Capítulo 5 – Feelings

Draco trancou a porta e automaticamente encostou-se na mesma, deslizando até o chão, com os olhos fechados. Droga!

Ele não entendia o que estava acontecendo. Não era ingênuo, sabia perfeitamente que quando as famosas borboletas tomavam conta do estômago alheio, algo estava muito errado. E ele sabia bem o que esse “algo errado” era só se recusava a acreditar.

Respirou fundo, encarando o nada. Como pode deixar isso acontecer? Jurou para si mesmo que nunca ia olhar para Mione com qualquer outro sentimento que não fosse de amizade. Sua amizade com ela era uma das coisas mais importantes de sua vida, e ele realmente não queria estragar tudo com aquele caralho que chamam de “sentimentos”. Esses camaradas aí só servem pra foder com a vida de todos.

Passou todos os anos de sua vida desde que conheceu Hermione se esforçando para ser o melhor e mais perfeito amigo para a garota. E também passou todo esses anos tentando manter a atração que sentia pela castanha estritamente platônica. O que pareceu funcionar muito bem, até aquela maldita viagem para Vegas.

Não que a viagem tenha sido ruim. Eles se divertiram muito lá, apesar de tudo. Mas se Draco tinha uma certeza na vida, era a de que se pudesse voltar no tempo, nunca teria pego a mão da amiga e entrado naquele cartório. Tudo seria muito mais simples.

A verdade é que Draco sempre teve uma quedinha pela melhor amiga e vizinha, que por ironia do destino e da bebida acabou se tornando sua esposa. Desde que viu a garota dando uma surra no vizinho encapetado da casa de frente para a dele, por roubar suas barbies, Draco sabia: Hermione era especial.

Ele sempre manteve seus sentimentos escondidos, certo de que todos os arrepios, todas as borboletas, todos os sorrisos bobos e as crises de ciúme eram coisas normais de amigos. Além do mais, ele sempre soube que ela era louca por Ronald, e sempre preferiu manter sua distância, permanecendo apenas como amigo, certo de que nunca teria uma chance.

Mas desde os acontecimentos em Vegas, estava cada vez mais difícil agir normalmente perto dela. Ele sentia uma vontade incontrolável de tocá-la, todas as vezes que estavam no mesmo ambiente. Queria beijá-la, sabendo que a sensação de ter os lábios dela nos dele seria maravilhosa. Queria abraçá-la e nunca mais soltar. E desde o incidente do dia anterior, os sentimentos vinham com uma intensidade ainda maior.

Eles não haviam sequer mencionado o ocorrido da noite anterior. Mas fato é fato: estava cada vez mais difícil se controlar perto dela. E dormir novamente com ela, quando ambos haviam prometido continuar amigos e não deixar o casamento mal pensado afetar o relacionamento deles, não ajudava em nada.

Draco chacoalhou a cabeça, tentando afastar os pensamentos que vinham perturbando sua mente desde o dia em que acordou em Las Vegas com Hermione na cama, nua e ao seu lado.

Levantou-se e caminhou até a sala, pegando seu celular em cima da mesinha de centro e ligando para Harry. Aguardou alguns segundos e finalmente a voz familiar do amigo tomou conta da linha.

– Alô?

– Harry? É o Draco. – Falou.

– E aí, cara? Tudo certo? – Harry perguntou, animado. Draco confirmou com a cabeça, e depois se deu conta de que Harry não podia vê-lo, então apressou-se e respondeu ao amigo. – Então, a que devo a honra da sua ligação? Você meio que nunca liga pra ninguém, a não ser a Mione.

Ele soltou um risinho, concordando mentalmente com o amigo. Odiava conversar por telefone, e a única exceção à regra era Mione. Com ela, ele não se importava em perder um dia inteiro com o aparelho colado na orelha.

– A Mione saiu com a sua namorada, e me deixou abandonado sozinho aqui em casa. Achei que seria uma boa ideia chamar você pra vir aqui. Ficar sozinho nessa casa gigante é um pouco estranho. – Falou, e Harry concordou com um murmúrio.

– Ótima ideia. Ficar em casa largado sabendo que minha namorada está lá se divertindo não estava realmente nos planos. – Falou, e Draco riu. – Preciso levar algo?

– Não... Quer dizer, se você quiser pegar pizza no caminho, seria ótimo. Até tem comida aqui, mas eu teria que cozinhar, e estou com preguiça. – Falou, e Harry concordou.

– Certo. Daqui meia hora estou aí. – Harry falou, já desligando o telefone.

Draco colocou o celular novamente na mesinha e respirou fundo, levantando-se novamente do sofá e caminhando em direção às escadas, pronto para trocar de roupa e jogar pelo menos uma água no rosto, já que estava do mesmo jeito desde a hora em que havia acordado.

Colocou uma calça jeans e uma camisa de gola V simples, visto que iam apenas ficar em casa, e que não precisava de fato se arrumar para uma visita de Harry, que sempre foi como um irmão para ele e já era de casa. Voltou para a sala e ligou a TV novamente, em um canal qualquer de séries, enquanto esperava o melhor amigo chegar. Ele realmente precisava conversar com alguém sobre tudo aquilo o que estava acontecendo, e se tinha alguém que sabia de tudo, e que entenderia tudo, esse alguém era Potter.

*

Não demorou quase nada e Harry já estava na porta de Draco, com três caixas de pizza nas mãos. Draco ergueu as sobrancelhas ao abrir a porta e dar de cara com seu melhor amigo praticamente com a cara escondida atrás das caixas.

– Eu estava realmente com fome, mas não acha três caixas de pizza meio que um exagero? – Perguntou o loiro. Harry ignorou a pergunta, entrando e deixando as caixas no aparador ao lado da porta.

– Lembre-se de que eu vou comer também, e que eu consigo comer uma caixa sozinho. – Ele falou, e Draco concordou e fechou a porta, apontando para a cozinha e guiando o amigo para lá. Harry pegou as caixas novamente e seguiu o loiro para lá, logo depois deixando as caixas em cima do balcão, enquanto Draco tirava suco da geladeira e pegava dois copos.

– Sorry mate, mas hoje só vai rolar suco. Prometi a mim mesmo que não colocaria uma gota de álcool na boca desde o acidente em Vegas. – Falou ele, e Harry apenas concordou, enquanto abria uma das caixas e retirava uma fatia, já começando a comer.

– Tudo bem, não estou bebendo mesmo. Gina cismou que o álcool estava deixando o pai dela com a barriga flácida, e aparentemente não queria que o mesmo acontecesse comigo. Então ela simplesmente me obrigou a cortar bebidas alcoólicas. E quem sou eu pra discutir com Gina Weasley, certo? – Ele falou entre mordidas, enquanto Draco se aproximava e sentava na outra banqueta, colocando um copo cheio de suco na frente dele e logo depois bebericando seu próprio suco.

– Gina está certa. Você com barriga flácida não ficaria nada atraente. – Falou, e Harry riu. Draco pegou uma fatia de pizza e começou a comer também.

– Agora que já estou aqui, e você já está sendo alimentado, pode me contar o que é que está te deixando inquieto ao ponto de ter me ligado. Tipo, não que eu ache estranho você me chamar pra vir aqui, claro que não, mas você ligou no meu celular cara. É pra ficar preocupado, já que você simplesmente não usa celular, a não ser para mandar mensagens. – Ele falou, e Draco suspirou. Claro que Harry ia sacar de cara que ele precisava de alguém pra conversar.

– É a Mione. – Falou, sem rodeios, e Harry revirou os olhos.

– Como se já não fosse óbvio. O que aconteceu dessa vez? – Perguntou, e o loiro colocou a pizza sobre um guardanapo no balcão e começou a falar.

Explicou detalhadamente tudo o que havia acontecido entre eles, desde Vegas até o dia anterior, deixando clara a confusão que se formava em sua mente. Ao fim de todo o seu discurso, Harry apenas olhou para ele como se já soubesse que isso ia acontecer.

– Eu sempre te falei que essa de ser só o melhor amigo não ia funcionar pro resto da sua vida, não falei? – Harry perguntou, enquanto Draco voltava a comer, mas prestava atenção total em seu amigo.

O loiro confirmou com a cabeça.

– Você fala até hoje. Só nunca achei que ia chegar a um extremo desses. – Falou. – Digo, eu estou casado com ela. Estou morando na mesma casa que ela. As coisas estão um pouco loucas agora. Realmente não sei se vou conseguir manter meu controle com ela sempre tão perto. Ou melhor, não sei se vou conseguir me manter afastado e manter o relacionamento estritamente platônico de sempre depois de ter provado do fruto proibido.

Harry fez uma cara entediada.

– Draco, seu idiota, é claro que você não vai conseguir manter essa fachada de melhor amigo perfeito sem sentimentos. Você vai começar a dar muito na cara daqui pra frente. Sério mesmo, se antes eu já achava que você dava na cara...

Draco gemeu em frustração.

– Obrigada pelo apoio e pela bela solução que você me ofereceu Harry, você é um amigo muito prestativo. – Falou, escondendo a cabeça entre as mãos.

– O que eu estou querendo dizer é: você tá apaixonado pela Mione. Você é apaixonado por ela desde... Bom, desde sempre. Mas nunca foi homem o suficiente pra admitir e deixou ela ficar com o Ron. – Ele falou, e Draco nem se mexeu, apenas continuou com a cabeça escondida. – Mas eu acho que já tá na hora de você admitir. Até por que você tem uma oportunidade absurda na sua frente, e ta querendo deixar passar. Se vocês já transaram duas vezes, foi porque vocês dois quiseram. Então ela tem que sentir algo por você que vai além da amizade. Simplesmente não faz sentido ela deixar chegar a um ponto desses.

Foi a vez de Draco revirar os olhos.

– É simplesmente impossível Hermione gostar de mim mais do que como melhor amigo. Tenho certeza de que ela me vê como um irmão. – Falou. Harry deu um sorriso malicioso.

– Irmãos não fazem o que vocês fizeram noite passada, te garanto. – Falou, e Draco ficou roxo de vergonha. – Sério Draco, eu acho que existem grandes chances de ela gostar de você. Ou de ela começar a gostar de você pelo menos.

Draco encarou o amigo, ponderando o que ele havia acabado de dizer. Realmente fazia sentido pensar que Mione pudesse sentir algo por ele, pelo simples fato de que ela realmente não teria dormido com ele assim, por nada.

Draco realmente queria acreditar nas possibilidades que Harry estava colocando em sua frente. Mas ao mesmo tempo, morria de medo de simplesmente estar criando expectativas atoa. No fundo, Draco tinha medo de se abrir com Hermione e terminar de coração partido, e o pior de tudo, sem sua melhor amiga.

Ele olhou para o melhor amigo, repassando toda a conversa em sua mente novamente, e pensando no leque de possibilidades que tinha diante dele. Podia continuar negando, escondendo o sentimento, ou podia simplesmente se abrir com Hermione, tentar conquistá-la.

– E se eu ferrar tudo? E se eu me abrir com ela e ela não retribuir? – Perguntou, a cabeça transbordando pensamentos e possíveis cenários do que aconteceria.

Harry olhou para o amigo, dando um sorrisinho e um tapinha em seu ombro.

– Isso Draco, você só vai descobrir se tentar. – Falou.

E em vez de ajudar, aquilo só atrapalhou ainda mais a cabeça do loiro. Devia se abrir e correr o risco, ou devia viver na sombra de seu sentimento pro resto da vida? Devia arriscar e ver o que poderia acontecer, ou devia passar o resto da vida ponderando o que teria acontecido se tivesse se aberto com a melhor amiga?

– Droga de sentimento. – Gemeu, enquanto encostava os braços no balcão e enterrava a cabeça entre eles. A última coisa que registrou naquele momento foi a risada de Harry, antes de se entregar a teorias e pensamentos sobre o que deveria fazer em seguida.