Distrito 5 - A Força Da Inteligência escrita por BelleJRock


Capítulo 33
Capítulo 33


Notas iniciais do capítulo

Aaaah gente, realmente não posso acreditar que o fim dessa fic chegou. Foi a primeira que eu escrevi, e realmente gostei muito. Vocês me acompanharam desde o primeiro capítulo sempre comentando e tal, muuuuito obrigada mesmo! Fico triste de saber que vou ter que me desapegar a personagem e só gostaria de agradecer (com simples palavras) por tudo isso. Foi tão boa essa experiência, e com certeza não irei parar de escrever. Tenho muitas ideias e tal, então pretendo escrever uma original >< Espero que gostem do capítulo. Beijão para vocês!



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                               Fiquei girando aquela pequena delícia na palma de minha mão. Fixei meus olhos na amora e deixei que o barulho da natureza se consumisse atrás de mim, o medo de Peeta fosse embora e que meu coração acelerasse a vontade, expelindo adrenalina por todo meu corpo.

                                  As outras que havia em cima da jaqueta brilhavam a luz solar, que as deixava mais pretas. Abaixei até o solo e adicionei mais três em minhas mãos. E toda minha concentração se dirigiu ás amoras. Por alguma razão elas faziam isso comigo. Assim, meu rosto foi mudando para uma expressão de dúvidas e incertezas. Eu conhecia aquelas amoras de algum lugar, não no distrito 5, mas no centro de treinamento. Eu vi algo sobre elas, mas deve ter sido muito pouco, pois posso dizer o nome de cada planta que posso encontrar na arena, cada particularidade que as diferencia umas das outras, mas essas frutinhas? Essas amoras? Não conseguia achar a resposta para ela.

                                     Olhava para os lados constantemente na esperança de que Peeta não aparecesse naquele momento. Peguei boa parte do que tinha e deixei o resto para não levantar muitas suspeitas. Guardei tudo na bolsa e iria seguir meu caminho confiante do que estava fazendo. Simplesmente iria descobrir o que elas eram depois, para usá-las a meu favor.

                                        Dando meio passo da jaqueta jogada no chão que servia de base das amoras de Peeta, olhei para trás. Observei aquelas pequenas circunferências e lembrei-me de um nome. Um nome longínquo e que ouvi no primeiro dia em que usei o computador de reconhecimento de plantas, ervas e frutos. Eram as doces e escuras amoras-do-luar.

                                         Então lembrei que meus pais sempre contavam histórias sobre a criação das coisas ao meu redor. Meu pai dizia que a amora foi o resultado de um cruzamento entre duas outras plantas, e que isso acontecera há muitos anos atrás. Depois um povo antigo e distante que povoara as terras de Panem, mas que antes não era chamado de Panem, descobrira isso. Usavam as amoras para fazer sobremesas ou até para fazer vinhos. E eles plantavam, vendiam, compravam e depois comiam. Independentemente. ‘’Era um povo sábio, minha querida. ’’ Dizia meu pai. Ele falava que essas civilizações aprenderam a exercer algo que ele chamava de cidadania, mas que dias escuros vieram e depois nós viemos, sem poder trazer muitas de suas histórias fascinantes, perdidas no tempo e espaço. Eles nunca nos ensinam esses fatos na escola.

                                         Minha mãe também adora contar fatos sobre as coisas que me rodeiam. Assim como a amora, ela dizia que essa frutinha, na verdade, eram pérolas escuras que o sol dava para a lua, porém essa não aceitava os presentes que vinham em forma de muitos colares. Ela recusava porque seu sonho era ser tão escura e misteriosa naturalmente quanto o céu à noite, mas o sol a iluminava e ela ficava radiante e com brilho. No começo aceitara e quando os usava acontecia fenômenos incríveis que se denominavam eclipses solares, mas depois de um tempo ela ficou cansada e acabou jogando suas pérolas para nós aqui embaixo e ela se juntou com a terra, formando deliciosas pérolas comestíveis. As histórias de minha mãe são muito curiosas e imaginativas, e todo sábado crianças paravam em nossa janela para ouvir sobre a origem dos patos, ou dos pães, ou das cores.

                                             Meu irmão mais velho uma vez contara que elas eram olhos de insetos que sempre os renovavam e largavam os velhos por aí, mas isso era somente história para criança dormir com medo.

                                               Ao fundo, voltando à arena, ouço um barulho de galho quebrando-se. Assusto-me e recuo para trás, mas ninguém aparece.  Observo as amoras-do-luar rondarem em minha mão e olho de relance para a paisagem em volta. Depois joguei a fruta dentro da minha boca. Não a mordo, simplesmente tento desvendar sua textura. Estranhei o gosto amargo superficial que tinha. Era para ser tudo doce.

                                                 Ainda com a amora na boca, abaixo-me novamente em direção ao casaco de Peeta. Olho diretamente para uma e abro a mão com a fruta no centro para um fiapo de luz provida do sol e ela continua com a sua mesma coloração. Escura, bem escura.

                                                 Pressiono a amora com os dentes até sentir um leve esguicho de seu suco. E aí eu percebi o que estava acontecendo. Eu vi que aquilo seria meu único olhar para aquela paisagem tão verde, mas que nos deixavam tão amedrontados. Aquelas frutinhas, definitivamente, não eram amoras-do-luar. Uma lágrima se formara em meus olhos e eu não hesitei em derramá-las. O que eu estava fazendo? E por quê? Na verdade, milhões de perguntas rondavam em minha cabeça naquele momento, e nenhuma resposta chegava. E aí eu percebi que eu não queria achar mais respostas. Eu só queria poder dormir de novo e esquecer onde eu estava, ou pelo menos ter uma chance de sair andando em frente e chegar a meu distrito. Aquelas não eram as amoras que eu esperava, e talvez eu esteja esperando demais e eu não deva mais fazer isso.

                                                 Então, eu simplesmente mordi.   

                                                

                                               As copas das árvores realmente eram bem densas. Elas erguiam por cima de mim enquanto algumas folhas secas e mortas caíam ali, caíam aqui. E essas copas densas acabaram criando uma barreira natural com o céu. Eu iria dormir sem poder ver o céu antes. Que triste.

                                                O suco amargo descia em minha garganta e cada vez que as gotas seguiam seu caminho, elas fechavam minha respiração. Apesar disso, eu não sentia dor, ou talvez eu esteja ocupada demais apreciando o gosto do suco da amora. Finalmente um feixe de lux ofusca meus olhos, mas dessa vez começa a queimar minha pele. A mão tremendo, ergo-a até meu campo de visão e vejo o quão magra e pálida estou, mas, novamente, eu não ligo. Eu realmente não sei o porquê somente agora não me preocupo mais. Simplesmente estou ali parada, esperando ela vir e cumprimentar-me. Conversar comigo, explicar-me as metas de minha vida, ou o porquê de estar falando comigo. Ela é uma estranha companheira.

                                                 Talvez eu realmente esteja deixando esse lugar horrível com muitas dúvidas. E com dúvidas novas para onde vou. Talvez tudo esteja somente num pesadelo onde eu irei acordar agora. Ou talvez eu esteja indo para ele. E talvez eu devesse parar de falar essa palavra e encarar a vida com um ‘’sim    ‘’ ou ‘’não’’.

                                                  Eu não sei como ainda puxo ar sem nenhum orifício com força o suficiente para fazer isso. A pequena área que ainda enxergo fica muita limpa, tudo clarinho, tudo tão branco. E o tempo é tão parado, tudo passa extremamente devagar. O chão se torna macio e reconfortante como um abraço de alguém que você ama. Sim, eu preciso disso. O vento deixa de ser tão cortante e vira uma brisa que suaviza o ambiente, a queimação da garganta devido ao suco amargo vira um tipo de mel e tudo se torna pacífico.

                                     Eu me viro de lado e vejo, no fundo do horizonte totalmente branco, vários vultos. E eles se aproximam, e eu tenho medo. E então se tornam visíveis: é minha família. Estendo a mão, mas de algum modo o chão me prende e me imobiliza. Luto com todas as minhas forças e com todas as minhas lágrimas, mas quando faço isso a queimação volta, o vento se torna cortante e a paisagem escurece com uma tristeza inigualável.

                                       -Pai! Mãe! Por favor, venham! Não... – E eu tive que parar porque meus soluços estavam alto demais. E minha visão ficou embaçada demais para ver seus rostos que me enchiam de saudades.

                                        -Surpresinha. – A voz soava como a de meu pai, mas minha visão estava terrível. Eu abria os olhos, tentando vê-los e tocá-los, mas não conseguia. Eu só podia reconhecer suas formas humanas me encarando no chão, como um inseto morto e indefeso. Aquele nome fazia-me suar frio e eu queria simplesmente sair dali e chorar.

                                         - Pai... Onde vocês estão? Onde? – O desespero estava claro em minha voz, mas parecia que eles não escutavam.

                                         - Estamos aqui. Sempre estivermos ao seu lado. Você foi tão esperta, minha filha. -Aos poucos, minha visão foi tornando-se mais nítida e pude reconhecer um sorriso em seus rostos.

                                          - Oh, minha nossa. Preciso vê-los! Onde estou? Por favor, me digam. O que está havendo? O que fazem aqui? – Meu choro tornava-se tão alto que não conseguia respirar mais. Eu não possuía capacidade de limpar as lágrimas e isso me deixava frustrada. Eu precisava vê-los.

                                           - Acalme-se, minha filha. Você está tão bela hoje. Não é necessário mais se preocupar. Você ficará bem, você irá ficar conosco para sempre.

                                            - Não! Não! Por favor, me respondam. O que está havendo? Eu só quero ficar com vocês, eu preciso de vocês. Não vão embora, por favor... – E novamente minha voz morrera. E a visão embaçada, e a frustação de não vê-los só aumentava.

                                           - Você não deveria perder seu tempo fazendo essas perguntas retóricas. – Uma voz se pronunciou. E eu quis chorar ainda mais, meu irmão mais velho, aquele que não podíamos ficar juntos na mesma sala. Oh, eu trocaria todos esses anos de brigas para poder vê-lo novamente. – Não precisa se preocupar. Eu nunca deixei você.

                                         -Jamais deixaremos. –Ed e minha mãe concordaram.

                                         - Você se exige demais, mana. Não tem noção de como pratico há anos para agradecê-la por tudo, e só consigo ver a palavra amor. E só consigo dizer o quanto te amo, mana.

                                             E dessa vez eu não chorei. Eu simplesmente entendi. Eu não poderia chorar mais, eu teria que reconhecer aquilo. E assim, a minha visão ficou nítida. E as perguntas desapareceram, e então eu não precisei de mais nenhuma resposta. E eu só queria Ed ali, pertinho de mim, enquanto minha mãe passava aquele carinho que só ela sabe dar.

                                              Eles faziam um piquenique ao meu lado, e minha mãe estava preparando um guarda-sol para mim, como ela fazia quando ainda tínhamos condições de fugir para as montanhas e comer algo lá.  E todos sorriam, como se eu estivesse alcançado minha meta. Era estranho, pois eu me sentia assim.

                                              E o clima montanhoso era tão maravilhoso e minha família era tão feliz. Meus irmãos comiam um sanduiche com ingredientes que eu nunca havia visto, meu pai bebericava um suco com uma coloração rosa alaranjada e minha mãe havia sentado na toalha enquanto tirava um pedaço do enorme queijo que havia ali.

                                               Eu observava todos eles e isso me fez tão bem. Eu me senti tão leve e fortalecida. Foi aí que eu me levantei, assim do nada. Sentei sobre a toalha e peguei um sanduiche, e quando comecei a degustá-lo senti um gosto amargo. Fiz uma careta e todos eles riram, o que me fez sorrir novamente. Acho que foi o mais verdadeiro momento de felicidade que eu havia sentido desde que meu nome apareceu naquela bola de vidro enorme.

                                                Um belo momento a ser apreciado. Lembro-me dele quando ainda era pequena. Aquilo era uma memória que eu prometi a mim mesma que eu não esqueceria. E aqui estou eu, prometendo a mim mesma a não esquecer a memória da memória.  E tudo começou a ficar limpo novamente e os sorrisos de minha família desapareceram. Foi aí que quis chorar. Eu queria tanto abraçá-los, mas eles não se aproximavam.

                                               - Nós amamos você. – Disseram todos em uníssono. E a brisa tocou-me mais forte, e o sol terminara de se por e as luzes fracas do distrito 5 apareceram e tudo caía com um peso enorme sobre mim. E então eu chorei, mas nenhuma lágrima veio. – As lágrimas já não são mais necessárias. Não seja tão dura consigo mesma. Você simplesmente foi quem você foi. E o tempo inteiro nos fez amá-la. E nos fez querer lhe abraçar. E lhe esperar a cada segundo para ver seu rosto novamente. Não seja tão dura consigo mesma, pois você foi o maior exemplo que pode ser visto em qualquer lugar. E estou tão feliz por vê-la, e estou tão triste por vê-la numa memória, mas eu te amo. Não seja tão rígida. – E eles falavam isso em conjunto, como se fosse um coro. E foi tudo tão lindo. E minhas lágrimas finalmente saíam, mas elas começavam a flutuar. E formavam grande bolhas e eu via tantas lembranças acontecendo dentro delas. Situações onde eu amava minha família.

                                                Eram partes de minha vida que voavam para bem longe de mim. Sim, não, talvez, não importa a palavra que eu use, eu só queria que todos soubessem o que eu queria falar. Aquele momento eu gritara tão alto para que todos ouvissem, principalmente eu mesma:

                                                 -Como eu amo vocês.

                                                 Eu os vi aproximarem de mim e todos iam me beijar de uma vez só, e chegando bem pertinho de minha testa e bochechas eu fechei os olhos. Senti aquele beijo caloroso e familiar que me deixou em uma paz tão grande que não podia mais pensar em alguma tristeza. Simplesmente suas imagens pairando sobre mim, e quando abri os olhos eles haviam ido embora. As copas tomaram conta de mim dessa vez, a brisa parara, as folhas silenciaram e os feixes de sol aqueceram meu nariz.

                                                   E então eu senti tudo parar, tudo silenciar e um único olhar para cima, para o único buraco no meio das copas que se abria sobre mim. E quando uma última lágrima caiu, eu vi um pássaro enorme passar por ali, abrindo suas asas lindas. Voando para uma nova perspectiva, para qualquer lugar onde ele seja feliz, atrás de tudo que ele quis, sem olhar para trás.

                                                  Lembrei-me dos tempos bons onde eu e meus irmãos éramos criados com uma relação de harmonia, felicidade e inocência. Lembrei-me dos meus equívocos, mas de minhas realizações. Das montanhas verdes do distrito 5 e da escola. E quando briguei com meu irmão e quando Ed perdera o movimento das pernas. Depois de meu nome na colheita e de Ethan. Vejo Rodney comendo suas barrinhas com Leah e Avery grudadas na televisão. E me lembrei dos outros tributos e como foram seus momentos felizes na arena. E então comecei a conversar com a companheira estranha que me seguia todo o caminho por aqui. E a morte pediu para que eu fosse de cabeça erguida para o lado de lá, com a sorte ao meu favor.  

                                                 Por fim, eu, Finch Cromwell, dei um último e melancólico sorriso.

                                           


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Notas finais do capítulo

Se vocês gostaram do capítulo, se não gostaram ou algum erro, comentem! Realmente gostaria de saber o que vocês acharam de toda a fic. E se você gostou muito, poderia recomendar também. Agradeço por lerem tudo gente! Realmente fico muito feliz.
(Ah para quem quiser eu to escrevendo uma fic com uma amiga minha, que é original, e aí se quiserem ir lá ver, ta lá. Só procurarem pelo perfil Yoggi ( Cartas para um invisível).
Beijos e abraços, e que a sorte esteja sempre ao seu favor.



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