Ouvi a gargalhada estridente da Bia. Ela acrescentou em seguida:

_ Tá bom, eu acredito em você Aquiles... Até mesmo porque ela é assexuada, não é? - Aqui ela riu vigorosamente - Por isso você se apegou a ela. É a única com quem você não trairia sua namorada...

Alguns riram bem alto. Será que não se preocuparam do coordenador vir dar uma bronca?

Ou então as risadas estavam muito altas pra mim. Machucando meus ouvidos... E o meu coração. Assexuada. Então era assim que estavam me chamando.

Desci as escadas maquinalmente e parei ao lado da roda. Pelo jeito como me olharam, sabiam que eu havia ouvido a conversa. Ou então estava claro na minha expressão.

_ Ahn... E então? O trabalho ficou bom? - perguntou a Bia.

Acho que para dissipar logo aquela aura maligna que pairava sobre mim.

_ Não. A professora quer um resumo de cada capítulo.

Ninguém reclamou. E esse sim era um trabalho digno de reclamação, mas estavam todos envergonhados.

Virei-me mecanicamente e deixei o bloco.

_ Valeu hein pessoal. Ela ouviu tudo. - ouvi Aquiles reclamar ao fundo.

Mas parecia uma voz muito distante. Eu sentia como se tivesse entrado numa bolha hermética. Corri para o banheiro do bloco 5. Tinha certeza que lá ninguém me encontraria. O bloco 5 estava em reforma havia meses.

Empurrei a porta com força, e tive de usar a mesma força para fechá-la. Tinha um banco ao lado da porta, mas não me sentei nele. Meus soluços chamariam atenção perto da porta.

Eu não queria mais chorar por ninguém, mas eu era uma frouxa mesmo...

Vi meu rosto de relance no espelho enquanto corria para o último dos 5 cubículos. Já estava encharcado.

Empurrei o trinco e sentei na tampa da privada.

Minha cabeça já estava doendo de tanto chorar, mas eu sabia que no fundo eles tinham razão. Aquiles foi o único a insistir uma amizade comigo, porque ele sabia que eu era a única que não despertaria atração nele.

A verdade doía tristemente. Eu estava tão apaixonada por ele que esqueci de pensar nesse detalhe.

_ Mel!

Me sobressaltei ao ouvir a voz dele. Não era possível, ele tava lá dentro! Fiquei muda, mas sabia que ele havia me ouvido chorar.

_ Mel, sei que você tá aí. Abre pra mim.

Caraca! Se alguém visse aquilo poderia interpretar mal. Bom, minha vida toda já estava mal interpretada...

_ Aquiles... Me deixa aqui... Eu estou bem, logo eu saio.

_ Deixa eu falar com você...

Que ótimo, agora ele estava com pena de mim.

_ Não Aquiles. Não estou chateada! Não preciso de consolo!

_ Tá bom. Não precisa abrir. Mas encosta na parede, senão vai te machucar.

Ele estava falando sério em arrombar a porta? Arrombar a porta do banheiro feminino?

_ Aquiles, eu já saio, você não pode esperar?

_ Encosta aí, tô falando sério!

_ Não!

Abri o trinco com as mãos trêmulas. Não tive tempo nem de enxugar as lágrimas. Enxuguei rápido na manga do blusão.

_ Não se incomode com isso... Eu fico assim quando os professores rejeitam os meus trabalhos que eu levei tanto tempo fazendo...

Ele me abraçou forte contra o peito dele. Me senti como uma criança.

E isso era deprimente. O amor dele era paternal.

_ Eu não estou magoada Aquiles... Eu sei reconhecer a verdade...

_ Que verdade, do que você está falando?

_ Tudo bem! Não me importo em ser sua amiga por te representar segurança... Não me importo mesmo! Pelo menos estou contribuindo com o seu relacionamento...

_ Mel, não diga essas coisas... Você fica parecendo aquelas meninas ridículas...

_ Elas não são tão ridículas Aquiles...

Ele ainda estava me apertando nos braços dele. E então não sei se ele quis provar o contrário, ou se eu só delirei, mas ele me beijou.

Primeiro eu fiquei de olhos arregalados, para ter certeza de que tinha entendido direito... Mas não resisti por muito tempo e fechei meus olhos, deixando ele aprofundar o beijo. Ele tinha o hálito fresco do Trident de hortelã que nós dividimos mais cedo. Ele me encostou na parede do cubículo e acariciou meu couro cabeludo.

Diferente do que pensavam de mim, eu já havia beijado alguém. O maldito Thiago. Mas o beijo do Aquiles era diferente. Embora eu não tivesse tido nenhuma outra experiência, eu sentia que o beijo do Thiago era mecânico. Eu tentava dar o melhor de mim achando que eu era o problema, até acabarmos naquela situação...

Mas com o Aquiles era totalmente diferente. Tinha sinceridade. Não dava pra fingir aquilo.

A outra mão dele acariciava a minha cintura. E eu não sabia o que fazer com as minhas. Não queria abraçá-lo, com medo de não soltar mais. Pois ele ia me pedir pra soltar.

 

Frozen in time, yearning forbidden wishes

Congelado no tempo, ansiando por desejos proibidos

Damned and divine
Maldito e divino

Scars of my broken kisses
Cicatrizes de meus beijos quebrados

What will follow if tomorrow's blind?
O que virá depois se o amanhã está cego?

My eternal night
Minha noite eterna

 

Antes que eu pudesse perceber, já tinha acabado. Ele estava me abraçando novamente.

Teria eu delirado? Imaginando, fantasiado, sonhado?

_ Você é melhor que todas elas juntas.

_ Obrigada... – respondi por não saber o que mais dizer.

_ Você não é assexuada. Tampouco desinteressante Mel...

Depois disso me calei. Não saberia como responder.

Mas aí ele me soltou e sorriu pra mim.

_ Vamos voltar pra aula?

E então, eu havia sonhado?

_ Vamos... Já... Já estamos atrasados, não é?

_ Um pouco.

Ele me puxou pela mão para fora do cubículo, e antes de sair eu lavei meu rosto. Olhei assustada enquanto ele puxava o banco para o lado.

Ele havia bloqueado a entrada com o banco.

_ Hehe! Precisávamos de privacidade.

Então eu não tinha sonhado. Saímos do banheiro e fomos vagarosamente para o bloco 2. Ele não se aproximou muito de mim, não pegou na minha mão, nem nada. Se não tinha sido sonho, então não representava muita coisa pra ele.

 

Every single dawn I die again

A cada manhã solitária, eu morro, novamente..

 

Dessa vez entramos pela porta de trás do bloco 2 que era a mais próxima. Às vezes ele me olhava, e quando ele não estava olhando, eu olhava pra ele.

Estava uma situação esquisita. Mas eu pagaria qualquer preço por aquele beijo.

 

Continua


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Notas finais do capítulo

*
*
*
N/A.: Não tá lá essas coisas, mas calma, outros melhores virão! Hohoho!
Claro, não vai ser tão fácil assim, afinal, nunca é fácil.
E queria agradecer a tooooodas vcs, todas mesmo. Desde de minhas beta readers angelicais até as recém chegadas leitoras... Amo vcs flores!