3 dias antes do desaparecimento.

Paris, França.

Quinta-Feira, 15 de Julho de 2011.
7:32 da manhã – POV Selena.

Entrei impaciente pelo laboratório de biologia durante aquela tarde. Os alunos a minha volta davam pequenos risadas ao reparar em meu estado atual, enquanto outros me encaravam irritados por algum motivo que não pude identificar. Chegar apenas 2 minutos atrasada parecia um tanto inocente aos olhos de pessoas normais, porém quando você estuda no Instituto de Tecnologia de Paris, uma pequena barreira que exige nada além perfeição é estabelecida, e se algum aluno ultrapassar as expectativas, sua bolsa escolar é cancelada. E bom, nada é tão fácil quanto parece. O olhar zombadeiro de meus colegas de classe incomodava, porém a expressão de impaciência do Sr. James em minha direção conseguia ser pior. Toquei meu lábio superior com a ponta da língua e tentei encontrar algumas palavras que mostrassem o quanto eu estava arrependida de ter ficado acordada até tarde durante a noite passada assistindo temporadas antigas de Friends, o que me fez acordar 5 minutos após o despertador hoje pela manhã. Passei meus dedos sobre o tecido de algodão egípcio de minha bolsa, e resmunguei as primeiras palavras que vieram em minha mente no momento.

– Hm, Bom Dia Senhor James. Eu... Sem querer eu... Eu perdi o Ônibus. – Menti. Ok. Eu jamais ando de ônibus. Na realidade, nem ao menos sei se passa um pelo meu condomínio. Porém, a tentativa foi válida. Logo depois de revirar os olhos de modo impaciente, o professor de olhos claros apontou para minha carteira no final do corredor e voltou a balbuciar algumas lições de moral para os alunos a sua volta. Suspirei profundamente e apoiei minhas mãos na carteira espremida no canto da sala, jogando minha mochila sobre a mesma. Assim que me sentei, senti um hálito fresco de menta percorrer minha nuca. – Justin. – Sussurrei. Quase pude ouvir o som de seus lábios se formando em um sorriso por de trás de mim.

– Bom dia pequena.

Assim que o sinal tocou, passei minhas mãos rapidamente por debaixo da carteira, pegando minha mochila agilmente e dando apressados passos até a saída. Passei minha língua pela parte superior de meus lábios. A brisa tropical que circulava pelo ambiente balançava de modo gracioso as pontas de meu cabelo, enquanto as pessoas ao meu redor discutiam sobre assuntos paralelos, tais como o novo cardápio do refeitório e a demissão do novo professor de sociologia. Suspirei profundamente e taquei meus livros dentro do apertado armário, me virando e encarando o corredor por detrás de mim logo depois. Assim que observei o Justin abrir calmamente sua mochila sobre o banco de mármore próximo ao bebedouro, dei um sorriso leve e andei na direção do mesmo, puxando a gola de sua camisa por trás e mexendo em seu cabelo liso.

– Oi neném. – Resmunguei , me sentando ao seu lado e o encarando sorrir em minha frente.
Ele deu uma risada leve.
– “ Perdi o Ônibus. ” – aspas com as mãos - Qual é. – Falou sarcasticamente, me fazendo relembrar do ridículo acidente hoje pela manhã. Idiota.
– Mudando de assunto, por favor. – Falei sem pensar, mexendo em meu cabelo. – Uh, eu tenho uma coisa para te pedir. – Ele encolheu os olhos.
– O que é? – Falou desconfiado.
– Ok, para não parecer tão ridículo, eu vou tentar fazer um teatrinho. Vamos lá. – Falei respirando fundo e dando um sorriso cínico. – Nossa, eu sou o Justin, eu amaria chamar a Dakota para sair, uh. – Falei com a voz potencialmente grossa, ignorando a risada histérica vinda dele segundos depois.
– O quê... – Falou indiferente. Revirei os olhos estressada. – Minha voz é mesmo assim?
– Não, essa é minha voz genérica para homens. –Falei balançando a cabeça. Ele deu uma risada leve.
– Ok, faz mais. – Falou com um sorriso sarcástico estampado no rosto.
– Para de zoar, é sério. Ela quase me obrigou a te pedir isso. - Falei cansada, remexendo impacientemente em minha mochila. Dei um sorriso leve ao ouvir sua risada novamente. – Você tá rindo mas é sério. E ah, eu preciso que você me leve até A Biblioteca Mazarine hoje a tarde. – Ele me encarou indignado.
– Mas é do outro lado da cidade!
– E ...? – Falei dando de ombros, me levantando do banco e dando um beijo rápido em sua bochecha. – Te espero ás 15:00. – Sussurrei próximo ao seu ouvido, dando passos largos até a porta de entrada da escola momentos depois.

1 dia antes do desaparecimento.
Paris, França.
Terça-Feira, 17 de Julho de 2011.
15:45 da tarde - Selena On.

– Breaking Down parte 1. Vai Justin, por favor. – Resmunguei, fazendo um biquinho enquanto pegava o DVD da estante de madeira. O mesmo pôs as mãos na cintura, sussurrando a palavra “ não “ pela décima vez durante aquela tarde. As gotas de chuva caiam lentamente sobre o telhado da casa da família Bieber, enquanto o barulho ameno da televisão ligada no canto da sala invadia o ambiente extremamente silencioso. Me sentei por alguns momentos no sofá verde claro, apertando junto de mim a almofada bordada que prevalecia sobre o móvel.

– Hm, que tal Amor para Recordar? – Falei sem muita convicção. Ele deu uma risada leve.

– Selena, Atividade paranormal 3 ou nada. É pegar ou largar. – Suspirei profundamente, ainda meio irritada.

– Tá, tanto faz. Mas eu não estou afim de ir dormir em casa sozinha hoje. A Tay foi para Cambridge fazer um curso e só volta amanhã. (Elas moram juntas.) Mas agora, por favor, eu...

– Olha, eu ponho o filme e você faz um chocolate quente. Ok? – Assenti distraída, dando passos pequenos pela gigantesca sala de estar. Segundos depois, uma voz masculina invadiu o ambiente, me fazendo dar um leve pulo pelo caminho. Taylor.

– EU OUVI ALGUÉM FALAR DE CHOCOLATE QUENTE? – Berrou, descendo as escadas rapidamente e se pondo ao meu lado. Dei um leve sorriso e revirei os olhos, voltando a mexer na ponta de meus cabelos. – Eu...

– Duas colheres de chocolate e um copo de leite, eu já sei. – Falei, abrindo o armário de madeira sobre mim. O mesmo deu um beijo rápido em minha testa e voltou ao seu bagunçado quarto no segundo andar. Suspirei profundamente e voltei a remexer na geladeira, pegando um pote de Nescau sobre a mesma. Me sentei na bancada de mármore próxima a pia e cravei minhas unhas no pote, na tentativa amena de abrir o mesmo, coisa que infelizmente não consegui.

– Droga. – Falei irritada ao perceber que, assim como eu já esperava, minha blusa se encontrava manchada do pó marrom. Desci nervosa da bancada e joguei o pote sobre a pia, retirando minha blusa momentos depois e me encarando apenas de sutiã. Droga, Droga, Droga. Era minha blusa preferida. Suspirei derrotada e prendi meu cabelo em um coque desajeitado, até perceber que o Justin se encontrava inquieto por detrás de mim. Ótimo, mais essa agora.

– Para com essa cara. Minha blusa manchou e...

– T-Ta, ta tudo bem. – Falou levemente envergonhado, e não pude deixar de soltar um riso leve em meio ao ambiente silencioso por depois. – Vai por uma blusa ou sei lá.

– Qual é, para de ser palhaço. Parece até que nunca viu uma mulher antes. – Resmunguei. Dei passos despreocupados até a porta de seu quarto e catei a primeira blusa que vi pela frente, a vestindo e me jogando sobre sua cama momentos depois. O mesmo se sentou ao meu lado, apoiando minha cabeça delicadamente sobre seu colo. Fechei meus olhos por aproximadamente 10 minutos, até ter meus pensamentos interrompidos pelo suspiro profundo dele ao meu lado.

– O que foi? – Falei, mexendo levemente minha cabeça sobre seu corpo. – Fala.

– Eu não sei. É só... Uma sensação ruim. – Revirei os olhos distraída, voltando a sussurrar alguns trechos de músicas perdidas em minha mente.

– Isso é bobeira.

– Não, não é. – Falou, ainda perdido em meio aos seus pensamentos. – É como se eu tivesse de fazer algo logo. Como se eu não tivesse outra chance.

– Então faça. – Ele deu de ombros.

– É complicado. – Assenti. – É como se todos os sentimentos que eu senti por anos... Que estiveram tão acumulados, aparecessem e se manifestassem logo hoje. É confuso. – Por alguns segundos, eu simplesmente não sabia o que lhe dizer. Me encolhi ao seu lado, mexendo compulsivamente nas pontas duplas de meu cabelo. Um silêncio agonizante permaneceu sobre o ambiente durante longos minutos, sendo interrompido apenas pelo barulho doce de sua voz próximo ao meu ouvido. – Você sabe que eu te amo. Não sabe?

– É claro. – Falei despreocupada, ao contrário do Justin, que se encontrava extremamente agoniado com algo não presente em meu raio de visão. – O que foi?

– Eu já disse. – Suspirei profundamente. – Selena...

– Garoto fala logo! Parece até que me conheceu ontem. – Resmunguei já irritada. Ele deu uma risada leve. – Não ri! Se você não falar eu vou embora.

– OK, eu... Feche os olhos. – O encarei desconfiada.

– Porquê?

– Apenas feche.

– Mas...

– Você não confia em mim? – Suspirei derrotada. Mesmo contra minha vontade, fiz o que o mesmo disse. Segundos silenciosos se passaram em meio ao escuro de minha mente, até ser interrompido pela respiração ofegante do Justin próximo a minha face. Por instinto, apenas abri meus olhos repentinamente, sendo surpreendida pelos lábios do mesmo repousados sobre os meus. O susto que levei no momento não foi suficiente para me fazer interromper o beijo no qual sonhei durante tantos anos, porém me fez dar um leve pulo sobre a cama macia. Seus lábios selavam os meus com um toque de desespero, tal como se aquilo fosse tão necessário para ele quanto para mim, coisa no qual eu duvidava profundamente. Suas mãos partiram para o meu cabelo completamente despenteado, enquanto minhas unhas se encontravam cravadas em suas costas. Sua língua se encontrava junto a minha em uma perfeita sincronia, me fazendo acreditar na idéia de que tudo isto não passava de um sonho. Assim que o calor de seus lábios se distanciaram dos meus, uma expressão de dúvida se formou em minha face. Com um leve sorriso em seu rosto, o Justin apenas sussurrou: “Eu sempre te amei”.
Involuntariamente, eu simplesmente respondi: “Eu também”.