Monarchy Of Roses escrita por cakew


Capítulo 5
Convites.




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            Aquela mesa jamais estivera tão cheia ou farta como agora. Muitas pessoas moravam no castelo, mas aquela sala de jantar jamais havia sido utilizada da maneira correta. Eric havia se recolhido assim que chegaram ao castelo de Hammond, e Snow White encarava o assento que agora deveria estar sendo preenchido pela presença dele. Ela havia sentado-se em seu lugar à mesa logo após de fazer todos os pedidos de mantimentos para as vilas que havia visitado hoje. William estava sentado ao seu lado, e tagarelava a respeito do arco de madeira que havia feito mais cedo naquele dia.

            - Certamente é o melhor arco que já produzi em toda minha vida. Tive a oportunidade de testá-lo, e quero ensiná-la a atirar amanhã. – ele sorriu em expectativa e analisou a reação de Snow White enquanto levava uma garfada de carne de lebre à boca.

            Snow sorriu enquanto remexia a comida em seu prato.

            - Tenho certeza que atirar uma flecha será uma atividade fascinante.

            William notava o desconforto que tentava esconder-se no olhar da rainha. Ele tomou um gole de vinho e a analisou de forma preocupada.

            - Perdoe-me, mas estou lhe aborrecendo, Snow?

            Ela encarou William.

            - Não, você jamais me aborreceu, William. – ela sussurrou incerta de suas próprias palavras. Novamente focou sua atenção na comida espalhada por seu prato. Ela estava faminta, mas sentia-se incapaz de comer aquilo que lhe foi servido – Bem, eu apenas… - ela suspirou, arrependida por ter tentado iniciar uma explicação, pois não sabia o que dizer e agora teria de terminar o que havia começado - Você sabe, nunca aproximei-me de ter o mesmo interesse que você possui pelo arco e flecha.

            A decepção era visível no rosto de William. Ele limpou sua boca com o lenço que repousava em seu colo, e em seguida sorriu sem graça para Snow.

            - Eu me lembro de nossa infância e de seu humor quando eu a persuadia a brincar comigo. Sinto muito por não ter sido um companheiro satisfatório.

            Snow White franziu o cenho, e colocou sua mão sobre a de William, que estava pousada na mesa. Ela não suportava vê-lo se auto depreciar daquela forma, e agora sentia-se mortalmente arrependida por suas reações involuntárias enquanto ele a contava com entusiasmo sobre seus feitos do dia, e posteriormente por o que ela havia desnecessariamente lhe dito.

            William encarava os dedos delicados de Snow sobre os seus. E após longos segundos hipnotizado com aquela cena, forçou-se a olhar Snow White nos olhos.

            - Não poderia ter pedido um companheiro de infância melhor do que você, William. – disse ela com completa honestidade – Sou eternamente grata por lhe ter em minha vida. – ela recolheu sua mão – As pessoas com as quais convivemos são essenciais para a nossa formação, portanto, se hoje sou assim, é em parte por conta de sua constante presença ao meu redor.

            William foi incapaz de conter o sorriso orgulhoso que cresceu em seus lábios. Ele sabia que esteve ausente na vida de Snow por dez longos anos, mas os primeiros sete anos de vida de ambos foram passados na companhia um do outro, e haviam sido momentos extremamente agradáveis. Naquela época, as preocupações eram as mais banais, e a alegria constante. William se perguntou se em breve tudo voltaria a ser como foi um dia.

            Lentamente, Snow White retornou sua mão para o local de origem, e William suspirou quase imperceptivelmente.

            - Você não poderia mensurar o estado de felicidade em que estou por ter-lhe ao meu lado. – confessou ele, fazendo-a sorrir e dando a ela uma ideia.

            A rainha se levantou e, para exigir a atenção de todos, com seu garfo bateu delicadamente na borda da taça de cristal na qual bebia vinho. O burburinho que preenchia a sala silenciou-se, e todos os olhares foram voltados à Snow White, assim concedendo a ela a palavra.

            - Neste momento, fui iluminada por um pensamento, e notei como o castelo no qual vivo está demasiadamente vazio e silencioso. Portanto – ela ergueu sua taça em direção ao Duque Hammond – gostaria de convidar todos vocês para se juntarem a mim em minha moradia, da forma como vivíamos nos velhos tempos. – ela sorriu em expectativa, e murmurou: – Sinto falta disso.

            O Duque parecia extremamente surpreso e tinha um olhar perdido, abriu a boca para dizer algo, mas logo a fechou. Franziu o cenho enquanto pensava, e resolveu enfim pronunciar-se, aliviando Snow de sua expectativa:

            - Bem, é uma proposta um tanto repentina. – ele a analisou - Estou bastante lisonjeado pelo convite, mas creio que terei de pensar a respeito e conversar com meu filho antes que possa tomar qualquer decisão.

            O sorriso nos lábios de Snow White murchou e, lentamente, ela sentou-se em seu lugar assentindo.

            Ela notava que o Duque sempre procurava por caminhos que soavam mais fáceis em situações complicadas como essas, como se tentasse fugir de uma grande decisão cuja qual teria de encarar em algum momento. Ela franziu o cenho em frustração, pois estava certa de que Hammond responderia de bom grado ao seu convite, pois se lembraria dos tempos felizes em que viveu em paz no castelo juntamente com a família de Snow White. Ela perguntou-se se o motivo da esquivada do Duque fora o fato de que seu pai não era mais vivo, e este era o único fator que o manteve vivendo junto da família do antigo rei.

            Mas, se apenas a presença do rei Magnus agradava ao Duque Hammond, por que ele resolveu ajudar Snow White com seus serviços reais? Por que a convidou para pernoitar em seu castelo? Certamente, William o persuadiu para tomar tais atitudes, e por alguns instantes, Snow White torceu para que William persuadisse o Duque a tomar a decisão correta diante de sua proposta.

            Sentindo-se exausta devido às atividades desgastantes do dia, Snow White pediu licença para recolher-se, e junto de Greta, acompanhou uma senhora que lhes indicou o caminho para o aposento de ambas. A dama ajudou a rainha a se trocar, desejou-lhe boa noite e encaminhou-se para o local ao qual foi designada.

            Snow queria pensar um pouco e avaliar seus feitos ao decorrer do dia, mas estava tão cansada que adormeceu assim que pousou a cabeça sobre o travesseiro.

***

            - Não se lembra de quando vivíamos juntos? De nossa felicidade? – incapaz de conter sua irritação, William andava de um lado para o outro próximo a cadeira na qual seu pai estava sentado.

            - Filho, compreendo seus desejos e gostaria que tudo tornasse a ser como foi um dia, mas jamais alcançaremos tal feito. – o tom de voz de Hammond era apaziguante.

            William passou a mão pelos cabelos, estava indignado pela enorme tranquilidade de seu pai. Era incapaz de compreender como ele conseguia manter-se tão calmo diante de uma discussão tão relevante. Ele parou de costas para seu pai enquanto tentava pensar em um argumento convincente, e segurando firmemente a mandíbula com os dedos, encarou a bandeira pendurada na parede com o brasão que seu pai criara no momento em que viu-se forçado a abandonar todos os vínculos que possuía com a família e o exército de Rei Magnus. Rapidamente, William virou-se e tornou a encarar seu pai.

            - Snow White precisa de nosso apoio. – seu tom de voz era mais contido e persuasivo. Ele tentava eliminar a raiva exagerada de suas palavras.

            - E ela terá meu apoio incondicional, William. Irei dar a ela todo o suporte necessário durante estes primeiros anos, pois estes sempre são os mais difíceis. Porém isto não significa que serei obrigado a morar junto a ela. – o tom de voz de Hammond era inalterável.

            - Como o senhor pode não perceber que a proximidade facilitaria este processo? – William não conseguia compreender o raciocínio do pai.

            - William, - a voz de Hammond era mais grave, e ele se levantou para alcançar a altura do olhar de seu filho – caso não perceba, necessito ressaltar que praticamente criamos um reino aparte do exterior aqui. Estamos responsáveis por todos aqueles que conseguiram escapar da opressão de Ravenna e se juntaram a nós clamando por ajuda. Não posso abandonar estas pessoas para satisfazer seus caprichos de rapaz jovem. Sei que você quer aproximar-se novamente de Snow White, e não o culpo, pois ela é uma garota de encantadora beleza, inteligente e forte; elementos que fisgam qualquer jovem sedento por amor. – suas palavras eram rígidas, de um tom que William jamais havia escutado vindo de seu pai – Dou-lhe a permissão de ir viver junto a ela com juízo, mas quero que tenha em mente que gostaria de sua ajuda para cuidar do pequeno reino que aqui instalei. Sou um homem velho, William, e gostaria de passar a minha responsabilidade para uma cabeça fresca e bem alinhada como a sua, bem como gostaria de vê-lo lutando em meu nome. Portanto, meu filho, concedo-lhe a dádiva da escolha, porém não poderia negar que seria amargo vê-lo deixar sua família e seu povo para trás por conta de um amor juvenil. – Hammond fitou o filho por alguns instantes, então desviou seu olhar e caminhou em direção a porta da sala de jantar – Agora, irei me recolher. – disse ele por cima do ombro, e então partiu em rumo ao corredor escuro do castelo.

            William foi deixado apenas na companhia de seus exaltados pensamentos. Ele matutava acerca das palavras de seu pai, e sentia-se dividido. Detestava admitir, mas seu velho duque tinha razão: ele não poderia abandonar o que havia construído aqui. Centenas de pessoas desesperadas se refugiavam na proteção daqueles muros, e todas elas depositaram suas esperanças em Hammond e William ao se instalarem ali. William seria incapaz de decepcionar aqueles que acreditaram nele, mas para isso ele teria de decepcionar a si mesmo.

            Irritado, William derrubou com um chute a cadeira onde seu pai estava sentado há minutos atrás. Era frustrante perceber que, o fato de Snow White estar viva não mudaria o que existia agora. Antes, eles estavam separados pelo desconhecimento e a impotência de ambos, e agora estão separados por barreiras físicas e enormes responsabilidades, e tudo isso por conta de Ravenna. Se não fosse por ela, os dois jamais teriam se separado, rei Magnus certamente não teria partido tão precocemente, e não haveria a necessidade de isolamento do reino.

            William amaldiçoou a antiga rainha mentalmente, e amaldiçoou Magnus por ter sido um homem tão fraco. Agora Ravenna estava morta, mas as marcas de seus atos permaneciam vivas.

***

            - Vossa majestade, és tão inexperiente que posso visualizá-la espetando o traseiro de alguém. – uma risada ecoou.

            - William! – o tom feminino era de repreensão.

            Incomodando com o falatório do lado de fora do castelo e vendo que não conseguiria mais dormir, Eric abriu os olhos. Ergueu-se apoiando em seus cotovelos e bufou. Ainda sentia-se cansado e estava insatisfeito por ter sido acordado mais cedo do que pretendia. Atordoado, ele olhou em volta sem reconhecer o ambiente no qual estava, e então lembrou-se que se tratava do castelo de Hammond.

            Levantou-se da cama contra a contragosto, e caminhou até a janela do aposento para averiguar o que estava acontecendo do lado de fora. Olhou para baixo, e após percorrer os olhos por um grandioso campo verde que se estendia ao redor do castelo, visualizou Snow White segurando um arco de madeira grande demais para seu corpo pequeno. Ela mirava em um alvo de tecido localizado a poucos metros de distancia dela. A cena era um tanto cômica. Após passar alguns segundos a observando concentrar-se para atirar, Eric notou que William estava ao lado dela, tinha os braços cruzados e tentava conter uma risada.

            - Tem certeza que não quer que eu lhe ajude? – ele a perguntou.

            - William, você está me desconcentrando com todo este falatório. – Snow White disse séria.

            Ela atirou, e a flecha atingiu um espaço em branco do tecido, longe de acertar o alvo. Eric e William soltaram uma gargalhada, e Snow White franziu o cenho, fingindo irritação, mas seus lábios tremiam por estar contendo uma risada.

            Determinado, Eric vestiu sua camisa, calçou seus sapatos e abriu a porta, e por pouco não tropeçou em Greta, que o aguardava com uma pilha de roupas em mãos.

            - Bom dia Eric. – a voz da dama era quase um sussurro. – A rainha pediu-me que lhe entregasse estas roupas.

            Com uma expressão desconfiada, Eric pegou a pilha de roupas das mãos de Greta.

            - Agradeço, - ele disse lentamente – mas de onde vieram estas roupas?

            - Vendo que o senhor não tinha muito com o que vestir, o Duque Hammond lhe cedeu-as.

            Seu orgulho dizia para que ele devolvesse as roupas, mas ele estava realmente necessitado delas. Tinha apenas uma calça sem furos e um par de blusas. Ele caminhou com a pilha de roupas, e a deixou sobre uma mesa localizada no canto do aposento, no mesmo lugar onde havia deixado seus machados na noite anterior. Ao voltar para a porta, agradeceu novamente e dispensou Greta.

            Sem conhecer o local, ele caminhou por um bom tempo até encontrar um caminho que o levaria até o gramado no qual Snow White e William praticavam arco e flecha.

            Snow estava disposta a fazer uma nova tentativa de acertar o alvo sem a ajuda de William – seria a quarta vez que ela atirava sozinha, e todas as anteriores foram fracassadas. “Consigo acalmar um trasgo, domar um cavalo selvagem e matar uma bruxa poderosa, mas não consigo acertar uma flecha dentro de um círculo.” ela pensou com indignação. Posicionou seus braços e fechou um dos olhos para focalizar seu olhar somente no alvo a sua frente, pegou uma flecha e a passou por entre os dedos, estava convicta de que agora cumpriria seu objetivo. Durante aquele principio de manhã baseado no arco e flecha, Snow White notou que a atividade não era tão chata quanto se lembrava, era até divertida, na verdade.

            - Ei, espere um pouco antes de arriscar-se com isso aí. Infelizmente não planejei ser atingido por uma flecha logo pela manhã. – Eric disse enquanto abria um sorriso. Snow White estava tão focada em sua meta, que não viu o caçador se aproximar, porém desfez sua posição de arqueira logo que ouviu sua voz grave. Ela retribuiu o sorriso que ele exibia.

            - Bom dia Eric. – ela o cumprimentou – William está me ensinando a atirar com o arco e flecha, junte-se a nós. – convidou.

            Levando em consideração o fato de que estavam na propriedade de William e utilizando instrumentos de William, ele olhou para o garoto como se pedisse permissão para se introduzir na atividade que acontecia ali. William balançou a cabeça em aceitação, e logo Eric percebeu que sua resposta não poderia ter sido diferente, afinal pedidos da rainha não podem ser negados.

            - Bom dia, caçador. Espero que sua noite tenha sido agradável. – foi a vez de William cumprimentá-lo. Eric estranhava toda esta cordialidade existente entre os nobres, portanto não sabia como agir da forma apropriada, então apenas agradeceu.

            Eles foram envoltos por um silêncio desconfortável até que Snow White decidiu continuar de onde havia sido interrompida. Ela mirou mais uma vez, e após posicionar a flecha, deixou-a deslizar por seus dedos. Ela voou em alta velocidade, e desta vez atingiu a área preta do alvo. Fora o seu melhor resultado até agora.

            - Você progrediu. – William a congratulou com um arqueio de sobrancelha e um sorriso divertido nos lábios. Snow White assentiu com orgulho.

            Eric aproximou-se da rainha.

            - Posso? – ele apontou para o arco. Ela concordou e o entregou a ele juntamente de uma flecha que estava na bolsa de couro no chão próxima a ela.

            - Não sabia que você atirava, caçador. – William estava surpreso.

            - Fui um caçador, William, portanto precisei a aprender a me defender e a atacar com todos os meios que estavam a minha disposição. – ele enfatizou sua primeira palavra com o objetivo de mostrar que gostaria de deixar sua história sangrenta e nada louvável presa ao passado.

            Eric precisou de apenas alguns instantes para se concentrar e atirar. Ele acertou a região amarela, com uma pequena falha de alguns centímetros para a esquerda. Havia apenas uma flecha presa no alvo com uma pontuação melhor do que aquela, e Eric deduziu que fosse de William. Snow White o encarou boquiaberta enquanto ele a devolvia o arco.

            - Há algum instrumento de guerra cujo qual você não saiba manejar? – ela perguntou.

            - Se há algum, tratarei de dominá-lo. – ele sorriu.

            - Diante de vocês dois, sinto-me humilhada. – Snow White lamentou.

            - Você ainda poderá nos humilhar, majestade. Apenas permita-me que lhe mostre como atirar da forma adequada. – William ofereceu com um tom solidário.

            Snow White negou a ajuda e alegou que deveria aprender sozinha, pois deveria ser mais independente, já que não seria sempre que teria alguém para auxiliá-la. Com o arco e a flecha em mãos, ela posicionou-se, mas seguido de um forte e alto bufar, ela sentiu mãos pesadas e grossas envolverem as suas, e sentiu seu corpo se enrijecer com o contato inesperado. William não tinha mãos tão grandes ou braços tão pesados, portanto soube que se tratava de Eric.

            - Ninguém é capaz de aprender sem um pouco de ajuda, majestade. – ele murmurou em sua orelha – Relaxe suas mãos e deixe-me ensiná-la. – ela o obedeceu, e sentiu-se um pouco mais a vontade envolvida nos braços dele. Ele abaixou o arco, mostrando a ela seu primeiro erro. – Antes de posicionar-se para atirar, você deve se preparar com o arco abaixado. Olhe para o alvo. – ele ordenou, e ela obedeceu imediatamente. – Agora inspire, e em seguida espire. – disse ele seguindo as próprias ordens. – Inspire novamente e levante o arco. – com a ajuda de Eric, ela o fez. – Agora iremos puxar a corda até que ela se encontre com a ponta de seu nariz e sua mão toque seu queixo. – novamente, ela obedeceu e cumpriu a ordem com a ajuda dele. – Alinhe-se, e solte a corda quando sentir-se pronta. – após alguns segundos de observação, Snow White soltou os dedos e deixou a flecha atingir o alvo. – Não saia da posição até que a flecha atinja o alvo. – ele murmurou, e ela sentiu seu hálito percorrer sua orelha e descer por seu pescoço até perder-se junto ao vento que soprava. Com um estalo surdo, a flecha atingiu o alvo em sua região amarela, vencendo a flecha de Eric, porém perdendo para a de William.

            Ainda atordoada por conta do contato próximo, Snow White virou-se para poder encarar Eric e comemorar o tiro bem sucedido. Ele fitou os grandes olhos verdes da rainha por alguns instantes, sentindo-se hipnotizado por tamanha beleza, e ao perceber que ainda a segurava, desprendeu suas mãos das dela e a parabenizou, dizendo que ela poderia ser uma excelente arqueira caso se empenhasse na atividade.

            - Adoraria passar o dia atirando, mas ontem abdiquei-me de qualquer atividade de lazer que me tome tempo demais. Há um reino depressivo e faminto clamando por minha ajuda. – ela lamentou. Lembrando-se de que William ainda estava ali, Snow White afastou-se um passo de Eric e virou-se para o filho do duque. – A propósito, William, gostaria de agradecer por sua hospitalidade. Acho que irei partir o quanto antes, pois gostaria de visitar mais vilas ainda hoje.

            - Não há de que, majestade. Sinta-se livre para visitar a mim e a meu pai quando bem entender, pois sua presença sempre será extremamente bem vinda. – ele sorriu tentando esconder a tristeza por ela estar indo embora tão cedo. William imaginou que passaria o dia na companhia de Snow White, pois pensou que ela partiria apenas horas antes do anoitecer. Porém, de qualquer maneira, ele não havia esperado a presença de Eric ali, e portanto ele seria uma barreira entre as conversas nostálgicas e alegres que havia planejado ter com Snow White, então talvez fosse melhor que ela voltasse sozinha uma outra hora. Mas, com medo de admitir, William temia que esta “outra hora” jamais existisse, afinal, Snow White era a rainha agora.

            Os três encaminharam-se para dentro do castelo. Snow White estava a procura do duque Hammond, para que pudesse agradecê-lo e despedir-se, e o fez logo que o encontrou sentado na sala de jantar, fazendo seu desjejum sozinho. William e Snow White já haviam se alimentado, e Eric não disse nada sobre alimentação, pois não queria atrasar a longa viagem de volta. O caçador agiu de forma pouco usual para seus modos, e seguiu o exemplo de Snow White ao agradecer o duque. Hammond também pediu que ela voltasse sempre que desejasse, e Snow White assentiu. Quando se virava para chamar os anões e Greta para partirem, uma lembrança a iluminou, e ela tornou a virar para o pai e o filho:

            - Vocês não responderam ao convite que os fiz ontem à noite. – ela sorriu. William e Hammond se entreolharam. A tensão entre os dois era quase palpável. Hammond arqueou uma sobrancelha para o filho na tentativa de lembrá-lo de que ele havia deixado que escolhesse seu destino. Compreendendo o gesto de seu pai, William virou-se para Snow White, ainda sem saber o que dizer a ela. Ele havia pensado sobre isso durante a noite toda, e sua mente havia se alternado entre ideias opostas diversas vezes. Ele teria de tomar sua decisão final naquele instante, e não poderia hesitar.

            - Bem, Majestade, eu e meu pai tivemos uma longa conversa acerca deste assunto ontem à noite, e juntos chegamos a uma conclusão. – ele lançou um rápido olhar nervoso para o pai – Não podemos abandonar este castelo. – pronto, estava dito e feito, e agora não poderia ser desfeito. – As pessoas que aqui vivem precisam de nós. Apoiaremos seu reinado e a auxiliaremos da forma como pudermos, mas não podemos abandonar o povo que acolhemos. Agradecemos o seu convite, e gostaríamos de poder aceitá-lo, porém diremos não por uma boa causa. – o tom de William era de verdadeiro lamento.

            Snow White sentia-se decepcionada, porém nem tanto quanto imaginou que ficaria caso ouvisse um não. William tinha razão, e a ajudava a governar o reino apenas pelo fato de abrigar centenas de pessoas em seu castelo. Ela assentiu acerca decisão de Hammond e William, e disse a eles para que não se preocupassem. Ela viria visitá-los sempre que pudesse, e disse para que eles fizessem o mesmo em seu castelo.

            Ela tinha Greta, os sete anões e Eric vivendo em seu castelo. Com o tempo, poderia encontrar mais pessoas confiáveis e necessitadas para se juntarem a ela, mas notou que por enquanto, ela poderia viver com seus poucos e bons companheiros atuais. Greta era uma grande amiga, os anões seus principais ajudantes, e Eric… O homem que ela prometeu salvar, aquele que a ensinou a utilizar uma espada, o caçador que fora incapaz de caçá-la, e até mesmo de abandoná-la. Um homem que externamente parece um bêbado sem salvação, mas que por dentro tenta matar momentos, lembranças e sentimentos – para não dizer “matar a si mesmo”. Eric era simplesmente o homem cujo qual ela gostaria de decifrar, salvar, e, inexplicavelmente, ter por perto. 


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