Charlotte finalmente abriu a porta da casa depois de inúmeros toques na campainha.

Georgina e Carol estavam do lado de fora, não muito felizes.

-Demorou demais!- falou Georgina.

-Me desculpe, eu estava no banho- disse a garota dando espaço para que as duas amigas pudessem entrar.

-Sua mãe, Josh e seus avôs já saíram?- perguntou Carol se jogando no sofá.

Charlie apenas concordou com a cabeça.

Já fazia pelo menos vinte minutos que todos haviam deixado a casa, seus avôs foram para o clube de idoso, já Josh e sua mãe tinham ido para algum encontro de casais do outro lado da cidade. Ela deveria ficar em casa cuidando da sua meia-irmã Emma, juntamente com as amigas.

-Quais são os nossos planos?- Georgina mudava de canal constantemente, tentando parar em algo que prestasse.

-Primeiro, vamos esperar por Sophie e Olivia, depois, não faço a mínima ideia.

-Georgina!- Carol gritou fazendo com que a amiga parasse de mudar os canais- Volta pro outro, dava passando One Tree Hill.

-Eu não vou assistir isso- replicou a outra- Essa série não presta.

Carol fez cara de ofendida e logo em seguida pulou em cima da garota. Charlie deixou as duas se matando pelo controle em cima do sofá e foi atender a porta.

-Tcharam!- Olivia mostrou a enorme pilha de DVDs que estava segurando nos braços. Ao seu lado, Sophie estava carregando inúmeras revistas.

-Hoje à noite teremos a noite das garotas- disse já entrando na casa. Ao ver as duas meninas brigando no sofá, ela se virou para Charlie- Qual o problema?

-Carol quer assistir One Tree Hill e Georgina não quer- explicou Charlie.

-Qual é, Georgina!- Olivia disse largando tudo no chão.

Depois de um tempo, não eram duas, e sim três brigando pela posse do controle.

***

-Viu? Até que não foi tão ruim- Carol tentava amenizar a raiva de Georgina, que fora obrigada a assistir dois episódios seguidos da série.

Georgina continuou calada.

-O que nós vamos assistir agora?- perguntou Sophie.

-Infelizmente, é a Georgina que escolhe- disse Olivia-Provavelmente iremos assistir à algum filme de terror sangrento e sem graça.

Georgina não revidou a brincadeira, apenas passou a olhar os DVDs que a outra trouxera.

-Emma dormiu?- Carol perguntou assim que Charlie chegou à sala.

Já se passava um pouco mais das sete horas da noite, e lá fora o céu estava escuro. Não devido ao horário, nessa época do ano o sol se punha tarde, mas pelo fato de inúmeras nuvens pesadas cobrirem o céu. Iria chover essa noite, e provavelmente seria uma chuva daquelas.

Charlie se sentou no sofá no meio de Olivia e Carol. Georgina estava numa poltrona ao lado direito e Sophie estava jogada no tapete.

-Vocês já pediram as pizzas?- perguntou

-Uma para cada uma de nós, algum problema?

Charlie deu de ombros, não era ela quem ia pagar mesmo.

-Então Charlie, -começou Carol- você nem viu Olivia e James se agarrando ontem.

A menina concordou. Ela deve que sair antes de anunciarem a banda vencedora porque sua mãe dissera que precisava dela em casa urgente. No final das contas, nem era algo tão urgente assim, mas Charlie deve preguiça de voltar, aliás ela já sabia que quem tinha ganhado era o One Direction: Georgina fizera questão de mandar uma mensagem avisando.

-Ainda bem, porque foi um negócio nojento- Carol fez cara de nojo.

Sophie e Charlie começaram a rir enquanto Olivia ficava emburrada. James não era o cara perfeito, mas ele era incrivelmente bonito. Além do mais, Olivia não estava saindo com ninguém, porque não aproveitar a chance?

-Eu já sei o que vamos assistir- Georgina falou fazendo com que todas se calassem- Maratona Toy Story!

-Graças- e Olivia levantou as mãos para o céu- Ela escolheu sabiamente pelo menos uma vez na vida.

Antes que algo acontecesse, Charlie se enviou no meio das duas.

***

Charlie tinha acabado de fechar a porta quando a campainha tocou novamente.

-Não aperte o play ainda- a menina gritou para sala indo em direção a porta, pensando que o entregador de pizza tivesse esquecido alguma coisa.

-O que vocês estão fazendo aqui?- perguntou assim que se deparou com Niall, Louis, Zayn, Liam e Harry em frente à porta.

-Nós viemos ver como vocês estão?- Harry sorriu.

-Nós estamos bem, obrigado.

Charlie começou o movimento de fechar a porta, mas Harry a segurou impedindo que a garota continuasse com aquilo.

-Nós estamos aqui porque sua mãe pediu para que cuidassemos de vocês e evitasse que algo acontecesse- Harry falou com a mão na porta.

-E o que poderia acontecer?

-Sei lá!- Louis deu de ombros- Talvez ela achasse que cinco meninas, mais um bebê, sozinho numa casa não seria muito seguro.

-E com vocês aqui seria?

-É lógico!- os cincos responderam praticamente ao mesmo tempo.

Contrariada, Charlie liberou a passagem para que eles pudessem entrar.

Harry fora o último a passar, e estava com um enorme sorriso de satisfação no rosto. Mal sabia a garota que ele tinha inventado essa história toda.

-Olá, meninas!- Niall falou sorridente.

As garotas olharam confusas.

-Toy Story!- Liam disse se sentando no sofá ao lado de Olivia- É meu filme favorito!

-Não, não é!- Olivia replicou enraivecida. Era um dos filmes preferidos dela também.

-Charlie, o que eles estão fazendo aqui?- Georgina perguntou enquanto Zayn sentava no braço de sua poltrona.

Louis e Niall ficaram pelo chão, enquanto que Liam já ocupava o lugar de Charlie no sofá. Harry estava na outra poltrona em frente à Georgina e Zayn.

-Nós estamos seguindo ordens da mãe de Charlie- respondeu Louis- Falando nisso, se não for pedir muito, vocês poderiam trazer as pizzas para cá.

-É pedir muito!- Olivia e Georgina gritaram juntas.

-Ok, eu mesmo pego então.

Quando Louis se levantou, Charlie se aproveitou para pegar o seu lugar. Se não tinha alternativas, o melhor era aceitar a situação. Mesmo que a menina não acreditasse muito naquela história toda.

***

-Agora, vamos assistir o segundo- falou Niall.

-Oh, isso vocês não vão fazer- disse Olivia tomando o controle da mão do garoto e desligando o aparelho.

O primeiro filme tinha acabado naquele instante, juntamente com o último pedaço de pizza que Zayn tinha feito o favor de devorar. Pela sala, só as caixas das pizzas apareciam espalhadas por todo canto, junto com vários copos de refrigerantes, vazios ou pela metade. Lá fora, uma chuva havia começado há uns quinze minutos, ficando forte desde então. Nesse instante, o céu estava praticamente desabando.

-E o que nós vamos fazer agora?- perguntou Liam.

-Vocês vão sair daqui- respondeu Georgina.

-O quê?-Louis se levantou rapidamente- Debaixo dessa chuva? Nem pensar! Eu vou ficar doente desse jeito.

-É até a casa vizinha- falou Carol- Não é como se vocês fossem passar meia hora debaixo da chuva.

-De jeito nenhum- Niall se esticou ainda mais no tapete. Todos eles pareciam com cara de que não iriam sair dali nunca mais.

-Qual é o problema deles ficarem?- perguntou Sophie.

-Porque eles não são bem vindos!- Olivia estava furiosa.

-Ah, não é para tanto- disse Liam.

-Não é?

E uma confusão generalizada começou.

Olivia brigava com Liam, ao mesmo tempo em que tentava puxá-lo do sofá, sem sucesso. Georgina empurrou Zayn do braço da poltrona e o garoto caiu no chão surpreso. Ela havia desejado isso à noite toda.

Carol tentou levantar Louis, mas o menino se fingia de morto. Charlie pegou os braços de Niall, enquanto que Sophie segurava as pernas, tentando carregá-lo para fora. Mas ela queria que ele fosse embora e Sophie, que ele ficasse dificultando todo o processo sem que conseguissem sair do lugar. Além disso, Harry ficava jogando almofadas em todo mundo, já que ninguém quis se ocupar dele.

De repente, tudo ficou branco quando um raio cortou o céu. Logo em seguida, um estrondo forte foi sentido, era um trovão. Todos pararam por um momento, mas como nada ocorreu em seguida, eles continuaram com tudo.

-Viram! Isso foi um sinal para vocês irem embora- Olivia disse se referindo ao trovão.

-Não, isso foi um sinal de que a chuva ficou mais forte e de que não temos condições de voltar para a casa- disse Harry.

Olivia iria dizer alguma coisa, assim como Georgina, mas um novo raio atrapalhou tudo.

A casa clareou novamente e segundos depois ficou escura. O trovão veio sem que a escuridão fosse embora.

-Ótimo!- gritou Olivia, soltando inúmeros palavrões em seguida.

-Nossa! Não sabia que você tinha a boca suja- disse Liam entre risos.

-Cala boca, Payne!

-O que aconteceu?- perguntou Niall

-Não é óbvio? Faltou luz- Georgina pegou o celular e iluminou a todos- Charlie, onde tem velas por aqui?

Mas a menina não respondeu. Emma começou a chorar, ela havia acordado.

-Em alguma gaveta na cozinha- ela gritou enquanto subia as escadas.

-Então vamos procurá-las- e Georgina seguiu em direção à cozinha.

Todos a seguiram, exceto por Niall, Sophie e Harry.

***

-Vamos, Emma- Charlie falava enquanto balança a criança no colo tentando fazê-la dormir, mas a menina parecia não se importar com nada e continuava a chorar.

-Pelo visto você não tem jeito com crianças- falou Harry parado na porta.

-E você tem?

-Me dê ela.

E o menino se aproximou de Charlie, passando seus braços por baixo dos delas e segurando a criança.

-Ela continua a chorar- Charlie o lembrou depois de alguns instantes que Harry a havia pegado.

Harry não disse nada, invés disso começou a cantar.

-Isn’t she lovely? Isn’t she wonderful? Isn’t she precious? Less than one minute old. I never thought through love we’d be. Making one as lovely as she. But isn’t she lovely made from love.

-Ok, você é bom nisso- admitiu Charlie assim que Emma parou de chorar.

-Isso é um elogio?- Harry perguntou com um sorriso.

-Existem coisas que não podemos negar, como o fato de você ter uma boa voz.

Charlie se sentou no pequeno armário de frente ao berço, ao seu lado, o abajur continuava acesso. A mãe dela, sempre prevenida, preferiu comprar um que fosse a base de pilhas, o que nesse momento, o fazia ser a única luz em toda a casa.

-Como eu não percebi isso?

-Isso o quê?- Harry continuava a ninar Emma.

-Que você sabia cantar.

-Você sabia- Harry tirou os olhos da criança e olhou para Charlie-Você disse que tinha talento quando eu cantei uma música no casamento da sua mãe com Josh.

-Eu disse- Charlie parecia surpresa.

-Disse. Estávamos dançando, ou tentando dançar, e você olhou para mim e falou : “Você deveria tentar uma carreira profissional no ramo da música, você tem capacidade para isso”. Eu respondi dizendo que não fazia sentido. Foi quando você falou: “E quando for famoso, faça o favor de nunca se esquecer de mim”.

-Nós tínhamos quatorze anos, Harry- Charlie estava um pouco vermelha por ter percebido que ele havia lembrado exatamente de tudo.

-É- Harry colocou Emma no berço e se voltou em direção à garota-Mas se eu soubesse naquela época que eu me sentiria assim, nunca teria deixado você ir um ano depois.

Charlie o olhou assustada.

Em seus olhos, Harry conseguia ver muito além do espanto. Era um olhar novo, diferente daqueles que ela diariamente reservava para ele ou para qualquer pessoa. Ele poderia jurar que ninguém mais viu ou veria algo assim.

Harry não saberia dizer o que era, mas tinha alguma coisa nos olhos verdes de Charlie que o deixou hipnotizado. Ela estava bem ali, ele deveria aproveitar essa chance.

Charlie viu Harry se aproximar devagar. À medida que ele avançava seu coração acelerava. O que estava acontecendo? O que ele estava planejando?

Harry chegou perto o suficiente para colocar as mãos dele na cintura dela. O armário não era muito alto, por isso Charlie e ele se encontravam na mesma altura.

Cada um dava para sentir a respiração do outro, e Charlie particularmente conseguia sentir o cheiro do perfume do garoto. Era um cheiro doce, e completamente irresistível. A menina não conseguia raciocinar direito.

Porém, Harry parou de avançar por um tempo, o que permitiu com que a garota voltasse a normalizar seus sentidos. Quando o menino recomeçou, Charlie já havia colocado a mão na cara dele, tapando sua boca.

-Eu ainda te amo, Harry- ela falou olhando diretamente para os olhos do garoto- Mas, eu não serei uma idiota novamente.

Ela desceu do armário, fazendo com que o menino parasse de segurar sua cintura. Sem disser nada, ela saiu. Deixando no quarto um Harry muito confuso.

***

-Olivia! Pare de pegar na minha bunda!- Carol gritou na completa escuridão.

-Mas eu não estou nem sequer perto de ti- Olivia replicou. Realmente, a voz dela pareceu ter vindo de um lugar bem distante.

Alguém, ao lado de Carol, começou a sorrir.

-Tomlinson!

-Eu pensei que era do Zayn.

Carol deu um murro no braço dele.

-Querem parar com isso- Georgina acendeu o celular novamente. Ela tinha diminuído a quantidade de vezes que fazia isso, com medo de que a bateria do celular acabasse antes de conseguirem achar alguma vela- Cadê Niall e Sophie?

No mesmo instante, os dois apareceram, ou fizeram barulho suficiente para que pudessem deduzir que eles haviam chegado, na porta. Georgina colocou a luz do celular na cara deles.

-Por onde vocês andavam?

-Procurando velas- respondeu Niall.

-Mas Charlie falou que elas estavam na cozinha!

-Pois ela se enganou- falou Sophie- Estavam na sala.

E os dois levantaram as mãos mostrando um par de velas cada um.

Georgina os encarou o máximo que pode com aquela luz fraca. O cabelo de Sophie estava mais bagunçado do que o esperado, além do mais a respiração dois estava ofegante. Seus lábios também estavam vermelhos.

-Estou de olho em vocês dois- ela disse tomando as velas.

-Acharam?- perguntou Charlie se esbarrando nas costas de Niall.

-Sim- respondeu Georgina- Mas elas estavam na sala, e não na cozinha.

-Eu falei cozinha?- Charlie esfregava o braço. O impacto com Niall fora um pouco forte- Desculpa, eu quis dizer sala.

Harry apareceu um pouco depois, também se esbarrando em Niall.

-Agora, já foi- Georgina pegou a caixa de fósforos.

Com um deles acesso, a menina estava a ponto de acender a velas quando tudo voltou a clarear novamente.

-O que vocês estão fazendo?-Lauren perguntou.

Ela, Josh e os avôs de Charlie estavam na entrada da cozinha encarando a cena toda. Niguém se mexeu.

-Porque estão acendendo uma vela?- foi a vez de Josh perguntar

-Porque tinha faltado luz- respondeu Charlie.

-Não, não tinha.  Um raio atingiu um poste aqui perto, mas não queimou nada. O sistema se auto desligou antes que alguma coisa pegasse fogo. É uma medida de segurança, não tem luz por uns vinte e cinco segundos, depois disso, o sistema já se restabelece e a luz já volta.- E Josh mostrou os aparelhos que permaneciam ligados- Essa era a única casa completamente escura da rua.

Os jovens se encararam espantados.

-Depois são os velhos que não entendem de tecnologia- o avô de Charlie comentou.

-Aliás, o que vocês estão fazendo aqui- e Lauren apontou para os meninos.

-Não foi a senhora que mandou eles virem até aqui?- perguntou Charlie.

-Não!

-Boa noite, todo mundo- Louis começou a falar- Está na hora da gente ir.

E os meninos começaram a se mover.

-Mas continua chovendo- alertou Lauren

-Ora, a casa do Harry é aqui do lado- disse Niall com um sorriso.

-Afinal, até parece que vamos passar meia hora na chuva- falou Harry.

E os cinco meninos saíram da casa antes que alguém pudesse falar alguma coisa.

-Eu não acredito nisso- Carol falou enquanto encarava Charlie.

Ela também não estava acreditando.