Trunfo escrita por AnaCarol
Olhou para os dois lados, mas não havia mais ninguém na plataforma do metrô além dela e um menino desconhecido. Entrando no trem, seu celular começou a tocar. Anna levou a mão até o bolso da mala, mas o menino estendeu a mão e agarrou seu pulso no caminho.
–Don’t answer! – Ele se exaltou, gritando em inglês.
–Me solta! – Anna exclamou agitada, em português.
Relutante, o menino abaixou o braço, se acomodando no banco do lado da janela. De boca aberta e com seu celular tocando ao fundo, Anna ficou parada por alguns segundos no corredor, então desligando o aparelho e se sentando no lado da janela do banco de costas para o garoto.
“Pergunte o nome dele!” – Cochichou uma das vozes em sua mente, em modo imperativo. Anna ignorou-a.
O trem demorou a parar na estação em que ela queria descer.
Minutos depois ela estava na exposição de artes que queria ver. E o loiro também. A mente de Anna já se distraía, movendo seus olhos das pinturas até o garoto, que também a observava de longe. Começava a contar os segundos para a transformação do menino em uma coisa gosmenta verde ou em um homem alto e faminto de um olho só.
Antes que aquilo acontecesse, no meio do salão de entrada, duas mulheres a pararam.
–Cola aqui, garota!
–Eu não posso mesmo, estou atrasada pra um compromisso... – Obviamente era mentira.
Elas se olharam, Anna podia ver em seus olhos a raiva que sentiam. Ela começava a cerrar os dentes quando o menino correu até ela, sorrindo. Ele abriu os braços para um abraço, e, pensando rápido, Anna cooperou com seu próprio resgate.
–Rafael, que demora! – Ela exclamou, inventando seu nome. Abriu os braços de volta, mas a dupla de brutamontes não se enganou. Com os lábios retorcidos em algo parecido com um sorriso, a chefe acenou a cabeça.
Anna sentiu sua camiseta regata branca ser puxada com força para trás, levando seu corpo junto. Arregalou os olhos junto com o loiro e se debateu, erguida no ar. Seu calcanhar atingiu algo duro como metal onde deveria estar uma canela, e sua boca foi tampada por uma mão suja. Em sua mente uma voz masculina rugiu uma risada.
“Finalmente.”
Com uma cotovelada no estômago da capanga, Anna se livrou e correu para longe dos monstros. Fechou os punhos quando viu o menino desmantelando uma delas, que se aproximava. Pó dourado deslizou até o chão.
Ao seu redor, mais delas os cercavam e as outras pessoas andavam com sua pressa rotineira pela exposição, sem reparar em coisa alguma além das pinturas.
O menino loiro entrou em cena novamente enquanto ela corria ainda mais para longe, o bastante para se arrepender de deixar o herói da Marvel sozinho; mesmo ele tendo uma espada tomada de uma estátua qualquer da exposição, que, aliás, não parecia ser seu forte. Em sua cabeça, gritou consigo mesma: “Ajudar o Capitão América!”.
Respirou fundo, contrariando a voz rude. “Vá lutar sua franguinha! Quem é você, a Bela Adormecida?”.
Correu em direção a muvuca diminuída de monstras e encontrou o loiro sangrando na região da barriga. A culpa caiu em sua cabeça como energético.
“Jogue a espada pra mim!” – Torcendo por aquilo, ela instintivamente estendeu o braço para pegar o objeto, mas nenhuma voz saiu de sua boca.
Ele arregalou os olhos. Olhou para ela, assustado e aliviado. Surpresa, Anna pegou a espada arremessada pelo cabo. *Não faça isso em casa, risco de agarrar a lâmina*. A partir daí foi o instinto que a moveu.
Monstros caindo explodindo em pó dourado. O menino loiro colocando sua mão sobre seu próprio machucado. Uma espada fincada em si mesma. Um corte. Uma barreira em azul-claro vinda de dentro de Anna, crescendo em forma esférica.
Muito, mas muito pó dourado.
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