–Já não nos conhemos? Tenho certeza de que é a mais bela dama que conheço. - disse enquanto segurava a delicada mão.

Os cabelos castanhos estavam caindo levemente pela face enquanto a cabeça estava baixa fazendo uma leve reverência. Não sabia porque estava fazendo aquilo mas quando bateu os olhos na moça não pode se conter, tinha que tentar a sorte.

Não havia nenhuma memória, estava agindo apenas pelo próprio costume como se o corpo soubesse como agir diante daquela situação.

–É um convidado, não? - A moça perguntou olhando-o com certa incerteza nos olhos.

–Convidado? - ele repetiu agora confuso.

Edgar Von Cambel, o jovem convidado de 17 anos parecia bem extrovertido diante das moças que conhecia durante seu caminho.

Estava em um circo onde o espetáculo já havia começado mas como não estava interessado apenas observava as pessoas que assistiam, principalmente as jovens moças. Aquela a sua frente era uma que havia chamado sua atenção, a pele parecia macia, os olhos passavam confiança, altura média, cabelos castanho claro até os ombros e olhos verdes intensos. Estava encantado com a moça à sua frente mas sentia que algo estava errado, apenas gostava de sua aparência, não estava apaixonado.

–Estava perdido, não estava?

–Ah, sim. - respondeu soltando a mão da moça.

–Precisa de ajuda?

–Uhm... Se for de uma bela dama como você, eu aceito.

–Mas sabe que apenas vou te ajudar temporariamente, depois disso seu futuro estará nas mãos da Rainha.

–Não quero ficar dependendo de uma rainha. - lamentou - É, acho que vou encontrar meu próprio caminho sozinho. - disse enquanto andava para fora do lugar.

–Uhm... não tem como fugir, no final vai acabar nas mãos dela...

Quando saiu daquele lugar abafado, passou a mão pelos cabelos colocando-os para trás, desabotoou o primeiro botão da camisa e deixou um suspiro escapar pelos lábios logo depois. Seria um dia cansativo mas talvez com sorte terminaria com a compainha de uma bela dama e que de preferência não ficasse falando sobre a tal Rainha, por algum motivo aquilo o irritava, a ideia de ter que seguir o que alguem escolhe, preferia fazer aquilo sozinho, sabia que podia fazer suas próprias escolhas.

Quando não estava cercado de pessoas, conseguia parar para pensar um pouco e como as ruas estavam vazias, conseguia escutar os próprios pensamentos.

Se perguntava porque agia daquela maneira quando na verdade apenas gosta da aparência das garotas. Algo estava errado... Mas aquilo não importava muito, deveria parar de pensar nas garotas e começar a pensar como havia parado naquele lugar e porque não se lembrava de nada. Teria sofrido algum acidente?

–Eu nem mesmo sei sobre mim mesmo, não estou em posição de recusar ajudar... Deveria ter aceitado a ajuda daquela moça... - disse olhando para o circo - Aquele soco mais cedo daquela loira ainda está doendo... Qual era o nome dela mesmo?...

Estava pensando em várias coisas e se arrependendo de quase tudo, nem acreditava que era possível se arrepender tanto em apenas 2 horas. Tinha que aceitar os fatos, não iria durar muito tempo naquele lugar.

–Eu devo ser uma pessoa muito estranha mesmo...

Edgar resolveu procurar algum lugar para descançar, um banco não seria má ideia. Enquanto andava, viu um par de ratos passando por seu lado, curiosamente um deles tinha pelos brancos enquanto o outro pelos negros como se fossem opostos um do outro mas que se encaixavam perfeitamente alguma forma. Logo ambos pararam e por incrível que parecesse, aos olhos de Edgar, estavam conversando. Não pronunciavam uma única palavra mas apenas alguns pequenos grunidos e movimentos com as pequenas patas que denunciavam-os, estavam conversando em sua própria linguagem.

Chegou a conclusão de que estava louco, era impossível dois ratos demonstrarem algum tipo de linguagem daquela maneira mas ali estava bem na sua frente dois ratos fazendo o inimaginável.

–Ah... Eu desisto, tenho certeza de que fiz algo de errado... - disse ignorando os ratos - Preciso de ajuda...

–Sabia que logo iria mudar de ideia. - ouviu a voz da moça de antes - Como é um convidado eu tenho que ajudar se for necessário.

–Eu sabia que voltaria para mim. - disse confiante.

Ela ignorou o comentário e procurou por algo dentro da pequena bolsa que carregava consigo, retirou um frasco de vidro com algum líquido de cor avermelhada e entregou a Edgar.

–Aqui.

–O que é isso? Não é sangue, é?

–Claro que não! - respondeu indignada.

–Então o que é isso?

–Eu não quero estragar a surpresa...

–Eu não vou tomar isso.

–Uhm... Então apenas use quando quiser, eu não vou dizer.

–Então, pode me ajudar?

Ela olha para outra direção, não parecia que estava dando muita atenção à conversa mas Edgar não disse nada mesmo que percebesse.

–A Rainha estará reunindo todos os convidados logo, então não precisa se preocupar.

–O que faço enquanto isso?

–O que quiser.

–Aceita...

–Não, eu tenho trabalho a fazer. - disse interrompendo-o.

–Bem, eu tentei. - disse com um leve sorriso no rosto - Até algum dia. - disse enquanto se afastava da moça.

– Mas se quiser, posso levá-lo até à Rainha. - disse fazendo-o parar.

–Não obrigado, ela que venha me buscar.

–Como quiser, mas não acho que a Rainha irá gostar de um convidado tão orgulhoso, afinal a própria também é. Boa sorte e tome cuidado com as palavras.

–Sei perfeitamente o que usar em qualquer situação.

Sabia do que era capaz, podia realizar qualquer coisa e até muito melhor que qualquer pessoa. A Rainha não iria ganhar dele mesmo que aquele jogo lhe pertencesse.

–Na minha opinião, você é um convidado interessante mas não sei se vai durar muito tempo aqui, espero que consiga ficar o maior tempo possível e se tiver algum tempo livre, minha loja estará aberta.

–Então todas aquelas cantadas deram resultado?

–É claro que não, dinheiro sempre é bem vindo, sabe?

–Foi o que pensei. Sei que sou novo aqui mas não tolo.

–Tome cuidado, não é sempre que se ve uma pessoa tão diferente. - disse olhando para os lados - Afinal, ele já está aqui...

–"Ele"?...

Em alguns segundos sentiu uma pequena mordida na perna, quando olhou para o chão viu uma serpente se arrastando em direção a um garoto mas não conseguiu ver seu rosto a tempo, quando percebeu já havia caído no chão e não conseguia se mover. Via a serpente se afastar, uma mão vinha pegá-la acariciando a cabeça.

–Bom trabalho. - o garoto disse.

–Você... - parou de falar também, não conseguia mais pronunciar palavras.

O que estava acontecendo? Iria morrer naquele momento? Por que ninguém o ajudava?

Tantas perguntas se passavam pela cabeça de Edgar e todas sem respostas, seria aquele seu fim?...