Quatro Anos Depois. escrita por mandikasilva


Capítulo 6
A saudade.


Notas iniciais do capítulo

OBS: Crookshanks= Bichento.



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Após conversar com Malfoy, não se pode dizer que Hermione ficasse muito bem. As conversas dele não deviam ser levadas a sério (era incapaz de ter uma conversa séria!) mas agora fora diferente! Porque é que ele falara assim com ela? Hermione apenas conseguia perceber que todos foram realmente afectados pela guerra; e vê-lo numa cadeira de rodas fora realmente chocante!

Deixou aquele local tenebroso, que já servira como moradia a Devoradores da Morte, e caminhou de regresso a casa. Tentava regressar a casa; mas será que se lembrava do caminho de volta? O que aconteceria se algum membro das Trevas surgisse à sua frente? Não tinha ninguém que a acudisse!

Mas nada de mal lhe aconteceu! Também, segundo as palavras de Malfoy, aqueles que escaparam á morte estavam presos! Então, porque estaria ele á liberdade? Tentado controlar-se para não pensar em coisas más, em vez de seguir o caminho de casa, dirigiu-se para Hogsmeade. Precisava de ver novamente aquele local, o local onde tudo começara! Precisava de ver Hogsmeade após a guerra- se a vila ainda existisse! Achava que já nada era impossível.

Caminhou sem parar até chegar ao seu destino. Sim, Hogsmeade ainda existia, mas avistavam-se casas destruídas, tal como muitas outras que ela vira após acordar. Andado mais um pouco, viu aquela que a apanhara quando se desmoronou- via-se que estava em construção! O movimento nas ruas era pouco, as pessoas cainhavam de cabeça baixa sem olharem umas para as outras. Estavam tristes com o cenário que viam, relembravam-se dos tempos que levaram a toda aquela destruição.

Ao longe, Hermione avistou o seu bar preferido, o Três Vassouras. Parecia que continuava igual ao bar de antigamente. Avançou meia dúzia de passos, o pé começou de novo a doer- parecia não aguentar com grandes caminhadas! Desde que o tratara que não lhe doía! Parou uns instantes, junto a um grande bloco de mármore rodeado de flores. Novo memorial, desta vez em honra dos estudante e feiticeiros falecidos ali no dia do ataque que colocou Hermione adormecida por 4 anos. No meio de vários nomes, ela viu o de Lee Jordan, o fantástico comentador dos jogos de Quidditch realizados na escola. Relembrou a amizade que existia entre aquele rapaz e os gémeos Weasley; imaginava a dor deles quando o amigo partira. Era suposto aquele ser um dia normal de saídas, com compras, conversas e diversão com amigos e colegas; infelizmente, o destino achou que deveria ser o último dia da vida de alguns!

Olhou para a porta do bar, respirou fundo (para quê?) e entrou. Bruxas e feiticeiros estavam sentados em várias mesas, mas não muitos. Vislumbrou Madame Rosmerta a distribuir bebidas pelos clientes. Continuava simpática, mas estava menos risonha do que antes. Hermione achava que percebia porquê!

Sentou-se numa das mesas do fundo. Ao seu lado, uma mulher ainda jovem segurava um copo escuro nas mãos, ostentando uma expressão triste e confusa. Hermione desviou o olhar dela e pediu uma cerveja de manteiga à dona do bar. Precisava de beber uma, tinha saudades enormes da bebida.

- Sabe, acho que a conheço!- exclamou Rosmerta quando a serviu- Costumava estar aqui com Harry Potter, estava aqui no dia do ataque! Como está?

- Estou bem, obrigado!- respondeu ela, com um sorriso, sem referir os quatro anos de coma- Não totalmente, está tudo diferente! Espero que também se encontre bem.

- A guerra mudou tudo! Mas estou viva, é o mais importante. A vida continua e tenho de lutar por isso. Com licença, gostei de a ver novamente.

Acenou e regressou ao balcão, enquanto Hermione levava aos lábios a cerveja de manteiga. Mmm... que saudades daquele sabor! Afinal, estava enganada: não se esquecera daquele bom gosto.

A mulher da mesa do lado lançou-lhe um olhar cinzento e inquiridor. O cabelo era negro e rebelde como o de Hagrid; seriam da mesma família? ("Estás a delirar, Hermione!") Repentinamente, a mulher levantou-se, pagou a despesa a Rosmerta e abandonou o bar; mas não largava aquela expressão triste que possuía. Outra vítima da guerra, de certeza!

No entanto, foi a porta do bar a fechar para voltar a abrir e um casal conhecido a Hermione entrou. Ele era alto, sardento e ruivo, o seu cabelo comprido, deixara crescer uma barbicha também vermelha e o dente de serpente continuava pendurado na sua orelha direita; ela era também alta (não tanto como o rapaz), loira, de grandes olhos azuis e dentes tão brancos que pareciam até brilhar! Era belíssima! Claro que só podiam ser Bill Weasley e Fleur Delacour. Hermione questionava-se o que estaria Fleur a fazer na Inglaterra, uma vez que julgava que quando regressara a França era para já não voltar! Acenou-lhes, mas estavam demasiado entretidos a discutir e não a viram.

- Eu tinha-te dito que o Fudge não merece confiança nestes tempos, para que foste tu dizer-lhe que podia contar connosco?- dizia Bill, desgostoso e ansioso.

- Não tive rremédio, Bill, que querias que fizesse com o pobrrre homem de joelhos á minha frente?

Não que ela tivesse intenção de se intrometer entre o casal, mas as saudades falaram mais alto: Hermione levantou-se e correu para os dois feiticeiros.

- Bill, olá!- chamou ela.

Fleur olhou-a desconfiada e Bill, que estava de costas, virou-se. Os olhos castanhos do rapaz abriram-se de espanto.

- Hermione Granger?! Por Merlin... como estás? Ah, eles estavam certos...

Abraçam-se; a rapariga loira continuava a observar Hermione com curiosidade. Quando se separaram, sentaram-se os três na mesa da morena e pediram as suas bebidas. Bill explicou á francesa que aquela era uma velha amiga da família que passara quatro anos a dormir. Foi então que ela se lembrou:

- Ah, já me lembro! Quando estive em Ogwarts, aos 17 anos. Era amiga do Potter e do... irmão do Bill.

- Exacto!- tentou evitar que o ambiente ficasse pesado após a referência a Ron- Vejo que melhorou o seu inglês!

- Estou na Inglaterra há uns anos! Só tenho sotaque francês quando me enervo muito.

- E vocês... namoram?

Bill e Fleur olharam-se e, com sorrisos nervosos, acenaram que sim. Hermione felicitou-os.

- Já viste o Harry?- perguntou o ruivo, brincando com o copo.

- Tu viste-o?

- Pode dizer-se que sim! Fui almoçar a casa e eles disseram-me que já tinhas acordado.

- E ele... estava zangado?- o coração da rapariga bateu mais forte.

- Acho que não. Apenas surpreso e confuso!

Sentiu-se melhor. Estava arrependida de ter falado daquela maneira com Harry, e esperava ter uma oportunidade para se desculpar. Foi então que o mais velho mano dos Weasleys lhe explicou aquilo que já ela sabia, ou julgava saber: Harry tinha uma forte ligação a Ginny, estaria talvez um pouco dividido. Mas, ao contrário do que esperava, Hermione não se sentia magoada com isso! Talvez se sentisse compreensiva!

- Tenho de lhe pedir desculpas!

- Então acho que chegou a sua oportunidade!- avisou Fleur, apontando para a porta.

Harry Potter acabava de chegar ao Três Vassouras, sozinho! Sim, parecia a sua oportunidade.

- Desculpem-me!

Hermione levantou-se e dirigiu-se a ele. O rapaz encontrava-se ao balcão do bar, a beber uma bebida; ela aproveitou-se e sentou-se no banco ao lado dele.

- Hermione?- perguntou Harry, espantado- Que estás aqui a fazer?

- Vim espairecer- olhou os olhos verdes de Harry- Preciso de te pedir desculpas. Fui muito ciumenta ontem, fui uma idiota!

- Mas já me pediste desculpas! No final, mesmo antes de te ires embora...

- Mas eu preciso de fazer isto!- cortou Hermione- Eu não sei o que me passou pela cabeça, Harry, não sei! Desde que acordei que está tudo tão confuso...

Não se conteve e atirou-se ao pescoço dele. Harry já conhecia estes modos bruscos de Hermione expressar os sentimentos e não se importou; abraçou-a também. Na verdade, talvez ele percebesse o que se passava: muitas vezes, ao recebermos más notícias, ficamos tristes, impacientes e discutimos com qualquer ser vivo que esteja à nossa frente! Ele próprio gritara com Dumbledore ao descobrir que Ron estava morto, como se o velho professor fosse o culpado da morte do amigo! Hermione adormecera num mundo e acordara num totalmente diferente. Era preciso ser paciente, compreensivo e amigo para com ela. No entanto, havia uma coisa que ele precisava dizer-lhe. Era muito difícil, não sabia qual seria a reacção dela, mas era preciso...

- Hermione- começou ele, assim que se soltaram- sobre o nosso namoro...

Ela colocou uma mão à frente dele e Harry esperou que a bomba explodisse.

- Acho que neste momento preciso mais de um amigo do que de um namorado. Percebes o que quero dizer? Não afirmo que os namorados não podem ser amigos ou vice-versa, mas... tenho muito em que pensar nesta altura e não me parece que esteja apta para romances! Era melhor nestes tempos próximos sermos apenas o Harry e a Hermione que eram no início de Hogwarts. Somos o que resta do «Trio de Ouro», como Hagrid nos chamava!

- Sei...- Harry sentiu-se aliviado- Também acho melhor ficarmos só amigos por agora. Sabes, eu acho que estou um pouco dividido...sentimentos confusos! E desculpa-me também aquilo da Ginny.

Hermione presenteou o rapaz á sua frente com um sorriso; não um sorriso qualquer, mas um sorriso carinhoso e doce que apenas ela sabia fazer. Harry puxou-a e roçou os seus lábios nos dela, de uma maneira simpática. Não era bem um beijo entre namorados, e sim entre amigos, dois grandes amigos.

- Ainda bem que não estás zangado comigo!- comentou Hermione- Já tinha saudades tuas!

***

- Cheguei!- avisou a rapariga assim que chegou a casa.

- Estava a ver que hoje já não vinhas!- gozou o pai, aparecendo à sua frente.

Hermione sorriu e desculpou-se por não ter ido jantar. Na verdade, ela e Harry tinham ido a um restaurante Muggle para relembrar os bons velhos tempos. Atrasara-se, nada mais.

- Jantei fora com um amigo. Desculpe não ter avisado. E se não se importar, vou descansar para o meu quarto!

- Vai, sim. E descobriste mais coisas lá dos feiticeiros? Calculo que foste para lá...

- Fui e descobri mais coisas!- Hermione pensou em Malfoy na sua cadeira- Coisas boas e más, que não esperava que acontecessem.

Mr. Granger deitou à filha um olhar encorajador.

- Tudo se irá resolver, querida. E tens um amigo á tua espera no quarto.

Voltou as costas e entrou na sala, enquanto Hermione apressou o passo ao correr para a sua divisão predilecta. Quem é que lá estaria?

Abriu a porta castanha e olhou á volta. Naquele momento, percebeu que era a primeira vez que olhava com "olhos de ver" para o seu quarto após ter acordado! E felizmente, ao contrário de tudo o que via, continuava igual ao quarto de sempre: a cama grande cm a colcha branca que comprara em França há cerca de 8 anos atrás (comprara-a para os pais, com a promessa que seria dela quando fosse possível; os pais cumpriram-na ainda antes da guerra estalar); os cortinados azuis que a avó lha fizera; as caixas com o seu enxoval que a avó lhe oferecera um dia; as estantes recheadas de livros da escola e de leitura; o pequeno sofá azul num dos cantos, onde ela adorava sentar-se a ler ou a estudar. Era aí que estava o seu amigo: o enorme gato ruivo que comprara aos 13 anos.

- Crookshanks!

Hermione pegou no gato e afagou-o. As saudades que tinha do seu animal de estimação! Relembrava-se do dia em que comprara aquele "monstro" (nas palavras de Ron) na loja de Animais Mágicos. E as discussões que teve com Ron depois, devido ao facto de Crookshanks querer comer o Scabbers? Mas também se não fosse o seu gato, talvez ele nunca descobrisse quem era na verdade o seu rato, como Hermione costumava dizer. Ron... ela achava que a saudade era o sentimento que a apertava naquele momento; tantas eram as saudades do seu amigo ruivo!

Com o gato nas mãos, sentou-se no parapeito da janela. Olhou para o céu estrelado; as saudades apertavam cada vez mais... A cara sardenta de Ron era tudo o que conseguia ver no céu azul-escuro; as gargalhadas contagiantes de Ron eram tudo o que conseguia ouvir; as discussões tolas que teve com ele eram a única coisa que agora conseguia lamentar; a voz alegre de Ron era a única coisa que agora desejava ouvir.

- Porque te foste, Ron? Porque é que tiveste de ir?

Crookshanks ronronava, deitado na sua barriga. As estrelas no céu brilhavam com tanta força que pareciam arder! Olhou para cima tentando ver alguém; será que Deus existia? Se sim, porquê levar o Ron tão cedo? Ele fazia tanta falta na Terra, mais do que alguém pode imaginar! Para quê levá-lo, será que Ron era assim tão importante para Ele que não o pode partilhar com os mortais?

As saudades apertavam cada vez mais... o sentimento de culpa por não se ter despedido dele também! Aqueles momentos que passara com Rn e Harry ,os melhores da sua vida, nunca mais existiriam! Bom, as zangas e as discussões não eram bons momentos, mas faziam parte do passado; e as aventuras que partilharam foram muito, muito mais importantes. Agora, Ron deixara de existir!

- A vida não é justa, Crookshanks!- sussurrou Hermione, abraçando o gato- E as saudades apertam cada vez mais...

*Continua...


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