– Eu vou sentir tanto tua falta! Emma, promete que vai entrar no MSN todos os dias.

– Eu prometo Milla, agora me deixa respirar. – Eu odeio despedidas tanto quanto a Camilla, mas quando ela abraça não quer mais soltar.

– Tchau maninha do coração, a gente se fala por Skype ok? – ela disse, já me dando outro abraço

– Tá bom. Eu te amo mana! – eu retribui o abraço e depois segui para o encontro de meus pais.

Eu não conseguia acreditar. Eu estava deixando o Brasil, todas as minhas lembranças, toda a minha vida, pra trás. Por que? Porque o meu pai foi despedido, e graças ao meu dindo (e amigo de infância do meu pai) nós estamos nos mudando para a Irlanda, onde ele tem emprego e casa garantidos.

Nós entramos no avião e eu já fui direto pegar meu livro. Não tem coisa que eu mais amo no mundo, livros são a minha paixão. Talvez eu vire escritora quando crescer. No meio da viagem eu adormeci e acordei com uma mochila caindo em cima de mim.

- Filha, pega tua mochila, já chegamos. – Obrigada pai. Eu estava bem feliz sonhando com o Brasil, não precisava me acordar pra avisar que chegamos na Irlanda.

- Tá bom, já to indo. – Eu disse. Eu havia dormido com o livro aberto no colo. Guardei ele, esfreguei os olhos pra tirar um pouco o sono e peguei a mochila a caminho da saída. O avião já estava quase vazio; só havia um casal com um bebê procurando uma mamadeira que desapareceu e meus pais na porta me esperando – Com licença. Senhora, a mamadeira tá ali em baixo do banco – eu apontei pra mamadeira. Nem esperei eles agradecerem e já saí do avião, morrendo de fome.

**

- Mãe, antes de ir pra casa compra uma coisa pra mim comer, to morrendo de fome. – Eu falei, já puxando meus pais em direção ao McDonald’s.

- Não filha, já gastamos bastante com essa mudança. Tu não quer ver teu quarto novo? – Meu pai falou com uma voz autoritária.

- Comendo ou não comendo eu vou ver meu quarto novo, e se eu não comer eu vou desmaiar. – Eu falei já dramatizando.

- Já chega Emma, tu vai esperar pra comer quando chegar em casa. E ponto final. – Minha mãe quase gritou no meio do aeroporto.

Eu sei que as mães é que são as boazinhas da família, e os pais são os que xingam e batem. Mas na minha família é totalmente ao contrário. Se o meu pai xinga, tu pode rir da cara dele que ele não vai fazer nada; mas se minha mãe fala alguma coisa em um tom mais alto é melhor tu sair com o rabo entre as pernas.

**

Quando chegamos na casa, eu deixei todas as malas na porta e entrei correndo. Era uma casa imensa de três andares, mais o sótão e o porão. Dei uma olhada por cima pelo o primeiro andar – depois eu olhava melhor - , e fui direto para meu quarto (http://data.whicdn.com/images/20581647/402859_158608857575000_158552414247311_149596_1685542018_n_large.jpg). Ele era perfeito pra mim agora, com 11 anos. E como eu me conheço, ele seria perfeito pra mim daqui há alguns anos, quando fosse adolescente.

Em cima da minha cama nova tinha uma caixa de papelão fechada. Quando eu abri, por cima tinha uma carta – como sou muito curiosa larguei a carta do lado e fui ver o que tinha em baixo. Em baixo da carta haviam vários pacotes de presentes quadrados e retangulares – ok, me convenceu, vou ler a carta.

Querida Emma;

Quando seu pai me ligou pedindo ajuda, não pude recusar. Sei que não vai gostar desta mudança repentina de país, principalmente para um lugar totalmente desconhecido. Desculpas por isso, mas eu entendo o lado de seu pai e acredito que esta tenha sido a melhor escolha. Vocês vão melhorar de vida, e só de lembrar seu rosto rindo de minhas palhaçadas quando era pequenina já fico muito satisfeito em ajudar.

Não acho que vá se lembrar de mim, mas eu me lembro muito bem de você; um bebezinho muito doce e fofo. Você deve ter visto suas fotos da festa do 1º aninho – eu sou o homem que te segurava no colo durante o “parabéns à você”.

Seu pai me contou que você já domina o idioma, então espero que você se adapte logo ao novo país e à nova cultura. Espero que goste da cidade, da escola, do quarto (fui eu mesmo que mobiliei) e principalmente dos presentes que estão abaixo. Qualquer problema – ou novidade – pode vir falar comigo, sou todo ouvidos; pode me considerar seu melhor amigo enquanto não arranja um da sua idade =)

Se estiver solitária passe aqui em casa – deixei uma chave extra com seu pai – se eu não estiver em casa, venha do mesmo jeito brincar com minha cadela. Sei que vai adorar ela tanto quanto ela irá adorar você.

Te amo muito e estou com muita saudade de você e de seus pais. Espero vocês para o jantar.

Beijos e abraços,

Seu dindo Mike.

Que lindo isso, agora eu tinha um “melhor amigo”. É mais possível a cadela dele virar minha melhor amiga do que ele, que a última vez que vi foi há 10 anos atrás.

– Emma, para com isso, seja gentil com teu dindo! Ele te deu uma casa, um quarto mobiliado, muitos presentes e ainda está oferencendo o tempo dele pra te ouvir e a cadela dele pra brincar. – eu disse pra mim mesma.

Peguei o primeiro presente e abri: era um Macbook da Apple com estampa de zebra – A-M-E-I C-O-M-P-L-E-T-A-M-E-N-T-E!!!

O segundo presente era nada menos que um Iphone 4 muito lindo. Ele tinha desenhos de árvores.

Já o terceiro – e último presente – era só um papel. Eu abri e li: Olhe em baixo da cama.

Já esperando por mais, eu obedeci. Em baixo da cama havia outro bilhete.

– Ah não, odeio caça ao tesouro! – eu falei comigo mesma.

Li o bilhete em voz alta: Mesmo que não queira, você vai me achar. Saia deste cômodo, pois você vai usar este local todas as manhãs a partir de hoje. E não é o banheiro.

Onde eu vou todas as manhãs, a não ser o banheiro? Deixa eu ver: eu acordo, faço minha higiene, me visto, todo café da manhã e vou para a escola. Se não é o banheiro, e é pra mim sair deste cômodo, então é a cozinha, onde eu tomo o café da manhã.

Corri para a cozinha. Em cima da bancada – e só agora percebi que era enorme, como a cozinha toda – tinha um bilhete dobrado ao meio com o meu nome escrito em um dos lados. Peguei e li: É fim de semana e está em casa sem nada pra fazer? Já acabou todos os livros e está muuuuuuito calor? OMG e agora?

Será que aqui tinha piscina? Ah, mas é claro que sim. Como eu sou burra. Corri para os fundos e vi um bilhete em cima de uma mesa na borda da piscina – que a propósito era em formato de um violão. Enquanto eu pegava o bilhete, fiquei olhando as casas da visinhança. Numa janela da casa vizinha havia um vulto andado de um lado para o outro por trás da cortina. Quando um menino moreno olha pela janela, eu percebi que estava parada lá por um bom tempo. Ele sorriu de um jeito muito meigo, eu sorri de volta e voltei à caça aos presentes.

O bilhete dizia: Quando você acordar no meio da noite depois de um pesadelo muito assustador, vai fazer o que?

Sem pensar mais, fui direto para dentro de casa e chamei minha mãe. Quando ela respondeu eu segui a voz para descobrir onde era seu quarto. Precisei chamá-la mais umas duas vezes até chegar ao meu destino. Ela me encontrou na porta com um sorriso no rosto e trocando olhares com meu pai.

- Pensei que ia demorar mais – disse meu pai com um sorriso gentil no rosto, então minha mãe me entregou um bilhete: