Shadow Touch escrita por Lady TMS


Capítulo 21
O julgamento...




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Sem perceber sua mão passou por sua própria garganta enquanto lutava pelas palavras certas.

– Eu não sei do que falam senhoras.

Sussurros interromperam o silêncio até que tiveram que pedir silêncio.

–Nega ser Johana?

–Não. Eu vim a vocês de livre vontade para pedir que me levem de volta para casa. Quanto ao resto, eu nunca ouvi falar. Desconhecia que esse lugar existia até atravessar Ebon.

Outros sussurros renasceram mais fortes.

–Jonh? – a voz da bruxa ecoou com frieza.

–Senhora de Yoren- Jonh falou as suas costas- eu tenho motivos para acreditar que o que ela diz possa ser verdade. Ela realmente foi atacada pelas Pútridos no começo da noite quando entramos em Ebon.

–Você presenciou?

–Não, senhora. Eu estava no primeiro grupo que foi atacado antes.

–Mostre-me a marca – a bruxa atravessou o espaço até Johana.

Levantou as mangas mostrando um terço das veias azuis que se arrastavam pelo seu braço.

–A marca toda...

Tirou os braços da blusa envergonhada e ficou de costas enquanto a bruxa ficou em silêncio.

Ela sabia o que todos estavam olhando. A marca de unhas central em seu pescoço e por onde todos os filetes azuis da mesma cor que seus olhos saiam descendo por seu ombro até seus antebraços.

– O que a fez ser salva?

– Um lobo, acho... - tentou se recordar com exatidão. Na época achou que era só um pedaço de comida.

– Um lobo? – franziu o cenho que até agora tinha se mostrado inexpressivo. Olhou para alguém que estava na mesa. – Um transforme?

–Não senhora. Não foi nenhum dos meus – comentou um negro baixo com roupas maiores que ele.

Johana deslizou a roupa de volta cobrindo seu braço.

–Muito bem. Então onde está seu salvador e a única testemunha do ataque? – voltou-se a atenção para ela.

–Morgan disse que o encontraram morto.

–Aquele babaca. O que ele sabe de tudo isso? – se afastou.

–Senhora... – começou - eu fiquei uma semana desacordada. Morgan pode te contar como me acharam... Ele disse que eu morreria ...

–Se você fosse uma humana igual a eles. – ela fez um desdenho como a mão como se nem valesse a pena comentar – ser atacada pelos da sua própria espécie... Onde vamos parar...

Johana estava em conflito se só deveria esquecer tudo o que estava acontecendo e tentar voltar ou tentar entender toda aquela baboseira.

Ela conhecia bem demais seus avós e toda a sua família para saber que todo aquele falatório era mentira.

Quando seus pais e sua irmã mais nova de quatro anos morreram de uma doença misteriosa Johana tinha apenas seis anos. ,

Ela os viu definhando lentamente e achou que eles apenas não tinham sido fortes o suficiente para viver por ela. Cada dia foi pior que o outro até que acabou, uma espécie de letargia se aninhou em seu íntimo por toda a infância mesmo que seu avô tivesse cuidado dela com nada menos que todo o amor que tinha. E ela o amava por isso. Mas logo ele também se foi, e dessa vez não tinha ninguém para cuidar dela. Não teve tempo de chorar ou sentir falta, pois tinha ficado ocupada demais tentando se virar

Ela viu todos os objetos preciosos sendo levados lentamente para fora da casa e da sua vida. Não houve nada que pudesse ficar.

A não ser as memórias e uma casa...

Foram anos tristes aqueles em que ela procurou qualquer pessoa que a fizesse se sentir viva de novo.

Imprevisivelmente, um dia seus pés a levaram a biblioteca da cidade. Um lugar imenso e antigo onde os registros de toda a população da cidade se encontravam. Qualquer um podia descobrir a data em que seus descendentes chegaram e se registraram na Capital logo após o Novo Governo ter sido instalado e aceito.

Uma parte dela só queria que a ligação que tinha com sua família não perdesse e outra parte mais profunda só queria ter esperanças de encontrar vivo alguém mais.

Nenhuma das duas coisas aconteceu.

No entanto, descobriu seu antecessor mais antigo: Robert Lins Silveira casado com Linda Locker Vert.

Ela sabia de toda a sua linhagem sanguínea até trezentos anos. E se não sabia mais era por causa da perda de tantos documentos depois da Segunda Grande Crise Mundial: uma série de guerras causadas pela mudança de sistema econômico e revoltas menores contra injustiça; pobreza; fome e doenças sem cura. Isso desestabilizou o mundo e em pouco tempo nenhuma organização mundial pôde ajudar o câncer que crescia em cada país e se espalhava pelo mundo.

Atualmente a população era bem menor do que tinha sido em outros tempos. Ainda existiam fronteiras, mas ninguém se preocupava muito em defendê-las. Não havia imigração devido as grandes distâncias e a pobreza de recursos tecnológicos que chegavam aos menos afortunados.

Além disso, todos se matavam tanto de trabalhar, tentando reconstruir o que já foi, tentando sair da miséria que o pouco tempo que tinham só queriam relaxar com algum tipo de entretenimento. Ficava menos que nada para pensar em qualquer outra coisa.

E quem podia culpa-los? Se soubesse o que aconteceria também teria ficado quieta trabalhando.

No entanto, se fosse analisar tudo o que a tinha levado até ali, teria notado que por nunca se sentir encaixada nessa enorme escultura de lego, desenvolveu uma fome por conhecimento, por entender qual era o problema.

De qualquer forma sempre soube que as injustiças aconteceriam que haveria ganância entre homens e que tudo era questão de tempo até mais guerras e mortes.

Foi tirada de seus pensamentos quando o murmúrio subiu de novo pedindo sua morte.

–Calados! – gritou a bruxa de cabelos longos e falhos - Não se esqueçam de quem julga aqui!

As outras três deslizaram a sua frente.

–Ela ainda pensa em ir embora... – uma delas pegou na pequena mão de Johana enquanto a sala começava a silenciar novamente. Sua voz sem formato, deixando a tranquilizada.

–Você não sabe por que desmaiou sabe? Ou porque vem se sentindo tão fraca ultimamente? – outra comentou.

Johana negou incapaz de deixar aqueles olhos sem vida totalmente negros. Nunca pensou que sua recente fraqueza fosse causada por algo, que fosse um sintoma de algo maior. Alguns dias eram melhores que outros, verdade seja dita, mas doente?

A senhora de Yoren sorriu mostrando seus dentes podres.

– Você tem dezoito anos mortais suponho – Johana acenou que sim – essa é a idade máxima para uma criança virar chefe da sua linhagem caso não haja um chefe. Quando elas não assumem e não há nenhum sangue herdeiro no comando, todos os que juraram seguir há família entram em colapso. Há brigas, disputas por comando e naturalmente mortes. Mortes de sangue. Isso é a que faz ficar fraca, Johana. Sua linhagem está morrendo e consequentemente você.

Como se o tempo quisesse causar mais drama a cena um trovão retumbou iluminando a sala através das janelas do outro extremo onde havia uma mesa com quatro lugares.

–Como isso pode ser possível?- perguntou- Ninguém sabia sobre isso em minha família. Porque só agora?

–Nós a trouxemos... – falou a bruxa de olhos negros – precisávamos por um fim a tudo isso. Você se lembra de um encontro com um jovem de cabelos pretos em uma plataforma de trem? Aaaa... Posso ver que se lembra... Bonito não? Vejo que gostou dele. Ele a rastreou e colocou uma marca que permitia atravessar Ebon até nós.

Josh tinha colocado uma marca nela? Ele sabia de tudo o que estava acontecendo? Ele mereceu ter apanhado de John se isso fosse verdade. Ela não havia gostado dele. Era bonito, verdade fosse, mas não gostava...

No momento, ela não gostava de ninguém que tivesse qualquer envolvimento com esse lugar.

–Jonh também foi enviado para encontra-la – a bruxa continuou com uma risadinha – mas foi quase um inútil...

–Pelo menos ele foi capaz de trazê-la até aqui – a outra bruxa argumentou – embora ela estivesse toda machucada e seu sangue sentido a quilômetros.

–Ó querida, não fique assim. Nós te curamos por agora não vê?

E era verdade ela não se sentia machucada. Olhou para Jonh que exibia o mesmo rosto sem emoção de sempre olhando para o horizonte como se não a visse. Era só mais um dos guardas que havia pela sala.

Ela estava realmente cansada dele e seus joguinhos infantis. Ele mentia sobre quem era o tempo e toda, e ficava brincando com ela, a manipulando.

Afastou a vista, infelizmente um tanto tarde demais.

–Pobrezinha. Está se sentindo traída.

A bruxa de olhos negros passou a mão por sobre seus ombros. Ela teria ligado se no momento não estivesse lutando para engolir o nó na garganta.

Idiota... Que cena você está causando...

Soltou-se calmamente do abraço da bruxa endireitando-se.

–O que vocês tinham em mente ao me trazer aqui?

–Ter um julgamento justo, morte e outro sucessor.

–E a família não iria morrer me matando? Eu sou a última sucessora não?

–Você só pode libera-los quando estiver morrendo, e ai eles permanecem vivos e independentes, sem pertencer a nenhuma família.

Uma ideia louca se formou em sua cabeça e antes que pudesse se impedir falou:

– Eu posso assumi-los?

A Senhora de Yoren apertou os olhos se aproximando das outras bruxas. Johana podia ver que elas conversavam por troca de olhares. Embora só uma possuísse o título todas pareciam ter o mesmo poder de dar ordens. Quando a conversa acabou a Senhora deu um passo para fora do círculo.

– Garota impulsiva. Você sabe o que está envolvido em assumir a família? No momento, isso envolve matar a pessoa que controla seus vassalos atualmente.

– Carla- a bruxa que estava a sua direita deu um apertão em seu braço e depois falou – pequena criança, não esperávamos essa resposta, considerando que foi o seu antecessor que fugiu deliberadamente. Além disso, não sabemos dizer se você tem algum dos poderes que sua família costumava ter, depois de anos de mistura comum no sangue.

–Alguém aqui aceitaria participar de um teste? – falou para a mesa que continha mais de cem líderes e representantes de todas as famílias.

Houve um minuto de silêncio tão longo que Johana conseguiu encarar todos os rostos que a olhavam de volta, logo desviou e ficou olhando para as velas que pairavam sobre suas cabeças.

–Eu farei – a Senhora de Yoren caminhou para longe dela quando ficou claro que ninguém queria assumir, resmungando alto o suficiente para que todos ouvissem.

– Eu irei te atacar. Faça qualquer coisa para se proteger – falou do outro lado da sala.

–Isso não é perigoso? E se eu não conseguir fazer nada?

– Então estaremos adiantando a sua morte – ela deu de ombros.

Um flash de luz foi lançado em sua direção e em segundos atravessou a sala, fazendo um barulho terrivelmente alto. No momento em que viu, pulou de surpresa caindo de bunda no chão.

–Não era bem isso que tínhamos em mente – uma das bruxas murmurou.

Johana via que alguns seguravam para não dar risada, enquanto outros foram mais explícitos em suas ações. De qualquer forma, todos estavam achando-a uma pária. Não sabia por que se dava ao trabalho de tentar. Tinha certeza que estava com algum parafuso solto na cabeça, e que logo iria acordar em uma casa para loucos. Estremeceu. Não era um lugar em que qualquer pessoa com consciência quisesse conhecer.

–Talvez ela não tenha nenhum poder mesmo – a bruxa de olhos negros chegou mais perto analisando e tomou uma decisão – Vamos tentar isso amanhã.

Mais outro dia...

–Laurene... - a Senhora começou antes de trocarem um olhar- Certo. Você provavelmente tem razão – depois se virou para os espectadores da mesa – Amanhã cedo decidiremos o destino dela. Todos estão convidados novamente se desejarem. Lembre-se que até tomarmos a decisão nada ou ninguém deve sair de Yoren.

Com as últimas palavras proferidas as pessoas começaram a dispersar por portas que havia no contorno da sala, enquanto ela tentava torpemente se levantar sem fazer maiores estragos ao seu ego.

Laurene a olhou novamente.

– Devemos te ensinar o básico dos poderes antes de aplicar um teste. Se você tiver algo aí dentro ele vai se revelar e então esperamos que alguma família te escolha para ensinar o resto.

– E se eu não possuir nada?

–Então te mataremos depois do julgamento. Veja bem, não é pessoal, mas muitas pessoas já sofreram demais com tudo isso.

– Mas vocês falaram de um julgamento justo...

–Nunca dissemos que ia ser justo para você.


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Notas finais do capítulo

Bem... A história se desenvolveu para algo parecido com fantasia que eu não esperava que acontecesse. Por isso, estou tentando entender o que fazer ainda com as outras páginas já escritas. Por favor continuem acompanhando e comentem.
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