PERCY

Eu estava confiante, aquilo que eu estava passando não era nada comparado as coisas que eu já fiz. Certo?

Errado.

Tudo começou com os olhares que Quione mandava para mim. Annabeth pareceu não perceber, mas eu fiquei um pouco nervoso. Ela me olhava como se estivesse com fome, coisa que no momento eu estava.

Depois, a caverna. Eu me sentia totalmente impotente naquele lugar. Não sentia nenhuma passagem de água, o que dificultava. Sem contar que ali estava tão frio quanto lá fora. As paredes da caverna estavam cobertas com gelo, e parecia que uma voz ecoava naquele lugar. Sentia uma aura de poder ali, como se eu estivesse a ponto de pular no tártaro. E acredite, eu sei como é essa sensação.

Annabeth apertava minha mão com força, assim como Piper fazia com Jason e estranhamente, Reyna com Leo. OK, todos agora estavam no auge da insanidade.

Quione fez sinal para que nós parássemos. A caverna tinha uma passagem na parede, que foi se abrindo. Assim que o fez, o terror se espalhou por meu rosto. Haviam duas mesas de pedra, uma com uma mulher que eu tinha a sensação que já conhecia e a outra, com Nico. No meio, com um sorriso enorme, uma linda e perigosa mulher tinha um sorriso enorme. Seus olhos irradiavam um brilho púrpura, e ela vestia um vestido negro longo contrastando com seu cabelo preto ondulado até a cintura. Hécate.

– Olá, heróis. Eu estava ansiosa por sua chegada. – A deusa disse com a voz doce, mas grave. Alguma coisa me dizia que aquilo não estava certo.

– Você... Você esta enfeitiçada! Gaia esta te usando! – Annabeth esganiçou. Eu apertei a mão dela mais forte, como um sinal para ela não nos meter em mais problemas.

– Eu? A deusa dos feitiços, enfeitiçada? – Hécate deu uma risada sombria. – Para uma filha de Atena você tem sérios problemas de dedução, minha querida.

– O que você quer de nós? – Jason perguntou.

– Simples, meu doce. Os sete meio sangues mais poderosos do século, dois filhos da morte, um grego e um romano. Suficiente para dominar o mundo inferior. Aqui, dois filhos de Zeus e um de Poseidon. Fora isso, o poder que esses outros podem dar a Gaia serão o suficiente para despertá-la. Achei ótimo que vocês trouxeram esses semideuses a mais. A senhora ficará satisfeita.

– Quem está ao lado de Nico? – Hazel perguntou, com a voz embargada.

– Minha querida filha Circe. Ela ressurgiu no meio dos meus planos, e eu fui obrigada a lançar-lhe um feitiço. Agora, ela faz tudo que eu quero.

Eu sabia. Sabia que conhecia aquela mulher. Circe, a feiticeira que me transformou em um porquinho da índia a alguns anos atrás. Olhei para Reyna, que tinha os olhos cheios de água. Circe cuidara dela e de sua irmã quando pequenas, lhe dando uma casa par morar. Não me surpreende que ela esteja tão emotiva.

– Bom, vamos acabar logo com isso? – Quione perguntou convidativamente.

– Claro, rainha do gelo. Mas antes, explique a esses semideuses o que terá de ser feito. Enquanto isso eu cuido desses dois. O que seria dessa guerra sem eles?

– Sim senhora. – Quione disse meio azeda. – Então, heróis. O sangue de cada um dos sete deve ser derramado nessas mesas de pedra. Vai ser rápido, prometo... Gaia irá se levantar, e assim, todos vocês morrerão. Valdez, eu faço questão que você seja o primeiro. Venha até aqui e eu darei uma simples demonstração.

– Seu convite é muito agradável, mas não. Obrigado. – Leo falou.

– Acha que eu estou brincando, Valdez? – Quione rosnou.

Atrás de Quione, Hécate trabalhava. Nico se mexeu, o que me deixou mais aliviado. Circe se levantou como se estivesse hipnotizada. E, de fato, estava.

– Quione, querida, vamos deixar que Circe faça por nós. Por que não? Derrubemos o sangue desse semideus filho de Hades também. – Hécate disse.

– O sangue dele já foi derramado, foi assim que abrimos as portas. – Quione falou como se fosse o óbvio.

– Que nós fechamos. Os dois lados. – Leo disse. Hécate e Quione olharam para ele de olhos arregalados.

– NÃO! – Hécate rugiu, tirando sua mascara de calma. – Chega. Circe, mate-o. Derrube seu sangue. Leo Valdez será o primeiro.

Circe assentiu com a cabeça, andando em nossa direção. Quione passou para o lado da deusa, sussurrando algo que provavelmente a deixou preocupada. As duas retiraram Nico da mesa, jogando-o no chão. Senti Hazel endurecer atrás de mim, mas ela não fez nada, enquanto Circe agarrava o pulso de Leo, que pegou fogo.

– Acha que o fogo vai incomodar? Valdez, nós nos preparamos para tudo. Sua hora chegou querido. – Quione disse.

Leo arregalou os olhos, e Reyna gritou.

– Não! – Ela disse empunhando sua faca. – Não vai matar ele! Não vai matar ninguém aqui!

Foi a vez de Circe rir.

– Reyna... Tão pequena. Tão indecisa... Não pode me impedir... – Ela disse, vidrada.

– Eu não sou mais aquela garota. – Reyna disse, puxando Leo.

– Solte-o. Os homens são infiéis. Você sabe. Percy Jackson provou isto para você, e ele será o segundo a morrer. – Circe começou a arrastar Leo para o meio da sala. Eu tentei segurá-lo, mas Quione nos prendeu com algemas de gelo. Reyna se debatia inutilmente.

– Você... Você é fraca! Foi enfeitiçada, tanto por feitiços quanto por meras palavras! Você não conhece o mundo, Circe. Vive apenas de sua imaginação. Não é real – Reyna cuspia as palavras. Circe a olhou com desprezo, e um ódio evidente em seus olhos.

– Você acha que eu sou fraca!? Eu te dei um lar, garota, quando você mais precisava. Veja esse garoto morrer. Ou, melhor, porque você não corre nos braços de sua irmã? Ela pelo menos é digna. – Circe disse, erguendo uma adaga para Leo. Ele olhava para nós como se pedisse ajuda. – Vai, corra para Hylla.

– Hylla está morta. – Reyna disse, friamente.

Naquele momento, Circe pareceu ter despertado. O brilho anormal de seus olhos desapareceu, e a faca caiu de sua mão.

– O que está fazendo, Circe? – Hécate rugiu. – Não seja tola! Mate o garoto. Eu ordeno.

Circe largou a mão de Leo e foi até Reyna.

– Hylla está...?

– Sim. Enquanto você ajudava Gaia, Hylla morreu tentando combatê-la.

Circe saiu totalmente de seu transe, virando-se lentamente para Quione e Hécate. Leo foi para nosso lado também.

– Hécate está enfeitiçada. – Ela disse.

– Não seja estúpida. – Quione disse nervosa. – Quer saber, já chega. Se você não vai fazer, eu mesma farei.

– Não mesmo. – Falou Circe.

Circe estalou os dedos e as velas que mantinham a luz na caverna foram apagadas. Senti que as algemas também soltaram meus braços, me deixando livre. Peguei contracorrente e me preparei.

– Em qualquer momento... – Circe sussurrou.

Hécate acendeu as luzes, seus olhos mais brilhantes do que nunca. Leo virou fogo ao meu lado, enquanto eu e Annabeth partimos para a deusa junto com Jason, Piper e Luke. Leo, Reyna, Thalia, Frank e Calipso foram ao encontro de Quione.

Hécate lançava raios roxos para nós. Eu conseguia evitá-los com contracorrente, mas não sabia quanto tempo poderia aguentar. Piper tentava acertá-la com Katopris, junto com Annabeth. Luke e eu usávamos nossa habilidade com a espada, mas não estava dando muito certo. Leo parecia estar tendo mais resultados. Quione não conseguia convocar gelo com ele na sua forma de fogo, permitindo com que os outros consigam atacá-la.

Fui empurrado para longe, batendo a cabeça em uma das mesas de pedra. Hécate estava fora de si. Como Gaia estava possuindo ela?

Annabeth correu para o meu lado, deixando a batalha.

– Você está bem? – Ela perguntou.

– Sim... Como vamos derrota-las?

– Não sei... Elas são deusas. Não imagino como isso poderá ser feito.

Nico estava no chão, com Hazel cuidando dele. Me arrastei, tentando chegar até ele, e Annie me ajudou.

– Como ele está? – Annabeth perguntou para Hazel, esperançosa.

– Se recuperando. As forças de Gaia são muito poderosas aqui em baixo. O subterrâneo... Eu consigo controlá-lo. Mas essa também é uma área de Gaia. É como se eu tivesse lutando contra ela... De novo. – Hazel disse, triste.

– Hazel, você pode derrubar isto? – Annabeth perguntou.

– Provavelmente. – Ela respondeu. – Mas seria muito arriscado.

Annabeth olhou para mim.

– Precisamos de Circe. – Ela disse, segura. – Se Hazel derrubasse, ela poderia salvar a nós todos.

– E por que eu ajudaria vocês? – Circe apareceu atrás de nós, furiosa. – Vocês destruíram meu SPA. Se não tivessem feito isso, Hylla ainda estaria viva.

– E eu seria um porquinho da índia! – Falei. – Por favor, Circe. Tem que nos ajudar. Você não é uma má pessoa.

Circe pensou no assunto, decidindo. Deu um breve olhar para a guerra e suspirou.

– Certo. Reúna todos, e você, filha de Plutão, prepare-se. O sol está se pondo, de qualquer jeito. Hécate não vai conseguir o que quer, e Gaia não despertará. Mas precisamos sair antes que isso aconteça.

Olhei para Annabeth, pedindo para que ela avisasse os outros. Ela correu até os que brigavam com Quione e quase foi atingida por um raio que partiu. A caverna começou a tremer, como se Gaia estivesse sentindo o que aconteceria. Paredes rachavam.

– Rápido! – Hazel gritou. Os outros tentaram se afastar das duas deusas, mas estava impossível.

– Ajude-os! – Gritei para Circe. Ela me lançou um olhar de desprezo.

– Já estou fazendo demais, Jackson.

– Sua mãe a enganou, e vai levar todos nós para a morte! – Implorei. – Nos ajude. Por favor.

Ela finalmente pensar no assunto, e levantou-se.

– Então eu irei enfrentá-la. – Ela disse, segura.

Ah, ótimo. Agora a filha irá enfrentar a mãe que por acaso é uma deusa e está possuída por Gaia. Boa, Percy.

– Hécate. Enfrente a mim, mãe. Não pode me possuir assim e sair ilesa. – Circe falou em alto tom.

– Tola. – Hécate riu, afastando um golpe de Luke com a mão. – Não pode me enfrentar. Você irá morrer novamente, e eu não estarei lá para te ajudar.

– Gaia te possuiu. Não vê? A força que ela tem. Sabe o que vai acontecer. Se ela conseguir o sangue dos sete, ressurgirá. Mas se você continuar possuída por ela até o pôr do sol, ela também poderá voltar.

– O que!? – Exclamou Leo. – Mas não se trata de nós?

– Sim, semideus, mas minha mãe é uma deusa. Seu poder não é tão forte quanto o dos sete juntos, mas é capaz de trazê-la de volta.

– Se é o que você quer, é o que você terá. – Hécate disse. – Isso vai ser rápido, heróis. Quione, por favor, fique assistindo. Caso eles ataquem, mate.

Quione obedeceu de mal gosto e foi para o nosso lado. Nos arrumamos, assistindo. Achei que aquela guerra seria nossa, mas nós estávamos apenas assistindo. Não que eu estivesse reclamando.

Hécate colocou-se na frente de Circe com um olhar debochado. Um vulto negro ergue-se em torno da deusa, que tinha chamas arroxeadas em suas mãos.

– Clichê, mamãe. – Circe riu. Um vulto também ergueu em sua volta, mas de cor azul. E eu senti qual elemento ela estava chamando.

Água.

Seria aquele um sinal? Ou eu deveria ficar apenas no meu canto? Olhei para Annabeth em busca de resposta, e ela me encarava. Seus lábios desenharam a palavra “faça”. Quando for o momento certo, então.

Hécate atacou, lançando as chamas para Circe. Circe lançou a água mais pura para combatê-la, mas não era o suficiente. Então eu entendi o que tinha que fazer.

Me concentrei o máximo possível, encontrando forças em um lugar muito oculto de mim. As águas de Circe ficaram mais poderosas, exalando um brilho na caverna. Eu invocava cada vez mais, e uma ruga de preocupação se formou na testa de Hécate.

– O que...? Quione! – Ela chamou.

Quione correu até mim, com os braços transformados em gelo, e eu quase perdi minha concentração. Annabeth tentou detê-la com sua adaga, mas foi jogada para longe. Até que um flamejante Leo agarrou a deusa da neve, provocando um grito estrondoso de Quione.

– NÃO! O CALOR... NÃO! – Ela gritava. A caverna começou a tremer ainda mais.

Circe estava ganhando. Logo Hécate seria descartada. Mas a caverna ia desabar sobre nós.

– Hazel, agora! – Circe gritou. – Jason, ajude!

Uma rajada de vento perpassou sobre mim, tão forte que quase me levou para trás. A caverna tremia muito mais, e Hazel ergueu as mãos.

E assim, a caverna explodiu, sendo a ultima coisa que eu vi.