Os campos de Hogwarts, habitualmente verdes e bonitos, foram naquela altura transformados num campo de ajuda a todos os feridos da guerra. O professor Dumbledore dera permissão para que fossem montadas tendas abertas onde se colocassem todos os que necessitavam de ajuda naquela fase crítica no mundo dos feiticeiros, uma vez que St. Mungus e a enfermaria rebentavam já pelas costuras. Os gritos desesperados dos feridos, os choros de familiares que ali estavam para receber notícias funestas, o suor e o desespero dos bruxos que os tentavam ajudar tornavam aquele lugar, antes belo e alegre, num lugar negro e arrepiante onde não existia esperança!
Aquele dia, cerca de um ano após ter começado a guerra, estava a ser particularmente difícil: um ataque na própria Hogsmeade no dia em que os estudantes tinham o dia livre resultou num magote de feridos a aparecerem naquele hospital temporário. Professores, funcionários e até mesmo habitantes da vila que tinham escapado ao ataque ofereceram as mãos para auxiliar os jovens que chegavam ao local.
No meio da poeira, dos gritos e das correrias a figura de um rapaz franzino de 17 anos sobressaiu no local. O cabelo preto asa de corvo estava mais desalinhado que o normal, os olhos verdes estavam cheios de água, a cara suja e cheia de arranhões, os óculos estavam partidos. Com dificuldade visível transportava uma rapariga nos braços. A cascata de caracóis castanhos pendia da sua cabeça e um golpe profundo na testa encharcava-lhe a face branca em sangue.
– Harry Potter?- perguntou a professora McGonnagal assim que o viu- Oh, por Merlin, o que aconteceu?
– Hogsmeade...- gemeu o rapaz, tentando segurar as lágrimas e aguentar também com a rapariga- Uma casa desabou...Hermione estava lá...tirei-a debaixo das pedras...não acorda, não sei se foi enfeitiçada...
McGonnagal conduziu Harry até uma maca vazia, onde ele colocou Hermione. Madame Pomfrey apareceu de imediato, desviou o rapaz para um lado e agarrou a cabeça da ferida, mirando o golpe.
– Como é que ela está?- perguntou ele, após um momento.
A enfermeira não respondeu e a professora olhou para Harry, triste.
– Não! Ela não...Hermione não pode estar morta!
– Está viva!- disse Pomfrey, tirando a varinha do bolso- Mas muito fraca. Provavelmente, está desmaiada...ou enfeitiçada.
Apontou a varinha á rapariga e murmurou "Enervate". Hermione não se mexeu nem abriu os olhos. Pomfrey tomou-lhe o pulso e a professora McGonnagal apertou a mão de Harry.
– Porque não vais ajudar por aí, Potter? São precisas muitas pessoas. Onde está o Weasley?
– Perdi-o, professora! Quando o ataque começou, cada um de nós correu para um local diferente; nunca mais vi o Ron! Apenas a vi a ela, quando uma casa se desmoronou e a apanhou!
– O coração está fraco, mas a menina Granger está viva!- anunciou a enfermeira- Potter, faça alguma coisa de jeito e leve a maca da paciente para dentro do castelo, por favor. Corredor da ala hospitalar. Vá, mexa-se, rápido!
– Ela vai ficar bem?- Harry agarrou a maca.
– Ela está viva! Não sei o que vai acontecer depois!
A enfermeira virou as costas e Harry conduziu a namorada até Hogwarts.

*Continua...