Shadow Touch escrita por Lady TMS


Capítulo 15
Sair




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Sabia que era um sonho. Estava revivendo aquela noite. Não conseguia se forçar a acordar. Ela podia ouvir como queriam mata-la. Como pediam seu sangue aos gritos, só não conseguia entender o porquê. Estava cada vez mais difícil correr. Como se houvesse pesos em seus pés. Olhou horrorizada para baixo onde galhos tentavam prende-la. Um deles conseguiu e caiu no chão. Seu corpo estava cada vez mais entrelaçado e não conseguia se libertar. Estava sangrando, o cabelo cobrindo todo seu rosto. Ficou olhando o horizonte esperando ver os oficiais rindo de como ela tinha sido boba. No entanto bocas retorcidas começaram a pairar se aproximando. Dezenas de milhares. O sangue as chamava. Seu sangue quente. Gritou mas o silêncio era ainda mais insurdecedor. Elas se aproximaram mais e mais até ela conseguir ver todos os detalhes. Uma delas sua mãe. Pensou ter vislumbrado suas duas irmãs mais velhas também. Mas elas não a reconheciam. Só havia fome em seus olhos. Contorceu-se mais, estava suando. Seu pai a chamava com liquido negro jorrando seu pescoço. 

Johana...

Acordou na cama arfando. Seu braço ardendo e queimando. Piscou com a fraca iluminação da madeira crepitando ao fogo. Era um som acalmante. Ainda estava escuro lá fora. Se sentou respirando. Tentando não pensar no sonho.

Um... Dois... Três... Quatro... Cinco...

Contou até seu coração se regularizar. Levantou levemente a manga da camiseta na esperança que tivesse ralado enquanto dormia. Estava mais azul e profunda com contornos avermelhados como se tivesse acabado de marcar seu corpo. Algo assim parecido a uma tatuagem era proibido na Nova Inglaterra. Percebeu com terror de que se voltasse, as coisas não seriam mais como eram antes. 

Caminhou até o degradado espelho na parede ao lado da sua cama. Abaixou a camiseta e se virou tentando olhar seu ombro. Jogou água no rosto e sobre o contorno da marca tentando diminuir a sensação de ardência. Depois ficou se encarando no espelho. Tentando memorizar o rosto que estava mudando. O que foi e nunca voltaria.

O que sou agora?

Definitivamente não se reconhecia. Ela havia mudado tão rapidamente em tão pouco tempo. De calada a expressar publicamente suas opiniões. E no que isso a tinha levado?

Não passou despercebido também suas constantes mudanças de humor. Não, já não era ela mesma. Ou talvez tivesse agido assim devido a seu mundo ter sido virado de ponta cabeça. Com certeza era uma razão válida para tudo isso.

Não sabia onde estava, como voltar e tinha que contar com ajuda de quem menos queria. Mas ficar pensando em seus problemas e se lamentando não iria ajudar nada. Lentamente se afastou do espelho com medo de que se piscasse já não veria ela mesma no reflexo.

Entrou na porta ao lado que dava para o banheiro. Havia água encanada. Johana não podia entender como em alguns aspectos essa cultura era tão avançada e em outras tão arcaicas. Ficou satisfeita ao tirar o grude do corpo e voltar a cheirar como sempre tinha sido. Limpeza. Escovou o cabelo com as mãos e ficou esperando John acordar.

Ele parecia tão calmo. Quase como uma criança embora parecesse um adulto. Quantos anos tinha? Vinte? Talvez um pouco mais? Não tinha como adivinhar.

Como um ritual antes de acordar ele se virou e colocou os braços sobre os olhos, como se o quarto estivesse iluminado demais. Johana apenas encarou.

O braço voltou a cair e ele piscou acordando lentamente.

– Seu braço...

Ele se sentou calmamente e esfregou o rosto tomando tempo. Sabia que havia sido descoberto, mas não havia uma maneira fácil de explicar. Tentou prever qualquer reação exagerada que pudesse ter. Deveria ter visto o tapa vindo em direção ao seu rosto. Mas havia algo nela que o desarmava.

Frustrado de ser machucado tantas vezes pela mesma garota imprevisível, segurou os punhos apertando-a. Ela tentou o chutar. Jonh a empurrou. Suas costas batendo na parede. Ela gemeu e começou a levantar a voz. Provavelmente para xinga-lo.

–Quieta – disse baixo e ameaçadoramente. A voz em que ele assustava os pequenos ratos novatos do exército real, esperando que funcionasse com ela também – Você compreende que me bater tantas vezes me dá a chance de retrucar? Que eu tenho tanta liberdade quanto você?

Ela pareceu considerar.

– Eu não duvido que você faria

–Claramente um desafio então.

–Me solte – tentou se desvencilhar. Seus nódulos arranhando a parede.

–Pare de me bater. Principalmente quando acabo de acordar.

Ele era dois palmos mais alto que ela. Um lado da sua face iluminado fracamente pelo fogo.

–Você mentiu.

–Não interessa. Quero que você pare de me atacar toda hora sem ao menos me deixar explicar.

– Como você conseguiu esconder isso?

–Primeiro. Você vai parar?

– Prometo não te bater sem motivo.

Ele suspirou:

– Suponho que isso já é alguma coisa – ele se aproximou mais fazendo com que Johana tivesse que inclinar a cabeça a deixando de alguma forma vulnerável – Qual seu nome de verdade?

Ela hesitou. 

– Prometo que se sairmos dessa não vou atrás de você.

Respirou fundo:

–Johana Locker Regi – olhou-o nos olhos falando quase que como uma brisa

Não confiava nele. Desejou engolir suas palavras. Desejou não ter falado seu nome inteiro.  

Ele deslizou suas mãos lentamente dos pulsos dela. A libertando aos poucos, como se estivesse incerto de deixar sua presa tão dificilmente capturada solta novamente.  Se sentou e ficou olhando as marcas em seu braço.

–São iguais a sua? – perguntou enquanto passava a mão ao longo do braço. 

– Não exatamente – ela se sentou na cama oposta – o que aconteceu?

Tentou não olhar a parte do corpo dele descoberto. Jonh era incrivelmente bonito. Se esforçou em desviar os pensamentos. Talvez seja porque nunca vi um homem sem camisa – considerou dando-se um pouquinho de esperança de não estar atraída pelo causador de seus problemas. Talvez seja só carência...

– Eu não menti dizendo que não lembrava bem daquela noite. Eu fui ficando inconsciente aos poucos. Ouvi gritos. Não cheguei a vê-las. Não sei por que estou vivo. Eu senti frio e depois quente. Uma sensação de terror profundo escavando debaixo da minha pele – ele a olhou – eu nunca tive medo assim.

Ela sabia o que ele queria dizer:

–E como você conseguiu esconder?

–Treinamento do exército. Nenhum civil sabe sobre isso –a olhou antes de decidir contar o resto- O que eu fiz, foi mais do que esconder, foi bloquear a dor também. Eu não sinto nada.

Ela andou pelo quarto incapaz de ficar parada.

–Do que você está falando? Isso é algum tipo de treinamento ninja? Magia?- Virou a cara como se pronunciasse uma maldição.

–Não tenho tempo de explicar. Não tem porque você saber.

–Claro que tem. Eu poderia aprender.

–Não é assim que funciona. Exige treinamento e várias outras coisas que você não entenderia.

Frustrada ela passou a mão pelo cabelo molhado. Quase seco agora. Esta muito comprido, pensou, se distraindo.

–Ultima pergunta. Por que você mentiu para Morgan. Sobre a marca.

– Simples. Porque eu queria ter a opção de escolher o que fazer. Não queria ser forçado a deixar a Cidade caso precisasse ficar aqui. Porque você mentiu sobre o seu nome?

–Porque queria que ficasse mais difícil caso quisessem me procurar mais tarde - lembrando-se que havia mentido pelo mesmo motivo para ele mudou se assunto - Vamos precisar de alguém para nos tirar daqui se vamos tentar fugir mesmo– Johana disse se aproximando novamente – talvez o guarda que está na porta. E precisa ser rápido. Daqui a pouco vai ficar bem claro.

–Porque você não usa seu charme que nem você fez comigo na floresta?

–Porque só funciona com idiotas.

–Então todos os homens o são – declarou escorregando para cama novamente como um gato preguiçoso. Esperou para ver como ela agiria. 

– Vai me deixar fazer tudo sozinha?

– Você é bem forte. Consegue se virar.

Um desafio era um desafio. Com raiva se virou para a porta disposta a ganhar.


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