Quatro Anos Depois. escrita por mandikasilva


Capítulo 12
A esperança.




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Aquele dia acabara, mas muitos outros se seguiram. Hermione passava agora alguns dos momentos mais angustiantes que se lembrava! Por muito que tentasse esquecer os pensamentos que considerava "pecaminosos", por muito que tentasse dizer que não, a verdade é que apenas Malfoy assombrava a sua mente. Falava dele durante o dia, sonhava com ele durante a noite! Para piorar, havia uma parte dela a tentar convencê-la que estava apaixonada pelo rapaz de cabelos loiros. Mas ela já vira muitas raparigas estragarem as suas vidas ao se apaixonarem por meninos bonitos, ricos e sem escrúpulos -ela não seria como as outras! Malfoy era uma má pessoa; não ia esperar que ele mudasse apenas porque ela o auxiliara.

Ao menos, estes pensamentos não afectaram o seu trabalho. Saindo de casa diversas vezes ao dia, correndo as ruas apressada e nervosamente, com medo que alguém lhe apontasse o dedo, corria até Malfoy para cumprir aquilo que prometera. E, por mais espantada que estivesse, ele parecia reagir bastante bem! As discussões quase não ocorriam, a frieza dera lugar ao calor, as palavras sarcásticas haviam sido substituídas por umas calmas e cuidadosas.

- Tu és capaz, Malfoy! Vês como és capaz de mudar?- dizia ela animada.

Juntos, aprendiam coisas novas. Com a companhia de Hermione, Draco conhecia coisas novas e bonitas, que desconhecia até ali porque a sua família sempre achara que ele apenas precisava de poder e dinheiro para ser alguém. Um campo florido, o céu estrelado durante a noite, mergulhar numa piscina, ouvir um poema, dormir ao ar livre,... Coisas que Draco nunca tivera oportunidade de ver ou fazer; coisas que Hermione esperava mostrar-lhe e ensiná-lo a gostar delas.

- Então, ainda queres continuar a ser Devorador da Morte?- perguntou ela um dia- Ainda queres abdicar de tudo isto para apodreceres em Azkaban?

Malfoy mirou o mar azul á sua frente, pensativo, segurando uma pedra nas mãos.

- "Quem nasce Devorador da Morte, morre Devorador da Morte" , foi sempre o que o meu pai me disse- dirigiu um sorriso malandro á morena a seu lado- O meu pai está morto! Sou o único Malfoy que resta, por isso, posso fazer o que me apetece!

Hermione sorriu-lhe também, oferecendo-lhe um dos seus mais belos e especiais sorrisos. Com a força do rapaz, o trabalho ficaria muito mais fácil.

Mas se ela o conseguira caminhar até novas sensações, não conseguira ainda mostrar-lhe uma coisa muito importante: a esperança. Malfoy vira já muita dor durante a guerra e período posterior, estava preso a uma cadeira de rodas há já dois anos, experimentara diversas poções para se curar e nenhuma funcionara! A esperança já abandonara; e Hermione sabia que, sem ela, nunca poderiam triunfar naquela batalha.

Já todos sabem que quando estamos entretidos, o tempo voa. Com Hermione e Draco não foi excepção. Quando ambos menos esperavam, passou uma semana, e embora Malfoy precisasse ainda de muito "tratamento" estava já muito melhor, e ela estava satisfeita. Era só desejar que tudo continuasse a correr bem!

Mas foi exactamente no dia em que se completava uma semana de auxílio que surgiu nova luz ao fundo do túnel: Pomfrey comunicou ao paciente que feiticeiros seus conhecidos estavam a trabalhar numa nova poção para a paralisia, situados no continente americano. Se ele estivesse interessado, poderia tentar a sua sorte. Quando Malfoy contou a Hermione a novidade, esta não conseguiu esconder a alegria:

- Estás a ver, tem esperança e tudo se pode resolver!

- Granger, eu já te disse que a esperança para mim acabou! Duvido muito que esta poção resulte...

- O teu optimismo é tanto que até fico mais alegre quando estou perto de ti!- comentou ela, sarcástica- Quero ver-te por lá! Quando partes?

O mais cedo possível. Pomfrey fora bem explícita no seu discurso: tudo estava já tratado para ele partir, se assim quisesse, e permanecer 3 dias na América, o tempo necessário para aplicar a poção, distribuída em 3 doses.

- A enfermeira disse-me para me despachar a decidir, um grupo de feiticeiros vai daqui a dois dias partir para lá e é suposto ir com eles.

- E estás á espera de quê? Não deixes escapar esta oportunidade.

- Ouve-me bem, quando está tudo a correr mal e algo de bom surge na nossa vida, a gente desconfia!

- Ah, queres então dizer que tenho andado a fazer papel de parva contigo!

Malfoy atrapalhou-se e baixou a cabeça.

- Não...eu...nada, esquece. Tu percebeste aquilo que eu quis dizer, Granger!

- O que eu percebo é que não queres experimentar porque tens medo que falhe, como falharam as outras! Tens de perceber que nada é mau até ao fim; surge sempre uma luz no fundo do túnel mais cedo ou mais tarde!

Ele levantou a cabeça e, provavelmente num momento de pura insanidade, passou um braço á volta da cintura de Hermione, naquilo que poderia ser um abraço, dificultado pelo facto de que ele não se podia levantar. Ela assustou-se, mas cedo se apercebeu que estava a gostar da situação. No entanto, ele arrependeu-se do gesto e largou-a, um pouco envergonhado. Hermione achou por bem quebrar aquele ambiente pesado e aproximou os lábios do ouvido dele:

- Vê se desapareces da minha vista e vais no meio desse grupo. Eu espero por ti...sem a cadeira!

***

Embora um pouco receoso, Malfoy partiu para a América dois dias depois. Hermione gostaria de acompanhá-lo naquele passo, mas ambos tinham chegado ao acordo que ela ficaria na Inglaterra durante aqueles 3 dias. E ela ficou, com o coração apertado, a alma ansiosa e a mente nervosa pelo regresso daquele que já considerara um dos seus maiores inimigos. E esperava que ele regressasse pelo seu próprio pé, porque, apesar de ser um Malfoy, ele merecia aquele prémio!

Mas foi na véspera do regresso de Malfoy que Hermione recebeu uma bela visita. Num momento em que ela estava praticamente fula por não receber nenhuma mísera coruja do rapaz, Lily Sommervile decidiu bater-lhe á porta.

- Oh, olá!- cumprimentou Hermione assim que abriu a porta- Não te esperava. Entra!

- Obrigada, desculpa por não avisar!

A mulher de cabelos negros sentou-se num dos sofás da sala enquanto Hermione correu a buscar o chá gelado que os pais haviam deixado no frigorífico antes de saírem.

- Não sei se gostas do chá assim!

- Eu adoro!- sorriu Lily, pegando no copo- O meu pai era Muggle e deixava o chá no frigorífico durante o Verão.

A rapariga dos caracóis sentou-se ao lado da amiga com os copo nas mãos e perguntou:

- Então, estavas com saudades minhas, dos Muggles ou queres dizer-me algo?

- As três, mas principalmente a última- Lily bebeu um gole do chá- Estou desempregada!

- O quê?!

- Foi o que ouviste! Despedi-me. Estou farta de dragões, fogos e de adultos! Estou farta daquele trabalho.

- Mas o que é que vais fazer agora?

- Nem sei...

Hermione mirou-a. A mulher a seu lado olhava o copo de vidro que tinha nas mãos, pensativa. Apesar de não ter a certeza, parecia-lhe ver um brilho especial no olhar de Lily. Mas nem precisou de perguntar, ela explicou de livre vontade:

- Sabes, eu adorava ser professora! Mas é apenas um sonho de tenho desde que o meu filho partiu; sinto-me tão perto dele quando estou junto a crianças... São tão bonitas, doces, simpáticas, mesmo as mais irrequietas! Ao deixar de trabalhar com aqueles monstros cuspidores de fogo, abriu-se nova porta e acho que irei conseguir atingi-la!

- Tu nunca perdes a esperança, pois não?

- Claro que não!- Lily assumiu um ar chocado- A esperança apenas desaparece com a vida, quem vive tem esperança! Como podes tu acreditar que no dia seguinte estarás viva se não tiveres esperança?

- Conheço alguém que acha que a esperança morreu...- Hermione relembrou as conversas com Draco.

- Provavelmente, apenas diz isso porque sofreu muito. Quando o meu filho morreu, senti a esperança abandonar-me; mas ela esteve sempre comigo. Apenas a senti quando menos esperava! Espero que digas a essa pessoa o mesmo que te disse a ti!

- Já o fiz...

Hermione encheu o copo vazio da amiga, achando que concordava com aquilo que ela dissera.

- Acreditas no amor?- perguntou de repente.

- Claro! Venha ele de quem vier: pais, filhos, namorados ou do rapaz que passa diariamente na nossa rua. O amor existe de verdade, é tal como a esperança: só quem sofreu muito é que pensa que ele desapareceu- mas pensa mal!

- Desculpa-me a indiscrição, mas- hesitou um pouco antes de completar- já encontraste o amor verdadeiro?

Lily ficou surpreendida com a pergunta e olhou Hermione nos olhos antes de lhe responder:

- Amor já encontrei diversas vezes, e o verdadeiro estava no meu filho. Mas como percebo que te estás a referir a homens...não, ainda não encontrei! Mas tenho esperança de encontrar.

- Pois, eu bem vi os olhares que o Charlie Weasley te deitou...

Devia ter acertado em cheio no alvo: Lily corou violentamente e engasgou-se com o chá. Hermione achou por bem tirar o mano Weasley da conversa.

- Eu achava que tinha encontrado o meu verdadeiro amor, mas enganei-me! Pelo menos, sei que ficámos amigos.

- O que já não é mau!

- E o que achas acerca de romances entre inimigos?

Mas que pergunta era aquela? Porque é que falara? Estaria ela, Hermione Granger, apaixonada pelo inimigo? Não!!! Claro que não. A sua amigo devia achar que ela era uma idiota sem pensamento nem vontade própria!

- Porque não?- respondeu a mulher, adoptando um ar sonhador- O amor é sempre lindo! Se existe amor...

Hermione torceu os dedos da mão, perguntando porque raio é que fizera tal pergunta. Ela não queria saber se o romance entre inimigos era aprovado por Lily ou não, ela não estava apaixonada. "Queres sim", dizia uma parte de si.

- Porque é que fizeste essa pergunta?

- Oh, Lily, tu hoje acordaste tão "filosófica"!

- Correcção, querida...eu nasci "filosófica"! Por isso é que ninguém me atura...

***

A chegada de Malfoy estava prevista para as 10 horas da noite, num dos recantos finais da Diagon-Al. Não houve problemas em lá chegar, apesar das horas: os pais de Hermione consideravam-na responsável, maior e vacinada. A única coisa que a preocupava fora a conversa que tivera com Lily acerca dos amores de cada uma. Seria óptimo se a amiga e Charlie se apaixonassem, pois eram excelentes pessoas; seria horrível se ela estivesse apaixonada pelo seu inimigo, imaginava o que Harry diria caso soubesse de tal!

Hermione esperava pelo grupo a uma dezena de passos do local que o rapaz de cabelos dourados avisara. Observava calmamente as montras das lojas já fechadas da rua, esperando impacientemente pela chegada do grupo. Além disso, o seu coração estava em polvorosa, pelo facto que podia estar para breve o momento em que veria Draco sem a maldita cadeira.

Viu um rápido clarão, ouviu vozes e passos que se dirigiam ao local onde se encontrava. No seu peito, o coração batia tão fortemente que quase se sentia enjoada! Esticou o pescoço para tentar ver melhor.

Um pequeno grupo de feiticeiros, alguns com sotaque americano, passou por si, conversando uns com os outros, mas não havia sinal de Malfoy no meio deles. Mordeu o lábio inferior com tanta força que quase fez sangue! Procurou-o melhor e viu-o, finalmente: bem no fundo da rua, com ar magoado e...preso á cadeira!

- Malfoy!- suspirou Hermione, correndo até ele.

Colocou-se de cócoras para ficar ao mesmo nível do rapaz e abraçou-o com força. Sentiu uma ou duas lágrimas escorrerem pela sua face, mas não se importou com tal. Apertou-o com mais força ainda, como se o quisesse proteger de algo muito mau que o rodeava.

- Mas porque é que não resultou?- balbuciou ela, fixando os olhos azuis á sua frente- Porquê, o que é correu mal?

- Granger, eu...- Malfoy olhou-a, meio envergonhado- Eu ainda não tive coragem de tentar sair daqui!

Hermione levantou-se, olhando-o surpreendida. Mas afinal, Draco era um homem ou um rato?

- Coragem?! Não percebo...

- Sabes quantas vezes é que já experimentei poções para sair desta choça?- interrompeu ele, zangado- Há cerca de 2 anos que ando nessas danças e nada resultou! Apanhei demasiadas desilusões, voei alto demais e magoei-me na queda! Mesmo quando Pomfrey dizia que era aquela que funcionava, eu continuava preso a esta cadeira e a sonhar com o dia em que este pesadelo terminasse! Estou farto de desilusões!

Hermione não queria acreditar no que os seus ouvidos escutavam! Com mais uma oportunidade para melhorar o seu defeito, ele não tinha coragem sequer para se levantar e experimentar se tudo correra bem ou mal! Assim não podia ser. Foi por isso que estendeu a mão e esperou que Malfoy a agarrasse.

- Para que é que eu quero a tua mão?

- Para te agarrares a ela e te levantares daí!

- Eu não...

- Cala-te! Sei que deves estar farto de desilusões, mas se não experimentas, não sabes se melhoras! E se estiveres curado? Preferes continuar sentado nessa cadeira?- a sua voz saía cada vez mais zangada, á medida que o seu discurso prosseguia- Agarra a minha mão e levanta-te!

Malfoy desviou o olhar. Porquê tudo aquilo? Valeria apenas sofrer de novo para ver Hermione contente?

- Agarra a minha mão e levanta-te dessa cadeira, Malfoy! O tempo de amargura pode estar a chegar ao fim!

*Continua...


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