A cada dia que passava eu tinha menos dúvidas de que estou apaixonada por Rachel Berry. Mas não sei o que me levou a pensar, até este momento, de que ela algum dia se apaixonaria por mim. A cada vez que nossos olhos se encontravam nos tornávamos mais amigas, e agora andamos juntas o tempo todo.

Esta semana está quente. Não deveria, já que estamos quase no inverno, mas o sol brilha no céu azul e não é possível vestir nada além de bermudas e camisetas. Rachel está sentada na minha frente, na outra ponta da cama. Ela está usando, como sempre, uma saia xadrez e uma blusa branca com pequenas estrelas douradas. Desta vez optou por não usar meias três quartos, afinal, isso seria insuportavelmente quente. Ela acaba de fazer a tarefa e abre, no celular, uma mensagem que recebeu de seus pais.

- Quinneyyyy! Nós vamos pra Cleveland esse final de semana visitar meus parentes e meus pais falaram que você pode ir conosco se você quiser.

Cleveland é uma praia no norte de Ohio. Uma praia. Por um momento me desespero e penso em recusar o convite, mas a menina à minha frente tem no rosto o maior sorriso e seus olhos brilham em animação. É impossível recusar. Talvez seja até bom eu ir para lá. Substituir as péssimas memória por novas aventuras ao lado de minha melhor amiga.

- Claro! Vai ser incrível! – Respondo forçando um sorriso e ela me abraça com toda a força e entusiasmo.

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O final de semana finalmente chegou e estamos dentro de um carro há poucos minutos de Cleveland. Os pais de Rachel são muito legais e bem animados. Não pareceram assustados ou algo assim pela minha aparência. Muito pelo contrário. Leroy começou a falar que a cor do meu cabelo ia ficar perfeita na parede da sala e Hiram amou meus coturnos. Ao meu lado Rachel canta uma música da Katy Perry, enquanto seus pais fazem o som dos instrumentos para ela.

- Vamos Quinney! Canta comigo!

- Não mesmo! Você é muito boa! Isso seria humilhante!

- Aposto que você não é tão ruim assim. Sua voz é tão doce e suave...

- “Make’em go oh oh oh! As you shoot across the sky ih ih” – eu cantei e senti minhas bochechas corarem.

- Isso foi muito bom! – Ela bateu palmas e me deu um beijo na bochecha.

Em pouco tempo deixamos as malas na casa da tia de Rachel e resolveu me levar para conhecer a praia. Andamos de mãos dadas pela cidade. Eu visto um shorts preto e a parte de cima de um biquíni preto e branco e ela esconde o maiô por baixo de um vestido curto de tecido fino. Por fim meu pés tocam a areia e uma sensação estranha começa a subir pelo meu corpo. Ignoro e continuamos andando. Eu, com os olhos fixos no chão. Quando minha vista finalmente alcança o mar meu coração começa a acelerar, e de repente desmaio.

- Quinn! Quinney! Acorda! Não faz isso comigo, Quinney! Não mais uma vez! De novo não! – O choro de Rachel é a última coisa que ouço.

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- Quinney? – Ouço Rachel chamar e aperto sua mão novamente. – Quinn, você consegue me ouvir? Se sim aperta minha mão, Quinney...

Aperto sua mão e ela aperta a minha ainda mais forte. Não sei exatamente onde estou, mas pelo som das máquinas e o cheiro de desinfetante imagino que seja um quarto de hospital. Estou meio acordada há horas, mas só agora consegui formar meu primeiro pensamento e fazer um movimento. Porém, desde que comecei a recuperar meus sentidos, sinto as mãos de Rachel na minha. Ela não a soltou por nem um segundo sequer e uma vez ou outra sentia uma lágrima cair na minha pele. Finalmente abro os olhos.

- Quinn! Ah meu Deus! Você tá bem! Eu pensei que você não ia acordar e... Como pode fazer isso comigo? – De repente ela soou irritada, talvez até com raiva.

- Rachel, do que você tá falando? Você acha que eu quis desmaiar?

- Desmaiar? Desmaiar?  Você entrou num puta de um coma isso sim! Sabe por quantas horas você tá dormindo? Por seis horas!

- E posso saber como isso é minha culpa?

- Você não me disse! Você não disse que não se sentia bem visitando uma praia depois do incidente! Você não me falou que você tem uma porra de um problema cardiovascular! Você- Você me assustou... – Ela gritou, tornando sua voz mais suave, quase quebrada, apenas na última frase.

- Eu-Quando você me convidou pra vir pra cá você estava me olhando com aqueles olhos brilhantes e me dando um sorriso enorme... Eu não quis te desapontar!

- Mas Quinn! Sua saúde, seu bem estar, são muito mais importantes do que me deixar feliz!

- Puta que pariu Rachel! Você não consegue ver que eu estou completamente apaixonada por você. Que eu te a – Em tempo que soltei essas palavras me arrependi completamente e segurei minha língua para não continuar com o “eu te amo” porque é verdade. Eu a amo. Novamente penso sobre o que minha mãe me disse aquela vez, e sim, eu daria minha vida para salvar a de Rachel, só ainda não estou preparada para que ela saiba disso ainda. – Eu-é-me desc – E seus lábios estavam nos meus. Num movimento harmonioso que fizeram meu estômago se revirar de um jeito gostoso.

- Merda, Rachel, você quer que eu entre em coma de novo? – Perguntei quando ela simplesmente afastou sua boca da minha.

- Nossa, Quinn! Você não tem ideia de quanto tempo eu esperei pra que você me falasse isso!

- Mas-mas e seu namorado?

- Finn? Ah, nós tivemos uma coisa durante o verão, mas ele terminou comigo no começo do outono... Na semana que o irmão dele se transferiu para Dalton sabe?

- Uh-hum... – Respondi e ela me beijou novamente. Isso parece tão irreal, mas ao mesmo tempo tão... real.

- Eu te a- Ela começou, mas eu a cortei.

- Não! Não fale isso até que você tenha certeza de que é verdade. – Não é que não queira ouvir essas três palavrinhas que aquecem o coração de um modo estranho, mas é que eu quero que ela tenha certeza. - Minha mãe sempre me disse que amor é o sentimento mais forte que você pode ter por alguém. E pra saber se você realmente ama alguém é só pensar se você daria sua vida para salvar a dessa pessoa. Se sim, isso é amor.

- Eu-é...-desculpa. – Ela disse.

- Não se desculpe. Nós nos conhecemos há pouco tempo... É completamente compreensível que amor é uma palavra muito forte pra gente ainda... – Eu respondi e assim como ela, deixei uma lágrima escorrer sobre meu rosto.

- Isso é... Muito bonito...

- Eu sei...

- Então? Namoradas?

- Namoradas. – Nesse momento sinto um frio na barriga. Nada parecido com aquele que senti quando ela me beijou. Ela está aceitando namorar comigo, mas ela não sabe nada sobre a minha história. Meu maior medo é que ela me deixe quando descobrir sobre meu passado. Ela me deu mais um beijo interrompendo meus pensamentos e de repente ficou séria.

- Quinney... Foi mal estragar o momento, mas... Sobre seu coração...

- Ah... Pelo visto eu tenho um problema cardiovascular, né...

- Você não sabia?

- Não. – Não fazia ideia. Sempre soube que tenho muitos problemas, mas nem imaginava que meu coração é um deles. – O que eles falaram? Por que entrei em coma hoje?

- Você teve uma arritmia. É quando o coração acelera muito bruscamente. Muitas vezes causado por nervosismo, ansiedade, medo ou algo assim... Ele disse que isso acontece por causa do seu problema cardiovascular... Seu coração é um pouco maios do deveria ser, porém com menos disposição.

- Hmm... E vocês chegaram a falar com minha mãe?

- A gente ia... Mas resolvemos esperar um pouco pra ver se você não acordava... assim não precisaríamos preocupar ninguém à toa...

- Obrigada... – Realmente, preocupar minha mãe não era nada que eu quisesse.

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Depois de mais algumas horas sob observação, o médico me da alta e vou para casa com minha namorada.  Nós deitamos na cama uma ao lado da outra e ela me segura firme. É engraçado, ou talvez desastroso, o fato de que conheci a Rachel por causa de uma tragédia na praia e tornei-me sua namorada pelo mesmo motivo. Talvez praias nem sejam tão ruins assim. Rachel me dá um beijo profundo, cheio de língua e dentes e deita em cima de mim, me encarando com expressão séria?

- Quinn... O que aconteceu com você? Em Nova Iorque? Quais foram aqueles seus grandes erros que mencionou naquele dia em que nos tornamos amigas?

- É...

- Não precisa falar se não estiver pronta.

- Estou pronta.