The Rose Of Darkness escrita por Pye


Capítulo 32
Capítulo 17 – Cometendo erros, (...) - P3


Notas iniciais do capítulo

Desculpe a demora de 2 meses, mas tá aí.

NOVA MUSICA SE ABERTURA, HUEHUEHUE VEJAM POR FAVOR E DEPOIS DIGAM OQUE ACHARAM *U*

Sei que me abandonaram, mas desculpa mesmo.

E QUERO AVISAR QUE NESSA SEMANA AINDA TERÁ FANFIC NOVA, WOW ♥
Então ela será de um tema mais tenso, e quero todas lá lendo, ok?
Mais detalhes por MP.



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Capítulo Dezessete

Cometendo erros, destruindo relações Parte 3, final

Música de Abertura

~~

Os olhos doloridos, enquanto permaneciam fechados fortemente. O corpo não queria sair daquela cama, e parecia agarrado lá.

Oque ela estava pensando? Em absolutamente nada, e em tudo ao mesmo tempo. Era estranha, estranha aquela sensação mista de confusão; a embriaguez da alma que lhe corrói pouco a pouco, sem poder fugir ou ter para onde escapar.

Mas para quê escapar, afinal de contas?

Não demorou muito tempo para que a garota abrisse os olhos, logo por se levantar com lentidão da cama, qual não queria sair. Seu corpo estava pesado, e sua cabeça também, como se tivesse tido um longo dia passado, e sentia que este também iria ser um longo dia, e que provavelmente te daria dor de cabeça.

Suspirou, respirando aquele ar gélido costumeiro de todas as manhãs, que adentravam pela sacada e invadia seu quarto por inteiro. E aquilo era realmente reconfortante.

Olhou para o relógio em cima da escrivaninha, e eram exatamente 06h20min. Levantou-se da cama, indo em direção a seu guarda-roupa, catando qualquer coisa e vestindo em seguida, não demorando em ir para o banheiro e fazer sua devida higiene matinal, no fim por dar um jeito nos cabelos longos com os próprios dedos.

Logo que saiu do quarto, seguindo pelo corredor, já pôde ouvir as vozes agitadas no andar de baixo; como já era de costume todas as manhãs. E, ela tinha que admitir que estava começando a se acostumar com aquela nova vida, a convivência com novas pessoas, e principalmente com sua nova família.

Desceu as escadas com um desânimo descomunal, e logo que chegou perto daquela mesa de café da manhã, fitou todos que lá estavam; Hikkaru, que nesta manhã parecia como um peso morto naquela mesa, sem a expressão animada como de costume aparente em seu rosto angelical. Kaien e Lunna também encontravam-se sentados à mesa, logo por abrirem um enorme sorriso para a sua “garotinha” que acabara de chegar. E sim, Joseph também estava lá, sentado enquanto devorava biscoitos caseiros de Lunna, e logo ao lado do homem-gato, também se encontrava o pequeno Alam; com a sua típica cara de desinteresse enquanto tomava uma xícara de chocolate quente.

Mellanie soltou um pequeno sorriso, olhando para todos naquela mesa.

— Meu Botão de Chá! — Kaien disse animadamente, animadamente demais, como de costume — Vem, senta aqui com a gente. Não que eu queira elogiar essa mulher psicótica, mas, ela se superou nos biscoitos hoje.

A forma como aqueles dois se implicavam era algo realmente engraçado de se ver. Era como se eles sempre brigassem incessantemente, mas no fundo, bem no fundo, não conseguissem viver sem um ao outro.

Mellanie negativou levemente com a cabeça, ainda esboçando um sorriso cansado, porém, amigável.

— Não Kaien, não acordei com a menor fome. Deve ser o cansaço, não me sinto muito bem — ela disse, e logo todos a fitaram.

— Oque está sentindo, Mell? — Lunna perguntou preocupada, tocando no braço alvo da garota — Se quiser, tem remédio pra dor lá em cima no meu quarto, vai querer um?

Mellanie voltou a negativar com a cabeça para os dois lados.

— Não precisa tia, é só um cansaço passageiro, besteira, vou ficar bem.

Lunna apertou os olhos, ainda meio desconfiada, mas logo voltou a tomar seu costumeiro café.

Hikkaru nada disse, parecia uma morta-viva, quais olheiras agora habitavam em sua face abaixo dos olhos.

E, Mellanie teria que conversar com ela seriamente sobre isso. Não estava gostando nada daquilo, e algo havia acontecido para deixar sua elfo-azul tão quieta.

— Epa, Epa, deixe que eu carrego isso pra você, senhorita — foi ouvida a voz alegre de Joseph, que pegava os pratos das mãos de Lunna, logo por se oferecer para levá-los até a cozinha — E lavo eles também, já que você deve estar atrasada para o trabalho, estou certo?

Kaien logo se pos a arquear uma sobrancelha, enquanto olhava a cena.

— Ah, quanta gentileza Joseph, mas realmente não é necessário. Eu só saio pra trabalhar daqui a meia hora — ela revidou, logo por tomar os pratos das mãos do homem.

Ele sorriu de certa forma provocativa.

— Oh, não se incomode com isso. Eu ajudarei você por hoje, está certo? — ele disse, e logo se aproximou da mulher, aproximando-se o bastante para que encostasse os lábios em sua bochecha, logo sussurrando em seu ouvido; — Ou prefere que eu lhe ajude em outra coisinha, mais tarde, uh?

Mellanie entortou a cabeça para o lado, desconcertada e não entendendo praticamente nada da situação, e logo virou o rosto, agora por encarar seu Guardião mais velho, que parecia extremamente desconfortável. Na verdade, Kaien deu praticamente um pulo da cadeira, batendo os punhos na madeira da mesa, chamando assim a atenção dos dois, e também do pequeno Alam, que quase capotava para o lado de sono, mas que arregalou os olhos com o baque do homem de contato com a madeira.

Você fica com os pratos, — o Guardião disse de forma firme e ríspida, encarando Joseph, que por si sustentava um sorrisinho assustadoramente amável nos lábios — E você, Lunna, eu te levo pro trabalho. Também tenho que resolver certos assuntos.

Lunna variava seu olhar entre os dois, e logo se deu por entregar os pratos novamente nas mãos do homem à sua frente.

Mellanie abafou um riso nas mãos, mas não demorou muito para que olhasse para todos os lados; onde estava Zero?

Não seria grande novidade em encontrá-lo dormindo na lavanderia ou algo do tipo, mas, naquela manhã, ela sentia-se estranha, e o coração apertava em seu peito.

Ele não está aqui? — ela perguntou repentinamente, chamando a atenção de todos — Zero, onde ele tá?

Kaien logo voltou a tomar seu semblante sério, chegando próximo à garota e pausando sua mão no ombro direito da mesma.

— Não se preocupe com aquele irresponsável, que apesar de irresponsável, vai ficar bem.

As palavras do homem não foram o bastante para acalmá-la, não naquele momento. Ela estava perturbada demais para pensar em possibilidades boas.

E se ele se metesse em encrenca de novo? E se tomasse sua forma de Lobo novamente? Poderia ser fatal, e só de pensar nessa possibilidade seu coração tremia.

— Eu vou pra escola então, e quando chegar espero que ele esteja aqui, ou eu mesma irei sair e procurar por esse inconseqüente — ela pareceu nervosa, mas a verdade era que estava apenas preocupada. Logo olhou para Hikka, que não parecia escutar uma palavra sequer à sua volta. Seu caso estava começando a ficar preocupante — E você, Hikkaru. Quando chegar em casa também vou querer falar com você. Me entendeu?

A garota de cabelos azuis logo se virou, olhando a baixinha, em seguida por soltar um sorriso morto entre os lábios, como se dissesse; eu irei ficar bem, não se preocupe comigo e vá logo para a escola.

Mellanie apressou-se para ir até a porta, e ao ouvir uma voz levemente infantil, virou-se de novo.

— Será que seria pedir demais para que se matasse no caminho? — Alam disse sarcasticamente, oque a fez pensar em como aquele garoto poderia ser apenas uma criança.

Ela soltou uma risadinha gostosa.

— E seria pedir demais para que você me amasse menos, Henry? — e então ela logo saiu, batendo a porta atrás de si.

Olhou para frente, e aquele enorme chafariz alcançou sua visão, porém, a mulher sensitiva de cabelos perolados não se encontrava lá.

A baixinha suspirou pesadamente, logo por começar a andar pela calçada, a caminho do colégio.

“Zero, eu sinto muito. Eu cometi um erro.”

~~

O céu naquela manhã esbanjava um sol forte e radiante, erguido sobre o tão azul meio a pouquíssimas nuvens. Não era de se admirar que o vento também acompanhasse aquela harmonia, já que fazia com que as folhas das árvores altas ao redor balançassem graciosamente.

A garota suspirou, sentindo as pernas cansadas enquanto terminava por atravessar aquele portão gradeado para o pátio principal, qual uma quantidade considerável de estudantes mantinham-se antes do sinal para a primeira aula.

Mellanie sorriu ao avistar Nathaniel e Miha frente a porta da secretaria principal, ele com três pastas — que pareciam realmente pesadas — nos braços, e ela posta ao seu lado, visivelmente se segurando para não sentar a mão nele ali mesmo. O loiro escutava tudo calado, enquanto ria divertido, e a rosada como sempre muito estressada.

— Oque estão fazendo? — a baixinha perguntou entre risos, não conseguindo se conter diante aquela cena que era realmente engraçada. Eles discutiam por tudo — Será que não cansam de brigar?

Miha virou-se para a morena com a mão posta na cintura, com ar autoritário enquanto apontava com o queixo para o loiro que sorria divertido.

— Esse filho da mãe não sabe fazer nada direito. Não consegue ordenar pastas em seus devidos lugares, e tudo acaba ficando nas minhas costas — ela bufou — E agora a velha daquela diretora nos mandou entregar essas três pastas que mais parecem chumbos na sala do professor de história.

Mellanie moveu seus olhos verdes para as mãos de Nathaniel, quais seguravam as pastas.

Nathaniel arqueou uma sobrancelha com indignação.

— Será que dá pra parar de me ofender na frente das pessoas, sua psicótica? — ele retrucou — E você fala que isso aqui tá pesado, mas sou eu é que estou segurando o peso, então cale a boca.

A baixinha semi-cerrou os olhos, agora ainda mais divertida.

Tsc, que seja se essas merdas estão pesadas ou não. Oque realmente me preocupa é como vamos entregar essas pastas na sala daquele esquisito já que temos tanta coisa pra arrumar por aqui antes do segundo sinal. Aquela velha merece uma lição por ser tão cabeça dura — a rosada praguejou, agora por cruzar os braços frente aos seios, realmente irritada.

Mellanie agora tornara-se séria. Ela sentia que devia fazer algo para ajudá-los, já que estavam realmente atarefados em outra coisa e não poderiam entregar aquelas pastas, que pertenciam justamente ao professor novato.

Oque fariam?

— Eu faço isso — a voz da garota saiu decidida e firme, enquanto Miha levantava uma sobrancelha e sorria surpresa — Me dê essas pastas, eu levo na sala do professor.

— Ei, tem certeza disso baixinha? — a rosada perguntou em um tom de desafio — Não acho muito seguro uma mocinha indefesa como você ir para aqueles lados da escola nesse horário. Você sabe, os corredores estão vazios, e não é uma boa escolha.

Nathaniel direcionou seus olhos amendoados para a garota de cabelos rosados com certa desconfiança.

— Do que tá falando, Miha? — Mellanie perguntou desentendida.

Miha soltou uma risadinha.

— Ah, é claro que você não está por dentro dos boatos, não é? — começou — Bem, andam dizendo por aí que esse cara não é apenas um professor. É um psicopata procurado, que seduz garotinhas inocentes para jogá-las em um saco depois.

Agora fora a vez de Mellanie arquear uma sobrancelha, como se aquilo fosse a coisa mais ridícula que pudesse escutar.

— Essa gente não consegue se contentar com suas vidinhas infelizes, e resolvem inventar historinhas pra boi dormir, — ela contestou — Psicopata que seduz garotinhas para jogá-las em um saco depois? Corta essa, Miha. Pensei que você não ligasse para oque os outros falam.

A rosada se deu por gargalhar, logo tomando as pastas dos braços do garoto ao lado.

— E eu não ligo Mellanie, qual é! Era só pra descontrair. Claro que ele não é nenhum assassino de garotinhas, ele nem se parece com um, apesar de ter uma áurea meio assustadora — logo ela passou as pastas para as mãos da baixinha — Segura firme isso aí que está pesado. Não sei oque tem aí dentro, talvez armas, não é? — ela brincou — Bom, se eu fosse você andaria rápido. Faltam Quinze minutos pro primeiro sinal bater.

Mellanie sorriu ao canto dos lábios, feição que saiu meio torta perante ao peso em seus braços. Mas que diabos tinha dentro daquelas pastas?

Deveria realmente se apressar, visto que a sala daquele professor era do outro lado da escola, longe demais, aliás.

Não demorou muito para que ela já estivesse naquele corredor longo e vazio. Era claro que nenhum aluno se atrevia a pisar por ali, ainda mais naquele horário. As únicas salas realmente habitáveis eram o depósito, onde se concentrava o “achados e perdidos”, papéis e livros, além de documentos da escola inteira. Também as salas do professor de Geografia e claro, a do professor de História. Era uma distribuição meio que sem nexo, e as salas eram afastadas umas das outras, oque tornava tudo ainda mais suspeito.

O vento alcançava sua pele e cabelos naquele momento, enquanto ela parava frente aquela porta de madeira marrom, com a seguinte plaquinha pregada ali; Sala 045 – Professor de História.

Seus olhos verdes se apertaram um tanto, e então ela fez o grande esforço de segurar as três pastas em um braço só, logo por levantar as costas da mão esquerda na porta, com a intenção visível de bater ali.

Mas tal ato não pôde ser feito.

Antes que pudesse batucar na madeira, a porta se deu por abrir rapidamente, revelando por trás a figura máscula e alta; Sebastian estava muito bem arrumado, como sempre. As estranhas luvas que cobriam suas mãos agora seguravam a lateral da porta, e aqueles olhos de um negro intenso fitavam os grandes esverdeados da menina, que estava um tanto trêmula pela aparição inesperada.

Senhorita Mellanie? — ele se pôs a dizer, com o timbre grave, e talvez até mesmo de extrema sensualidade, mesmo que essa não fosse sua intenção — Trouxe-as para mim? — ele se referia as pastas pesadas nas mãos da garota, com certa surpresa por encontrá-la frente a sua porta e não os representantes Nathaniel e Miha — Oh, deixe-me ajudá-la, é muito peso para você — disse com um mínimo sorriso nos lábios, logo por tomar as pastas dos braços da garota.

A primeira reação da baixinha fora de massagear os braços, que estavam agora levemente marcados e vermelhos pelo material daquelas pastas pesadas.

Ela levantou os olhos para o homem, que a fitava com o material que antes ela carregava nos braços, entretanto, ele segurava aquilo como se não fosse nada ou peso algum.

— Os representantes estavam muito ocupados na secretaria, e como são muito meus amigos eu decidi ajudá-los com isso. Não foi trabalho algum pra mim — ela respondeu um tanto sem jeito, sentindo os olhos negros dele arderem por cima de si, como se a analisasse com fervor.

— Ainda faltam alguns minutos para o primeiro sinal, então, será que não gostaria de entrar e me acompanhar em um café? — seu sorriso era amigável, oque fez Mellanie ficar ainda mais sem graça.

Ela não conseguiria dizer um não, daquele jeito.

— Ah, professor, eu não posso demorar...

— Por favor, senhorita, será apenas por um momento, não nos demoraremos — ele começou abrindo espaço na entrada da porta — E depois você poderá voltar em minha companhia para a sala, visto que sua primeira aula é comigo nesse primeiro horário.

Aquele timbre de voz tão repleto de calmaria, tão doce e tão grave...

Ela não poderia recusar aquele convite.

— Certo, eu estou mesmo precisando de um café. Não comi nada hoje — ela disse com um sorriso leve, logo por desviar o olhar dele para a porta, seguindo por entrar naquela sala.

Tudo era impecavelmente bem arrumado. Dois quadros abstratos nas paredes de coloração creme, dois sofás pequenos e uma mesinha de centro no tapete frente a eles, qual continha uma jarra de café bem quente e biscoitos industrializados.

Assim que ele a pediu para que se sentasse, e já sentados, ele a serviu uma xícara, logo por fitá-la. As pastas que ela havia trazido estavam sobre a mesa do outro lado, junto a outros desconhecidos papéis.

— Oque acha do café? É realmente bom, não é? — ele disse antes que levasse sua xícara novamente aos lábios, provando do líquido levemente amargo.

Ela sorriu de leve ao fitá-lo; uma expressão tão leve e calma em seu semblante, mas ao mesmo tempo tão indescritível. Quem ele poderia ser além das paredes daquela escola? Quem poderia ser por trás dessa imagem de professor?

— Sim, o café é realmente muito gostoso — ela disse ao terminar de provar do líquido, logo por colocar a xícara vazia sobre a mesinha.

Ele fez o mesmo, olhando-a novamente. Os fios negros e lisos em uma mecha longa alcançava a altura de seu queixo, logo que a outra estava por trás da orelha.

Era claro que ele era um homem muito atraente. Quantos anos poderia ter?, ela pensou.

— Bom, senhorita, acho melhor nós irmos agora. Faltam três minutos para a primeira aula, e creio eu que não seria muito agradável nos atrasarmos e ainda chegarmos juntos na sala, certo? — ele sorriu em tom de brincadeira, se levantando do sofá e estendendo a mão para que a baixinha pudesse se levantar. E assim ela o fez, e não demorou muito para que já saíssem daquela sala.

Ele era de fato um homem sério, e visto pelas suas palavras sensatas, ele nunca iria ser um “psicopata aliciador de garotinhas”.

Ela sorriu ao relembrar as palavras bobas de Miha sobre o homem, chegando à conclusão de que elas realmente não tinham cabimento algum.

Em pouco tempo eles já estavam frente a porta da sala. Sebastian deu passagem para que a garota passasse primeiro, e ele logo em seguida. Todos os alunos já estavam na sala, agitados enquanto conversavam encostados em suas mesas, rindo e falando coisas sem fundamento algum. Até que todos, completamente todos se calaram e fitaram os dois adentrarem a sala. Uns paralisados, outros por trocarem risinhos perversos para colegas ao lado, como se já estivessem a pensar coisas pervertidas envolvendo aqueles dois.

Mellanie apertou os olhos irritada, vendo que o assunto agora era a “Baixinha invocada e o professor sinistro”.

Ela chegou em sua mesa, logo por trocar um olhar com Lysandre e Mary que se encontravam logo ali.

E claro, ela não poderia deixar de olhar para trás, bem lá trás, onde costumava ficar o ruivo mau encarado de sempre. E de fato ele estava lá, com a expressão mais petrificada e “malvada” possível. Parecia que sempre estava em um péssimo dia.

— Ei, Mell — a loira chamou a atenção da baixinha, cutucando seu braço — Onde estava? E posso saber por que chegou com esse cara?

Sim, era notável que Maryana não ia com a cara do professor de história. Nenhum pouco.

— Eu dei uma mãozinha para Nathaniel e Miha, eles tinham que entregar três pastas na sala dele, e como estavam muito ocupados eu me ofereci para ajudá-los. Não foi um sacrifício tão grande, ele até me convidou para um café — ela sorriu brincalhona referindo-se a gentileza do professor.

Mary revirou os olhos.

— Não acho isso uma boa idéia.

— O que não é uma boa idéia?

— Você ficar perto desse cara... se fasta dele, ouviu? — ela era realmente uma cabeça dura — Ele não me cheira nada bem.

Mellanie soltou uma risadinha gostosa.

Mesmo? Bom, ele está muito cheiroso se quer saber — ela zombou, e a loira tornou a ficar emburrada.

Lysandre nada disse a aula toda, apenas cumprimentou a baixinha enquanto lia um livro de poesia durante a explicação do professor sobre A antiga Guerra Fria. Aquele assunto era realmente interessante para a garota, ou talvez Sebastian o tornasse realmente interessante de se ouvir.

As três aulas passaram lentas e arrastadas, oque proporcionou uma pequena dor de cabeça na baixinha. O intervalo por outro lado, havia passado voando. Mellanie passara o tempo dele todo embaixo daquela árvore no pátio aos fundos da escola, e como sempre ninguém o habitava. E estranhamente, nem mesmo o ruivo havia dado das caras por lá hoje, oque fez a garota sentir uma ponta de decepção.

Talvez a companhia dele a fizesse um certo bem, mesmo que não fosse o mais agradável do mundo, ele era um demônio interessante de se lidar.

O sinal anunciando o fim do intervalo havia soado, e todos voltaram para suas devidas salas. Era aula de Matemática, porém o professor havia tido problemas pessoais e faltado, oque deixou os alunos em aula vaga, entretanto, dentro da sala.

Uns ouviam música, outros formavam grupinhos e conversavam coisas fúteis e desnecessárias. Já outras, como Lysandre e Mary, continham-se apenas a trocar versos de poesia um com o outro, e pareciam se divertir com aquilo.

Mellanie puxou ar para os pulmões, sentindo-se entediada e extremamente incomodada; ele estava quieto demais para seu gosto. Era como se não fosse ele, ou como se realmente fosse ao mesmo tempo. Seus olhos permaneciam fechados e a metade do rosto afogada nos braços sobre a mesa. Ele aprecia dormir pesadamente, ou apenas pensar com os olhos bem fechados. Seu semblante era calmo, porém, algo existia ali. E então ele abriu os olhos repentinamente, focando as orbes acinzentadas bem em cima da garota, que o fitava naquele momento, como se quisesse analisá-lo. Era como se esbanjasse frieza por aqueles olhos. Estavam mais cruéis que o habitual, e isso a fez apertar os lábios de nervoso.

Ele logo se pôs a esconder completamente o rosto nos braços, finalizando o contato entre ambos.

Aquela aula vaga passou mais lenta do que deveria; talvez por ela sentir um tremendo tédio.

A quarta e última aula estava prestes a começar. O barulho dos saltos torturavam os ouvidos da garota naquele momento, logo que a professora de Química parou bem em frente a turma, com seus enormes seios fartos presos a um decote bem justo e uma saia realmente pequena, qual fazia a maioria dos garotos babarem. Exceto por dois seres estranhos ali; Lysandre, que não parecia se importar nenhum pouco com a figura da professora, apenas mantinha seus olhos bicolores firmes na leitura de seu livro. E o outro estava bem lá trás, na última carteira; Castiel, agora bem acordado com as costas encostadas na cadeira e os braços cruzados abaixo do peito. Mexas de seus cabelos rubros batiam em seu queixo, fazendo assim alguns pouco fios colarem em seus lábios. Sua jaqueta de couro estava um pouco surrada, e por baixo dela a camiseta branca com o nome estampando “The Beatles”.

Já haviam se passado exatamente dez minutos daquela aula, que sinceramente estava sendo uma droga para a baixinha, que não agüentava mais ouvir a voz enjoativa daquela mulher, qual julgavam professora.

Se é que se deve realmente chamar de professora uma louca que usa uma saia de tamanho tão indecente.

— Muito bem, quem pode me responder o resultado dessa fórmula aqui? — ela perguntou assim que terminou de escrever no quadro na ponta dos pés, como se quisesse realmente mostrar mais que o necessário, e então se virou para a turma com um olhar caçador, à fim de encontrar alguém que respondesse sua pergunta — Você, Castiel. Qual o resultado desta fórmula? — ela apontou para o ruivo bem no fundo da sala, e então todos de viraram para olhá-lo.

Ele estava com o semblante realmente assustador naquele dia; os olhos tão frios quanto qualquer inverno.

— Professora, professora... — ele começou com um suspiro — Sinto muito, mas eu não vou te responder.

Ela arqueou uma sobrancelha incrédula.

— Como é que é? — disse — Olha aqui garoto, não venha com gracinhas pro meu lado, ouviu bem? Estou aqui para ensinar, então responda logo a minha pergunta.

Ele soltou um sorrisinho sarcástico, logo por ajeitar sua postura na cadeira e encará-la tranquilamente.

Você está aqui para ensinar? Ensinar oque? A como empinar a bunda na frente da sala toda? — ele continuou, com o timbre maldoso afiado na ponta da língua — Se acha que pode ensinar Química com os peitos pulando pra fora da blusa, porque não tenta dar umas aulinhas para os marginais na esquina da minha casa? Acho que eles ficariam muito felizes em aprender um pouco da sua matéria.

Todos, completamente todos os alunos ali presentes começaram a assoviar, rir e a gritar, sentindo-se animados com as palavras agressivas e recheadas de ironia do ruivo, que se manteve tranqüilo a todo o momento.

Mas quem não parecia tão contente com aquilo eram os três mais à frente; Lysandre havia dado um tapa em sua própria testa, em reprovação ao ato do rapaz inconseqüente. Maryana apenas negativou com a cabeça. E Mellanie? Bom, ela havia ficado incrédula com a atitude do rapaz; mantendo os olhos arregalados enquanto o encarava irritada.

“Oque esse imbecil pensa que está fazendo?”

A professora estava mais vermelha que um pimentão, mas não se sabia se estava assim por conta da tamanha vergonha ou pela fúria.

— Seu moleque, oque está querendo dizer com isso, hã? Vamos, fale na minha cara agora! — ela realmente estava querendo ouvir mais que o necessário.

O ruivo esboçou mais um de seus sorrisinhos travessos ao canto dos lábios.

— Ainda não entendeu oque eu estou querendo dizer, querida professora? — começou — Você é uma vadia — ele disse lentamente, movendo os lábios sem pressa — Entendeu agora, ou quer que eu desenhe nos seus peitos?

Esse foi o limite.

Ao ouvir as palavras abusivas do ruivo, a professora de Química se pôs a bater os punhos fortemente contra sua mesa na frente da sala, oque fez com que todos os eufóricos se calassem e a fitassem, para ver oque ela faria a seguir.

Todos estavam apostando fielmente em que ela voaria no pescoço dele, mas por mais que fosse isso que ela queria fazer, não o fez.

— Seu moleque desgraçado, vá agora para a diretoria! E não me volte de lá sem uma boa suspensão, fui clara?

Castiel ainda sustentava seu sorrisinho zombeteiro na ponta dos lábios, oque fazia a professora se exaltar ainda mais.

Ela abriu a porta com ferocidade, esperando para que ele passasse por ela.

Ele catou sua mochila em cima da mesa, colocando-a no ombro direito, logo por começar a andar pelo corredor entre as carteiras.

Mellanie sentiu seu coração se apertar, ao mesmo tempo em que variava seu olhar do garoto abusado para a mulher extremamente furiosa.

É nessas horas que sabemos porque professores não podem carregar armas afiadas consigo.

O ruivo estava passando bem ao lado das mesas de Lysandre, Mellanie e Mary, e nesse momento, talvez mais por puro impulso do que sanidade, a baixinha se levantou da cadeira com tudo, logo por parar o ruivo com um puxão no braço.

A professora arregalou os olhos, desentendida daquela ação.

— Professora, por favor reconsidere. Ele não tem consciência do que faz, você já deve conhecê-lo muito bem. Acho que não é um assunto que deve ser tratado na diretoria, — até porque aquela velha diretora era uma louca insana — mas sim aqui com você. Não acha que deveria reconsiderar?

A mulher frente a porta puxou ar para os pulmões, logo soltando um falso sorrisinho amistoso.

— Oh, você está certa, muito certa mesmo — ela disse — Claro que vou reconsiderar, não se preocupe.

Mellanie olhou o ruivo ao lado e voltou seu olhar para a mulher na porta.

— Sério? — perguntou incrédula, porque afinal, seria realmente tão fácil?

A mulher então se deu por fechar aquele sorriso falso, fitando a garota baixinha ao lado de Castiel como se ela fosse um cúmplice de seus atos.

— Mas claro que vou reconsiderar, minha queridinha — ela começou — Irei reconsiderar mandá-la com ele pra diretoria, e pro quinto dos infernos se também for possível — disse tão amarga quanto as xícaras de café que Kaien costumava preparar na ausência de Lunna, já que seu negócio mesmo era seu queridinho chá — Então quer dizer que você precisa da ajuda de sua namoradinha pra livrar a sua cara, Castiel? — ela riu, como se fosse uma louca satânica — Se é assim, nada mais justo do que ela também pagar por seus erros, não é?

A baixinha arregalou os olhos, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa que fosse, o ruivo a puxou para si, apertando-a em um abraço de lado.

Todos ali presentes se levantaram um tanto da cadeira incrédulos com aquela cena.

Lysandre continuava com um semblante decepcionado e a mão sobre a testa, enquanto Mary queria realmente enfiar a porrada na cara de Castiel, por ter metido Mellanie naquela confusão.

— Parece que além de vadia, a nossa querida professora não se contenta com sua infelicidade e quer jogar tudo em cima da minha baixinha. Isso é realmente deprimente — ele balançou a cabeça negativamente, lançando um certo olhar cúmplice para a garota qual agarrava pela cintura, porém ela não parecia nada contente com aquela situação.

Se não desgrudar essa sua mãozinha boba de mim, eu te quebro a cara agora mesmo — ela ameaçou em um sussurro, com os olhos semi-cerrados.

Ele alargou o sorriso provocativo, agora jogando-o em cima da professora, que estava ainda mais furiosa com as palavras do ruivo.

Saia agora mesmo dessa sala, seu abusado! E leve essa garota com você. Quero os dois um bom tempo longe de minhas aulas! — sim, ela estava extremamente furiosa naquele momento. Nunca havia perdido a cabeça em sequer uma aula durante a vida inteira, e o ruivo havia conseguido aquele grande feito.

— P-Professora... você entendeu tudo errado, eu não...

— Oque eu acabei de dizer? Está surda? Quero os dois pra fora daqui agora mesmo! — ela gritou enquanto apontava para fora da sala.

Mary apertou o punho sobre a mesa naquele momento, achando aquilo uma tremenda injustiça, logo por se levantar um pouco da cadeira com a intenção de protestar a tudo aquilo, mas ela não pôde concluir tal ato; Lysandre a agarrou pelo braço, fazendo-a se sentar novamente e negativando com a cabeça, penetrando seus olhos de diferentes cores nos azuis dela, como se quisesse dizer para que ela deixasse assim, caso contrário acabaria por piorar a situação.

O ruivo começou a andar, puxando a garota com ele agora pelo braço, e quando já estava na porta, parou bem ao lado da professora, olhando-a provocativo, em seguida por fitar seus peitos.

— Professora, se eu fosse você tomaria mais cuidado. Eles podem acabar pulando pra fora, se você se exaltar demais.

E então antes mesmo que a mulher pulasse no pescoço do ruivo, matando-o ali mesmo, ele saiu pela porta com a garota consigo. Logo ouviram a porta bater em um baque violento, oque o fez soltar um sorriso.

Ele continuava por praticamente arrastar a garota por aquele corredor. Ela ainda estava incrédula com oque acabara de acontecer, e de certa forma sabia dês de que acordara que aquele dia não seria nada fácil.

Ela logo “despertou”, puxando seu braço para trás, assim fazendo com que ele a largasse.

— Oque foi isso? Ficou maluco? Alguém bateu na sua cabeça forte demais pra você fazer uma merda dessas? — ela o repreendeu extremamente nervosa. Não queria dar de cara com a diretora mais uma vez, muito menos pegar mais um castigo qual os dois ficassem à sós para limparem um museu velho.

Ele suspirou, olhando-a desinteressado.

— Deveria olhar para o seu tamanho antes de vir me dar liçãozinha de moral, sabia? — disse.

Ela apertou os olhos.

— Cala a boca, seu demônio! Olha só no que você nos meteu dessa vez. Que tipo de pessoa chama sua professora de vadia? — ela falava rápido demais, balançando as mãos em gestos abstratos, logo por se lembrar de cada palavra dita pelo ruivo para a mulher — “Entendeu, ou quer que eu desenhe nos seus peitos?” Mais que droga foi essa, Castiel? Você endoidou? Andou cheirando umas fora daqui, é isso?

Ele fez uma carinha de garoto inocente, balançando a cabeça para os dois lados em negativa, oque fez com que seus cabelos rubros balançassem também, batendo delicadamente em seu rosto pálido.

— Me parece que a baixinha está um pouquinho nervosa com isso, — ele disse calmamente, logo por levar os olhos cinzentos contra os esverdeados. E então, tão rápido quanto ela pudesse reagir, ele agarrou nos braços finulos, agora por jogá-la contra a parede, prensando-a lá. Seu peitoral estavam contra os seios da garota, que o fitava agora horrorizada. Logo ele se pôs a continuar, com a voz lenta e provocante — Quer saber de um castigo melhor do que levar uma ocorrência na diretoria?

Os olhos verdes estavam em alerta e devidamente arregalados, enquanto fitava o rosto dele se aproximar lentamente. Já podia sentir os fios ruivos pinicarem em suas bochechas.

Seu peito se apertou quando ele estava à meros centímetros, mas uma voz grave se formou no ar naquele momento,

— Ora, ora, mas oque é isso aqui? — e uma risada zombeteira também surgiu, — É isso mesmo que estou vendo? Castiel abusando de uma garotinha indefesa nesse corredor tão vazio? Tsc, tsc, isso é realmente maldoso, ruivo.

E então Castiel voltou a sua postura normal, distanciando o rosto da garota, logo por largá-la da parede.

Já ela, havia tomado um enorme susto com a aparição inesperada do cara que havia chegado tão de repente. E quem era ele? Dake, com seus cabelos loiros presos em um rabo de cavalo, deixando assim apenas que algumas mechas escapassem.

E, aquele sorriso esnobe também estava infiltrado em seu rosto.

A expressão de susto da baixinha agora havia se modificado em nada menos que raiva. Lembrou-se do dia em que descobriu que aquele mesmo cara violentava Mary, e lembrou-se muito bem do dia em que fora na casa dele com Zero dar-lhe uma surra.

Dake — ela disse friamente, fitando-o com os olhos levemente apertados — Oque faz aqui?

Ele com as mãos nos bolsos da calça se pôs a alargar ainda mais o sorriso de deboche.

— Desculpe gracinha, mas com certeza não vim aqui para ver você, isso é certo — ele continuou sorrindo, agora por encarar Castiel ao lado da garota.

— Então veio aqui porque resolveu levar umas porradas, uh? Porque se for, eu estou aqui pra isso — o ruivo disse em tom zombeteiro.

Dake riu, como se aquilo fosse uma ótima piada.

— Na verdade, eu não vim aqui para sentir cosquinha de você, ruivo — ele pausou, logo por se aproximar bem perto dos dois, parando frente a baixinha que o encarou mortalmente — Eu vim ver minha namorada.

Mellanie apertou ainda mais os olhos, sentindo uma fúria descomunal lhe invadir.

Ele era tão insistente assim?

A garota deu um passo à frente.

Escute bem oque eu vou lhe dizer, Dakota, — ela começou com o tom autoritário, enquanto Castiel observava oque ela pretendia fazer — Eu não permitirei que você se aproxime da Maryana de novo, fui clara? Ela já sofreu muito com você e seus atos egoístas, e não sei se você é cego, mas ela não quer mais você como namorado, então se eu fosse você, daria o fora.

O ruivo sorriu minimamente ao canto dos lábios, vendo o quanto a baixinha tinha fibra nesse ponto.

Dake continuava sorrindo, entretanto, de seus olhos um brilho sádico transbordava.

E então ele curvou a coluna, dando-se por ficar na altura da garota. Aproximou-se de seu rosto, falando próximo ao seu ouvido, mas não baixo o suficiente para que Castiel não pudesse escutar;

— Garota, garota, você não deveria meter o nariz nos assuntos dos outros — ele pausou — Porque, se quer saber, eu estou louco para te dar o troco daquele dia...

Sim, ele se referia realmente aquele dia em que ela e Zero invadiram sua casa para lhe dar uma tremenda de uma surra, oque o deixou bastante machucado. Mas estava na cara que ele não deixaria isso pra lá.

Castiel apenas ouviu, mesmo que não tenha entendido nada daquela provocação, estava a ponto de pular no pescoço do loiro e quebrar-lhe todos os dentes. Ele estava próximo demais da garota.

Ela se pôs a esboçar um sorriso sarcástico.

— Ah, é mesmo? — ela começou — E eu acho que você não aprendeu com a lição que eu lhe dei aquele dia.

Um sorriso louco brotou dos lábios do loiro, que balançou a cabeça em negativa enquanto soltava risos, como se aquilo fosse uma espécie de piada.

— Sabe, eu adoraria te ver me dar uma nova lição aqui nesse instante. Seria realmente divertido te ver tentar me bater enquanto eu quebro esse seu lindo rostinho — ele murmurou, logo que ela arqueou a sobrancelha direita.

Atrás dos dois o ruivo semi-cerrou os olhos, se perguntando oque eles estariam querendo dizer com tudo aquilo, e principalmente, ele queria socar a cara de Dakota, que estava abusando da pouca sorte que tinha.

— É claro, afinal é isso que você sabe fazer de melhor, não é? Quebrar o “rostinho” das garotas — ela retrucou, mantendo-se ainda naquela postura firme.

Ele apertou os lábios com os dentes ao mesmo tempo em que não desviava os olhos de Mellanie.

— Não tente bancar a fortinha pra cima de mim agora, porque se você conseguiu me machucar naquele dia foi porque teve a ajuda de seu “amiguinho”. Uma baixinha fraca como você não conseguiria encostar um dedo em mim sozinha.

Ela fechou a cara, tornando-se com a expressão mais petrificada e fria que a do próprio ruivo atrás de ambos que discutiam.

— Eu não gosto de repetir oque eu digo, então escute muito bem o último aviso que eu vou te dar — ela pausou antes que continuasse — Eu quero você a quilômetros de distância da minha loira, fui clara? Se não percebeu, ela não quer mais você ao lado dela. Eu não faço idéia de como era o relacionamento de vocês dois no começo, mas, o presente é oque realmente importa, e oque você é hoje é exatamente oque eu não quero para ela como companhia. Não vê o quanto ela já sofreu por sua causa? Tanto o emocional quanto o físico se tornaram um fiasco enquanto estava ao seu lado — ela respirou fundo — Você é nojento, desprazível e covarde. Você bateria nela agora se tivesse a chance. Você não merece sequer uma nova pessoa como companheira — as palavras saíam ríspidas de sua boca — Se quer saber, ela está bem agora, sim, muito bem longe de um monstro como você. Ela tem eu, ela tem Lysandre. Não vê que você só se tornou um peso na consciência dela agora, Dakota?

Nesse momento os olhos dele se tornaram tão insanos quanto em qualquer momento passado. Sua pele inteira por dentro formigava e em seus olhos amendoados o ódio aflorava cada vez mais, e com as palavras rígidas daquela garota, cada vez mais ele sentia os nervos se comprimirem.

E então, em uma ação tão inesperada, ele arqueou o braço, dando um tapa forte e rápido com as costas da mão bem no rosto de Mellanie, que com o impacto só se viu indo direto em encontro com o chão, chocando as costas e os cotovelos no piso que por si começaram a sangrar em um corte que se abrira.

Ela se encontrava caída agora, com a mão direita apertada no canto de sua boca, tapando parcialmente sua bochecha que ardia, como se tivesse feito uma queimadura.

Retirou a mão do local atingido, e no canto de sua boca brotava um pouco de sangue.

Ela nunca havia apanhado de nenhum homem antes em toda sua vida, porém, aquele golpe a fez aflorar ainda mais seu ódio por Dake.

Os olhos dele agora a encaravam no chão ao mesmo tempo em que um sorriso louco sustentava em seus lábios.

Mas, aquele sorriso não duraria muito tempo. Não se dependesse dele.

O ruivo, que antes mantinha os punhos cerrados, ao ver a agressão dele contra a baixinha, se pôs por praticamente voar em Dakota, tacando o loiro contra a parede ao mesmo tempo em que agarrava na gola de sua camisa e o enfiava uma seqüência de socos em sua face sem piedade.

O loiro nesse momento, após ter o rosto espancado pelos punhos do ruivo, se deu por arquear a cabeça. Os fios claros agora desgrenhados atingindo seus olhos em mechas que se soltavam do rabo de cavalo.

Porém, algo estava errado. Ele novamente abriu seu sorriso; uma mistura de loucura com provocação ao cara que lhe prendia na parede.

— Você perdeu a noção realmente, não é filho da puta? — Castiel disse de modo cortante ainda por apertá-lo contra a parede com uma das mãos firmes no colarinho da camiseta do loiro, que sorria ao invés de gemer pela dor dos machucados em seu rosto, que ao ver estavam realmente feios — Bater em alguém visivelmente mais fraco na minha frente, qual o seu tipo de problema mental?

Dake riu alto.

— Desculpe tocar em sua namoradinha, ruivo. Mas eu deveria te dar um pequeno conselho: adestre a gatinha um pouco melhor, porque ela está mais arisca do que deveria.

E mais um belo soco fora atingido bem em cheio no rosto do loiro, desta vez no nariz, oque o fez sangrar.

— Quem precisa ser adestrado aqui é você, Dake — o ruivo retrucou enquanto via o loiro dar uma tossida e cuspir sangue para o lado — Não está se comportando muito bem, será que eu deveria te dar mais algumas porradas?

Mellanie sentia suas pernas fracas e doloridas. Os cotovelos ardiam talvez mais que sua bochecha agora, porém, o incomodo maior era em seu peito; que se apertara no mesmo instante em que o ruivo resolveu jogar o loiro na parede e socá-lo diversas vezes. Sabia que ele já estava encrencado até o pescoço, e que se fosse pego no corredor espancando um visitante, não seria somente uma mera suspensão que levaria nas costas.

A garota levantou a coluna do chão gelado, logo por ficar de joelhos enquanto via agora os dois “conversarem” naquela parede; ela estava nervosa e preocupada, e por mais que o loiro tivesse feito, o ruivo não poderia sair prejudicado por causa dele. Bater não era a solução.

— Castiel... deixa ele... não vê que... não vale a pena machucar a mão dessa maneira? — ela dizia alto e de forma rouca, sentindo que perderia a voz a qualquer momento.

Castiel não deu a mínima importância para ela, apenas se mantinha concentrado no cara bem a sua frente, que ainda sorria, por mais que seu sorriso saísse mais como uma careta por conta dos machucados.

A garota não se conteve, logo chamando-o novamente, oque tomou desta vez a atenção do ruivo, que direcionou as orbitais um tanto para o lado, onde encontrou os olhos verdes suplicantes.

— Agora é a minha vez de brincar — a voz de Dake cortou os pensamentos do ruivo, que pouco depois não pôde entender mais nada.

Dakota aproveitando da distração de Castiel para a garota, se deu por acertá-lo em cheio no lado direito do rosto, oque o fez tombar um tanto para trás com o golpe.

— CASTIEL! — ela gritou ao conseguir com um impulso finalmente se levantar daquele chão, ao mesmo tempo em que via o ruivo no meio do corredor, agora um tanto inclinado na direção do chão.

Os cabelos rubros atingiam os olhos do rapaz, ao mesmo tempo em que ele apertava o maxilar com os dedos da mão direita.

Mellanie avançou um passo na intenção de correr para o rapaz, mas fora impedida por mãos que a agarraram nos ombros por trás.

Direcionou seus olhos verdes em quem a prendia ali, e sua visão encontrou Lysandre; com os olhos de múltiplas cores que a fitava tão severo quanto qualquer pai enquanto dá ordens a sua filha.

— Oque ocorre aqui? — o tom de voz do vitoriano era extremamente calmo.

Logo ela pôde ouvir um suspiro pesado e nervoso que vinha bem detrás de Lysandre. Mellanie avistou os cabelos loiros e os olhos azuis petrificados de Maryana, que parecia tão chocada com aquilo tudo quanto a própria baixinha naquele momento.

Os olhos azuis de Mary fixaram primeiro em Castiel no meio do corredor, ainda com o rosto inclinado para o chão com as mechas rubras sobre seu rosto pálido. Mas não demorou para que sua visão se focasse apenas em uma pessoa;. Dakota.

— Oque você faz aqui, Dake? — as palavras saíram gélidas e cortantes, como se sentisse repulsa apenas por encarar a cara dele.

O loiro fitou a loira, e de seus olhos não transbordava mais a insanidade; agora transparecia em seu semblante algo amável — que de tão doce, chegava a ser assustador.

— Meu amor-

— Vá se ferrar com a droga do seu amor, — ela soltou com rispidez, oque fez Mellanie e Lysandre fitarem-na com atenção — Você vem aqui para quê, uh? Acabar com o resto que sobrou da minha vida? Você machucou Mellanie, você machucou Castiel. Machucou meus amigos, e para quê? Para me deixar pior.

O loiro aproximou alguns passos de Mary, não retirando seus olhos dos azuis que ela continha.

— Eles não queriam me deixar ver você.

— Eu te odeio — ela disse cada palavra pausadamente — Não consegue perceber que oque sinto por você não passa de desprezo e nojo?

O loiro balançou a cabeça negativamente, sorrindo de modo nervoso logo que agarrou os braços da garota a sua frente.

— Você tem que voltar pra mim, entendeu? Eu não vivo sem você, Mary!

Ela manteve os olhos azuis bem abertos, logo que os moveu para onde as mãos fortes do loiro agarravam-na nos braços.

Estava machucando-a.

Nesse mesmo instante as mãos que se mantinham firmes nos ombros de Mellanie se soltaram, e a baixinha pôde ver Lysandre passar a sua frente, logo por agarrar o braço de Dakota com firmeza.

Ela nunca havia visto os olhos bicolores tão intimidadores quanto naquele momento.

— Largue-a — fora a única coisa que o vitoriano disse, enquanto encarava friamente os olhos amendoados de Dake, que por si, sorria.

— Você acha que pode roubá-la de mim, seu merda? — o loiro disse de forma provocadora — Ela é minha.

Não importava a densidade de palavras provocativas de Dakota, Lysandre nunca mudava sua expressão petrificada e firme.

— Escute bem, meu caro — começou ele, com seu típico timbre cortês na voz — Se não largá-la e deixá-la em paz, deformarei seu rosto mais do que já está deformado — Mary mantinha seus olhos azuis agora firmes ao seu lado, onde Lysandre se encontrava enquanto ameaçava o loiro que ainda apertava um dos braços dela — Posso lhe assegurar que não serei nenhum pouco gentil da próxima vez que vier incomodar essa garota ou qualquer um de nós. Vá embora agora.

Dakota o olhou com ódio, porém, logo se deu por largar os braços da garota, que no mesmo instante massageou a região que ele havia segurado com força. Havia ficado vermelho.

— Não pense que deixarei com que pise em meus sentimentos tão fácil e que vá embora. Eu vou voltar, e nem que seja para te matar eu deixarei você livre para esse vitoriano ou qualquer outro fulano — o loiro disse por fim, ao se aproximar e sussurrar no ouvido dela, de forma que somente ela pudesse ouvir.

Mas que tipo de bobagens ele havia dito, afinal? Pisar em seus sentimentos? Mas não fora ele que havia feito isso primeiro?

Maryana direcionava seu olhar para o final do corredor, vendo o cara que tanto ela amou e que tanto a machucou um dia sumir pelo portão afora.

Ela suspirou fundo, abaixando a cabeça, deixando assim com que os fios alourados cobrissem suas bochechas.

Lysandre colocou a mão na testa e fechou os olhos, como sempre costumava fazer em momentos de tensão ou sérios como aquele.

Mellanie, que se encontrava logo atrás dos dois, segurava o cotovelo esquerdo com a outra mão, na tentativa de amenizar a dor do pequeno ferimento que ardia. E, naquele momento, seus olhos verdes se fixaram na parede logo ali, onde Castiel se encontrava escorado com as mechas ruivas caídas sobre o rosto pálido — que agora parecia ainda mais alvo que o normal.

Ela foi se aproximando a passos lentos daquela parede, por fim repousando a palma de sua mão no ombro do rapaz.

— Castiel, você está bem?

E lentamente ele fora levantando o rosto na direção do da garota. Os fios rubros pareciam mais vivos que o normal naquele momento, e em um segundo os olhos cinzentos pareciam tão frios quanto o habitual.

— Saia de perto de mim — sua voz era ríspida e grave, como se quisesse machucá-la apenas com seu timbre.

Mas de certa forma, ela sabia que ele não a machucaria.

Ela forçou um sorriso, e sua mão que se sustentava no ombro dele logo foi em direção ao rosto, onde por cima dos cabelos lá manteve a palma, como se acariciasse a bochecha, de forma que quisesse passar carinho para ele.

Logo ela pôde ver um filete de sangue que escorria dos lábios dele, que estava cortado na ponta.

— Ele machucou você, deixa eu te ajudar com isso.

E no mesmo momento em que ela movia sua mão da bochecha para os lábios do rapaz, ele repentinamente afastou a garota com o braço, dando um tapa em sua mão, oque a fez arregalar os olhos olhando-o dar um passo para trás.

Os olhos tão frios e irritados a fazia se sentir reprimida.

— Não encoste em mim, eu não preciso da sua ajuda — logo ele deu as costas, passando por ela e parando um pouco mais a frente — Vá pra casa você, e cuide desses machucados. Não deveria se preocupar comigo.

“Mas eu me preocupo, e esse é o problema.”

Enquanto o via sumir no fim daquele corredor, apertou os olhos que ardiam, sentindo que se inundariam de água a qualquer momento.

Mas não faria isso. Não choraria na frente de Mary e Lysandre, ainda mais de Mary, que precisava de um apoio agora.

O sinal soou, anunciando o término das aulas.

— Mell, vá pra casa — Maryana disse com o tom de voz acolhedor, visto que ela havia presenciado a cena do ruivo e a garota a poucos segundos.

Mellanie se virou, com a expressão tão petrificada e abobalhada quanto qualquer um ali agora — já que pelo toque do sinal, aquele corredor havia se tornado cheio de alunos que passavam apressados por eles.

— Não quer que eu fique com você? — a baixinha perguntou. Sua voz estava fraca.

Mary sorriu torto.

— Pode ir, Lysandre me fará companhia. Você precisa descansar e cuidar desses ferimentos.

Mellanie sorriu triste, e logo deu as costas para os dois, correndo entre os estudantes vez ou outra que esbarrava na maioria deles.

Tudo que queria era sumir dali, mas ao mesmo tempo queria encontrar Castiel, ver se ele estava bem ou oque estava sentindo naquele exato momento.

Será que se importava?

Não, não poderia, afinal, demônios são capazes de demonstrar sentimentos?

**

Sabe aquele momento que tudo que você deseja é cavar um buraco bem fundo e pular nele? Sumir pra sempre e nunca mais voltar? Pois bem, era exatamente isso que ela queria fazer naquele momento.

A cada passo arrastado que dava naquela calçada, sentia seu coração palpitar cada vez mais forte, oque na verdade estava a incomodando de forma cruel. E oque era realmente perturbador não era os gritos e vozes altas ao redor por conta dos alunos que conversavam na frente da escola ou iam embora a destino de suas casas. Não, não era nada disso. O verdadeiro tormento em si agora era oque estava bem à frente, não tão longe, que a esperava encostado em uma árvore; os cabelos esbranquiçados tão perfeitos quanto qualquer outro que pudera ver antes, acompanhado dos olhos arroxeados com um tom vivo de frieza e crueldade. Sim, esse era Zero. Seu anjo da guarda, seu protetor, seu cão de guarda. O cara que vezes mais desejou dar uns socos por ser daquele jeito tão calado e sério, e principalmente: o cara que mais a fez se preocupar nas ultimas semanas.

Os passos se tornaram mais lentos assim que a sola de seu tênis tocou a grama, e foi aí que ela o viu sair do tronco da árvore. E por Deus, aqueles olhos a fitaram com um brilho tão profundo, que ela sentia que perderia o ar a qualquer momento; talvez pelo nervosismo, ou simplesmente porque a culpa era seu maior sentimento no momento.

Muitos alunos passavam pela caçada, com suas mochilas de marca nos ombros ou roupas caras. Algumas garotas passavam batendo o cabelo enquanto olhavam para os dois naquela árvore com um olhar mortal, talvez com uma certa inveja, e a principal coisa que provavelmente pensavam era; “Oque essa estranha faz com um cara tão bonito como ele?” E por mais que ele parecesse estranho com uma cara tão amarrada e tão séria, elas pariam querer atacá-lo ali mesmo.

— Está atrasada — fora a primeira coisa que ele disse quando a olhou por cima e passou por ela, logo chegando a calçada e parando lá, a fim de esperá-la alcançá-lo.

Ela suspirou fundo.

— Que exagero, só foram cinco minutos, não demorei tanto assim.

A quanto tempo ele estaria escorado naquela árvore? A quanto tempo poderia estar esperando por ela? Bom, de qualquer forma, isso não era o mais importante no momento.

Eles começaram a andar sem muita pressa, ela ao seu lado esquerdo. O vento batia leve nos cabelos de ambos, acariciando os rostos.

Ele a olhou ao canto dos olhos, notando que a garota que em todas as voltas para casa que não calava a boca um minuto sequer, estava quieta demais hoje.

Logo os olhos púrpura se estreitaram em um olhar assustadoramente preocupado, e então ele a agarrou pelo braço, parando-a no meio da rua, oque a impediu que continuasse com o trajeto.

— Oque é isso na sua boca? — ele alinhou um tanto a coluna na direção da baixinha, levanto o polegar até o canto dos lábios da garota.

Ela sentiu o gosto metálico do sangue, e se praguejou mentalmente por ter sido tão descuidada. Deveria ter limpado qualquer rastro de ferimento causado por Dakota, mas esteve com os pensamentos tão avoados que simplesmente se esqueceu desse detalhe.

Zero a encarava em busca de uma resposta, enquanto ela estava realmente nervosa, tanto pela aproximação e pela irritação dele com aquele machucado, quanto pela dor no cotovelo ralado.

— Não é nada, vamos embora — ela disse desviando o rosto para o lado, porém quando ia dar o primeiro passo para retomar a caminhar ele a deteve, agarrando-a firme pelo braço novamente.

Virou-a para ele, oque a fez ser obrigada a fitar aqueles olhos arroxeados e severos.

— Eu te fiz uma pergunta, e não gosto nenhum pouco quando não sou respondido — disse — Quem fez isso com você, Mellanie?

Ela engoliu em seco, sentindo a garganta dolorida por meros instantes. A mão forte a agarrava pelo braço, e aquilo a deixava ainda mais desconfortável.

Não teria outro jeito além de contar oque aconteceu.

— Zero, escuta, não foi nada de mais, tá legal? Foi minha culpa, eu falei mais do que deveria e acabei merecendo isso — respirou fundo, piscando duas vezes antes que continuasse — Foi Dakota, aquele sujeito que demos uma lição a algum tempo atrás, se lembra? Ele apareceu lá na escola, eu estava com Castiel no corredor e tudo aconteceu muito rápido. Ele estava a procura de Mary, e eu não poderia permitir que ele a magoasse novamente. Foi aí que entramos em uma sessão de insultos, e eu estava ganhando até ele se irritar e me dar uma bofetada na cara.

Zero não reagiu, não demonstrou, mas era claro bem no fundo de seus olhos que estava extremamente furioso. Seus punhos começaram a ferver, e logo ele a soltou o braço, passando as mãos pelos cabelos e apertando os fios com raiva.

Por fim vidrou os olhos nela novamente, como se ela fosse a culpada, ou simplesmente por estar muito nervoso acabasse por descontar demais.

Porém, se controlou.

— Eu não disse para não se meter em nada desnecessário na escola? Para não se enfiar em nenhuma situação que se ferisse? — seu timbre de voz era grave e irritadiço, oque a assustou por um momento — Droga, esse desgraçado tocou aquela mão suja em você, te machucou...

Mellanie apertou o lábio com os dentes, e se aproximou um passo, colocando a mão pequena no ombro do rapaz, na tentativa de amenizar a ira.

— Zero, se acalme, não foi nada. Eu estou bem, na verdade nem dói, só na hora que ardeu um pouco... não fique tão nervoso por qualquer coisa — a voz dela era calma, como se quisesse passar tranquilidae para ele.

Ele a fitou.

— Isso não é qualquer coisa, — pausou — Não vê que eu estou aqui para garantir sua proteção? E agora você me chega sangrando, machucada. Não está nada bem, você deveria entender oque eu quero dizer pelo menos uma vez, Mellanie.

Ela abaixou os olhos, sentindo-se culpada.

— Eu entendo que você está do meu lado pra me proteger, Zero, eu entendo isso. Mas não quero que qualquer arranhão que eu tiver te afete tanto. Eu não pude evitar esse tapa, porque eu procurei por isso, mas eu também não poderia deixar aquele ordinário machucar minha amiga de novo — os olhos marejaram no momento em que imaginou ver Mary com ferimentos de novo — Pense na pessoa que você ama, e deseja o bem, e tudo que quer é vê-la tranqüila, em paz, e suponhamos que você vê que alguém irá fazê-la mal, oque você faria? A protegeria, certo?

Logo ele enfiou as mãos nos bolsos da calça, puxando ar para os pulmões enquanto olhava o horizonte.

— Não sei nada sobre amor, ou qualquer outro tipo de sentimento afetuoso, — ele começou de forma meia vaga, a voz agora mais tranqüila como de costume — Mas de qualquer maneira, eu estou aqui, não estou? Dando meu máximo para cuidar de você, seja da forma que for. Por isso que não posso vê-la com um mero arranhão sequer, e é exatamente por isso que quero matar esse cara que te feriu agora mesmo.

As ultimas palavras haviam saído de sua boca de forma mais sombria do que o habitual, porém a garota apenas sorriu.

— Você está aqui justamente porque é o seu trabalho, o seu dever estar aqui, Zero — ela começou — Não acho que estaria aqui de qualquer forma, se não fosse seu papel me proteger. É como se fosse mais uma de suas missões, só que como guarda costas.

Os olhos púrpura continuavam petrificados, e agora com tais palavras da garota, ele apenas moveu o rosto para encará-la.

— Talvez tudo que tenha dito agora seja verdade, — ele disse — Porém, não é bem assim — continuou — Eu estou aqui hoje, cuidando de você justamente porque esse é o meu destino. Nossa raça, antes mesmo de nascermos, já escrevem nossos papéis, e você é o meu — os olhos dela se focaram nos arroxeados com certa curiosidade e um brilho ameno — Não importa oque aconteça, não deixarei com que morra. É pra isso que estou aqui, pra proteger e morrer por você se assim for.

Ela sorriu minimamente, porém, naquele momento flashes da noite em que fez a burrada de beijá-lo voltou a sua mente, e logo um sentimento de culpa a inundou.

Ele ia retomar o trajeto, mas ela o deteve pelo antebraço.

— Zero, espera — chamou-o a atenção — Eu preciso te contar uma coisa.

Ele a fitou com curiosidade.

— Mellanie, estamos no meio da rua, me conte quando chegarmos em casa — ele voltou a dar as costas.

— Eu menti! — disse em bom som, não dando a mínima para oque ele havia proposto.

Ele parou no mesmo instante, virando-se um tanto para trás.

— O quê?

— Eu menti pra você, sobre algo e por um motivo estúpido — ela disse com o timbre de voz rouco.

— Sobre o que mentiu para mim?

— Naquela noite em que você foi até meu quarto porque estava suspeitando que alguém estivesse por lá, mas na verdade nada encontrou — ela se forçou a continuar — Eu não estava sonâmbula quando te dei aquele beijo, Zero. Eu estava muito acordada, e não te beijei porque li em um livro que deveria fazer aquilo ou porque estava com algum tipo de problema, não, não foi nada disso.

Havia mesmo alguém naquele quarto, e era Joseph, o homem que está morando por lá agora, sabe? Ele estava escondido debaixo da minha cama, e eu tinha certeza que você não ficaria nada contente em ver um estranho no meu quarto, e machucaria ele. E, por mais estúpida que eu pude ser, a única forma que encontrei foi de te beijar — seus olhos estavam marejados, e seu coração batia tão forte quanto qualquer coisa — Eu sinto muito, eu menti de forma injusta pra você.

Permaneceu-se o silêncio por longos segundos. Por hora ele não desviava os olhos dos verdes que ela continha, na busca de algo indescritível que nem ela mesmo sabia, porém, a única coisa que sabia naquele momento era da extrema vergonha que ardia em suas bochechas.

Ele suspirou fundo.

— Você como sempre achando uma forma de ajudar as pessoas, não é mesmo? — ele disse calmo, como se não estivesse de forma alguma irritado com ela ou com sua mentira — Se quer mesmo saber, eu sabia dês do começo que você estava lúcida naquela noite, e que estava me escondendo algo naquele quarto, e acho que foi muita coragem me agarrar para “apagar”um de meus sentidos que foi o olfato. Usou a inteligência.

Ela manteve os olhos bem abertos, logo que passou as costas nas mãos em ambos para afastar quaisquer indícios de lágrimas.

— Então... não está bravo?

— Não — respondeu — Agora, vamos pra casa. Você precisa dar um jeito nesses machucados.

Ela estampou um sorriso enorme no rosto, logo que voltaram a andar.

Era certo que mesmo com aquela declaração, algo havia de errado ainda sim. Ele estava estranho, e de seus olhos algo persistia em continuar sombrio.

**

Tudo parecia combinar.

O tempo havia de uma hora para outra fechado como em um toque de mágica; as nuvens haviam brotado sei lá de onde, tornando aquele céu amedrontador e cinzento — tão cinzento e rude quanto os próprios olhos do demônio ruivo com nome de anjo.

Já estavam os dois caminhando por aquela calçada, a rua estava com algumas folhas amareladas e velhas aos cantos do asfalto, e aquele chafariz na pequena praça de frente para a casa da baixinha transbordava água aos pouquinhos. Lá pôde ver algumas cartas sobre a borda, e ela reconhecia muito bem aquelas cartas de vidência. Eram de Saritcha; a mulher mais sábia que já pôde conhecer.

Porém, ao contrário do que pensara, a mulher de cabelos perolados não se encontrava no local, e se for pensar por esse lado, já fazia um bom tempo que não a via.

Já estavam bem em frente a casa, porém, antes que pudesse seguir o caminho para adentrá-la, uma voz fria e masculina fora ouvida pelas costas.

— Mellanie.

A garota reconheceu a voz no mesmo instante, se virando para encarar o dono da mesma.

Lawliet, ou Ryuzaki como era seu nome falso, estava lá, parado agora na calçada enquanto a fitava.

Os cabelos loiros e desgrenhados juntos aos olhos azuis o tornavam uma figura ainda mais estranha do que já era de fato. A calça jeans larga e aquela bendita camiseta branca com mangas longas, sem detalhe algum.

— Ryuzaki, oque foi? — ela abaixou o olhar, e pôde ver em sua mão direita que segurava uma mala de textura marrom — Oque é essa mala? Pra onde você vai?

Agora o pânico havia tomado a garota, que variava seu olhar da mala para o rosto do detetive.

Ele não mudara seu ar sério de jeito nenhum, e aquela calmaria a fazia querer socá-lo até mudar de idéia — seja essa qual for.

— Eu só a chamei porque quero lhe pedir um favor, Mellanie.

Ela viu que os olhos azuis foram na direção de Zero, que pareceu desconfiado.

A baixinha apertou o punho, como sempre fazia ao se sentir nervosa.

— Você... pra onde pensa que vai? — encarou por um segundo em silêncio Lawliet, que permaneceu estático encarando-a — Não!

Zero olhou-a ao canto dos olhos, logo que pausou a mão sobre o ombro da garota.

— Deixe ele falar — foram as únicas palavras de Zero.

— Qual favor quer me pedir, Ryuzaki?

— Eu quero que cuide dela enquanto eu estiver longe.

Aquelas palavras tão frias mais ao mesmo tempo tão protetoras quase fizeram com que Mellanie desabasse. Então ele iria mesmo embora. Iria largá-la ali como todas as outras pessoas costumavam fazer.

E então viu um táxi se aproximar dos três, parando ao lado da calçada, e foi exatamente aí que ela teve a certeza que ele estava indo embora, para onde quer que fosse e ela não fazia idéia.

Ela deu um passo a frente, agarrando no braço do detetive.

— Você não pode ir embora, você não pode — ela disse sentindo a garganta se fechar — Vai largar tudo? Vai nos deixar sozinhos nessa investigação? Vai deixar Hikkaru?

Ele a fitou por alguns segundos nos olhos verdes que já começaram a se encher de lágrimas, e desviando os olhos puxou o braço de leve das mãos da garota que o agarrava.

— Eu não a deixarei sozinha, Mellanie. Eu nunca abandono um caso, por mais que isso possa vir a me custar — e ele deu as costas, abrindo a porta do táxi — Apenas cuide para que ela não se machuque, está bem assim?

— Você ao menos vai voltar? — sua voz saiu chorosa.

— Adeus, Mellanie — essas foram suas últimas palavras, e logo ele adentrou o carro, batendo a porta.

E então o táxi começou a andar, cruzando a esquina ao final da rua, sumindo da vista dos dois naquela calçada.

Como tudo poderia ser tão triste? Oque parecia era que tudo que ela “tocava” era quebrado em mil pedaços. Nada era certo, e nada poderia ser realmente perfeito.

Ela apertou os dentes nos lábios, evitando ao máximo chorar ali. Sua vontade era correr com todas suas forças, alcançar aquele carro e socar Lawliet até que ele desistisse daquela idéia maluca.

Para onde aquele imbecil estava indo? Ele não deveria estar em sua noção.

Zero suspirou, agarrando-a pelo braço e a levanto novamente para frente da casa.

— Mellanie, se acalme e entre para dentro. Quero que cuide desses machucados — ele disse.

Ela passou as mãos nos olhos, afastando os vestígios de choro logo por olhá-lo.

— Você não vem também?

Ele negativou levemente com a cabeça.

— Preciso fazer uma coisa antes.

— Zero, — ela o puxou para perto pelo antebraço, olhando-o pelos olhos púrpura que estavam repletos por um brilho sombrio — Quero que me prometa que não fará nada de imprudente. Me prometa que não irá atrás de Dakota.

Zero permaneceu em silêncio por alguns segundos.

— Eu prometo — disse firme, afastando-se dela e apontando com o queixo para a porta da casa — Agora entre.

Mellanie apertou os olhos ao vê-lo dar as costas e começar a andar rapidamente, logo que sumiu de sua vista ao cruzar também aquela esquina.

Oque ela faria agora? Como contaria a partida de Lawliet para Hikka?

Bom, era exatamente isso que passava por sua cabeça ao mesmo tempo em que já abria a porta da casa.

E sobre Zero, bem, nada era certo ou concreto. E ela não fazia idéia para onde ele estava indo.

~~

— Cena extra do Capítulo — Quebrando uma promessa.

Algumas horas depois.

Ele estava caído, e de sua boca jorrava sangue enquanto tossia incessantemente. Seus músculos exaustos e suas pernas fraquejadas.

E não demorou para que recebesse mais um chute forte abaixo no queijo, oque o fez cair de cara no chão.

Logo pôde sentir a solo do sapato do hunter apertar contra sua cabeça, forçando seus lábios na terra daquele chão.

Sabe, não foi uma idéia inteligente me deixar nervoso — Zero começou, com seu timbre calmo e perigoso — Você cometeu um grande erro tocando em minha pequena.

— Você é louco, cara. Me solta! — a voz de Dake saía embolada devido a dor que sentia em suas costelas e por todo o porto, agora principalmente na cabeça, que era pressionava contra o chão.

— Seria interessante estourar os seus miolos agora mesmo, aproveitando que ninguém está olhando, não acha? — ele então retirou de seu casaco azul marinho a pistola que sempre carregava consigo.

— Não, eu não acho!

Zero suspirou, retirando o pé de cima da cabeça do loiro, logo por alinhar a coluna e puxá-lo pelos cabelos com brutalidade, fazendo-o ficar bem próximo ao mesmo tempo que pressionou a arma na fonte de Dakota, que entrou em pânico.

— Eu prometi a ela que não te procuraria para esclarecer isso, e eu prometi também que não machucaria você, — ele pausou — Mas, eu tenho um pequeno defeito, e esse é que; eu sou péssimo com promessas.

O loiro o olhava aterrorizado, com medo de morrer ali naquele terreno baldio, visto que já havia sido espancado demais por aquele cara desconhecido.

Logo Zero o apagou com uma coronhada forte na cabeça, oque a fez sangrar em um corte.

Talvez, se tivesse sorte, ele morreria ali mesmo perante aos ferimentos.

Zero o olhou com frieza, guardando a pistola de volta dentro do casaco, largando o corpo do loiro jogado ali mesmo, logo que sumia pelas ruas.


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Notas finais do capítulo

Capítulo enorme, eu sei, eu sei.
Comentem, please.