Percy

Atena e Zeus pareciam estranhamente aborrecidos com a presença de suas filhas renegadas, embora possa jurar ter visto uma sombra de alivio percorer o rosto da minha sogra-deusa por um segundo.

—Sem essas caras. Foram vocês que pediram para colocarmos nossos pés nesse lugar novamente. -Miria parecia extremamente desconfortavel. -Estaria muito bem se não precisa-se voltar a esse lugar nunca mais, mesmo que nunca mais fosse pisar na terra de novo.

—Calma Miria. Temos um problema maior agora, então se concentre no que é importante. O resto nós temos tempo. -Ísis foi até Perséfone e elas trocaram uma informação rápida, depois a mãe de Rigardo voltou para junto de Miria. -Vai ser dificil, mas não impossivel.

Foi quando vi Ártemis sair da tenda junto com Hera e Deméter.

Não sei o que foi maior, a surpresa por ver ela na forma adulta ou Deméter e Hera concordando com o que quer que estivessem falando.

—Por que ainda não começaram? Teresa está com problemas aqui sabiam? -Ártemis parecia prestes a trucidar alguém.

—Façam algo rápido. -Hera voltou para dentro da tenda com Ártemis enquanto Deméter trocava de lugar com Perséfone.

Olhei para Miria e Ísis que já estavam falando com Galatea, Rigardo, Nico e Thalia.

Miria me olhou e depois falou com Ísis que pareceu ter uma ideia na mesma hora.

—Garoto, crie um furacão ao redor desse lugar. O mais forte e rápido furacão que puder criar. -Depois disso ela virou para Thalia. -Não importa o quanto vai ser dificil ou cansativo, se concentre em derrubar qualquer ave ou ser não autorizado dentro desde salão nem que seja um deus menor. Acerte um raio nele.

—Isso é dificil sabia? -Thalia retrucou.

—Hoje garanto que não vai ser. -Miria falou ironicamente. -Depois olhou para Nico. -Garoto, não quero saber como, mas trate de chamar todo o exercito de mortos vivos que puder para as ruas da cidade. As pessoas já estão em suas casas, qualquer um que pisar pra fora da porta sabe que pode morrer então comece agora.

Comecei a fazer exatamente o que elas haviam me falado e me surpreendi ao perceber que o tornado que havia criado estava crescendo e me obedecendo com a maior facilidade, como nunca antes me obedeceu. Como se eu fosse seu mestre desde sempre.

Ao mesmo tempo Thalia começou uma tempestade de raios como se aquilo nunca tivesse sido cansativo. Do lado de fora também era possível ouvir os mortos se erguendo por toda a cidade e marchando firme por toda a parte, mas Nico não parecia mais cansado por causa disso.

Olhei para Galatea e Rigardo, ambos pareciam decepcionados ao não receber nenhuma função.

—O que nós faremos? -Galatea parecia quase desesperada por uma missão naquele momento, algo para deixar Miria orgulhosa de ter se sacrificado por ela.

As duas mulheres se olharam e respiraram fundo como se o que quer que fossem falar pudesse mata-las.

—Invoquem todo o seu poder. Absolutamente todo ele e se concentrem em proteger esse lugar. -Miria parecia prestes a chorar, mas se virou e foi para a tenda aonde Annabeth estava.

—Usem todo o poder que estiver ao seu alcance e façam com que ele envolva esse lugar como um escudo impenetravel. Imaginem o mar, os raios, os ventos, tempetades, as almas dos mortos e o próprio Stix protegendo esse lugar de tudo e de todos que não devam estar aqui. Vou ajudar Thalia com os raios agora.

Assim que Ísis virou vi Tea e Rig trocarem um olhar e pegarem suas armas.

Minha irmã olhou para meu pai e assim que sua arma de Poseidon estava pronta ele jogou água nela. Rigardo foi até o braseiro e tocou o fogo com a arma de Hades.

Quando os dois voltaram a ficar lado a lado as coisas ficaram confusas.

Eu ouvi uma barulho estranho ao redor da sala dos tronos enquanto algo parecia errado com meu estomago. Notei olhando pela sala que Thalia, Nico e Ísis estavam se sentindo igualmente estranhos, embora a mãe do Rig não parecesse surpresa com aquilo.

Voltei a me concentrar na minha função e quando olhei para o céu da sala notei o que estava errado: um gigantesco vortice de energia estava se formando ao redor daquele lugar. Mas não era energia simples, havia água salgada e doce, eu podia sentir o cheiro de ozônio e enxofre. Raios cruzavam atraves do vortice, vários tornados menores pareciam se formar por toda a estrutura, fogo se misturava com a água e não apagava, por duas vezes também pude ver esqueletos de soldados em meio ao turbilhão andado como se nada demais estivesse acontecendo, em determinado momento eu pude ver claramente uma linha de sangue misturada a água e me lembrei da cachoeira no mundo dos mortos.

As palavras de Ísis voltaram a minha mente e finalmente entendi o que havia acontecido. Entendi por que a profecia não nos deu nenhum detalhe sobre o que fazer durante a missão: por que tudo que importava era o final.

“Os mortos vão levantar e o mar avançar”

A água salgada era do mar, que de alguma forma Tea havia conjurado para o quinquagéssimo andar do Olimpo. O mar e os rios haviam avançado até o céu para proteger Annabeth e pelo visto só minha irmã podia fazer isso. O gigantesco tornado que estava mantendo a forma daquilo também era obra dela.

Os esqueletos em meio ao vortice estavam “patrulhado” aquilo. O enxofre e o ozônio eram uma mistura do fogo do Hades e dos raios misturados ao sangue da cachoeira de sangue. Rigardo havia conjurado todo o poder que havia ao seu alcance.

Continuei mantendo o furacão menor ao redor da sala até minhas forças começarem a faltar. Pensei que Tea e Rig estariam desmaiados, mas ainda estavam de pé e o vortice havia ficado mais forte. Olhei diretamente para eles e vi um livro antigo, quando me aproximei não consegui ler por que o idioma apesar de familiar era mais antigo: grego arcaico.

O que quer que fosse estava ajudando ambos a manter aquele escudo por mais tempo que o normal.

Ainda consegui manter meu furacão por mais cinco minutos, mas quando ouvi o grito de Annabeth vindo da tenda minha concentração foi e não voltou.

Fui correndo em direção a tenda, mas nenhum deus ali me deixou passar. Heféstos me empurrou três vezes, Zeus me deu dois choques, levei duas broncas de Atena que me chamou de retardado desmiolado em cinquênta formas diferentes, Ares me deu um chute apesar de estar muito preocupado com Clarisse pra fazer mais coisa que isso e por fim meu pai me segurou firme na sua mão durante mais de quinze minutos tentando me fazer entender que eu tinha que esperar.

Eu não sabia o que acontecia dentro da tenda, só queria ficar junto com Annabeth. Via Perséfone e Deméter entrarem e sair da tenda a toda a hora, Ártemis e Hera sairam apenas uma vez para ajudar Apolo que tinha pedido algo. Vi Tanathos ser convocado e entrar na tenda depois de Héstia sair para voltar ao braseiro depois de muito tempo.

Quando Poseidon me colocou no chão corri em direção a tenda e dessa vez ninguém tentou me impedir.

Assim que entrei vi Annabeth quase desmaiada enquanto Hera e Ártemis seguravam duas crianças ainda sujas de sangue nos braços. Apolo parecia mais cansado que as duas.

Queria ver meus filhos, mas Annabeth estava tão cansada e tão fraca que automaticamente fui até ela, segurei sua mão e a beijei.

—Ei! Conseguimos sabidinha.

Ela esboçou um sorriso forçado antes de quase perder a consiência. Ela parecia prestes a morrer.

Teresa estava parada do outro lado da cama como uma estátua de puro medo e eu não poderia imaginar o por que.

—Acabou agora não é Teresa? Vai voltar tudo ao normal não é?

Seu rosto ficou ainda mais severo e sua expressão tão firme que pensei que nunca mais ela se moveria.

—Ainda não. -Para minha surpresa Hera respondeu. -Você deve escolher quem irá receber o direito, você ou ela?

—Direito de quê?

—Apenas escolha antes que a garota morra. Quem deve ficar ao lado da criança? -Dessa vez Ártemis me encarava como se eu fosse o único culpado por tudo.

—Eu... não consigo entender o que está acontecendo... -Não sei exatamente o que aconteceu, mas Annabeth começou engasgar. Estava asfexiando e não sabia o que fazer. -Me ajudem! Ela está morrendo!

—Escolha e ajudaremos. -Dessa vez foi Teresa que falou.

Engoli em seco e desesperado.

—Ela. Annabeth tem que ficar ao lado do nosso filho imortal e do nosso filho mortal. Não a deixem morrer, eu troco minha vida pela dela se for preciso.

Teresa virou de costas e se dirigiu a saida da tenda.

—Não precisa morrer, a decisão já foi tomada. Parabéns. Seus filhos são lindos.

Assim que ela saiu da tenda o corpo de Annabeth desapareceu dos meus braços em um brilho levemente acinzentado.

Certo. Eu admito que entrei em pânico. Sai pela sala do trono como um louco atrás dela e, bom, fiz coisas realmente idiotas como comprar briga com todos os deuses. Infelizmente pra mim eles ganharam e me nocautearam facilmente.

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Quando acordei novamente me sentia completamente destruido, mas não era fisicamente.

Meu corpo estava otimo, menos a minha cabeça que havia levado um soco mortal de Heféstos. Mas até ai eu estava bem apesar de ainda não estar enxergando muito bem.

Estava tão tonto que quando ouvi a voz de Annabeth pensei que estava sonhando ou morto e por isso me sentia tão bem.

—Percy! [i]Di immortales![/i]Como você pode ser tão idiota?

Quando finalmente pude ver seu rosto tive certeza que estava morto.

Annabeth estava... deslumbrante. O cabelo penteado preso com pequenas tranças, o rosto vivo e saudavel, usando uma tunica grega azul clara, enquanto eu podia quase tocar a aura ao seu redor.

—Estava te procurando, mas agora acho que não vamos mais nos separar. Só lamento não podermos ver as crianças.

Ela riu divertida enquanto me tava um leve tapa na testa.

—Percy, você enlouqueceu ou acha que morreu? Lamento te decepcionar, mas ambos estamos vivos, eu um pouco mais até. -Nessa hora seu rosto pareceu um misto de descrença e dúvida ou sarcasmo e dúvida, eu não saberia diferenciar.

Levantei e olhei-a novamente.

Se Annabeth nãe era o ser mais lindo do universo, não poderia imaginar o que seria. Claro que não incluo Afrodite no pareo, não quero morrer.

—O que aconteceu? Do nada você sumiu e não te achava em lugar nenhum, foi como se você nunca tivesse existido.

Ela sorriu um pouco triste.

—Percy, a sua escolha era para definir qual de nós seria imortal para sem dúvida viver ao lado do nosso filho no futuro. Eu iria morrer de qualquer forma, mas sua escolha me salvou e agora eu sou imortal, uma deusa menor.

Olhei para ela incrédulo, mas isso também explicava o que tinha acontecido.

—Desculpe a falta de explicação aquela hora, não podia deixar que tudo fosse tão simples. -Me virei e encontrei Teresa ao lado de dois cestos aonde meus filhos dormiam. -Ao menos a conversão em imortal salvou ela, não era o que queria?

Assenti possitivamente.

Segurei a mão de Annabeth e fomos até nossos filhos. Assim que vi os dois eu soube que nada mais seria tão importante quanto o bem deles e pelo olhar da mulher que eu amo ela pensou o mesmo.

Apesar de tudo as coisas haviam terminado bem de alguma forma.

Além de que consegui saber exatamente o que Annabeth pensava ao menos uma vez.

Continua...